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sexta-feira, março 15, 2013

O Cazaquistão é aqui

A classe média do governo Dilma

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

“Brasil fica estagnado na 85ª posição do IDH”, diz a manchete do jornal O Globo. Todo indicador é imperfeito e limitado, especialmente um que leva em conta alguns conceitos menos objetivos. Ressalva feita, a constatação é clara, a despeito da pressão do governo pela mudança de cálculo: a qualidade média de vida no Brasil não melhora muito em termos relativos e continua lá atrás do ranking mundial. Estamos perto do Cazaquistão!

Também, pudera: possuímos uma das maiores cargas tributárias entre os países menos desenvolvidos, os serviços prestados pelo governo são precários, há muita corrupção e concentração de poder em Brasília, etc. A vida do pobre ou da classe média brasileira não é nada fácil. Transporte público caótico, péssima qualidade no ensino, hospitais públicos caindo aos pedaços, elevada criminalidade, e tudo isso mesmo depois de entregar “voluntariamente” quase 40% do que recebe de salário.

Dá para comemorar só porque o governo distribui esmola na medida certa para “reduzir” a miséria oficial? Dá para soltar fogos de artifício porque o crédito foi estimulado de forma irresponsável para criar a sensação de prosperidade, que é ilusória e insustentável? Como celebrar o modelo atual quando sabemos que a produtividade brasileira, fundamental para incrementar os salários de forma sustentável, simplesmente não cresce há anos?

Não sei quanto ao leitor, mas eu não me contento com tão pouco. Há quem tenha nascido para lagartixa, e jamais chegará a jacaré. Mas eu não posso vibrar com um IDH na 85ª posição, ao lado do Cazaquistão. Nem mesmo em uma sexta-feira!



quarta-feira, dezembro 28, 2011

A sexta maior do mundo!

Rodrigo Constantino

A notícia levou os nacionalistas ao delírio: a economia brasileira, medida pelo imperfeito PIB, ultrapassou a do Reino Unido e assumiu a sexta posição no ranking mundial. Não é fantástico? Somos mais ricos que os ingleses! Ou será que não é bem assim?

Na verdade, não é nada assim. E por vários motivos. Em primeiro lugar, o “detalhe” mais óbvio, que até uma pequena criança é capaz de compreender: o Reino Unido produz aquele valor de bens e serviços com pouco mais de 60 milhões de habitantes, enquanto o Brasil produz seu PIB com cerca de 200 milhões. Em outras palavras, a produção per capita dos brasileiros ainda é bem menor do que a dos ingleses, e isso é muito mais relevante que o valor absoluto. Afinal, já passamos o PIB da Suíça, com seus 7,6 milhões de habitantes, faz tempo, e não creio que devemos soltar fogos de artifício por conta disso.

Mas não é apenas isso. O PIB mede um fluxo de produção a valor corrente, e isso depende de muitos fatores, tais como a taxa de câmbio e o preço das commodities, quando se trata de um país com relevante exportação de bens básicos como o Brasil. A Inglaterra está passando por uma dolorosa fase de ajustes, com retração econômica e desvalorização de sua moeda. Os países emergentes, especialmente aqueles com fartos recursos naturais como o Brasil, estão com outra dinâmica, crescendo mais e vendo suas moedas se valorizarem.

O governo Dilma não tem mérito pelo que se passa no Chile ou na Austrália, evidentemente. O Brasil, para falar a verdade, cresce aquém de seus pares. E não deixa de ser curioso que o governo tente jogar a culpa da queda do crescimento brasileiro na crise mundial, ao passo que evita reconhecer o crédito da pujança global, particularmente a chinesa, pela fase de maior crescimento econômico aqui. Dois pesos, duas medidas.

Fora isso, outros indicadores devem ser levados em conta para se medir (ou tentar medir) o sucesso de uma sociedade. O IDH é um deles, ainda que também bastante imperfeito. Mas não é preciso ir tão longe. Basta olhar ao redor do país e ver a quantidade de miséria, de favelas, a criminalidade, a infraestrutura caótica, a concentração ilegítima de renda graças aos privilégios do governo, a corrupção, a impunidade, para notar que apenas nacionalistas muito bobocas celebram um dado tão insignificante como este.

Sim, somos o sexto PIB do mundo. Sim, passamos o PIB do Reino Unido. E daí? Com tantos problemas que nos saltam aos olhos diariamente, é o caso de perguntar: Who cares?! Alguém aí melhorou de vida após saber desta notícia? Então que tal voltarmos nossa atenção para a imensa quantidade de problemas que temos de resolver para tornar o Brasil um país melhor, mais próspero, livre e justo? Podemos começar com a questão da impunidade, crucial para nosso futuro. Alguém viu Fernando Pimentel por aí? A propaganda estatal sobre o PIB acima do inglês é apenas “para inglês ver” – ou, no caso, para nacionalistas ingênuos acreditarem que isso muda muita coisa.