Rodrigo Constantino
O Estadão escreveu um importante editorial hoje alertando para os riscos de um BC politizado. O jornal afirma que "já não pode haver dúvida sobre a influência da presidente Dilma Rousseff na política oficial de juros, principal instrumento da administração monetária". A postura do BC tem sido claramente arriscada, para não dizer irresponsável. Os sinais de subserviência política são evidentes. O editorial conclui: "O resultado é um perigoso e indisfarçável retrocesso na gestão da política monetária".
O presidente do BC, Alexandre Tombini, não gostou nada das acusações, e escreveu uma resposta publicada no site da instituição. Nela, Tombini garante: "O Banco Central tem assegurada total autonomia para tomar decisões de política
monetária, sem quaisquer interferências de outros órgãos do governo ou de
agentes econômicos". Mas a pergunta que não quer calar é: quem ainda acredita nisso?
Em um ato falho talvez, Tombini usa em nota oficial o termo "presidenta" quando tenta negar a influência da presidente nas decisões de política monetária. Ora ora, meu caro Tombini, quem ainda não percebeu que a senha para detectar em um segundo um servo da presidente é justamente o uso dessa agressão à língua portuguesa que é o uso do termo presidenta? Sinto muito, mas você se entregou já nesse momento.
Tombini afirma: "A presidenta da República, Dilma Rousseff, já afirmou publicamente que a
condução da política monetária é da alçada exclusiva do Banco Central do Brasil". Eis o problema: dependemos da palavra da presidente, que pode não valer tanto assim para os investidores. O que vale mais são as atitudes e as instituições. Cabe perguntar: por que o Banco Central não goza de independência jurídica ainda? Por que sua autonomia não foi lavrada em lei, com mandato intercalado entre presidente da República e presidente do BC, como ocorre nos países desenvolvidos?
É verdade que isso também não é uma garantia gravada em pedra e imutável, pois mesmo o independente BCE corre sérios riscos de politização. Mas ao menos não teríamos uma "autonomia" tão frágil assim, não é mesmo? A presidenta diz, então é verdade? Desculpa, mas nós investidores não funcionamos dessa forma...
Por fim, Tombini tenta assegurar o critério estritamente técnico para as decisões do BC: "Todas as decisões tomadas pela atual diretoria colegiada seguem análises e
critérios estritamente técnicos, que são explicitados nos documentos oficiais do
Banco Central". Há controvérsias! Para quem quer outra opinião, recomendo os artigos de Alexandre Schwartsman na Folha, ou alguns meus mesmo, como esse em que falo dos malabarismos do BC, e esse, onde questiono o tal modelo SAMBA utilizado.
Em suma, temos (ainda) liberdade de expressão sim, e cada um fala o que quer. O Estadão acusa o BC de estar domesticado, e o presidente do BC reage em defesa da "presidenta" e sua mesmo. Cada um acredita em quem quiser, claro. Tem gente que acredita em Papai Noel, em coelhinho da Páscoa, e até em nosso BC totalmente independente da pressão política da presidenta! Viva a liberdade de credo...
2 comentários:
independência do bc é só aumentar o juros ? há controvérsias disso meu caro !!!!
Realmente esse termo "presidenta" é tão tôsco que eu não consigo escrevê-lo sem aspas.
Se ao menos fosse "presidanta" teria algum sentido.
Explico:
O sufixo "ENTE" significa ser ou ente que faz alguma coisa.
No caso de presidente significa ser ou ente que preside, em gerente, ser ou ente que gere, e assim por diante.
Se fosse "presidanta" aí poderíamos entender anta que preside mas enta que preside fica sem sentido.
Postar um comentário