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Rodrigo Constantino
As novas empresas vencedoras são como plataformas, operando modelos enxutos, sem grande necessidade de capital físico. Isso permite maior agilidade, foco na marca, inovação e força de vendas. As enormes fábricas não mais precisam ficar sob a estrutura dessas empresas, que podem terceirizar a produção dos bens que vendem. Uma das conseqüências disso é a transferência da parte mais volátil e dispendiosa do negócio para países menos desenvolvidos. A troca é mutuamente benéfica, pois gera milhões de empregos nos países emergentes. Para essas empresas “plataforma”, que focam nos serviços, os ganhos também são evidentes, com lucros mais estáveis e excelentes retornos sobre o capital investido, possíveis pelos ativos mais “leves”.
O novo modelo de negócios é não produzir quase nada, mas vender em todo lugar. As empresas “plataforma” sabem onde os clientes estão, o que eles desejam, e onde conseguir tais produtos da maneira mais eficiente. Elas organizam esse processo de demanda dos consumidores e oferta dos produtores, adicionando suas marcas, cuidando da logística e faturando pelo serviço prestado. São estas empresas que retêm o valor das pesquisas, desenvolvimento de novos serviços e marketing. No século XXI, o valor verdadeiro vem do capital humano, não mais do capital físico das plantas. Várias empresas compreenderam estas mudanças, e buscaram se adequar. Como exemplos bem sucedidos, podemos citar a Qualcomm, Apple, Motorola, Johnson & Johnson, Harley-Davidson e Wal Mart.
Como evidências dessa adaptação, precisamos encontrar prazos médios de estoques caindo, um ciclo operacional mais veloz, uma margem bruta crescente, um retorno sobre patrimônio aumentando e uma forte queda nos ativos fixos em relação ao patrimônio. Afinal, estas empresas estão transferindo parte do negócio para terceiros, estão girando seus estoques mais rapidamente com o just in time, estão adicionando pricing power através do peso da marca e estão, com isso tudo, gerando maiores retornos. Fiz um estudo com dez empresas americanas ícones do novo modelo plataforma para verificar se isto estava de fato acontecendo. Vamos aos resultados.
O prazo médio de estoques caiu 36% na média, de 1998 até o presente. Estas empresas de fato estão girando muito mais rápido seus estoques. Esta redução foi bem superior a média das 500 empresas do índice da Standard & Poors, que não chega a 10% no mesmo período. A margem bruta delas vem se expandindo também, tendo saído de 32% na mediana em 1998 para 42% atualmente. O retorno sobre o patrimônio líquido também mostrou excelente crescimento, corroborando com a tese. O retorno era de 13% na média em 1998 e chegou a 22% no último balanço disponível. Em termos de ativos fixos, a queda foi drástica em termos relativos. Estas dez empresas tinham, na média, cerca de 57% do patrimônio líquido em ativos fixos em 1998. Atualmente, esse valor não chega a 35%. Em resumo, essas empresas representativas do modelo plataforma realmente conseguiram reduzir o prazo de estoques e o ciclo operacional, aumentaram a margem bruta e reduziram os ativos fixos em termos relativos, gerando um retorno maior para os seus acionistas.
Quem não compreender a nova realidade do mundo globalizado e avançado tecnologicamente, provavelmente ficará para trás. Vivemos na era das idéias e da informação, onde a produção em si virou praticamente uma commodity. O real valor está em outro lugar. Produzir uma moto igual a da Harley-Davidson não é o complicado. Difícil será replicar seu conceito, sua marca, seu know-how na distribuição e seu conhecimento do mercado. E essas são as características que fazem seu valor de mercado ultrapassar US$ 14 bilhões. Quem pensa que a riqueza ainda é criada pela terra ou pelas enormes plantas fabris precisa se atualizar urgentemente. Cada vez mais, o verdadeiro fator de diferenciação estará na mente de indivíduos brilhantes e inovadores. Bem-vindos ao mundo moderno, da empresa plataforma!
4 comentários:
Rodrigo, sugiro que você escreva um artigo acerca da Teoria da Janela Quebrada (Tolerância Zero)...seria de grande utilidade pública!
caro "anônimo", eu já tenho. Chama-se "Crime: Pequenas Coisas Importam". Eis um trecho:
A explicação mais razoável é a que considera o crime um tipo de epidemia. A teoria da "broken window" foi desenvolvida por James Wilson e George Kelling. Eles argumentaram que o crime é um resultado inevitável da desordem, e que se uma janela é quebrada propositalmente e deixada desta forma, as pessoas irão concluir que ninguém liga e ninguém está no comando. Em breve, mais janelas estarão sendo quebradas, até se instalar um senso de anarquia, enviando um sinal perigoso aos potenciais vândalos. Pequenos atos levariam a resultados de grande proporção.
"As enormes fábricas não mais precisam ficar sob a estrutura dessas empresas, que podem terceirizar a produção dos bens que vendem. Uma das conseqüências disso é a transferência da parte mais volátil e dispendiosa do negócio para países menos desenvolvidos. A troca é mutuamente benéfica, pois gera milhões de empregos nos países emergentes."
Adorei o texto. Concordo com vc, porém me atrevo aqui a discordar, apenas, da ideia de troca mutuamente benéfica. Esta será, sim, se pensarmos em termos macroeconômicos, pois muitos dos países emergentes - dentre eles a China - crescem e conseguem tornar-se competitivos no mercado pela exploração de sua mão-de-obra miserável.
De pleno acordo com a Lisa.
A China pratica o "capitalismo restrito" (o ideal dos canalhas), restringindo o direito de propriedade do "meios de produção" aos amigos do rei, efetivamente escravizando a MO. Este é de fato o ideal camuflado pela verborréia marxista. O capital veio do exterior com empresários capitalistas amancebando-se com a nomenklatura. A china é um Estado de privilégio que empulha pelo "macro". Essa propaganda da China, na minha opinião, é um embuste.
Há que se ter cuidado nos elogios a China, pois lá não existe liberdade de iniciativa; e a nomenklatura, e agregados, tornou-se "os capitalistas" exatamente como marx descreveu (não explicou em principios, apenas descreveu um "mundo de horrores" afirmando-o resultante do tal capitalismo) o tal de capitalismo em pretenso resultado (uma fofoca em nada científica).
Abçs
C. Mouro
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