quarta-feira, maio 02, 2012

Culpado como um bandido

Rodrigo Constantino

O "filósofo" Olavo de Carvalho dedicou seu espaço inteiro no Diário do Comércio à minha pessoa. Como não o dou a mesma importância, não pretendo respondê-lo em meu precioso espaço de O Globo (que reservo para coisas mais sérias), mas sim aqui mesmo, no meu blog. Farei isso de forma breve, pois o tempo é escasso e existem outras prioridades. Mas é preciso fazê-lo, pois como este senhor ainda engana muitos inocentes úteis e fala em nome da direita, faz-se necessário desmascarar o embuste de vez em quando.

Olavo diz:

Num de meus últimos programas de rádio, critiquei en passant o sr. Rodrigo Constantino por conceder ao Estado, cujo poder ele abomina e diz querer limitar por todos os meios, o mais alto e presunçoso dos poderes – que é o de conceder ou negar a condição de ser humano a uma criatura proveniente de pai e mãe humanos.

A mentira já começa no "en passant", onde o autor tenta passar a imagem de que quase não se ocupou com ataques chulos e mentirosos a mim. Na verdade, Olavo de Carvalho me citou algumas vezes, e em vários "programas de rádio" (eu chamo aquilo de outra coisa, mas deixa para lá) nos últimos meses. Como foi ignorado solenemente, insistiu na esperança de receber alguma atenção recíproca. Foi o que fiz no vídeo citado. Ele deveria ser grato ao menos a isso.

Sim, é verdade que eu abomino o excesso de poder concentrado no estado (que escrevo com letra minúscula, ao contrário de Olavo de Carvalho). Mas não sou um anarquista. Reconheço que a vida em sociedade demanda a existência do estado, especialmente para cuidar da justiça. Tampouco sou jusnaturalista, ainda que tenha alguma simpatia pelo conceito. Logo, entendo que é função precípua do estado definir as leis, ainda que muitas possam ser consideradas injustas. O problema é que não acredito na viabilidade das alternativas (mercado de leis privadas, direito natural etc).

Isso não é o mesmo que afirmar, como quer Olavo de Carvalho, que eu penso que cabe ao estado dizer o que é certo ou errado. Não! Eu acho errado a escravidão, mas estados já a consideraram legal no passado. Eu também acho errado alguém ser obrigado a pagar 40% do que ganha em impostos, mas nem por isso sou anarquista (seria a lógica dedutiva, como diz Olavo de Carvalho, da premissa de que não aceito o estado impor qualquer valor arbitrário de imposto). 

Aliás, esta é a mesma tática que usam os anarquistas: oito ou oitenta, tudo ou nada. Se você acha errado imposto de 40%, então você deve achar errado qualquer imposto, para não cair em contradição lógica. Será que Olavo de Carvalho é um anarquista? Ou ele aceita o estado dizer quanto ele deve pagar de imposto? Mas nesse caso o estado poderia lhe impor 100% de imposto! Logo, ele defende ou o socialismo ou a anarquia. Qual será o caso?

Como fica claro acima, o que Olavo de Carvalho fez foi apenas apelar para uma retórica vazia, um reductio ad absurdum (ele comenta um livro de Schopenhauer sobre estratagemas de erística, e aprendeu a usá-los muito bem). Quem vai dizer quando o feto é um ser humano? Ora, como eu deixei claro no vídeo sobre o assunto, essa é a questão cabeluda! Cientistas discutem isso sem resposta adequada. E eu não tenho a pretensão de ter tal resposta sem margem a erros (ao contrário do que afirma Olavo, eu não me arrogo o monopólio da razão). 

O que eu sei é que não considero correto a imposição de uma visão religiosa sobre o tema. A resposta pode ser a sociedade de forma geral, o indivíduo de forma subjetiva. Isso não quer dizer que o estado tem a palavra definitiva sobre o assunto. Quer dizer apenas que nem todos são obrigados a aceitar a visão religiosa, e que nem todos que aceitam uma zona cinzenta nesta questão depositam fé messiânica no estado.

E, de fato, é a resposta que a maioria dos países civilizados e desenvolvidos deu ao dilema. Tanto é verdade que em praticamente todos eles o aborto é permitido no começo da gestação, e em casos especiais. Logo, à exceção das teocracias islâmicas e de países subdesenvolvidos (muitos com forte predominância católica), as sociedades chegaram à conclusão de que um feto de um dia não é o mesmo que um bebê de um ano. Conclusão esta, aliás, que está de acordo com o bom senso, excluindo aqueles mais fanáticos em suas crenças religiosas. 

Eis o que Olavo de Carvalho precisa necessariamente defender para manter sua proclamada lógica dedutiva: que em nenhum caso o aborto é defensável, incluindo aí feto anencéfalo, fruto de estupro ou com risco de vida para a mãe, e que tomar a pílula do dia seguinte é análogo a enforcar um bebê no berço, assassinato de um ser humano puro e simples. Pergunto quantas pessoas estão dispostas a sustentar esta bandeira, e quantas delas são fanáticos religiosos... Eu prefiro ficar com a imperfeita alternativa de que cabe à sociedade, de alguma forma, legislar sobre o assunto, reconhecendo que um feto de um dia não é um ser humano, e que direitos, valores e princípios conflitantes estão em jogo, demandando escolhas difíceis. 

Olavo conclui:

Serei um malicioso, um conjeturador de hipóteses rebuscadas, um "teórico da conspiração", ao supor que o estado terminal em que se encontram os partidos "de direita" do Brasil deve algo ao fato de aceitarem como doutrinários pessoas da estatura intelectual do sr. Constantino?

Aqui há uma confusão. Olavo não é malicioso, conjeturador de hipóteses rebuscadas e teórico da conspiração por causa do seu último "programa de rádio", e sim porque já o conheço de longa data e sei que ele é exatamente isso. A crença de que o desmantelamento da URSS foi obra arquitetada pela própria KGB, o excesso de poder mirabolante atribuído ao Foro de SP, a paranoia com o movimento homossexual, a acusação de que a ONU quer controlar o mundo por meio de um governo mundial, a obsessão com a Rede Globo como veículo da revolução cultural gramsciana, enfim, a lista é grande e o astrólogo sabe como teorias conspiratórias seduzem por simplificar um mundo complexo e fornecer bodes expiatórios para os males do mundo. Quem quiser ter uma palhinha do que estou falando, veja aqui o "filósofo" acusando a Pepsi de usar células de fetos abortados como adoçante.

Além disso, ele considera que a "direita" no Brasil está frita porque conta com intelectuais da minha estatura. Pergunto então: em quais países a "direita" está melhor representada e consegue resultados práticos melhores? Pois como citei acima, os países mais avançados do mundo permitem, em sua totalidade, o aborto em situações extremas e no começo da gestação. Será que o problema da nossa "direita" é o pensamento liberal que eu defendo? Ou será que a direita tacanha e saudosista de uma Idade Média idealizada, como aquela que Olavo de Carvalho representa, é que ilustra a decadência de nossa oposição "direitista"? Entre Bolívia, Brasil e Venezuela, ou Holanda, Austrália e Nova Zelândia, qual grupo possui mais liberdade individual e prosperidade? Será que a direita está melhor no Afeganistão e no Haiti do que na Inglaterra?

Pois no primeiro grupo há muito mais gente que pensa como Olavo de Carvalho, a ponto de o aborto ser vetado em todos os casos (agora o Brasil deu um passo à frente, sob duros ataques de Olavo de Carvalho e seus seguidores, permitindo o aborto de fetos anencéfalos para permitir que gestantes coloquem um fim, se assim desejarem, ao fardo de carregar no útero um feto que jamais será um ser humano de fato), enquanto no segundo grupo a minha postura é predominante nesse caso (e em outros). Logo, soa um tanto estranho e contraditório o "filósofo" acusar o liberalismo que eu defendo como causa da miséria de nossa oposição e da "direita" no país. Será que ele preferia o Talibã como ícone da nossa direita?  

Não, sr. Olavo de Carvalho, o principal problema da nossa "direita" (ao menos a parcela que você representa) é que ela ainda não saiu da Idade Média! Felizmente, o mundo saiu, e vocês não podem mais calar os "hereges" na marra. Se você pensa que há mais liberdade nos países que adotam sua postura extremista e proíbem o aborto em qualquer caso, tenho certeza que muitos vão concordar que Estados Unidos, Holanda, Austrália, Inglaterra e Nova Zelândia representam opções bem melhores que Afeganistão, Brasil, Haiti, ou Venezuela, onde o fanatismo religioso ainda não foi extirpado pelo iluminismo.   

69 comentários:

Anônimo disse...

'Dois bicudos não se beijam'
Nem três, nem quatro...
Rodrigo vs Mises brasil, mises brasil vs olavo, olavo vs rodrigo...
Pra quem acompanha existe meio que uma competição informal pra decidir quem vai ser o 'guia' da direita brazuca.

É uma pena, já somos tão poucos...
Será que se todos nós fossemos morar em um país só nosso, seria cheio de brigas tb?
Bill Gates, como todo grande líder, era muito cruel com os competidores dele, só é bonzinho com os desgraçados morrendo de fome na áfrica

Anônimo disse...

agora é Proibido discutir?
O Rodrigo Constantino tem que deixar bem claro o que ele pensa, para que as pessoas saibam e entendam os pensamentos de 'direita' dele...

e em relação ao Post, concordo plenamente com o Rodrigo. Muito bem argumentado, esse Olavo tá mais preocupado com o que o público dele vai pensar( usando das técnicas do Schopenhauer) do que realmente debater sobre o assunto... porque em relação ao assunto, o Rodrigo disse TUDO.

Rafael disse...

Olavo apontou o que eu havia apontado nos comentários do post em que o Rodrigo colocou o link para o vídeo. Não é preciso ser religioso e nem ser um "Olavete" (sou ateu e raramente leio os artigos do Olavo) para perceber o óbvio: o Rodrigo entrou em contradição e agora tenta argumentar por meio de exemplos de "países avançados" (como se o avanço em uma área tivesse algo a ver com outra) e de outros filósofos e intelectuais que também defendem o aborto (como se algo passasse a ser verdade somente pelo fato de muitas pessoas concordarem).

O fato é que Rodrigo admitiu que a vida tem início no momento da concepção, mas não quer admitir que uma vida humana é um ser humano. A partir de agora, ser humano é só o que os defensores do aborto consideram ser humano.

João disse...

Acho interessantes açgumas coisas que o Olavo relata, mas quando começam questões de "tradição", se dana e adota o fanatismo religioso como praxe. Ele também nunca se recuperou da surra levada de 2006 a 2008, vai ver por isso ficou boa parte desse tempo citando seu nome – e o do Janer Cristaldo – ao lado de comunossauros como emir sader e mario augusto jakobskind, para relacioná-los por osmose – as olavetes acreditam. Falando no Janer, Olavão tava doido pela presença maciça do estado para processá-los, lembra?

Sds

Anônimo disse...

Devo dizer que, em termos de retórica, Olavo se sai bem melhor que o Constantino. Parece-me que este texto ficou um pouco confuso e forçado em alguns pontos. Realmente Olavo sabe, como poucos, usar e abusar de falsas premissas, falácias, etc, para se chegar a falsas conclusões.

Constantino poderia ter explorado mais e melhor a questão que não, não se sabe ao certo quando começa a vida. O que não significa que, se nós não sabemos, logo, a vida começa na concepção. Aliás, essa é uma conclusão tipicamente da mente religiosa, que precisa de respostas fáceis e imediatistas para explicar as coisas.

Anônimo disse...

Rodrigo Constantino e sua velha tara de achar que chamar algo de "medieval" é algum insulto... Mal sabe ele que, apesar dos pesares, a Idade Média foi marcada por uma enorme evolução no conhecimento humano, intelectual e científico, embora a maioria dos pós-iluminismo queiram diminuir o período à "mil anos de caça às bruxas" e que o mundo foi salvo somente a partir do Renascimento...

Anônimo disse...

"Quem vai dizer quando o feto é um ser humano? essa é a questão cabeluda! Cientistas discutem isso sem resposta adequada. E eu não tenho a pretensão de ter tal resposta sem margem a erros

O que eu sei é que não considero correto a imposição de uma visão religiosa sobre o tema. "

conclusão: não se pode permitir aborto pois o mesmo pode ser um assassinato, seara criminal; (claro que não é somente seara religiosa)

Anônimo disse...

Ah, vale lembrar que o tão criticado "ad hominem" que o Olavo supostamente usa contra o Rodrigo é 80% (ou mais) da base argumentativa do Rodrigo nesses últimos ataques ao filósofo (se um economista pode opinar sobre diversos temas que fogem à sua formação sem ter que distribuir aspas no que diz, não faz sentido utilizá-las aqui também).

Anônimo disse...

Rodrigo, nada a ver c/ esse Olavo, especificamente, e sem levantar questões religiosas (existentes porém desnecessárias) mas dê uma olhada na wiki:
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Chama-se de feto o estágio de desenvolvimento intra-uterino que tem início após oito semanas de vida embrionária, quando já se podem ser observados braços, pernas, olhos, nariz e boca, e vai até o fim da gestação. O estágio anterior a este é conhecido como embrião. Após o parto, o feto passa então a ser considerado um recém-nascido.
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"tomar a pílula do dia seguinte é análogo a enforcar um bebê no berço, assassinato de um ser humano puro e simples"

tomar a tal pílula atinge um possível embrião, não um feto

"reconhecendo que um feto de um dia não é um ser humano"

vc deveria ter a resposta a pergunta "o feto de quantos dias é um ser humano?" para debater esse assunto, concorda? senão estamos especulando certo?


vc faz uma associação simplista de sub-desenvolvimento com a restrição de liberdades, como a de abortar anencéfalos, dessa forma sugere-se que assista a pelo menos parte desse vídeo, link abaixo, sobre o voto do min cezar peluso, o qual demonstra que a questão não é a falta de desenvolvimento, pelo menos intelectual, dos que são contra esse ou outro qquer tipo de aborto:

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/abaixo-boa-parte-do-fantastico-voto-de-cezar-peluso/

Anônimo disse...

Anonymous (4:30 PM)

"tomar a tal pílula atinge um possível embrião, não um feto"


Partindo do princípio defendido por Olavo de que a vida começaria na concepção, tomar a pílula do dia seguinte é um assassinato.

Daniel disse...

Bom... mas voltando ao ponto central da discussao, Rodrigo, vc disse SIM que caberah entao ao Estado decidir quando o feto eh um ser humano. Claro que disse. Vc da uma enrolada, fala que o tema eh cabeludo, que os "cientistas" ainda na chegaram a um consenso, que a sociedade tem que se pronunciar, etc... mas onde acaba isso? Com o Estado oficializando o que a "sociedade" ou os "cientistas" decidiram, determinando quando o feto eh gente e quando o aborto eh crime e quando nao eh. Todos seus outros pontos e visoes do txt sao validas pra discussao, mas entenda que logicamente vc disse SIM que Estado entao deverah tomar a decisao final. Nesse ponto logico, o Olavo esta certo.

Anônimo disse...

"tomar a tal pílula atinge um possível embrião, não um feto"
Partindo do princípio defendido por Olavo de que a vida começaria na concepção, tomar a pílula do dia seguinte é um assassinato.

como disse, nada a ver com olavo, mas com a questão de quando um feto passa a ser um ser humano. tomar a pílula não é assassinato, mesmo que o feto de 0 dias seja aceito como ser humano.

tem outra: na verdade eu errei:a pilula do day after evita a gravidez por interromper o processo de ovulação ou interromper a capacidade do esperma e do óvulo de se encontrarem nas Trompas de Falópio; não há aí nem embrião formado

Marcelo disse...

Constantino,

Por que tu não debates seriamente?

Presta atenção: o fato de tu reconheceres "que a vida em sociedade demanda a existência do estado, inclusive de um judiciário" é algo que o próprio Olavo de Carvalho poderia tranquilamente concordar. Mas isto é DIFERENTE de conceder ao Estado a tarefa de definir algo que - na melhor das hipóteses para ti - está em aberto na sociedade, e ainda por cima é a questão mais grave possível numa sociedade: a definição do ínício da vida.

Tu concedeste, sim, para o Estado este poder. Então, tu é aquele cara que ficou satisfeito com a proposta estatal de reduzir em 90% os impostos em troca da concessão para o Estado do PODER de definir o início da vida.

O Olavo está certo - tu não percebeste a consequência do que tu escreveste.

Anônimo disse...

@Anônimo ds 3:27
'agora é Proibido discutir?'

E alguém aqui disse que era, inteligente?
Proibido ou não, só acho curioso como a esquerda é mto mais unida.Até minarcos e anarcos, que concordam em 99% de tudo, vivem se matando

Rodrigo Constantino disse...

Marcelo, um colega meu respondeu esse ponto de forma interessante:

Não necessariamente. Tire o Estado dessa questão e os pais é quem decidirão se, ou quando, um aborto deve ser praticado. É justamente o pessoal anti-aborto que invoca o poder do Estado para decidir esse assunto. Eles só protestam a intrusão estatal quando o Estado decide contrariamente às suas opiniões.

Anônimo disse...

Ei, anônimo, sabe porque a esquerda é mais unida? Porque a esquerda é BURRA e IRRACIONAL.....

Rafael disse...

Então é só tirar o Estado da questão do homicídio e eu poderei matar os meus desafetos, e ninguém tem nada com isso. É simples assim pra ti?

Tu admites que a vida tem início no momento da concepção, mas quer que o Estado determine em que momento uma vida humana passa a ser considerada um ser humano. A contradição é evidente.

Anônimo disse...

'Tire o Estado dessa questão e os pais é quem decidirão se, ou quando, um aborto deve ser praticado.'

Quando?? Inclusive quando o feto já tem coração, cérebro e sistema nervoso?
Essa não cola.

Sergio Oliveira Jr. disse...

Até os 3 meses, se a mãe morre o feto morre também. O feto não tem vida própria mas a vida dele é uma extensão da vida da mãe. MINHA OPINIÃO: Até os 3 meses a mãe que decide, depois o estado garante a vida do feto e se responsabiliza pela criação dele. O estado protege o feto assim como me protege como cidadão de criminosos por exemplo.

AGORA o ÓBVIO: Mulher que engravidar 3 ou mais vezes recebe ligação de trompas COMPULSIVA. Assim como o cara que "sem querer" rouba ou mata mais do que 1 vez tinha que pegar prisão perpétua ou pena-de-marta.

Daniel Neves disse...

Não sou uma "olavete", mas neste caso estou com Olavo e não abro.

A ideia de que arbitrariamente o Estado decida o momento em que começa a vida humana é algo asqueroso, não me importa quantos países desenvolvidos aprovem a prática (lembrando que todo Estado totalitário é por definição abortista).

A questão é muito mais simples do que se alardeia: a Ciência (ainda) não pode determinar o momento em que aquela vida passa a ser humana. Portanto, em caso de dúvida há de se preservar aquela vida pois só o fato de ser possivelmente humana já lhe garante o status de ser protegido.

Se não se procede assim é simplesmente na base do chute: cientista X acha que a vida humana começa no 28 dia de gestação, cientista Y sustenta que a vida humana começa ao segundo mês... e assim vai.

Vamos matar fetos só na suposição só pra fazer pose de evoluídos.

Lourival Marques disse...

Um feto não é um ser humano, assim como uma semente de laranja não é uma laranjeira; ambos são projetos de ser humano e de laranjeira, respectivamente.

Quem deve decidir pela continuidade ou interrupção da gestação é a própria gestante. Simples assim.

E outra coisa: aqueles que quiserem ser contrários ao aborto, que o sejam à vontade e que então não façam nem apóiem abortos, se assim o preferem. Mas que não tentem usar o estado para obrigar todo mundo a seguir sua vontade.

E, por favor, que deixem em paz aqueles que nada têm contra a idéia de abortar uma gestação. Estou cansado dessas olavetes que equiparam abortos a assassinatos e pró-abortistas a nazistas, como já vi algumas vezes...

Anônimo disse...

rsrs depois do Otávio de Ramalho, a coisa ficou feia para você... ri como louco disso... você ama o cara

Rafael disse...

O Lourival Marques acredita que só porque ele tem uma opinião, ela necessariamente é a verdade absoluta. Se ele diz que um feto não é um ser humano, então assim deve ser. Se ele porventura disser que um portador de Down não é um ser humano, então assim também deverá ser. A cada momento, teremos que perguntar aos iluminados quais vidas humanas são e quais não são seres humanos.

E ele e aqueles que compartilham dessa opinião nem sequer conseguem perceber a existência do problema.

Gustavo Sauer disse...

Mente totalitária a sua ein, Sergio. E se a mulher quiser ter mais filhos? Você vai opera-la a força? Tente fazer isso com a minha mulher e serás um homem morto.

Anônimo disse...

Lorival:

a comparação que o senhor usa é completamente idiota. A laranja pode ser comparada somente a um zigoto, pois ambos estão fecundos e em processo de desenvolvimento. Da mesma forma que a laranja é essencialmente um vegetal e especificamente um vegetal DE laranjeira, um zigoto humano é essencialmente humano. Uma vez que a semente se instala na terra e passa a se desenvolver, podemos comparar à situação em que o zigoto se instala no útero, também para se desenvolver. Neste momento, em ambos os casos há uma semente de laranjeira se desenvolvendo para o estágio arbóreo da laranjeira, do mesmo jeito que o zigoto humano esta se desenvolvendo em uma criança humana. Contudo, apesar de um zigoto não ser uma criança, ele vive, e é humano. Se se aceita a morte de algum humano, arbitrariamente, por causa de algum estado de sua vida (acidente), negando-lhe nele sua natureza (essência), então cai na relativização, que tem de ser resolvida pelo estado. Hitler, Mao e Stálin agradecem e apoiam seu pensamento. Sem ele, jamais estes senhores teriam conseguido matar duas centenas de milhões de pessoas.

Anônimo disse...

A questão dos gêmeos é simples, não se está em discussão se as células podem se dividir, mas se são humanas e isso não há muito do que se discutir, e sendo humanas, possuem direito a vida. Se está verdadeiramente interessado em descobrir o x da questão, leia Scott Klusendorf:

"Cloning advocates sometimes claim that because an early embryo may split into twins
(up until 14 days after conception), there is no reason to suppose that it’s an individual human
being prior to that time. Hence, early embryo research prior to day 14 is morally permissible.
The flaws in this argument are easy to spot. First, how does it follow that because an entity
may split that it was not a whole living organism prior to the split? As Patrick Lee points out,
if we cut a flatworm in half we get two flatworms.
11
Does it follow there was no living (whole)
flatworm prior to the split? Second, if the early embryo (prior to twinning) is merely a hunk of
cells and not a unitary organism, why doesn’t each individual cell develop individually? The key
point is that even though the cells in the early embryo are totipotent (that is, able to develop
into any kind of bodily cell), they function in a coordinated manner as parts of a unified
organism, the embryo. Third, cloning technology renders the twining objection absurd. Put
simply, cloning is twining. An ordinary skin cell taken from anyone of us is used to form an
embryo with the donor’s genetic code. “If an embryo has no right to life because a twin can be
formed from it, and a twin can be formed any of us, it follows that nobody has a right to life,”
writes Ramesh Ponnuru."

Abs.

Felipe disse...

Caramba, que vídeo é esse?

http://www.youtube.com/watch?v=DTFvtjc5UI4

O que esse cara tomou (ou deixou de tomar) pra falar isso? Já vi loucos de rua falando coisas mais coerentes!

Anônimo disse...

"A ideia de que arbitrariamente o 'Estado decida o momento em que começa a vida humana é algo asqueroso'"


---


Ninguém enxerga que proibir o aborto a partir dessa ideia de que a 'vida começa na concepção' é TAMBÉM uma decisão tomada pelo estado?

Vejam bem, se é asqueroso que o estado determine quando a vida começa, então o que fazer? Pois quando o estado proíbe o aborto ele está delimitando, de algum modo, quando a vida começa.


Quem cria as leis não é o estado? Essa discussão gira em torno de uma distorção dos fatos ou mal entendido.

Anônimo disse...

'Até os 3 meses, se a mãe morre o feto morre também. O feto não tem vida própria mas a vida dele é uma extensão da vida da mãe.'

Não necessariamente, a concepção pode ser feita fora, grande parte do desenvolvimento hoje pode ser feito fora, já existem muitos cientistas criando uteros artificiais, é só uma questão de tempo pra ele poder crescer fora 100%

E se ele não é um ser humano pq depende da ciência pra viver então vamos desligar todas as UTIs pq ninguém ali é ser humano.

Anônimo disse...

Olavo de Carvalho disse:
'se a condição humana não é inerente ao feto desde o instante da concepção, alguém terá de decidir em que instante do processo gestativo essa condição se anexa a ele. É isso, precisamente, o que advoga o sr. Constantino: ninguém é humano por natureza, desde o instante em que é concebido. Só se torna humano depois.'

E qual o erro aí? Se quem decide externamente é o governo, ou os pais, ou a religião, não muda em nada o que ele disse.

Anônimo disse...

"E outra coisa: aqueles que quiserem ser contrários ao aborto, que o sejam à vontade e que então não façam nem apóiem abortos, se assim o preferem. Mas que não tentem usar o estado para obrigar todo mundo a seguir sua vontade. E, por favor, que deixem em paz aqueles que nada têm contra a idéia de abortar uma gestação. Estou cansado dessas olavetes que equiparam abortos a assassinatos e ró-abortistas a nazistas, como já vi algumas vezes..."

Matar o feto deve ser encarado como MATAR o feto, pois o mesmo tem braços, pernas, olhos, nariz e boca, ele respira e se alimenta através da mãe;

Semente é o óvulo maduro e já fecundado das plantas gimnospermas ou angiospermas. Equivale ao embrião humano, se for comparável. Da mesma forma o ovo, aqui já usado como comparação inadequada com fetos.

Logo em seguida (ou melhor, agora mesmo: leia "Bebês para abate" do JPCoutinho), dirão que matar bebês também é prerrogativa da mãe;

Daí, para se defender a matança de crianças, adolescentes e o que mais for "necessário", é questão de tempo.

Afinal, o LOCAL onde a vida está define se pode ou não ser defendida pelo estado de direito?

Ivan. disse...

Complicaram coisas simples...
A questão é: deve o estado prender quem pratica o aborto? A opinião do Rodrigo é "não" que a pessoa tem a liberdade de decidir quando inicia a vida de seus filhos conforme o seu entendimento. Como pode ser isso o mesmo que dizer que o estado esta definindo quando ocorre a concepção? Ora se o estado delega a decisão à mãe é obvio que quem está decidindo é ela e não o estado? Nesse caso o estado admite sua incapacidade em decidir tema tão "cabeludo".

Qualquer pessoa de bem é contra o aborto, e portanto a grande maioria das pessoas que tiverem a opção de decidir se fazem ou não o aborto tomarão a decisão correta de não abortar. Agora achar que o governo deve prender quem pensa e age diferente é demais.

O que realmente preocupa é quando o Estado financia o aborto pelo SUS. Preparem-se esse é o sonho da Dilma: o bolsa aborto.

Anônimo disse...

O negócio não é só aborto.
O Rodrigo comentou que acha umas 'besteiras' as teorias de conspiração dele
Certo... se vc pegar coisas como o caso Traivon Martin vai ver Peter Schiff e Lew Rockwell falando exatamente a mesma coisa: como a mídia gringa é descaradamente mentirosa e tendenciosa pro lado dos negros americanos.
'teorias de conspiração'...

R. C. disse...

Constantino inverte a questão e diz que o que caracterizaria uma intromissão indevida do estado na vida das pessoas não seria a liberação do aborto, mas a sua proibição.

Segundo essa lógica, um estado respeita a liberdade quando PERMITE que as pessoas decidam se querem abortar ou não.

Huuummm... Interessante. Esse é um conceito novo de liberalismo para mim: “impedir um assassinato é uma intromissão indevida do estado na vida das pessoas; o estado só é respeitador da liberdade de deixar as pessoas decidirem se querem matar as outras ou não”.

Deve ser alguma forma de reverter a vantagem eleitoral que o PT tem em todos os presídios do país...

Rodrigo Constantino disse...

Quando vc chama de assassinato já encerra a questão com seu viés. O que estaria em debate é justamente o conceito de FETO, ser ou não um SER HUMANO. Se vc parte da premissa de que é, então conclui aquilo que sua -premissa já assume. Circular reference.

Anônimo disse...

Se vc fosse um demolidor, tivesse que implodir um prédio e houvesse uma possibilidade, ainda que remota, de ter uma pessoa ali dentro, não seria motivo suficiente pra não demolir nada, pelo menos naquele momento?
Supondo que vidas humanas são importantes...

Rafael disse...

O Rodrigo continua insistindo que um feto não é um ser humano, apesar de já ter admitido que a vida tem início no momento da concepção. Uma vida humana magicamente se transformou, por esse pensamento torto e inexplicável, em algo diferente de um ser humano.

Se eu considerar que os membros de uma minoria qualquer não são dignos de serem chamados de "seres humanos", então estarei livre para matá-los - segundo o raciocínio dos defensores do aborto que comentam por aqui. Se o Estado me punir por isso, estará limitando a minha liberdade de viver de acordo com as minhas convicções.

Agora pensemos na possibilidade de permitir que os pais decidam em que momento tem início a vida dos filhos. Não vai demorar muito até que decidam eliminá-los depois do nascimento. Inclusive, isso já foi defendido naquele artigo sobre o eufemístico "aborto pós-natal". Os pais daqueles que argumentam dessa forma poderiam "abortá-los" hoje mesmo, e ninguém teria nada com isso - afinal, basta eles considerarem que a vida ainda não começou.

Eis aí a "lógica" dos defensores do aborto. Não conseguem sustentar suas opiniões furadas com argumentos, mas consideram aqueles que conseguem muito atrasados... Pensar racionalmente é sinal de atraso, progressista é dizer que A não é A.

Rodrigo Constantino disse...

Ora bolas, a VIDA DO EMBRIÃO começa ali, não a de um novo SER HUMANO.

Vem cá, vcs contam toda gravidez que não vinga, algo muito comum, como óbito de seres humanos? Eu não sabia...

Vcs escutam uma mãe falando que perdeu dois FILHOS, quando tem gravidez interrompida? Eu não.

Pois é...

Sobre o terror nazista, é falta de argumento mesmo. Basta ver que na MAIORIA dos países civilizados o aborto é legalizado há décadas, e nem por isso se extermina SERES HUMANOS. Terrorismo infundado de paranoico que quer salvar a cruzada moral, nada mais.

Míriam Martinho disse...

Recebi um link para um texto do filhote da Marxilena Chauí, o Wladimir Safatle, sobre o aborto, onde ele começa dizendo que o Brasil era um dos poucos lugares onde liberais não aceitavam o direito de escolha dos indivíduos (no caso, as mulheres).
Até escrevi um comentário sobre o artigo dele dizendo que a questão é que predominam no país conservadores travestidos de liberais e não liberais de fato. Daí essa história, entre outras, de querer que o Estado, como intermediário dos dogmas desses medievais, obrigue uma mulher até a manter a gravidez de um feto anencéfalo.
Você nem deveria responder a esse reaça paranóico do Olavo de Carvalho. A história da Pepsi dá bem a dimensão de a quantas anda a esclerose do sujeito.
Acho ótimo que pessoas como você, que tem a mente aberta, possam representar uma direita antenada com o tempo em que vivemos e falar principalmente aos jovens dos valores da liberdade, como uma alternativa à esquerda que espertamente monopolizou as questões da modernidade antes combatidas. Com essa direita cavernosa do OC e suas olavetes não temos chance alguma de sucesso, no bom sentido do termo. Vá em frente que atrás vem gente.

Lourival Marques disse...

"Se ele porventura disser que um portador de Down não é um ser humano, então assim também deverá ser. A cada momento, teremos que perguntar aos iluminados quais vidas humanas são e quais não são seres humanos."

Ora, Rafael, uma pessoa portadora de síndrome de Down é um ser humano como outro qualquer, pois nasceu, foi dado à luz. Nem se compara com um embrião, que como eu disse e repito, é só um projeto de ser humano...

bebeto_maya disse...

A questão é clara, e a retórica do Rodrigo se torna falsa pela dicotomia em demérito do princípio precaucionista: Na dúvida, é um ser humano e enquanto não se decide isso cientificamente, considera-se um ser humano, porque o erro ciêntifico tem fins catastróficos. Ponto final.

O que Rodrigo tem como opinião é o oposto do princípio precaucionista: Na dúvida, não é nada que não possa ser extirpado via sucção e enquanto houver dúvidas, tá liberado.

En passant: O que ando percebendo é que estão abundando esquerdistas, do PT mesmo, por aqui no seu blog, em consonância com sua opinião. Acho que você deveria se assumir de vez como esquerdista, Rodrigo. Ao menos como "esquerda progressista", que me parece ser sua tendência. Não vou lhe julgar por isso, mas sua seara parece ser a dos(as) feministas e liberais.

Rodrigo Constantino disse...

Na dúvida, em prol do SER HUMANO vivo, que é a mãe.

bebeto_maya disse...

Rodrigo, quando há risco para a mãe, o Código Penal já estabelece essa excessão e vai além, dando este espaço para o caso de estupro. Então, o que há de novo? O que você quer afirmar que já não exista? Fetos sem cérebro, ok! E depois? Até 3 meses? É aí onde entra a polêmica encerrada pelo princípio precaucionista.
.
Vale lembrar que há muitos casos de anencefalia são imcompletos, existe na verdade um cerebro parcialmente formado, ao contrário do que narra o Sr. Flavio Piovesan, ao meu ver, um vigarista.

xará disse...

Legal o artigo, muitas vezes também acho os denominados conservadores tacanhos demais, muitas vezes nem parece que são a favor da democracia. Mas também muitas vezes acho que os chamados liberais são liberais demais, como quando defendem liberação de drogas ou aborto e eutanásia pura e simplesmente ou o individualismo muito radical.

As teorias conspiratórias que Olavo de Carvalho alimenta (desmantelamento da URSS foi obra arquitetada pela própria KGB, o excesso de poder mirabolante atribuído ao Foro de SP, a paranoia com o movimento homossexual, a acusação de que a ONU quer controlar o mundo por meio de um governo mundial, a obsessão com a Rede Globo como veículo da revolução cultural gramsciana) são muito bobas, sem falar na defesa que ele faz do tabagismo.

Isso de não escrever Estado com inicial maiúscula é bobagem, é da língua portuguesa, em minúscula significa condição, situação.

Anônimo disse...

O programa True Outspeak serve para comentar as notícias da semana.
O caso da Pepsi é este:

http://www.naturalnews.com/035276_Pepsi_fetal_cells_business_operations.html


The Obama Administration has given its blessing to PepsiCo to continue utilizing the services of a company that produces flavor chemicals for the beverage giant using aborted human fetal tissue. LifeSiteNews.com reports that the Obama Security and Exchange Commission (SEC) has decided that PepsiCo's arrangement with San Diego, Cal.-based Senomyx, which produces flavor enhancing chemicals for Pepsi using human embryonic kidney tissue, simply constitutes "ordinary business operations."

Daimler disse...

Constantino,

Há uma dúvida, mais do que razoável, inclusive reconhecida por você mesmo, a respeito do "termo inicial" da vida humana.

Diante desta ponderação, eu lhe questiono: Na dúvida, deve-se matar? E se, de fato um dia, não pairar mais qualquer dúvida acerca da humanidade do feto?

Em tempo: Os casos excepcionalíssimos de anencefalia, estupro e risco de vida para a mãe são irrelevantes para a questão.

Abraços.

Liebman disse...

Com toda a evidência, a verdadeira "crença religiosa" está consubstanciada na tese de que, milagrosamente, num passe de mágica, a formação do sistema nervoso central dá ao feto a condição de ser humano, a qual desde a concepção já lhe é imanente.

Ítalo Candido de Oliveira disse...

Se o Constantino não defende que o feto é por concepção ser humano, mas ao mesmo tempo quer negar que esta dando poder ao estado para definir, então ele é totalmente individualista?

Por exemplo, se uma mãe quiser definir que a vida humana começa apenas no nascimento e quiser interromper a gestação com 8 meses é licito? é isso? Que cada familia decida quando começa a vida! Se a familia quiser decidir que seu filho so torna ser humano com cinco anos, então pode matar seu filho de 4 ou de 3?

amauri disse...

Bom dia Rodrigo!
"Eu prefiro ficar com a imperfeita alternativa de que cabe à sociedade, de alguma forma, legislar sobre o assunto, reconhecendo que um feto de um dia não é um ser humano, e que direitos, valores e princípios conflitantes estão em jogo, demandando escolhas difíceis”. Ao repassar à sociedade a incumbência de decidir o que é vida, conforme aos impulsos e desejos do momento, voce nada mais faz do que repassar ao Estado a autoridade moral para decidir quem merece viver ou morrer. Ou seja, voce apenas confirmou tudo aquilo que Olavo de Carvalho denuncia em seu discurso. Ademais, é abominável pensar que, na “escolha difícil” entre a vida e a morte, alguém opte justamente pela morte certa.

amauri disse...

"o fato de um embrião ou feto não terem a formação humana aparente, logo, são provas de que não são humanos." O vício de raciocínio está no seguinte fato óbvio de que não existe nenhuma forma humana definida que possa fazer de alguém mais humano do que outro. Um adulto, com todo o seu corpo formado, é mais humano do que uma criança, que precisa desenvolver certas potencialidades? Uma pessoa sã mental e fisicamente é mais humana do que um indivíduo aleijado ou retardado? Percebe-se aí até aonde vai o culto de certos modelos ideais da espécie humana:

amauri disse...

“Pois como citei acima, os países mais avançados do mundo permitem, em sua totalidade, o aborto em situações extremas e no começo da gestação. Será que o problema da nossa "direita" é o pensamento liberal que eu defendo?”
É curioso voce fazer uma assimilação entre o pensamento liberal e o aborto, já que nos países “civilizados”, a legalização do aborto é agenda cultural de nações e políticas sociais-democratas. E desde quando a riqueza ou a prosperidade de um país é argumento para justificar ações arbitrárias e desumanas? A Alemanha era um dos países mais cultos da Europa, no século XX, e aderiu alegremente ao nazismo. Os Eua aplicaram o programa de eugenia em vários estados americanos, com a esterilização em massa de pessoas consideradas “anti-sociais” ou de origem africana. E a Holanda, a queridinha Holanda citada por voce, já reconheceu até partido pedófilo. Esse é o modelo de país civilizado que voce idealiza para nós?

Rafael disse...

"Ora bolas, a VIDA DO EMBRIÃO começa ali, não a de um novo SER HUMANO."

São duas vidas, então? Antes tem início a vida do embrião, depois ela termina e daí repentinamente tem início a vida do ser humano? Em algum momento as duas coexistem? Tu estás te afundando cada vez mais nesse argumento furado. É uma única vida, em diferentes estágios de desenvolvimento.

"Ora, Rafael, uma pessoa portadora de síndrome de Down é um ser humano como outro qualquer, pois nasceu, foi dado à luz. Nem se compara com um embrião, que como eu disse e repito, é só um projeto de ser humano..."

Dizer e repetir não torna algo verdadeiro. Eu considero um portador de Down um ser humano como outro qualquer, mas alguns dos defensores do aborto fazem distinção entre vidas humanas e seres humanos, deixando fetos anencéfalos (por exemplo) fora da segunda categoria. Se acham válido considerar que algumas vidas humanas não são seres humanos, a única coisa que muda até chegar ao ponto de considerar que portadores de Down não são seres humanos são os critérios arbitrários que usam para definir quais vidas são e quais não são seres humanos.

"Com toda a evidência, a verdadeira 'crença religiosa' está consubstanciada na tese de que, milagrosamente, num passe de mágica, a formação do sistema nervoso central dá ao feto a condição de ser humano, a qual desde a concepção já lhe é imanente."

Precisamente. O sistema nervoso faz, para muitos defensores do aborto, o papel da "alma".

Pedro disse...

Rodrigo, acompanhei a discussão e acho, sinceramente, que você está certo, mas com a abordagem errada.

O grande erro do Olavo foi lhe acusar de dar ao estado o poder de decidir quando começa a vida. Não é preciso pensar muito para ver que é justamente o contrário. A criminalização do aborto é exatamente isto: o estado determinando que a vida começa na concepção. O estado determina que a partir deste momento o feto pode ser considerado como uma vida.

Neste caso, a legalização do aborto tiraria este poder do estado e daria para as famílias. Caberia, então, aos pais decidirem onde começa a vida do seu filho. Os pais católicos continuarão a não abortar, pois consideram que a vida começa na concepção. Outros, por sua vez, não verão problema em abortar no estágio inicial da gravidez.

A acusação feita pelo Olavo não faz o menor sentido, pois é ele quem pede que o estado defina o momento inicial da vida. Não é a toa que os defensores da legalização do aborto se auto-denominem "pro-choice", ou seja, a favor do direito da família de escolher como lidar com o feto.

Rodrigo Constantino disse...

Mas eu citei isso, Pedro! ELES é que querem o estado dizendo quando começa a vida! Eu prefiro deixa a escolha com as famílias, com a sociedade de forma geral. Se o estado aprova uma lei vetando qualquer aborto em qualquer caso, é óbvio que o estado está determinando que a partir da concepção já temos uma PESSOA. Seria o estado decidindo quando começa a vida de um SER HUMANO, o que é justamente aquilo que Olavo e os olavetes condenam. Lógica não é o forte deles. No fundo, o que eles dizem é o seguinte: O ESTADO DEVE SIM DETERMINAR QUANDO COMEÇA A VIDA HUMANA, DESDE QUE DECIDA DE ACORDO COM MINHA FÉ!

Rafael disse...

Mais uma repetição de um argumento contraditório, como eu já apontei de forma clara.

Se vocês consideram "imposição estatal" a proibição do aborto, porque o Estado estaria determinando que um feto é um ser humano (o que é inegável, como também já argumentei), então o mesmo raciocínio deve ser aplicado à eliminação de qualquer outra vida. Segundo esse raciocínio, como poderia o Estado punir os pais que "abortam" o filho um dia antes do nascimento? Ou um dia depois? Ou dez anos depois? Se punisse, não estaria ele determinando um momento para o início da vida, exatamente ao contrário do que vocês fingem defender?

O fato é que deve, sim, ser determinado um ponto não subjetivo para o início da vida humana. Se não for assim, qualquer assassino pode argumentar que sua vítima não era uma "pessoa". O único ponto possível para evitar o arbítrio é o momento da concepção.

Anônimo disse...

Sobre teoria da conspiração, segue o link com a matéria na página da CBS sobre a utilização de células de fetos na produção de um novo tipo de adoçante.

http://www.cbsnews.com/8301-505123_162-44043121/the-story-behind-pepsis-upcoming-scientifically-advantaged-low-calorie-soda/?tag=bnetdomain

Anônimo disse...

Sinto muito, Rodrigo, mas você não tem como se esquivar da obsevação do Olavo. Mesmo que a decisão de abortar seja facultada à mãe ou aos pais em conjunto, subsiste a questão de saber se ela deve ser legalmente reconhecida ou não. Não é possível negar que a legalização do aborto supõe reconhecer ao Estado, seja ele representativo ou não, o poder de legislar sobre o direito de viver. Sem admitir isso, você não tem condições de prosseguir no debate.

Rodrigo Constantino disse...

Por esta lógica, somente um ANARQUISTA pode se dizer contra a decisão "arbitrária" do estado.

Quer dizer então que Olavo e os olavetes aceitam o estado determinar quanto eles devem deixar de seus ganhos na mesa? Então pode ser 100%! É isso? Se você aceita que o estado decida quanto pagar de imposto, quer dizer que você pode aceitar 100% de imposto, socialismo total?

Isso é truque retórico. São os religiosos que querem o estado determinando quando começa a vida, ao condenar qualquer aborto em qualquer situação.

Rafael disse...

Mais uma vez apelando à mentira de classificar como "religiosos" todos os que são contra a legalização do aborto...

Mas então fica assim: pra mim a vida começa aos 80. Se algum dia acontecer de eu eliminar alguém de idade inferior a essa, o Estado não pode me punir, porque se punisse estaria determinando quando começa a vida. Espero que todos vocês que argumentam em favor do aborto contribuam com a minha defesa.

Rodrigo Constantino disse...

Claro, inclusive em todos os países que aceitam o aborto nesse caso, há décadas, caíram na eugenia, e adolescentes são dizimados nas ruas pelo estado. Claro!

Como eu disse, truque retórico. Se vc aceita ALGUM imposto, então aceita IMPOSTO TOTAL (socialismo). Ou é anarquista, ou socialista, não há meio termo.

Rafael disse...

Nesse blog, lógica é considerada truque retórico e truques retóricos são considerados lógica.

Se impostos mínimos implicassem diretamente eliminação intencional de vidas humanas, então a analogia seria adequada.

Mas ao menos tu aparentemente reconheceste que, se o Estado pune homicídios, então está (implícita ou explicitamente) determinando o ponto inicial da vida, e que o único ponto não arbitrário para tal determinação é a concepção. Ao menos não vi nenhum argumento em contrário. Já é um avanço.

Alexandre disse...

Gosto de ouvir o Olavo e gosto de ler o Rodrigo ... uma pena que o Rodrigo não tenha entendido o Olavo , e o Olavo não tenha tolerado o Rodrigo .

Uma Grande Pena .

Anônimo disse...

Conheco e acompanho Olavo de Carvalho a muitos anos e sempre o admirei. Nunca ouvi falar de Rodrigo COnstantino talvez pela razao de que vivo no Exterior a quase 20 anos. Respeito Olavo pois ele , Afif e posteriormente Mainardi e Reinaldo Azevedo foram os unicos com coragem de defender ideias da direita. Nao tenho muito conhecimento a seu respeito mas se voce e muito influente na Direita brasileira atual posso dizer que voce faz parte duma turma quase paralizada. Porem tenho que admitir que entendo seu ponto e concordo com alguns dos seu argumentos. Sempre achei que o Olave errava no exagero dos palavroes, mas na verdade oque sempre me incomodou foi a insistencia em algumas teoria absurdas que acabamm descretitando algumas de suas ideias. QUanto ao seu lado religioso, discordo de voce, pois tudo tem espaco. Olavo e mais Republicano e voce Libertario, comparando com os partidos dos EUA. Mas acredito que Olavo mereca respeito pela coragem de enfrentar a estupidez do pensamento unico esquerdista no Brasil. Tambem acho que o conhecimento de filosofia do Olavo e uma preciosidade que ele esta passando aos alunos.

VO disse...

Dizer que a ciência vai determinar quando começa a vida humana é desconhecimento do que é e como funciona o processo científico.

A ciência trabalha com hipóteses, observação e experimentação, e suas leis, em consequência funcionam de acordo com resultados de experimentos, e NÂO constituem verdades (dentro do conceito Socrático de verdade).

Nenhum cientista poderá determinar quando começa a vida humana exceto ao determinar antes qual a definição de vida e qual a definição de vida humana. E a classificação vai determinar as respostas.

Utilizando os mesmos argumentos aqui apresentados podemos andar para o passado. Como não há certeza de que um óvulo feminino não é vida, então todo o mês em que há um óvulo a mulher deve ser obrigada a engravidar ou está matando um ser humano por falta de ação.
Trazendo ainda mais para o terreno do que é possível, seria claro que uma mulher e um homem não poderiam recusar um proposta sexual pois ao fazerem isso estariam acabando com uma vida.
Indo além disso, considerando qualquer possibilidade, ou seja, na dúvida, qualquer ação ou falta de ação pode ser considerada como um atentado a vida humana.

As nossas definições para o que é vida ou vida humana não são fruto da ciência mas dos nossos valores em sociedade. São intrisicamente morais.

"The scientist has a lot of experience with ignorance and doubt and uncertainty, and this experience is of very great importance, I think. When a scientist doesn’t know the answer to a problem, he is ignorant. When he has a hunch as to what the result is, he is uncertain. And when he is pretty damn sure of what the result is going to be, he is still in some doubt. We have found it of paramount importance that in order to progress, we must recognize our ignorance and leave room for doubt. Scientific knowledge is a body of statements of varying degrees of certainty — some most unsure, some nearly sure, but none absolutely certain. Now, we scientists are used to this, and we take it for granted that it is perfectly consistent to be unsure, that it is possible to live and not know. But I don’t know whether everyone realizes this is true. Our freedom to doubt was born out of a struggle against authority in the early days of science. It was a very deep and strong struggle: permit us to question — to doubt — to not be sure. I think that it is important that we do not forget this struggle and thus perhaps lose what we have gained." -- Richard Feynman

The business of science is to find uniformities, such as the laws of motion and the law of gravitation, to which, so far as our experience extends, there are no exceptions. In this search science has been remarkably successful, and it may be conceded that such uniformities have held hitherto. This brings us back to the question: Have we any reason, assuming that they have always held in the past, to suppose that they will hold in the future?" - Bertrand Russel

Alex Brum Machado disse...

Pepsico e a polêmica do adoçante:

http://www.youtube.com/watch?v=308_aCxfHU4&feature=plcp

Quem é que está viajando agora?

Friedhardt disse...

Rodrigo,
Gosto de alguns artigos que escreves, mas inevitavelmente acabas tropeçando quando o assunto é (ou demanda fundamentação em) filosofia. Exemplo disso é chamar "reductio ad absurdum" de retórica vazia. Outra coisa que causa vergonha alheia é ficar insistindo na questão do astrólogo. Mesmo que Olavo fosse babalorixá de carteirinha, ficar batendo nessa tecla faz qualquer interessado no assunto, que deveria ser o objeto do post e não o Olavo, bocejar. Mas enfim... parabéns pelo blog quando tratas de economia.

Anônimo disse...

Rodrigo, não podes generalizar os ancaps desta maneira. Viver sob uma minarquia ou sob uma sociedade de leis privadas é quase a mesma coisa no cotidiano das pessoas. O argumento que muitos usam é que a minarquia tenderá a crescer de maneira descontrolada. Dado que foi isso que ocorreu com a única minarquia moderna implantada em um país de porte considerável (os EUA dos founding fathers - e exclua certas ilhas e cidades independentes) há possivelmente um fundo de verdade neste alerta. Se mesmo uma sociedade com cidadãos armados e forte cultura de liberdade não conseguiu impedir a transformação da minarquia em um leviatã que consome 40% do PIB, como garantir a limitação do tamanho do governo? PS: esquece o velho caquético...

Olívio Pessoa disse...

Rodrigo, a importância não diz respeito em delimitar "quando inicia a vida humana" pelo Estado ou não, mas sim em definir a sua personalidade jurídica (segundo o CC é apenas quando nascido com vida) e a aquisição de certos direitos ou expectativas de direitos. O debate é tão interessante que vai muito além da hipótese restrita do aborto, que vocês estão discutindo, envolve também a questão do direito à reprodução (através de métodos de reprodução humana assistida), e a definição do regime jurídico dessas novas situações, por exemplo, seria permitido a gestação subrogada? Creio que a rivalidade de ambos, ou então falta de conhecimento de biodireito mesmo, fez esquecer disso. E outra coisa, há certa admiração no mundo por determinado país que é exemplo em violar direitos humanos, sobretudo por causa de sua economia, que Estado é? A china.. É importante também pensar no aspecto da biopolítica e do controle de natalidade. A discussão é muito mais ampla do que vocês estão vendo. E por trás do aborto, além do planejamento familiar (liberdade dos modernos) há a bandeira chinesa.

Thiago disse...

Rodrigo, por mais diferenças que tenhamos (me defino um social-democrata), nesta questão do aborto concordo totalmente com você. Você abordou muio apropriadamente a postura delirante e falaciosa do Olavo de Carvalho. Os argumentos anti-aborot, em geral, são eivados de fanatismo religioso e de um autoritarismo floreado com expressões tipo 'em defesa da vida'. Nisto pensao exatamente como o falecido (e genial) comediante George Carlin.