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Rodrigo Constantino
“Enquanto propriedade é possível sem liberdade, o contrário é inconcebível.” (Richard Pipes)
Em época de Copa do Mundo, torna-se útil lembrar de certas características inatas dos seres humanos, que são, de tempos em tempos, ignoradas por tantos “intelectuais”. A natureza humana é individualista e competitiva, não importa o quanto alguns mintam para tentar negar tal fato. Não precisamos ficar desesperados com isso, posto que tal individualismo é saudável para o progresso da humanidade. A busca da satisfação dos interesses particulares é o motor dos avanços que acabam beneficiando a enorme maioria dos indivíduos.
As idéias utópicas de lutar contra esse individualismo natural são tão antigas quanto a humanidade, ao que parece. Várias religiões, incluindo as mais antigas, criaram a imagem de uma “Idade de Ouro”, onde não havia propriedade privada, sendo tudo comum a todos. A palavra “meu” seria desconhecida nesse suposto paraíso. Entretanto, tal mundo jamais existiu, tampouco sua existência seria possível caso os habitantes fossem humanos. Os que tentaram criar algo similar, partindo desse coletivismo artificial, geraram apenas desgraça e miséria. O paraíso é, na verdade, um inferno.
Esparta, concebida por Licurgo, era um exemplo desse modelo comunista já nos tempos da Grécia Antiga. Aos espartanos era proibido ter não apenas bens materiais, mas mesmo suas mulheres e filhos, que tinham que ser entregues ao Estado na idade de 7 anos para receberem tratamento militar. Platão foi influenciado por este modelo, e sua República idealizada seguia a mesma linha. Depois dele, Thomas More defendeu sua Utopia, e Tommaso Campanella sua Cidade do Sol, ambos com a mesma visão coletivista. O comunismo foi o experimento mais recente que tentou colocar em prática essas crenças, que consideram a propriedade privada um inimigo causador da cobiça, inveja e guerras. Nunca tivemos tanta cobiça, inveja e guerras como nos tempos comunistas da União Soviética, China, Camboja, Coréia do Norte etc. Alguns iludidos, que não aprendem nunca, ainda tentam culpar as pessoas, e não o modelo.
Voltando aos esportes, escutei perplexo de um jornalista a satisfação ao falar de uma propaganda onde atletas desistiam de competir para ajudar um colega que havia ficado no caminho da corrida. Todos chegaram juntos depois, sem vencedores. Uma visão linda! O jornalista então perguntou: “Será que não devemos questionar a própria existência da competição?”. Ao mesmo tempo me passou pela cabeça que ele, um jornalista conhecido e muito bem pago, só estava naquele emprego por fruto da competição. Afinal, tenho certeza que muitos gostariam de ocupar seu lugar. Mas ele foi um vencedor ao estar ali, provavelmente pelos próprios méritos. Será que a contradição não lhe incomoda? Será que a hipocrisia visível em todos que pregam essa ausência de competição no mundo, tendo que competir o tempo todo para satisfazer seus interesses particulares, não os chama a atenção? Será que alguém acha que a Copa do Mundo teria alguma graça se não tivesse vencedores, com todos os países chegando juntos na final? Será que alguém realmente acredita que teríamos jogadores como Ronaldo Gaúcho e Robinho se o individualismo deles não fosse levado em conta na hora de jogar bola? Não vamos esquecer que eles acabam sempre na Europa, onde são mais bem pagos.
A competição individualista é parte da natureza humana, e ideologias utópicas não podem mudar essa realidade. A propriedade privada é o alicerce básico para preservarmos a liberdade dos indivíduos. O respeito na busca dos interesses particulares, incluindo o lucro, é fundamental para nosso progresso. O problema não está em nada disso. Ele começa quando tentamos anular esse individualismo, transformando indivíduos em meios sacrificáveis para um “bem comum” qualquer. Ele começa quando não temos regras básicas e isonômicas, despertando uma competição desleal que abusa de mecanismos imorais. O capitalismo liberal, com respeito ao indivíduo e seu direito de propriedade privada, estimula uma competição saudável, tal como vemos na Copa do Mundo. A troca voluntária beneficia ambas as partes nela envolvida. Contra as fraudes, temos as regras. Mas quem acha que suprimindo a competição em si está acabando com a cobiça e a inveja, não entendeu nada sobre o funcionamento do animal homem. Finge crer que humanos são cupins, enquanto bastaria uma reflexão sincera em frente ao espelho para acabar com essa bobagem.
Quando tudo é de todos, nada é de ninguém, e uma disputa violenta e desleal será a resposta natural dos indivíduos. Humanos não são insetos gregários, não labutam voluntariamente em prol do bem da colônia. O fato de tantas pessoas ainda não terem entendido esta obviedade ululante, ainda sonhando com o comunismo e condenando a competição, o lucro e a propriedade privada, me faz até questionar a veracidade da respeitada teoria de Darwin. Será que certos seres nunca vão evoluir?