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sábado, julho 13, 2013

Nacionalismo cibernético

Fonte: Tecmundo

Rodrigo Constantino

"Gostaria de ouvir o caseiro Francenildo a respeito do zelo que petistas têm pela privacidade alheia." - Carlos Andreazza

O governo petista, ao que tudo indica, tentará se aproveitar do clima de revolta contra a espionagem do governo americano (e qual não espiona?) para avançar ainda mais sobre nossas liberdades. Todo cuidado é pouco!

Conforme a notícia, o Brasil quer nacionalizar servidores de internet, e isso preocupa, com toda razão, empresas do setor.  Diz a reportagem:

Uma proposta de alteração no texto do Marco Civil da Internet pode mudar completamente a atuação das empresas de tecnologia no Brasil. Preocupado com as consequências do Prism, o governo brasileiro deve propor a nacionalização do armazenamento de dados – o que deve gerar uma série de transtornos e problemas para empresas e consumidores.

Segundo a ministra das Relações Institucionais no Brasil, Ideli Salvatti, os dados que circulam por aqui não devem ser armazenados em outros países, “sem controle da nação brasileira”. Para se ter uma ideia do impacto de uma medida como essa, sites como o Google e o Facebook, que têm os seus bancos de dados fora do país, poderiam ser forçados a se retirar do mercado brasileiro.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sugere replicar os servidores no Brasil. “Estabelecer uma política e dar um prazo para que os grandes datacenters sejam replicados aqui dá condições de exigir o cumprimento da legislação que protege a privacidade dos cidadãos”, completa.

Como todos os inúmeros defeitos, mesmo sob um esquerdista como Obama, eu ainda confio bem mais no governo americano do que no nosso, especialmente sob o PT, no que diz respeito ao sigilo dos dados na internet. Esse é o tipo de reação que muitos liberais críticos da atitude de Snowden temiam: esse vazamento de espionagem servir não para o aumento da liberdade, mas como pretexto para governos muito mais autoritários que o americano avançarem mais ainda sobre seus cidadãos.

Como lembra a frase da epígrafe, do meu editor da Record, a hipocrisia do PT é total quando se mostra zeloso da privacidade dos indivíduos. Nada disso foi levado em conta quando o governo quis desqualificar um humilde caseiro que ousou denunciar um poderoso ministro. Alguém realmente dormiria mais tranquilo ao saber que nossos servidores estão sob os cuidados do governo brasileiro, e não do americano?

segunda-feira, julho 23, 2012

Who Really Invented the Internet?

By L. GORDON CROVITZ, WSJ

A telling moment in the presidential race came recently when Barack Obama said: "If you've got a business, you didn't build that. Somebody else made that happen." He justified elevating bureaucrats over entrepreneurs by referring to bridges and roads, adding: "The Internet didn't get invented on its own. Government research created the Internet so that all companies could make money off the Internet."

It's an urban legend that the government launched the Internet. The myth is that the Pentagon created the Internet to keep its communications lines up even in a nuclear strike. The truth is a more interesting story about how innovation happens—and about how hard it is to build successful technology companies even once the government gets out of the way.

For many technologists, the idea of the Internet traces to Vannevar Bush, the presidential science adviser during World War II who oversaw the development of radar and the Manhattan Project. In a 1946 article in The Atlantic titled "As We May Think," Bush defined an ambitious peacetime goal for technologists: Build what he called a "memex" through which "wholly new forms of encyclopedias will appear, ready made with a mesh of associative trails running through them, ready to be dropped into the memex and there amplified."

That fired imaginations, and by the 1960s technologists were trying to connect separate physical communications networks into one global network—a "world-wide web." The federal government was involved, modestly, via the Pentagon's Advanced Research Projects Agency Network. Its goal was not maintaining communications during a nuclear attack, and it didn't build the Internet. Robert Taylor, who ran the ARPA program in the 1960s, sent an email to fellow technologists in 2004 setting the record straight: "The creation of the Arpanet was not motivated by considerations of war. The Arpanet was not an Internet. An Internet is a connection between two or more computer networks."

If the government didn't invent the Internet, who did? Vinton Cerf developed the TCP/IP protocol, the Internet's backbone, and Tim Berners-Lee gets credit for hyperlinks.
Xerox PARC
Xerox PARC headquarters.


But full credit goes to the company where Mr. Taylor worked after leaving ARPA: Xerox. It was at the Xerox PARC labs in Silicon Valley in the 1970s that the Ethernet was developed to link different computer networks. Researchers there also developed the first personal computer (the Xerox Alto) and the graphical user interface that still drives computer usage today.

According to a book about Xerox PARC, "Dealers of Lightning" (by Michael Hiltzik), its top researchers realized they couldn't wait for the government to connect different networks, so would have to do it themselves. "We have a more immediate problem than they do," Robert Metcalfe told his colleague John Shoch in 1973. "We have more networks than they do." Mr. Shoch later recalled that ARPA staffers "were working under government funding and university contracts. They had contract administrators . . . and all that slow, lugubrious behavior to contend with."

So having created the Internet, why didn't Xerox become the biggest company in the world? The answer explains the disconnect between a government-led view of business and how innovation actually happens.

Executives at Xerox headquarters in Rochester, N.Y., were focused on selling copiers. From their standpoint, the Ethernet was important only so that people in an office could link computers to share a copier. Then, in 1979, Steve Jobs negotiated an agreement whereby Xerox's venture-capital division invested $1 million in Apple, with the requirement that Jobs get a full briefing on all the Xerox PARC innovations. "They just had no idea what they had," Jobs later said, after launching hugely profitable Apple computers using concepts developed by Xerox.

Xerox's copier business was lucrative for decades, but the company eventually had years of losses during the digital revolution. Xerox managers can console themselves that it's rare for a company to make the transition from one technology era to another.

As for the government's role, the Internet was fully privatized in 1995, when a remaining piece of the network run by the National Science Foundation was closed—just as the commercial Web began to boom. Economist Tyler Cowen wrote in 2005: "The Internet, in fact, reaffirms the basic free market critique of large government. Here for 30 years the government had an immensely useful protocol for transferring information, TCP/IP, but it languished. . . . In less than a decade, private concerns have taken that protocol and created one of the most important technological revolutions of the millennia."

It's important to understand the history of the Internet because it's too often wrongly cited to justify big government. It's also important to recognize that building great technology businesses requires both innovation and the skills to bring innovations to market. As the contrast between Xerox and Apple shows, few business leaders succeed in this challenge. Those who do—not the government—deserve the credit for making it happen.

segunda-feira, maio 07, 2012

Não, eu não estou disponível

Luli Radfahrer, Folha de SP

Há mais ou menos um século, em uma Viena tão ou mais cosmopolita do que qualquer uma das novas cidadelas virtuais, são Freud tentava explicar um fenômeno que já incomodava muita gente: o esquartejamento do homem contemporâneo entre duas forças antagônicas, o corpo e o outro.

Chamadas na época de id e superego, essas demandas ganharam dezenas de nomes ao longo das décadas, mas não perderam importância. Ao contrário, à medida que a superconexão das redes concatena boa parte dos ambientes de interação, cresce a pressão social para um comportamento mais pragmático, funcional, onipresente, onisciente, onipotente e disponível.

Não é mais permitido a um indivíduo razoavelmente integrado estar desconectado ou alheio aos fatos, ignorante de acontecimentos, incapaz de realizar uma tarefa.

O acesso móvel propiciado por tablets e smartphones e o conhecimento instantâneo disponibilizado nos vídeos no YouTube e nos verbetes da Wikipédia acabaram com a época do "não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe". Hoje todos são compelidos a saber, opinar, compartilhar, blogar e retuitar, mesmo que não façam a mais pálida ideia do assunto abordado.

A angústia perante a impossibilidade da empreitada é natural. A ignorância, antes considerada uma bênção, foi transformada em maldição, obrigando a todos que nasçam prontos, especialistas. O resultado, previsível, é um enorme conflito entre demandas e capacidades, obrigando cada indivíduo a empacotar a informação que recebe o mais rápido possível e transmiti-la para grupos cada vez maiores de pessoas que fazem o mesmo, em um tsunami de meias-verdades, preconceitos, informações rasas e citações fora de contexto.

Por mais que entusiastas de mídias sociais classifiquem essa prática como uma formação de opinião mais democrática, inovadora e aberta, a realidade a transforma em um tipo vicioso de fofoca, terreno fértil para todo tipo de boataria, casa de doidos em que todos falam para ninguém escutar.

Na velocidade e na pressão das redes de compartilhamento, a informação gratuita perde seu valor. Sem tempo, foco ou referências de qualidade, não há como estabelecer uma reflexão sólida. O resultado é uma espécie de histeria coletiva, combustível social à espera do primeiro estopim que a incendeie.
A história mostra vários momentos cuja energia foi inversamente proporcional à razão. Por mais que tivessem potencial construtivo, a maioria foi aniquilada ou acabou em regimes totalitários.

Dicionários e enciclopédias foram feitos para serem consultados, não decorados. Quando a opinião de especialistas é trocada pela voz coletiva das ruas, corre-se o risco de ignorar os fatos para perpetuar mitos e falsas verdades. Não há revista científica que comprove os malefícios do leite com manga, mas todos ouvimos essa história "em algum lugar" parecido com o Google.

A única saída possível para preservar a sanidade está em desenvolver o espírito crítico. Isso não demanda atitudes reacionárias, mas uma seleção da informação recebida, da relevância de sua fonte e, acima de tudo, se cabe a você tomar alguma atitude com relação a ela ou se é mais saudável ignorá-la.

quarta-feira, março 14, 2012

Stop Kony 2012

Finalmente vi o famoso vídeo "Stop Kony 2012". O que eu penso disso? O vídeo é muito bem feito, e se tudo for verdade ali, inclusive as intenções do autor, espero o sucesso de sua campanha, claro. Mas...

Tenho minhas ressalvas com este tipo de mensagem, esperançosa demais. A ferramenta que serve para mobilizar as massas também serve para manipular as massas. A internet é poderosa sim, e pode e deve ser usada pelos liberais. Mas não vai "salvar" o mundo, tampouco será usada apenas pela causa da liberdade.

Em palestra para o Fórum da Liberdade, eu expliquei melhor meu ponto de vista mais cético. Segue o vídeo.

quinta-feira, outubro 06, 2011

Liberdade na era digital

Palestra no Forum da Liberdade em Porto Alegre sobre a era digital, em que levanto um ponto de vista mais cético sobre os impactos da internet na democracia.

Debate em seguida liderado por Hélio Beltrão, comigo e com Raul Veloso.

sábado, agosto 27, 2011

Solidão coletiva


Rodrigo Constantino

"Um paciente chegou no consultório médico e disse: - Doutor, não levanto a cabeça, não falo com ninguém, quando falam comigo não presto atenção, pareço um idiota. O que eu tenho, doutor? Um Blackberry, respondeu o médico”. Toda piada tem um fundo de verdade, como dizem. Neste caso, ela é a mais pura verdade. As aceleradas mudanças tecnológicas estão produzindo grandes mudanças sociais também. Aonde isso vai parar, ninguém sabe ainda.

Preocupada com tendências desta natureza, a especialista do MIT, Sherry Turkle, reuniu no livro Alone Together décadas de experiência no estudo do impacto social da tecnologia. Como o subtítulo já diz, ela tenta responder porque esperamos mais da tecnologia e menos de cada um. Na primeira parte do livro, o foco é voltado para os robôs sociais, e como isso afeta os seres humanos. Na segunda parte, ela trata das redes sociais, da conectividade ininterrupta e de como estamos perdendo intimidade com isso. Em resumo, o mundo estaria cada vez mais habitado por pessoas interligadas sempre, mas mais solitárias ainda.

Antes de dar prosseguimento aos principais pontos da autora, gostaria de destacar que é típico dos homens desconfiar de avanços tecnológicos. Como já sabia o filósofo David Hume, "o hábito de culpar o presente e admirar o passado está profundamente arraigado na natureza humana". O desconhecido assusta. Dito isso, creio que existem mudanças que realmente despertam apreensão legítima, as quais compartilho com Turkle. Estarmos atentos a estes riscos é um passo importante para mitigar os problemas que inevitavelmente irão surgir com os novos hábitos.

Muitos encaram computadores e aparelhos tecnológicos como simples ferramentas, mas ignoram que os seres humanos muitas vezes são moldados por tais ferramentas. No mundo moderno, o medo da decepção nos relacionamentos com outros seres humanos, que sempre existiu, encontrou uma poderosa válvula de escape nos robôs e redes sociais. Esta fuga não se dá sem custos. Alguns já começam a tratar as máquinas como se tivessem qualidades humanas, e os humanos como se fossem objetos descartáveis. A vida virtual deixa de ser uma simples fuga temporária das agruras da vida real, para se transformar na própria vida principal do indivíduo. Ficamos menos humanos neste processo.

Nós somos seres vulneráveis, solitários e com medo da intimidade. As conexões digitais oferecem a ilusão de companhia, sem as demandas da amizade. As pessoas se tornam descartáveis. Todos “curtem” a “felicidade” alheia. A autenticidade é substituída por avatares, por perfis irreais que criamos para evitar nossas imperfeições reais. A tensão presente no encontro pessoal dá lugar à blindagem da tela do computador ou à garantia de que um robô jamais irá nos trair. Pessoas são arriscadas; robôs ou amigos virtuais são seguros. Mas esta é uma falsa segurança, que existe apenas com o preço de anular qualquer relação realmente humana.

Assim como Turkle, eu consigo enxergar o lado positivo das mudanças. Podemos encontrar e manter contato com velhos amigos, famílias separadas geograficamente podem ficar conectadas mais facilmente, a recreação comedida é saudável, temos mais acesso a informação, comércio, etc. Mas nem por isso devemos fechar os olhos para o lado negativo. Ele existe. Infelizmente, muitos descartam os alertas como mera nostalgia ou algum impulso retrógrado, como no caso dos ludistas na Revolução Industrial. Creio ser um engano agir assim. Alguns efeitos negativos não devem ser menosprezados de forma alguma, em minha opinião.

A primeira parte do livro, que lida com os robôs sociais, ainda parece distante da realidade brasileira. Alguns insights, todavia, são importantes. Afinal, é o que nos espera. No Japão, idosos já estão sendo cuidados por robôs, e crianças também desfrutam de babás robôs. Turkle realizou inúmeras experiências e relata várias delas no livro. Um dos riscos principais, segundo ela, é que o relacionamento com robôs não ensina estas crianças nada sobre a alteridade, sobre a habilidade de tentar ver o mundo pela ótica do outro. Sem isso, não é possível ter empatia genuína.

O relacionamento com um robô é totalmente egocêntrico. Acostumada com esta relação “sem riscos”, sem as demandas da amizade verdadeira, a criança pode se tornar inapta para a vida em sociedade, optando pela reclusão em seu mundo fechado. O que elas pedem dos robôs é aquilo que elas sentem falta, como carinho e atenção. Mas eles jamais podem oferecer tais coisas de forma verdadeira. Uma máquina tratada como um amigo é algo que anula qualquer sentido tradicional do conceito de amizade. A máquina sempre será indiferente a nossos sentimentos, por mais que seu desempenho nos convença do contrário.

Na segunda parte do livro, os brasileiros já poderão se identificar com muito mais facilidade. Afinal, somos recordistas nas redes sociais. Turkle argumenta que nos apresentamos como pessoas diferentes daquelas que realmente somos, normalmente uma fantasia daquilo que gostaríamos de ser. Um tipo de relacionamento incerto surge, concomitantemente ao risco de tratarmos os outros como objetos descartáveis, que existem apenas para nossa diversão temporária ou conforto. Todos querem centenas de “amigos” em seu perfil, curtindo cada passo de suas “vidas”. Tudo absolutamente superficial.

Com a incessante conectividade, as pessoas acabam ficando sozinhas como precondição para estarem juntas, pois é mais fácil se comunicar estando focado, sem interrupção, quando o local de encontro é a tela do aparelho. Seja na praça pública, na estação de trem ou no metrô, cada um mantém suas conversas partindo da premissa de que as demais pessoas são não apenas anônimas, mas ausentes. As pessoas ficam ansiosas quando não estão conectadas ou quando aguardam um próximo email ou comentário no Twitter ou Facebook. Ninguém mais suporta a solidão e a espera.

A vida nas redes sociais deixa de ser uma fuga esporádica para se transformar na melhor coisa da vida. Todo o resto pode ser ignorado ou “pausado” para responder uma nova mensagem. Muitos deixam de viver aquele momento de forma genuína, pensando apenas em postar as fotos do evento na rede, ou fazer algum comentário no Twitter. Vive-se para os outros, pelas aparências, pela quantidade de gente que vai “curtir” sua experiência, e não mais pela própria experiência em si. Alguns acabam viciados na hiperatividade em rede, na adoção de diversas tarefas simultâneas, como se isto fosse sinônimo de produtividade. Na verdade, estão se enganando, fazendo tudo de forma incompleta, pois precisam da sensação de hiperatividade.

Outro problema que costuma emergir dos novos hábitos é a superficialidade das trocas de mensagens. Como cada um recebe centenas diariamente, e criou-se o hábito de responder a quase todas, as mensagens precisam ser extremamente simples. A comunicação deve ser instantânea, o que é incompatível com problemas complexos. Além disso, esta postura encoraja o desapego às pessoas. Como temos que responder a centenas de mensagens, naturalmente despersonalizamos cada uma delas.

De forma similar, quando temos centenas de “amigos” no Facebook, acabamos tratando indivíduos como uma unidade. Amigos se tornam fãs. Eles se transformam em algo próximo de objetos. Buscamos compaixão, mas na “intimidade” online encontramos com freqüência a crueldade de estranhos. Estamos todos juntos, mas sozinhos. Uma solidão coletiva.