terça-feira, maio 15, 2012

Governo esquizofrênico

Rodrigo Constantino, O GLOBO

A cruzada do governo pela queda da taxa de juros representa um fim nobre, mas com instrumentos inadequados. Ninguém pode celebrar as enormes taxas cobradas pelos bancos. Mas o governo erra feio na escolha dos alvos.

O juro nada mais é que o preço do capital, e costuma ser definido pelo encontro entre sua oferta e demanda. Quanto maior for a oferta disponível de capital na economia, menor será seu preço. E esta oferta depende basicamente da poupança existente, que serve como lastro para empréstimos bancários. Os bancos atuam como intermediários entre poupadores e investidores ou consumidores financiados.

No Brasil a poupança é muito baixa em relação ao que é produzido. O principal responsável por isso é o próprio governo, que arrecada e gasta quase 40% do PIB. Sobra pouco para se poupar no país. Como o governo não aceita reduzir seus gastos, resta pegar poupança externa emprestada para permitir o crescimento tanto dos investimentos como do consumo. Mas há claros limites a esta estratégia.

Ela dura somente até os estrangeiros aceitarem exportar capital para o Brasil. Só que esta entrada de recursos, que a presidente Dilma chamou de "tsunami monetário", pressiona o câmbio, apreciando o real frente ao dólar. A indústria nacional reclama, faz lobby em Brasília, e o governo reage com intervenção na moeda e protecionismo. Só que isso, por sua vez, produz mais inflação aqui.

O governo pretende controlar inúmeras variáveis econômicas com instrumentos limitados, gerando consequências indesejadas. Cada nova medida produz mais efeitos não intencionais, demandando nova intervenção. Cria-se um verdadeiro emaranhado complexo com os tentáculos estatais pela economia.

Os empresários acusam o golpe e retraem investimentos, e os bancos, preocupados com o aumento da inadimplência e com os excessos no crédito, decidem reduzir seu crescimento.

Mas como uma das metas do governo é o crescimento do PIB no curto prazo, este recuo é inaceitável. O que faz o governo então? Reduz seus gastos? Aprova reformas estruturais que aumentem a produtividade da economia? Não. Isso tudo dá muito trabalho.

O governo prefere comprar uma briga com os bancos, e mandar o setor baixar as taxas na marra. E ai de quem reclamar! O governo é dono de 40% do mercado por meio dos bancos públicos, e ainda conta com outros mecanismos de pressão.

Aqui aproveito para fazer um alerta contra o risco autoritário. O governo, com postura arrogante, teria exigido dos bancos uma retratação pública após uma nota da Febraban criticando as medidas estatais. Que país é este que não permite mais o contraditório? Os bancos não podem mais discordar das medidas do governo?

Reduzir os juros a fórceps vai gerar apenas mais inflação. O que nos remete finalmente à esquizofrenia do governo. Há outros fatores que justificam os juros altos: o enorme compulsório que os bancos são obrigados a manter parados no Banco Central sem retorno adequado; os bilionários desembolsos do BNDES, que responde por um quarto do total do crédito no país, a taxas de juros subsidiadas (abaixo até da inflação); e o excesso de burocracia que reduz a concorrência no setor.

Ou seja, o próprio governo cria distorções que fazem com que a taxa final de juros permaneça elevada, e depois escolhe os bancos como únicos bodes expiatórios para o problema que ajudou a criar.

É como um sujeito ocioso e obeso, que come doces sem parar, culpar o doceiro por seus problemas de saúde. O governo plantou as sementes do problema, e não adianta atacar apenas o sintoma sem olhar para suas verdadeiras causas.

Há ainda outro sinal claro de esquizofrenia. Não faz muito tempo, o então presidente Lula acusava os banqueiros pela crise financeira mundial. Os banqueiros gananciosos teriam concedido crédito demais, o que produziu a bolha que estourou. Ironia das ironias, eis que agora o governo Dilma reclama que os nossos banqueiros querem conceder crédito... de menos!

O crédito no Brasil vem crescendo a taxas perto de 20% ao ano. Como não tivemos reformas estruturais, é claro que isso vai bater na inflação em algum momento. Na verdade, a inflação já está acima do centro da meta, que já é bastante elevado. E o crescimento econômico vem caindo.

Corremos o risco de ter estagflação ou então uma bolha de crédito no país, fomentada pelo próprio governo e seu banco central subserviente (seu presidente se entrega quando chama Dilma de "presidenta" em nota oficial). Depois não vai adiantar culpar os "loiros de olhos azuis" e os banqueiros gananciosos pela crise...

11 comentários:

Gustavo Sauer disse...

Eu não vejo nenhuma esquizofrenia por parte do governo. Estão fazendo aquilo que tem retorno político. Se perguntar pelas ruas, acredito que a grande maioria da população apoiará todas essas medidas. E há também grande apoio na mídia (talvez pela falta de bons economistas nos meios de comunicação). No final, tudo vai se resumir a mais votos e mais uma eleição pro PT. Que vai ser lembrado como o "primeiro partido político na história a enfrentar os banqueiros". Mas e se der algo errado? Daí é só botar a culpa no capitalismo.

Anônimo disse...

De acordo. No entanto, veja que interessante (deu no Estadão hoje):

"Busca por crédito cai 11,2% e atinge
menor nível desde 2008, diz Serasa
Demanda por crédito recuou em todas as faixas pesquisadas, em especial entre os consumidores com maior renda "

ou seja, nem o brasileiro tá topando as bobagens do seu governo.

Será que os brasileiros um dia vão merecer outro governo? quem sabe?

Gabriel Warken disse...

Bacanas esses dados da redução da busca por crédito. Se o brasileiro começar a poupar e parar de cair nas asneiras do Estado, isso será de grande valia para um crescimento de consciência. No debate mediado pelo próprio Rodrigo no Fórum da Liberdade, um dos debatedores citou uma frase que dizia: ''Não confunda pobreza com burrice''. Não gostei muito do que ele falou no debate, mas a frase foi marcante e agora sabendo desses dados ela ressoou na minha cabeça.

samuel disse...

Um bom artigo Rodrigo. Para mim foi como um sumário do que se tem discutido aqui no Blog.

Anônimo disse...

Ótimo post! Gostaria de incluir mais um fator que justifica os juros altos: O próprio governo em si, que é o maior devedor dos bancos, algo em torno de R$ 2 Trilhões e com taxa média de 16,7% a.a.

Abs.,

Igor

Anônimo disse...

Constantino, como você vê o futuro do Brasil? De vez enquando eu tenho a impressão que o Brasil irá virar um paizinho como a Venezuela ou até mesmo como a Bolília. As coisas aqui parem não dar certo. A maioria das empresas quebram. Todo mundo desesperado querendo passar em concurso publico. Fora o caos político e o povo que mal sabe da realidade brasileira. Faça um video sobre como você vê o futuro do Brasil. Como será o Brasil do futuro. Acho que seria de grande valia para o pessoal que assiste os seus videos.

Anônimo disse...

O futuro do brasil é muito claro, só vai ter os parasitas do governo, as grandes empresas vendendo comodite pra china e a classe média que se f*

Anônimo disse...

O Sauer disse tudo. É a política!!! O que importa é o efeito político de curto prazo. O objetivo agora é a eleição do final do ano. Pouco depois, a de 2014. Se algo der errado no percurso, pôe-se a culpa em qualquer outra coisa e se vai levando. Quando o poder for total e não houver mais oposição alguma, por pior que esteja a situação econômica, o governo permanecerá nas mesmas mãos.

Anônimo disse...

Qanto ao "presidenta" em nota oficial, soube que é obrigatório no governo. Também foi sancionada uma lei que obriga a flexão de gênero nos diplomas.

Anônimo disse...

A esquerda, no sentido de ideologia socialista que defende o poder absoluto para a hierarquia estatal (por contraditorio que pareça), fazendo desta a fonte da moral e da verdade incontestáveis (justiça ou o certo e o errado são reflexos da vontade do mais forte, do "príncipe eterno" na forma de organização/instituição)
...A esquerda se fez e se mantém EXATAMENTE por incentivar antagonismos. ESTA É A FÓRMULA PARA O PODER: inventar inimigos para atrair amigos ou ainda DIVIDIR PARA REINAR/DOMINAR há muito sugerido por Sun Tzu como estratégia ideal para uma guerra ou adotado dialéticamente por Marx, não como arte e sim embuste, para a "luta de classes" entre a classe dos que mandam e cobram impostos contra as classes que obedecem e pagam impostos. Enfim a luta de classe se faz entre os que vivem do Poder contra os que vivem do trabalho de empreender/investir e de produzir bens e serviços úteis. Sim, dialético-marxistamente o Estado que se faz uma classe não é meio para combater a exploração e sim o objetivo dos exploradores para se fazerem instituição.

O Poder do Estado se faz e mantém através da insuflação de ódio dentre a "tropa inimiga". O Estado dissemina a cizânia dentre os governados:
"É preciso dividir o povo, pois o dia que o povo se unir ninguém mais o governará(diga-se explorará)"

Haverá cadeia para membros do PCO ou PSTU cujo apelo é: "Contra patrão vote ...bla bla bla"
Qdo socialistas insuflavam a população contra "os ricos malvados" em nada diferente da insuflação do ódio entre raças. O NAZISMO É O MESMO, mudam só algumas moscas. Insufla-se o ódio CONTRA "OS RICOS", CONTRA "OS COMERCIANTES", CONTRA "OS PATRÕES", CONTRA "OS BANQUEIROS", CONTRA "OS ALEGADOS RACISTAS" (de alegados outros racismos), CONTRA "OS HOMENS" alegados carrascos das mulheres coitadinhas, e mais tantos "carrascos" e "coitadinhos" puderem propagandear SEMPRE COM O MESMO OBJETIVO:

APRESENTAR O PODER TOTALITÁRIO DA HIERARQUIA ESTATAL COMO PANACÉIA PARA TODOS OS MALES.
Ou seja, semeiam antagonismos, colocando todos contra todos na sociedade produtiva, dividindo-a lançando uns contra os outros para desta forma a hierarquia estatal explora-la com plenitude submetendo-a aos caprichos da malta hierarquizada.

Um empresário ou cidadão qq da iniciativa priovada é explorado por conta de ter um ganho DESIGUAL no sentido de maior do que a média. O Estado afirma que dele cobrará pesados impostos a fim de promover a distribuição de renda aos mais pobres.
...CONTUDO, OS MEMBROS DO ESTADO, QUE SE DÃO SALÁRIOS E BENESSES MAIORES DO QUE MUITOS DESTES "DESIGUAIS DA SOCIEDADE PRODUTIVA", ARVORANDO-SE "IGUALITADORES" QUE SE REMUNERAM "DESIGUALITARIAMENTE" SOB PRETEXTO DE DIMINUIR DESIGUALDADES. ...É uma aberração!

Ridículo que auto intitulados igualitaristas JAMAIS SE TENHAM OPOSTO OU FEITO QUALQUER MINIMA CRITICA AO LUXO ESTATAL. Nos paises mais pobres o governo é rico, integrantes da alta hierarquia se cercam de luxos e privilégios OBTIDOS EXCLUSIVAMENTE PELA FORÇA DAS ARMAS, PELA EXPROPRIAÇÃO ATRAVÉS DA VIOLÊNCIA E AMEAÇA DESTA.

Estranhamente marxistas afirmam exploração na relação LIVRE entre contratante e contratado, mas não reconhecem exploração na EXPROPRIAÇÃO na RELAÇÃO COMPULSÓRIA entre estado e cidadão.

É CURIOSO LIVROS QUE OPÕEM CAPITAL E TRABALHO ANTE A INEXISTÊNCIA DE LIVROS QUE OPONHAM PODER E TRABALHO.

Anônimo disse...

É absurdo que a alta hierarquia estatal se atribua luxos exorbitantes, que só os muitissimo ricos se poderiam comnmceder, assim se premiando sob o argumento de se auto atribuirem o desejo de diminuir desigualdades dentre a sociedade (nunca incluindo a hierarquia estatal nesta idéia).
Aqueles que recebem impostos sem nada produzirem para dar em trocase remuneram para TOMAR DOS RICOS (EXPROPRIAR) e CONCEDER AOS POBRES (uma pequenina parte do que roubam). CONTUDO SE CONCEDEM RENDA MUITISSIMO MAIOR DO QUE RENDA OBTIDA (em trocas livres) PELA AMPLA E VASTISSIMA MAIORIA DAQUELES QUE SÃO EXPROPRIADOS SOB O ARGUMENTO DA diminuição das dcesigualdades.

É absurdo que se fale que em Cuba há igualdade na miséria. Não há! A alta hierarquia socialista se faz gigantescamente desigual não só materialmente mas também em liberdade. Esta a maior e mais injusta desiguladade: a desigualdade em LIBERDADE ...esta que nunca ninguém ousa mencionar.
O socialismo se sustenta pela incompetencia dos não socialistas, cheios de pudores ante as justas acusações que poderiam e deveriam fazer aos totalitários e a seus rebanhos submissos.

Os socialistas (estatista) nunca param de gritar suas falácias, mentiras e falsificações. Os não socialistas nunca se cansam de ficarem calados qdo poderiam falar com provas e argumentos inquestionaveis.