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terça-feira, dezembro 04, 2012

O espírito animal de Delfim Netto

Rodrigo Constantino

Tem gente que nunca aprende mesmo. Delfim Netto, o Sarney da economia brasileira, é um desses casos. Sempre circulando em volta do "puder" (até o ministro do STF, Luiz Fux, confessou que colou no homem quando soube que sua indicação valia ouro em Brasília), seus conselhos econômicos têm tudo a ver com o atual fracasso da economia, que deve crescer apenas algo como 1% esse ano. Mas pergunta se Delfim Netto faz algum tipo de mea culpa. Claro que não!

O problema é que os "espíritos animais" ainda não acordaram, apesar de todos os estímulos corretos do governo. Eis o que ele escreve em sua coluna do Valor hoje:

O fato realmente trágico das contas nacionais de julho-setembro de 2012 é que elas revelam o quinto trimestre consecutivo de redução do nível de investimentos. O problema é que nem a bem-sucedida política de queda da taxa de juros real, nem o controle do movimento de capitais, que levou a uma recuperação da taxa de câmbio, nem os incentivos fiscais, alguns da maior importância no longo prazo, como é o caso da desoneração da folha de salários, nem o excepcional esforço através do BNDES, nem os estímulos à inclusão social, que asseguram um aumento da demanda, foram capazes de mobilizar os investidores privados.

A verdade é que a resposta ao ativismo do governo, em geral na direção correta, foi, infelizmente, acompanhada de ruídos de comunicação por parte dos agentes públicos que interagem com o setor privado no campo fundamental da infraestrutura.


Em outras palavras, o governo fez tudo certo, mas o "mercado" não captou a mensagem. O erro foi de comunicação. Os agentes do setor privado são surdos ou burros. Não é o próprio ativismo do governo que gerou tantos problemas, criando um clima de insegurança. Imagina! Isso é teoria conspiratória de especuladores do mercado financeiro.

O Sarney da nossa economia ainda arranjou espaço no final do artigo para elogiar a nossa brilhante gestora:

Quem conhece a inteligência da presidente, sua disposição de estudar cuidadosamente cada problema e seu pragmatismo, tem muita dificuldade de entender como se chegou a tal distância de confiança entre o governo e o setor privado de infraestrutura. 

Eu, que não conheço a inteligência da presidente, só posso lamentar que o espírito animal de Delfim Netto tenha tanta influência assim nas medidas econômicas do governo.

Vejam também meu vídeo sobre essa figura onipresente na economia brasileira desde que eu nasci (por que será que somos sempre o país do futuro?):


sexta-feira, julho 13, 2012

Quem precisa de crescimento?


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Confesso que acordei um tanto sombrio hoje. Deve ser o clima, com essas nuvens carregadas. Ou talvez seja a sexta-feira 13. Sei lá. O que sei é que minha paciência, normalmente elevada, chegou ao limite e explodiu. Portanto, data venia, mas não posso ficar calado diante das novas afirmações de nossa ilustre “presidenta”.

Dilma disse: "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para as suas crianças e adolescentes, não é o PIB". Não é lindo isso? Não obstante o mistério de o que exatamente este governo tem feito de bom para nossas crianças e adolescentes, resta descobrir como será o futuro deles se a economia ficar estagnada.

Mas eis o que realmente revira meu estômago: não era este o governo que ainda há pouco se vangloriava porque nosso PIB ultrapassara o do Reino Unido? O governo dança conforme a música. A presidente cada vez mais se parece com seu antecessor, o Zelig, o camaleão humano que sabe se adaptar para qualquer público e ocasião. Haja cara-de-pau!

O Secretário de Política Econômica do Ministério das Finanças, Márcio Holland, pede paciência. Como eu disse no começo, a minha se esgotou. Para o economista, existe crescimento acima de 7%, mas sem democracia, sem estabilidade e com má distribuição de renda. Ora, ora, temos vários casos com crescimento bem maior que o nosso, com democracia e maior estabilidade, como o Chile ou países asiáticos.

Além disso, resta descobrir onde estão a grande estabilidade e a boa distribuição de renda no Brasil. À democracia eu concedo o benefício da dúvida, mas quando se trata do PT é sempre bom estar alerta. Ela tem resistido, a duras penas, a despeito do PT, e não por causa dele.

Acordei sombrio, dizia eu. Pensei na excelente coleção dos “reis malditos”, de Maurice Druon, uma vez que a superstição com a sexta-feira 13 pode ter ligação com o extermínio dos Cavaleiros Templários a mando de Felipe O Belo, no começo do século 14.

No livro, o autor coloca no Grão-Mestre dos Templários, Jacques DeMolay, as últimas palavras que amaldiçoaram seus algozes: “Eu convoco vocês ao Tribunal dos Céus antes do término deste ano!” Não chego a tanto. Mas convoco este governo ao tribunal dos dados econômicos objetivos até o final do ano!    

quarta-feira, dezembro 28, 2011

A sexta maior do mundo!

Rodrigo Constantino

A notícia levou os nacionalistas ao delírio: a economia brasileira, medida pelo imperfeito PIB, ultrapassou a do Reino Unido e assumiu a sexta posição no ranking mundial. Não é fantástico? Somos mais ricos que os ingleses! Ou será que não é bem assim?

Na verdade, não é nada assim. E por vários motivos. Em primeiro lugar, o “detalhe” mais óbvio, que até uma pequena criança é capaz de compreender: o Reino Unido produz aquele valor de bens e serviços com pouco mais de 60 milhões de habitantes, enquanto o Brasil produz seu PIB com cerca de 200 milhões. Em outras palavras, a produção per capita dos brasileiros ainda é bem menor do que a dos ingleses, e isso é muito mais relevante que o valor absoluto. Afinal, já passamos o PIB da Suíça, com seus 7,6 milhões de habitantes, faz tempo, e não creio que devemos soltar fogos de artifício por conta disso.

Mas não é apenas isso. O PIB mede um fluxo de produção a valor corrente, e isso depende de muitos fatores, tais como a taxa de câmbio e o preço das commodities, quando se trata de um país com relevante exportação de bens básicos como o Brasil. A Inglaterra está passando por uma dolorosa fase de ajustes, com retração econômica e desvalorização de sua moeda. Os países emergentes, especialmente aqueles com fartos recursos naturais como o Brasil, estão com outra dinâmica, crescendo mais e vendo suas moedas se valorizarem.

O governo Dilma não tem mérito pelo que se passa no Chile ou na Austrália, evidentemente. O Brasil, para falar a verdade, cresce aquém de seus pares. E não deixa de ser curioso que o governo tente jogar a culpa da queda do crescimento brasileiro na crise mundial, ao passo que evita reconhecer o crédito da pujança global, particularmente a chinesa, pela fase de maior crescimento econômico aqui. Dois pesos, duas medidas.

Fora isso, outros indicadores devem ser levados em conta para se medir (ou tentar medir) o sucesso de uma sociedade. O IDH é um deles, ainda que também bastante imperfeito. Mas não é preciso ir tão longe. Basta olhar ao redor do país e ver a quantidade de miséria, de favelas, a criminalidade, a infraestrutura caótica, a concentração ilegítima de renda graças aos privilégios do governo, a corrupção, a impunidade, para notar que apenas nacionalistas muito bobocas celebram um dado tão insignificante como este.

Sim, somos o sexto PIB do mundo. Sim, passamos o PIB do Reino Unido. E daí? Com tantos problemas que nos saltam aos olhos diariamente, é o caso de perguntar: Who cares?! Alguém aí melhorou de vida após saber desta notícia? Então que tal voltarmos nossa atenção para a imensa quantidade de problemas que temos de resolver para tornar o Brasil um país melhor, mais próspero, livre e justo? Podemos começar com a questão da impunidade, crucial para nosso futuro. Alguém viu Fernando Pimentel por aí? A propaganda estatal sobre o PIB acima do inglês é apenas “para inglês ver” – ou, no caso, para nacionalistas ingênuos acreditarem que isso muda muita coisa.