Rodrigo
Constantino, para o Instituto Liberal
Moro
em um condomínio novo, daqueles com o conceito resort (coisas da nossa Miami
tupiniquim). São dezenas de unidades no total e enorme área comum. A
implantação de um condomínio desta magnitude não é brinquedo. As falhas no
processo são inevitáveis. Conciliar interesses divergentes não é fácil. Com
orçamento expressivo, há ainda aqueles moradores com valores questionáveis que
ficam de olho nas oportunidades ilícitas.
O
leitor certamente não está preocupado com meus problemas condominiais. Por que
falo disso então? Calma que eu já chego lá. Com meu senso de dever cívico, e
também por interesse próprio (o entorno tem impacto na minha qualidade de vida
e no meu patrimônio), o fato é que resolvi participar do conselho consultivo do
condomínio. Dediquei parte do meu tempo a esta tarefa por mais de um ano. Se os
proprietários não se importarem com sua propriedade, quem o fará?
Mas
o leitor ainda não entende porque falo tanto do meu condomínio. Peço paciência.
Vamos chegar ao ponto agora mesmo. Como conselheiro e proprietário, eu tinha
acesso a todas as informações relevantes do condomínio, inclusive o salário de
cada um dos funcionários. É o mínimo que se espera. Quem paga a conta tem o
direito de saber em detalhes o destino dos recursos.
Agora
o elo já está evidente. A Lei de Acesso à Informação tem obrigado órgãos
públicos a divulgar os salários dos servidores. Como o nome já diz, esses
funcionários são servidores públicos, trabalham para os pagadores de impostos.
É como se o Brasil fosse um grande condomínio, e os proprietários somos nós.
Mas
há resistência de algumas entidades, como os tribunais, que alegam o direito de
preservar a privacidade dos juízes. Não posso concordar. Quem escolhe ser
funcionário público não tem direito de ocultar quanto recebe pelo serviço.
Aqueles que pagam o salário têm o direito de saber quanto cada um leva. Somente
assim poderemos julgar se o benefício compensa o custo. Sou pela total
transparência dos gastos públicos.
PS:
Quando tinha uma AGE no condomínio, duas coisas chamavam a minha atenção: a
baixa participação dos proprietários (imagina a falta de interesse quando se
trata das decisões tomadas na distante Brasília); e a dificuldade que é
contemporizar com preferências tão díspares (a política é mesmo a arte do
possível, e esperar resultados ótimos pode ser um tanto ingênuo).