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terça-feira, setembro 04, 2012

A esquerda caviar


Rodrigo Constantino, O GLOBO

            O Rio é vítima de uma verdadeira praga: a “esquerda caviar”, formada por parte da elite financeira e cultural do país. Seus membros posam de altruístas enquanto louvam ditadores sanguinários como Fidel Castro. Do conforto de seus apartamentos em Paris, porque ninguém é de ferro.
            Roberto Campos fez um diagnóstico preciso da árvore genealógica da turma, ao afirmar que “trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola”. Somente isso pode explicar a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda, que admiram o socialismo, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar: “Bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês”.
            Um cínico poderia dizer que a hipocrisia é útil. Aproximando-se do poder, esses intelectuais conseguem privilégios e mamatas. A Petrobras, por exemplo, destinou a bagatela de R$ 652 milhões para patrocínios culturais entre 2008 e 2011. É uma montanha de dinheiro capaz de testar a integridade até mesmo de um santo!
            Mas não creio ser apenas isso. Acredito que um dos fatores tem ligação com o sentimento de culpa dessa elite. E convenhamos: nada como uma elite culpada tentando expiar seus “pecados”. Com que facilidade ela adere aos discursos mais sensacionalistas e demagógicos. Chega a dar dó. Em um país que culturalmente condena o lucro e enxerga a economia como um jogo de soma zero, onde José, para ficar rico, precisa tirar de João, o sucesso acaba sendo uma “ofensa pessoal”, como disse Tom Jobim. Essa visão é um prato cheio para produzir uma elite culpada e desesperada para pregar aos quatro ventos as “maravilhas” do socialismo.
            Por isso vemos cineastas herdeiros de banco fazendo filmes que enaltecem guerrilheiros comunistas. Por isso vemos filhos de grandes escritores lambendo as botas de tiranetes latino-americanos. Imagem é tudo.
E estas pobres almas acreditam que, ao louvarem a ideologia que quer destruí-los, conquistarão a fama de abnegados e descolados. Como é fácil falar que o capitalismo não presta quando se é milionário!
            Joãozinho Trinta foi no alvo quando disse que os intelectuais é que gostam de miséria, pois os pobres gostam é de luxo. Nada mais natural do que desejar melhorar as condições de vida. E nada melhor para isso do que o trabalho duro em um ambiente de livre mercado. Lucro e trabalho são sócios nesta empreitada. O grande obstáculo é justamente o governo inchado, obeso, que cria burocracia asfixiante e arrecada quase 40% do que é produzido em nome da “justiça social”.
            Quem labuta para criar riqueza e subir na vida não tem tempo para “salvar o planeta” ou construir “um mundo melhor”. Estas são as bandeiras da esquerda festiva, dos artistas que, do conforto de suas mansões, adoram detonar o capitalismo enquanto desfrutam de tudo de bom que só ele pode oferecer.
Sobre a seita ambientalista, aliás, recomendo a leitura do excelente livro “Os Melancias”, de James Delingpole. A máscara dos alarmistas climáticos que fazem ecoterrorismo cai por completo, expondo a verdadeira face vermelha por trás do movimento verde.
Mas divago. Eis o que eu realmente queria dizer: boa parte da elite carioca gosta de defender candidatos socialistas com discursos messiânicos. Entre uma cerveja e outra, essa turma esbraveja contra os ricos capitalistas e repete como sua utopia salvaria a humanidade das garras dos gananciosos e insensíveis. Depois voltam para seu conforto egoísta com a alma lavada. A retórica vale mais que atos concretos. Garçom, mais uma cerveja!
Foi assim que o brizolismo conseguiu prosperar no Rio, com os aplausos de muita gente da zona sul. Foi assim também que Heloísa Helena, do PSOL (o PT de ontem), conseguiu mais votos no Rio do que em qualquer outro lugar. O que esperar de um povo que elegeu Saturnino Braga em vez de Roberto Campos para o Senado? Essa análise toda foi para chegar ao novo queridinho da elite carioca, o personagem de filme de ação, herói que desafia as milícias. Há só um detalhe: seu partido é aquele que prega o socialismo (com um atraso de duas décadas), que pretende escolher até o tema das escolas de samba, que tem deputado que gosta de queimar a bandeira de Israel em praça pública, demonstrando sua intolerância, além de enorme desrespeito ao povo judeu. Leiam “Fascismo de esquerda”, de Jonah Goldberg. Socialismo e liberdade não combinam. Um é o contrário do outro. Todo regime socialista levou à escravidão e à miséria. Até quando os cariocas vão cair na ladainha dos artistas que adoram o socialismo, lá do conforto de Paris?            

segunda-feira, julho 02, 2012

Bolchevique "traveco"

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

A esquerda é uma praga da qual não nos livramos. Egressa da tradição judaico-cristã messiânica, traz consigo a tara do fanatismo daquela. Mas ela tem várias faces.

No Brasil, após a ditadura, a esquerda tinha o absoluto controle da universidade e, por tabela, de muitas das instâncias de razão pública, como escolas de nível médio, mídia, tribunais e escolas de magistratura. Coitadinha dela.

Neste caso, do aparelho jurídico, sente-se o impacto quando vemos a bem-sucedida manobra da esquerda em fazer do Código Penal uma província ridícula do politicamente correto, para quem, como diz a piada, entre matar um fiscal do Ibama e um jacaré, é menos crime matar o fiscal.

Com a crise da Europa e a Primavera Árabe, a esquerda se sente renovada. Interessante como, no caso árabe, ela flerta com os movimentos islamitas. A razão é, antes de tudo, sua ignorância completa com relação ao Oriente Médio. A esquerda sempre foi provinciana. Ela confunde o fanatismo islamita com o fanatismo revolucionário. Lá, não existe “povo em busca de igualdade democrática”, mas sim fiéis em busca de tutela absoluta.

Antes de tudo, devo dizer que há uma forma de esquerda que respeito: os melancólicos de Frankfurt. Para estes, como Adorno e Horkheimer, vivemos o “échec” (impasse, fracasso) da modernidade, devido à mercantilização das relações. Para mim, isso é um fato. E, enfim, a melancolia sempre me encanta. Os melancólicos têm razão.

Desde Deleuze, Derrida e Foucault (três chifres da mesma cabra), a esquerda assumiu ares de revolução de campus universitário, que encampa desde movimentos como o engodo do Maio de 68, passando pela crítica da gramática como forma de opressão (risadas…), até a ideia boba de que orientação sexual seja atitude revolucionária. Que tal sexo com pandas? Por falar em pandas…

Outra forma é a esquerda-melancia. Verde por fora, vermelha por dentro. Essa se traveste de preocupação com os pandas para querer roubar o dinheiro e o esforço alheios, além de refundar a união das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas com obrigação de comida orgânica no cardápio.

Existe também a esquerda “de classe executiva” que vai a jantares inteligentes. O mais perto que ela chega de qualquer coisa vermelha é do vinho que gosta de discutir, marca de sua falsa “finesse”. Nada mais “fake” do que falar de vinhos como modo de elegância afetada.

Há também a religiosa, que se divide em duas. A budista “light”, aquela que acha que o budismo é uma espiritualidade “progressista”. A outra, a católica, pensou que Marx precisava de um Che Jesus e se deu mal. Nem a esquerda a leva a sério, nem a igreja a considera mais.

Claro, não podemos esquecer do feminismo, aquele que acha que o patriarcalismo é responsável por todos os males e afirma que Shakespeare era uma menina vestida de menino. Outra forma é a esquerda multicultural. Essa confunde o mundo com uma praça de alimentação étnica de um shopping center de classe média, achando que “culturas” (esse conceito “pseudo”) se misturam como molhos.

Outra forma é a esquerda “aborígene”, aquela que entende que a vida pré-descoberta da roda é a forma plena de habitar o cosmo.

Há também a esquerda da psicologia social, composta basicamente de psicólogas, pedagogas e assistentes sociais a favor da educação democrática e da ideia de que tudo é construído no diálogo. Essas creem que se pode dialogar com serial killers, culpando a escola, o capital e a igreja pelas mulheres que eles cortam em pedaços nas redondezas.

Todos esses tipos têm um traço em comum: são todos frouxos, como diria Paulo Francis.

Mas existe uma outra esquerda, a bolchevique “traveco”. Os bolcheviques eram cabras que gostavam de violência e a praticaram em larga escala. Hoje, para a esquerda, pega mal pregar violência. Ela sofre com um problema que é a imagem de si mesma como um conjunto de seres puros, dóceis e pacíficos.

Então, para os simpatizantes da violência revolucionária bolchevique, a saída é se travestir de gente dócil e falar em “violência criadora”. O amor e a violência são os mesmos, mas a saia confunde.

sexta-feira, abril 13, 2012

Pensamento binário


Rodrigo Constantino

O homem tem mania de rotular. O rótulo atende a algumas funções importantes, como facilitar a compreensão de certas características de forma mais rápida. Por exemplo, quando alguém diz que Fulano é um hippie, automaticamente formamos um esteriótipo do sujeito, com inúmeras características de seu estilo de vida e mentalidade.

Mas os rótulos também são perigosos, justamente porque simplificam demais. Nem sempre (ou quase nunca) será possível enquadrar alguém, com todas as suas crenças, em um único rótulo. Infelizmente, o brasileiro tem a mania de fazer isso, e vai um passo adiante: raciocina de forma binária. Enxerga tudo como se fosse preto ou branco.

O exemplo mais evidente desta prática é a disputa entre PT e PSDB na política. Quando você ataca o petismo, você é logo tachado de “tucano”. Mas muitos, como a quase totalidade dos liberais, condenam tanto o petismo como o tucanato. Este pode até ser visto como mais light, mas nem por isso merece elogios dos liberais. Reduzir o debate político nacional a um duelo entre PT e PSDB é limitar ao extremo as opções, excluindo na largada a alternativa liberal, a melhor de todas e que nenhum partido hoje defende como bandeira.

Só que não é apenas aí que a coisa complica. Mesmo entre a tal “direita” (na falta de termo melhor), há tanta divergência que seria impossível compilar crenças tão díspares em um único rótulo. Liberais e conservadores, para começo de conversa, advogam coisas bem diferentes, com algumas interseções. Mas mesmo entre conservadores existem tipos tão diferentes que seria injusto aplicar o mesmo termo para defini-los.

Os que chamo de conservadores de boa estirpe, por exemplo, merecem total respeito dos liberais. São os seguidores de Edmund Burke, Oakshott, Ortega y Gasset, entre outros. Indivíduos que valorizam a tradição, a família, o gradualismo na evolução dos costumes, pois são céticos com utopias racionalistas, com revoluções. Colocar no mesmo saco estes conservadores e aqueles que, no fundo, idealizam a Idade Média e adorariam resgatar uma teocracia católica autoritária parece absurdo e injusto.

O típico pensamento binário dos brasileiros se mostra evidente no debate de certos temas polêmicos. Quando liberais pregam a legalização das drogas, por compreenderem que tanto do ponto de vista dos direitos individuais como dos resultados catastróficos da guerra contra as drogas isso é o certo a se fazer, esses conservadores medievalistas os acusam de “esquerdistas”, de inocentes úteis da revolução cultural gramsciana. Nada mais falso. É totalmente viável condenar a fracassada guerra anti-drogas e ainda assim valorizar a família, as boas tradições (até porque a guerra contra as drogas não é tão antiga, e começou com Nixon apenas).

Da mesma forma, é evidente que nem todo critico da Igreja Católica aplaude o suposto racionalismo da Revolução Francesa. O mundo não se resume a uma disputa entre catolicismo e iluminismo, até porque existiram mais de um iluminismo. O escocês, por exemplo, não tem nada a ver com o francês, este sim vítima do que Hayek chamou de “arrogância fatal” dos racionalistas. Logo, os liberais têm todo direito de criticar o legado negativo do catolicismo, que é bem grande, sem precisar aplaudir Rousseau e companhia.

Esta abertura do mundo das idéias em mais do que duas dimensões simplistas não interessa aos conservadores religiosos mais radicais. Para estes, é interessante se apresentar como única alternativa aos petistas no poder, ou ao fanatismo islâmico em nível global. Desta forma, todos aqueles insatisfeitos com esta agenda petista ou preocupados com a ameaça muçulmana teriam que se curvar diante desses que defendem uma espécie de resgate da era medieval, com todo seu ranço misógino, sua homofobia, seu moralismo exacerbado, a censura e a união entre Igreja e Estado novamente, cuja separação foi conquistada a duras penas e muito sangue.

Os liberais não têm que evitar críticas a esses moralistas medievais para poder atacar a esquerda em geral e o PT em particular, ou para repudiar o atraso cultural em muitos países com predominância islâmica. O mundo não se divide apenas em fundamentalistas religiosos de um lado e socialistas materialistas do outro, ou em uma teocracia contra outra. A direita tacanha ocidental é tão condenável quanto a esquerda revolucionária. E o mundo, felizmente, não é binário.