sexta-feira, junho 23, 2006

Empresa Plataforma



Rodrigo Constantino

As novas empresas vencedoras são como plataformas, operando modelos enxutos, sem grande necessidade de capital físico. Isso permite maior agilidade, foco na marca, inovação e força de vendas. As enormes fábricas não mais precisam ficar sob a estrutura dessas empresas, que podem terceirizar a produção dos bens que vendem. Uma das conseqüências disso é a transferência da parte mais volátil e dispendiosa do negócio para países menos desenvolvidos. A troca é mutuamente benéfica, pois gera milhões de empregos nos países emergentes. Para essas empresas “plataforma”, que focam nos serviços, os ganhos também são evidentes, com lucros mais estáveis e excelentes retornos sobre o capital investido, possíveis pelos ativos mais “leves”.

O novo modelo de negócios é não produzir quase nada, mas vender em todo lugar. As empresas “plataforma” sabem onde os clientes estão, o que eles desejam, e onde conseguir tais produtos da maneira mais eficiente. Elas organizam esse processo de demanda dos consumidores e oferta dos produtores, adicionando suas marcas, cuidando da logística e faturando pelo serviço prestado. São estas empresas que retêm o valor das pesquisas, desenvolvimento de novos serviços e marketing. No século XXI, o valor verdadeiro vem do capital humano, não mais do capital físico das plantas. Várias empresas compreenderam estas mudanças, e buscaram se adequar. Como exemplos bem sucedidos, podemos citar a Qualcomm, Apple, Motorola, Johnson & Johnson, Harley-Davidson e Wal Mart.

Como evidências dessa adaptação, precisamos encontrar prazos médios de estoques caindo, um ciclo operacional mais veloz, uma margem bruta crescente, um retorno sobre patrimônio aumentando e uma forte queda nos ativos fixos em relação ao patrimônio. Afinal, estas empresas estão transferindo parte do negócio para terceiros, estão girando seus estoques mais rapidamente com o just in time, estão adicionando pricing power através do peso da marca e estão, com isso tudo, gerando maiores retornos. Fiz um estudo com dez empresas americanas ícones do novo modelo plataforma para verificar se isto estava de fato acontecendo. Vamos aos resultados.

O prazo médio de estoques caiu 36% na média, de 1998 até o presente. Estas empresas de fato estão girando muito mais rápido seus estoques. Esta redução foi bem superior a média das 500 empresas do índice da Standard & Poors, que não chega a 10% no mesmo período. A margem bruta delas vem se expandindo também, tendo saído de 32% na mediana em 1998 para 42% atualmente. O retorno sobre o patrimônio líquido também mostrou excelente crescimento, corroborando com a tese. O retorno era de 13% na média em 1998 e chegou a 22% no último balanço disponível. Em termos de ativos fixos, a queda foi drástica em termos relativos. Estas dez empresas tinham, na média, cerca de 57% do patrimônio líquido em ativos fixos em 1998. Atualmente, esse valor não chega a 35%. Em resumo, essas empresas representativas do modelo plataforma realmente conseguiram reduzir o prazo de estoques e o ciclo operacional, aumentaram a margem bruta e reduziram os ativos fixos em termos relativos, gerando um retorno maior para os seus acionistas.

Quem não compreender a nova realidade do mundo globalizado e avançado tecnologicamente, provavelmente ficará para trás. Vivemos na era das idéias e da informação, onde a produção em si virou praticamente uma commodity. O real valor está em outro lugar. Produzir uma moto igual a da Harley-Davidson não é o complicado. Difícil será replicar seu conceito, sua marca, seu know-how na distribuição e seu conhecimento do mercado. E essas são as características que fazem seu valor de mercado ultrapassar US$ 14 bilhões. Quem pensa que a riqueza ainda é criada pela terra ou pelas enormes plantas fabris precisa se atualizar urgentemente. Cada vez mais, o verdadeiro fator de diferenciação estará na mente de indivíduos brilhantes e inovadores. Bem-vindos ao mundo moderno, da empresa plataforma!

4 comentários:

Anônimo disse...

Rodrigo, sugiro que você escreva um artigo acerca da Teoria da Janela Quebrada (Tolerância Zero)...seria de grande utilidade pública!

Rodrigo Constantino disse...

caro "anônimo", eu já tenho. Chama-se "Crime: Pequenas Coisas Importam". Eis um trecho:

A explicação mais razoável é a que considera o crime um tipo de epidemia. A teoria da "broken window" foi desenvolvida por James Wilson e George Kelling. Eles argumentaram que o crime é um resultado inevitável da desordem, e que se uma janela é quebrada propositalmente e deixada desta forma, as pessoas irão concluir que ninguém liga e ninguém está no comando. Em breve, mais janelas estarão sendo quebradas, até se instalar um senso de anarquia, enviando um sinal perigoso aos potenciais vândalos. Pequenos atos levariam a resultados de grande proporção.

Lisavieta disse...

"As enormes fábricas não mais precisam ficar sob a estrutura dessas empresas, que podem terceirizar a produção dos bens que vendem. Uma das conseqüências disso é a transferência da parte mais volátil e dispendiosa do negócio para países menos desenvolvidos. A troca é mutuamente benéfica, pois gera milhões de empregos nos países emergentes."

Adorei o texto. Concordo com vc, porém me atrevo aqui a discordar, apenas, da ideia de troca mutuamente benéfica. Esta será, sim, se pensarmos em termos macroeconômicos, pois muitos dos países emergentes - dentre eles a China - crescem e conseguem tornar-se competitivos no mercado pela exploração de sua mão-de-obra miserável.

Anônimo disse...

De pleno acordo com a Lisa.
A China pratica o "capitalismo restrito" (o ideal dos canalhas), restringindo o direito de propriedade do "meios de produção" aos amigos do rei, efetivamente escravizando a MO. Este é de fato o ideal camuflado pela verborréia marxista. O capital veio do exterior com empresários capitalistas amancebando-se com a nomenklatura. A china é um Estado de privilégio que empulha pelo "macro". Essa propaganda da China, na minha opinião, é um embuste.
Há que se ter cuidado nos elogios a China, pois lá não existe liberdade de iniciativa; e a nomenklatura, e agregados, tornou-se "os capitalistas" exatamente como marx descreveu (não explicou em principios, apenas descreveu um "mundo de horrores" afirmando-o resultante do tal capitalismo) o tal de capitalismo em pretenso resultado (uma fofoca em nada científica).
Abçs
C. Mouro