João Pereira Coutinho, Folha de SP
Vladimir Safatle deveria estar num museu. Digo isso com todo o respeito.
Lendo "A Esquerda que Não Teme Dizer Seu Nome", lembrei de imediato a peça "O Percevejo", de Maiakóvski, história de um antigo bolchevique, Prissípkin, que, depois de um acidente, acorda para o mundo futuro vindo diretamente de um passado irreconhecível.
Safatle é uma espécie de Prissípkin intelectual: o século 20 pode ter sido o grande cemitério de cada uma das suas ideias coletivistas. Mas Safatle, como o anti-herói de Maiakóvski, esteve mergulhado numa tina de água gelada em hibernação ideológica. Não viu nada, não aprendeu nada. E não esqueceu nada.
Ser de esquerda é, para Safatle, estar com aqueles que mais sofrem. É o primeiro clichê. Mas depois vêm outros: a defesa radical do igualitarismo é um valor inegociável para os camaradas.
Infelizmente, ele não explica em que consiste esse igualitarismo, para além das piedades habituais sobre a importância de redistribuir riqueza. Nenhuma palavra sobre a necessidade de a criar.
Criar? Para Safatle, o mundo divide-se em ricos e pobres; os ricos roubam os pobres; a função do Estado é roubar os ricos. "The end".
Igualitarismo é parte da história. Mas a esquerda que não teme dizer seu nome também é, para Vladimir Safatle, "indiferente às diferenças". Não sei se isso significa que o autor, com apreciável coragem intelectual, se opõe às cotas raciais instituídas por universidades brasileiras.
Sei apenas que, para Safatle, cultivar as diferenças (e, por arrastamento, demonizar o outro) é vício judaico-cristão, praticado pela Europa branca e xenófoba.
Curiosamente, não passa pela cabeça do filósofo que esse "culto da diferença" é também prerrogativa de comunidades imigrantes, leia-se "muçulmanas", que habitam a Europa, mas repudiam os seus valores multiculturais e resistem a integrar-se.
SOBERANIA POPULAR
De resto, as melhores páginas deste curto ensaio estão na apaixonada defesa do conceito arcaico de "soberania popular".
Na minha inocência, eu julgava que esta herança rousseauniana, uma metáfora para a total rendição do indivíduo aos ditames da comunidade, tinha ficado enterrada com as "democracias populares" do século 20.
Ilusão minha: as utopias revolucionárias da última centúria foram apenas uma ideia que não deu certo, diz Vladimir Safatle.
E acrescenta: "quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar?".
Não é fácil ler a pergunta e imaginar os 100 milhões de seres humanos (estimativa conservadora) que o comunismo destruiu nas suas "experiências" de criação do "homem novo".
E volto a Maiakósvki, porque são dele as palavras que abrem o livro de Safatle: "Melhor morrer de vodca que de tédio". Admito que sim.
Mas alguém deveria informar Safatle de que não foi a vodca (nem o tédio) que matou o seu herói. Ironicamente, foi o clima de repressão e intolerância do regime soviético que o conduziu à aniquilação pessoal.
5 comentários:
Rodrigo, pq vc dá atenção pra um zé ninguém como esse? Esquerdista tem aos montes por aqui
Esquerdista tem aos montes por aqui
E estão todos se dando bem! Minta para mim que eu gosto diz o povão. E la nave va...
Acho engraçado o fato de não encontrar ninguém na Internet que admita ter passado pela crise dos 40 anos.
Eu reconheço que passei e as verdades que foram surgindo foram dolorosíssimas.
Passei minha vida inteira ajudando familiares e me preocupando com eles.
Na crise dos 40 anos cheguei à conclusão que só me ferrei vivendo mais para os outros do que para mim mesmo.
Daí foi só passar a viver para mim mesmo que deu tudo certo e tirei de letra essa crise.
Já no caso de Safatle e outros, por eles terem chegado à conclusões opostas às minhas concluo que eles fizeram no passado o contrário do que eu fiz, ou seja, nem mesmo suas famílias eles respeitaram ou ajudaram em alguma coisa.
Não acredito em discursos desonestos pois sei, por experiência, que o ser-humano sente em algum nível aquilo que ele endossa racionalmente, e se Safatle está agora com esses discursos humanitários é porque de fato ele nunca fez nada por ninguém e agora faz sua mea culpa.
Bem...
De que este tal Safatle seja apenas um picareta intelectual, ninguém (de posse de dois neurônios e um pouco de sinceridade) duvidaria...
O que realmente me deixa curioso é saber se ele próprio é consciente de sua farsa.
Porque, afinal, só há duas maneiras de viver sustentando este discurso vigarista.
Uma delas seria tendo consciência da patifaria moral de seus próprios argumentos, porém estar condenado a viver desta má-fé, mantendo esta espécie de cargo de "porta-voz de ideologias mortas" para animação de claques de esquerda, por questões mesmo de sobrevivência profissional. O sujeito começou nessa vida há muito tempo e não tem mais condições de admitir seu próprio engano. Ele tem que ser pragmático e manter seu emprego de animador.
A outra hipótese seria imaginar que este senhor realmente acredita nas coisas que escreve, caso em que, obviamente, já se estaria falando de uma espécie de grave alienação da consciência. Uma psicopatia incurável.
Esta alienação também chamada de esquerdopatia, da qual algumas mentes inferiores padecem, sem jamais conseguir se livrar, é uma espécie de lavagem cerebral.
Um processo assustador, iniciado em escola primária e levada até a faculdade, pela legião esquerdista que domina a grande maioria da categoria dos professores brasileiros, há dezenas de anos.
Esta operação de embotamento mental é impressionante, pois parece ser capaz de tornar homens aparentemente educados (sabem ler e escrever em português quase aceitável) em zumbis intelectuais do naipe de um Safatle.
Parabéns ao JP Coutinho pela coragem de ler o opúsculo ridículo do Safatle. Tive-o em mãos na Livaria Cultura. Li uns dois parágrafos escolhidos aleatoriamente (uso essa técnica, antes de comprar um livro) e mais não consegui. Mal escrito, confuso, com ideias ruins e explicações piores. Como esse cara conseguiu chegar ao doutorado?
Sds.,
de MarceloF.
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