Rodrigo Constantino
Onde está a oposição no Brasil? Ninguém sabe, ninguém viu.
A entrevista de FHC na Folha hoje apenas comprova isso. Em um trecho ele destaca o óbvio para aqueles que têm olhos para enxergar, e que não caem na ladainha dos petistas: o PSDB não é nem nunca foi um partido com tintas liberais! Ele diz:
O PSDB nunca foi um partido que tivesse muito amor pelo mercado. Como todos os partidos brasileiros, as pessoas gostam mesmo é de governo, é de Estado. Isso desde Portugal, da Península Ibérica. O grande ator, querido, é o governo.
Alô, turma do PT, anotem isso de uma vez por todas: não há liberalismo ou neoliberalismo no Brasil, e o PSDB jamais representou os liberais por aqui. Nunca! São apenas uma esquerda menos radical que a de vocês, com perfume francês e sem tanto ranço autoritário. Os tucanos não flertam com ditadores como Fidel Castro, não enaltecem Cuba, não querem reestatizar estatais. Mas isso não os torna liberais! É o óbvio ululante, mas que precisa ser dito e repetido, uma vez que ainda se vende a ideia por aí de que o PSDB é liberal.
Em meu livro novo, Privatize Já (ed. LeYa), deixo claro que até nas privatizações o que foi feito, foi feito com falta de convicção. O PSDB privatizou por necessidade de caixa. Fez muito pouco, muito mal. E FHC está certo ao reconhecer a completa hegemonia dos partidos de esquerda em nossa política. Por isso mesmo precisamos de algo NOVO! E que se assuma liberal sem medo da patrulha politicamente correta. Chega de tanto partido sinistro! Vamos endireitar esse viés de uma vez...
Em seguida, questionado sobre a capacidade gerencial do atual governo, FHC alivia a presidente (ele até poderia chamá-la de "presidenta", tamanha a moleza que dá a ela). Para FHC, o PIB cresceu pouco por "mil razões", e nada prova que Dilma é uma péssima "gerentona". Com uma "oposição" dessas, quem precisa de aliados?
O fato é que o governo Dilma tem uma equipe econômica que precisa melhorar muito para ser apenas medíocre. É uma turma patética, que realmente acredita na capacidade clarividente do governo. Fizeram um monte de burradas gigantescas, com intervenções arbitrárias, produzindo insegurança no mercado (esse ente que o PT, como o PSDB, nunca gostou).
Enquanto a "oposição" brasileira for representada pelo PSDB, estamos perdidos mesmo! Escrevi ano passado um artigo para O Globo alertando para esse risco, e pedindo de forma direta: Procura-se líder de oposição. Ainda não apareceu nenhum. Não devemos buscá-lo nos quadros tucanos...
Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
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segunda-feira, dezembro 03, 2012
sábado, outubro 20, 2012
Reparação: documentário sobre 1964
Excelente documentário sobre 64, com Marco Antonio Villa, Demétrio Magnoli, Ipojuca Pontes, FHC (que escorrega feio pois não consegue nem criticar Cuba de forma mais enfática), e uma vítima que perdeu uma perna (e seu sonho de vida) em atentado terrorista dos esquerdistas. Fala também da Bolsa Anistia. O resultado final ficou muito bom.
sábado, setembro 29, 2012
Brasil dos Jecas
Bruno Bressan De Cnop *
Depois
que a casa do Jeca COLLOR Tatu caiu, vieram os Jecas Itamar/FHC e colocaram a
casa de pé, deram uma guaribada no telhado, tiraram o cartão de crédito e o celular
da filharada.
Jeca
FHC Tatu sentou com a família e assumiu a dívida de todo mundo nas vendas da
cidade e mandou cancelar as cadernetas. É por isso que as pessoas fofoqueiras
da cidade falam que Jeca FHC Tatu fez muita dívida, ele tava era botando ordem
neste pardieiro. Isso foi igual a botar a mão em casa de marimbondo.
Colocou
as crianças na escola, não era muito boa, mas era o que o dinheiro dava, e ainda deu uma ajuda para os alunos mais pobres, deve
ter sido coisa de Dona Ruth.
Arranjou
um médico para visitar a casa de vez em quando, ganhou alguns pontos quando um compadre
dele peitou o dono da farmácia e conseguiu uns remédios mais baratos, mas foi
excomungado pelos idosos da casa quando aumentou a idade para parar de
trabalhar e criou umas contas esquisitas que não deixava o pessoal receber
muita aposentadoria, medida mais dura que toco de braúna, mas que se não fosse
feito, não teria dinheiro para todo mundo.
E
por último decidiu não gastar mais do ganhava, acreditem ou não muitos filhos
acharam esta decisão absurda, choraram feito criança birrenta.
No
sítio, Jeca dava duro e controlou a saúde do gado, melhorou as sementes e seu
plantio, ele vendeu umas máquinas velhas de tirar pedra que dava mais dinheiro
para os mecânicos que para ele e passou a receber uma tanto pela pedra tirada e
botou gente pra tomar conta, deu pra ganhar bem mais dinheiro. O pessoal que
consertava a máquina até hoje fala mal do Jeca FHC Tatu por conta disso.
Foram
anos difíceis de muito trabalho e pouco dinheiro, pois colocar a casa em pé foi
caro pra chuchu e não foi fácil, muita trovoada, muito vendaval e pouca chuva quase que a casa caiu de novo, mas sempre se arrumava
mais algumas goteiras, quase não conseguia pagar as contas, muitos filhos
reclamando das durezas destas decisões.
Com
o tempo, o fato de terem uma casa melhor não importava mais, a falação só
aumentava.
A
coisa ficou feia mesmo quando o Jeca não trocou uma fiação velha e teve
problema na parte elétrica da casa, todo mundo ficou brabo com o Jeca FHC Tatu.
Isso foi a gota d’água!
Saiu o Jeca
FHC Tatu entrou no seu lugar o Jeca LULA Tatu, um dos que mais reclamavam e
sempre dizia que tinha que mudar tudo que foi feito, pra ele tava tudo sempre errado.
Graças
a Deus era só conversa pra boi dormir, ele também resolveu não gastar mais do
que ganhava, até deixou outro compadre do Jeca FHC Tatu para tomar conta do
cofre.
Falar é
fácil!
Ele
falava que ia voltar com a máquina velha para tirar pedra e não fez, dizia que
ia voltar com as aposentadorias para igualzinho era antes e não fez, dizia que
o bolsa escola para os estudantes era bolsa esmola, isso aí ele mudou, mudou de
nome para bolsa família. Só para não dar o braço a torcer.
Ufa!
Ainda bem que ele não acabou com isso tudo. Acho que ele falava só pra ser do
contra.
Mas
esse Jeca LULA Tatu nasceu virado pra lua, não é que as coisas do sítio
começaram a dar dinheiro!
Pra
vocês terem uma idéia da diferença de preço das coisas que ele vendia na feira:
Produto
|
Preço
em 2001
|
Preço
em 2010
|
Soja (saco)
|
U$ 7,08
|
U$ 25,05
|
Milho (saco)
|
U$ 3,34
|
U$ 12,63
|
Boi @
|
U$ 16,06
|
U$ 48,96
|
Petróleo (barril)
|
U$ 25,00
|
U$100,00
|
Ferro (Ton)
|
U$ 16,00
|
U$ 75,00
|
Em
2001, Jeca FHC Tatu tinha para gastar uns R$ 4.000,00 por mês e em 2010, o que Jeca
LULA Tatu tinha para gastar era R$ 13.000,00 por mês. Ganhava
3 vezes mais dinheiro?!!!
Com essa dinheirama extra a vida no sítio
melhorou muito.
O pessoal está feliz, porque dá para comprar
mais coisas, estão fazendo mais casas no sítio, o pessoal está podendo escolher
mais o que quer fazer, tem gente que nem quer mais trabalhar por causa do aumento
que o Jeca LULA Tatu deu na mesada dos filhos.
Teve uma tempestade das brabas e a casa
agüentou o tranco, muitos vizinhos tiveram que refazer o telhado. Jeca tava com
dinheiro e foi arrumando uma escora aqui outra ali.
Mas
o problema é que o Jeca LULA Tatu, não gosta que ninguém fala mal dele, então
ele parou com aquelas medidas que o pessoal fazia cara feia, mas que eram
importantes.
O
pessoal que consertava as máquinas e que reclamava sem parar ficou feliz,
porque agora estão ajudando o Jeca LULA Tatu a tomar conta do sítio.
Os
estudantes mais velhos ganharam uma grana do Jeca LULA Tatu e nunca mais
reclamaram de nada, nem da educação que está ruim de dar dó.
Os
vizinhos reclamaram com ele de umas coisas antigas e acabaram levando vantagem,
deu uma máquina novinha para um e fez um gato de
luz para o outro tudo de graça. Eita vizinho bom!
Os
idosos não gostaram muito que ele não acabou com aquela conta esquisita que ele
garantiu que ia acabar, mas ai o Jeca LULA deixou eles pegarem um dinheiro
emprestado com o moço do banco bem baratinho, o problema é que ele deixou o
moço do banco pegar o dinheiro de volta sem eles saberem direito. Tem um monte de senhorinha enrolada até o pescoço.
Deixou
todo mundo comprar fiado nas vendas, pagando um pouquinho por mês, o problema é
que nunca teve tanta gente devendo no sítio.
Contratou
mais empregado para ajudar na lida da casa, está comprando mais roupa pra
meninada, celular, TV de plasma, carro, comida para a família, está todo mundo
gordinho, tão desperdiçando tanto que até os ratos da dispensa estão mais
gordos.
Teve
uma tia velha que até comprou um jetsky mesmo sem ter lago grande no sitio. Que coisa esquisita!
Jeca
LULA ficou tão bem na foto que saiu e deixou uma comadre sua lá, a Jeca Dilma
Tatu! Dizem que é o Jeca LULA Tatu de Saia!
O
problema, que com este esbanjamento, não ta sobrando para as coisas mais
importantes e olha que já tem 10 anos
que o Jeca LULA Tatu assumiu.
Mesmo
ganhando 3 vezes mais, o Jeca LULA Tatu não melhorou em nada as escolas dos
pequenos, ele preferiu dar dinheiro para as escolas dos marmanjos, que também
está péssima. A escola dos pequenos está ensinando cada vez pior.
O
médico continua indo no sitio de vez em quando, mas não me lembro de nada que
tenha melhorado nestes 10 anos, ele continua reclamando que falta uns remédios,
uns equipamentos com nome difícil. Dá dó de vê o doutor trabalhar.
As
estradas do sítio estão estreitas, com um monte de barreiras, quando chove
atola, os seleiros e os embarcadores não tão dando conta. Depois de 10 anos e apesar
de ganhar 3 vezes mais, o Jeca LULA Tatu não melhorou praticamente nada na infra-estrutura
do sítio. Com a estrada assim a mula emPACa toda hora!
Ele
até tá tentando levar água pro outro lado do sítio, mas tá demorando demais e o
moço da venda já avisou que vai ficar bem mais caro.
A
reforma da casa parou onde estava, mesmo ganhando mais, só se fez remendos e
puxadinhos.
Como
Jeca LULA Tatu tem um grande coração, acabou ficando bem com todo mundo, o
problema é que sempre aparece um primo distante pedindo dinheiro, outro que
pede para ser fiador do aluguel, o cunhado pedindo saco de cimento...
Vocês
acreditam, que até o Jeca COLLOR Tatu, que fez a casa cair, voltou a morar lá?
E virou parceiro de truco do Jeca LULA Tatu. Esse mundão dá volta!
Tem
gente dizendo que a vaca vai pro brejo, na dúvida, o jeito é rezar para o
Menino Jesus e Nossa Senhora Aparecida, continuar protegendo nosso sítio e colocar
um pouco de juízo da cabeça desses Jecas.
* Empresário - Administrador
de empresas pós graduado pela Fundação Getúlio Vargas.
sexta-feira, junho 29, 2012
Notícias de sexta-feira
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem nova regra liberando a candidatura dos “contas-sujas”. A mudança se deu no julgamento de um recurso apresentado pelo PT. O ministro Dias Toffoli, o mais próximo ao partido, desempatou a votação. É o partido de Lula ajudando a sujar a democracia brasileira, seu “esporte” preferido.
Mas como nem tudo é notícia ruim, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães decidiu renunciar ao cargo de alto representante-geral do Mercosul. Ele alegou falta de apoio político para tal decisão. Se for isso mesmo, trata-se de um ótimo sinal. Afinal de contas, Pinheiro Guimarães é o grande ideólogo “bolivariano” infiltrado no bloco, representando o “chavismo” no lado brasileiro.
A postura do Itamaraty na questão paraguaia foi vergonhosa, e espera-se que os interesses da nação fiquem acima dos interesses ideológicos da turma alinhada ao Chávez. O Barão do Rio Branco, ao assumir em 1902 o ministério das Relações Exteriores, declarou: "Não venho servir a um partido político: venho servir ao Brasil, que todos desejam ver unido íntegro, forte e respeitado". Que falta faz um Barão do Rio Branco na diplomacia brasileira!
De volta às notícias ruins, o “Obamacare” foi considerado constitucional ontem pela Suprema Corte. O governo poderá obrigar o cidadão a comprar seguro de saúde. Isso foi aprovado porque os juízes encararam tal seguro como um imposto. Logo, trata-se de uma vitória de Pirro para Obama. Ele consegue manter sua reforma no setor de saúde, mas somente evidenciando que o seguro representa um novo imposto para a classe média, algo que o presidente negava veementemente.
Foi Thomas Sowell quem resumiu de forma brilhante a mentalidade esquerdista no caso: “É incrível como algumas pessoas acham que nós não podemos pagar médicos, hospitais e medicamentos, mas pensam que nós podemos pagar por médicos, hospitais, medicamentos e toda a burocracia governamental para administrar isso”. Se a saúde já é cara, espere até ela ficar “gratuita”!
Para fechar esta rodada de notícias de sexta-feira, nada como comparar FHC e Lula. FHC disse que vota em Serra, mas não faz campanha. Ele argumentou que pedir votos é um papel “indevido” a um ex-mandatário. E ainda alfinetou Lula: “Eu não sei morder canela. Não acho que seja apropriado ao ser humano”. Já Lula foi multado por fazer campanha antecipada para Fernando Haddad. Que abismo que separa a postura de FHC da de Lula!
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem nova regra liberando a candidatura dos “contas-sujas”. A mudança se deu no julgamento de um recurso apresentado pelo PT. O ministro Dias Toffoli, o mais próximo ao partido, desempatou a votação. É o partido de Lula ajudando a sujar a democracia brasileira, seu “esporte” preferido.
Mas como nem tudo é notícia ruim, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães decidiu renunciar ao cargo de alto representante-geral do Mercosul. Ele alegou falta de apoio político para tal decisão. Se for isso mesmo, trata-se de um ótimo sinal. Afinal de contas, Pinheiro Guimarães é o grande ideólogo “bolivariano” infiltrado no bloco, representando o “chavismo” no lado brasileiro.
A postura do Itamaraty na questão paraguaia foi vergonhosa, e espera-se que os interesses da nação fiquem acima dos interesses ideológicos da turma alinhada ao Chávez. O Barão do Rio Branco, ao assumir em 1902 o ministério das Relações Exteriores, declarou: "Não venho servir a um partido político: venho servir ao Brasil, que todos desejam ver unido íntegro, forte e respeitado". Que falta faz um Barão do Rio Branco na diplomacia brasileira!
De volta às notícias ruins, o “Obamacare” foi considerado constitucional ontem pela Suprema Corte. O governo poderá obrigar o cidadão a comprar seguro de saúde. Isso foi aprovado porque os juízes encararam tal seguro como um imposto. Logo, trata-se de uma vitória de Pirro para Obama. Ele consegue manter sua reforma no setor de saúde, mas somente evidenciando que o seguro representa um novo imposto para a classe média, algo que o presidente negava veementemente.
Foi Thomas Sowell quem resumiu de forma brilhante a mentalidade esquerdista no caso: “É incrível como algumas pessoas acham que nós não podemos pagar médicos, hospitais e medicamentos, mas pensam que nós podemos pagar por médicos, hospitais, medicamentos e toda a burocracia governamental para administrar isso”. Se a saúde já é cara, espere até ela ficar “gratuita”!
Para fechar esta rodada de notícias de sexta-feira, nada como comparar FHC e Lula. FHC disse que vota em Serra, mas não faz campanha. Ele argumentou que pedir votos é um papel “indevido” a um ex-mandatário. E ainda alfinetou Lula: “Eu não sei morder canela. Não acho que seja apropriado ao ser humano”. Já Lula foi multado por fazer campanha antecipada para Fernando Haddad. Que abismo que separa a postura de FHC da de Lula!
domingo, abril 01, 2012
Crime sem castigo
Fernando Henrique Cardoso, O GLOBO
Houve tempo em que se dizia que ou o Brasil acabava com a saúva ou a saúva acabaria com o Brasil. As saúvas andam por aí, não acabaram, nem o Brasil acabou. Será a mesma coisa com a corrupção? Que ela anda vivinha por aí não restam dúvidas, que acabe com o Brasil é pouco provável, que acabe no Brasil, tampouco. Mas que causa danos enormes é indiscutível. Haverá quem diga que sempre houve corrupção no País e pelo mundo afora, o que provavelmente é certo, mas a partir de certo nível de sua existência e, pior, da aceitação tácita de suas práticas como "fatos da vida", se ela não acaba com o País, deforma-o de modo inaceitável. Estamo-nos aproximando desse limiar.
Há formas e formas de corrupção, especialmente das instituições e da vida política. As mais tradicionais entre nós são o clientelismo - a prática de atender os amigos, e os amigos dos amigos, nomeando-os para funções públicas -, a troca de favores e o patrimonialismo, isto é, a confusão entre público e privado, entre Estado e família. Tudo isso é antigo e deita raízes na Península Ibérica. A frase famosa "é dando que se recebe", de inspiração dita franciscana, referia-se mais à troca de favores do que ao recebimento de dinheiro. Por certo, um sistema político assentado nessas práticas já supõe o desdém pela lei e é tendente a permitir deslizes mais propriamente qualificados como corrupção. Mesmo quando não haja suborno de funcionários ou vantagem pecuniária pela concessão de favores, prática que os juristas chamam de prevaricação, os apoios políticos obtidos dessa maneira são baseados em nomeações que implicam gasto público. Progressivamente, tais procedimentos levam a burocracia a deixar de responder ao mérito, ao profissionalismo. Com o tempo, as gorjetas e mesmo o desvio de recursos - o que mais diretamente se chama de corrupção - aumentam como consequência desse sistema.
Nos dias que correm, entretanto, não se trata apenas de clientelismo, que por certo continua a existir, ao menos parcialmente, mas de algo mais complexo. Se o sistema patrimonialista tradicional já contaminava nossa vida política, a ele se acrescenta agora algo mais grave. Com o desenvolvimento acelerado do capitalismo e com a presença abrangente dos governos na vida econômica nacional, as oportunidades de negócios entremeados por decisões dependentes do poder público ampliaram-se consideravelmente. E as pressões políticas se deslocaram do mero favoritismo para o "negocismo". Há contratos por todo lado a serem firmados com entes públicos, tanto no âmbito federal como no estadual e no municipal. Crescentemente, os apoios políticos passam a depender do atendimento do apetite voraz de setores partidários que só se dispõem a "colaborar" se devidamente azeitados pelo controle de partes do governo que permitam decisões sobre obras e contratos. Mudaram, portanto, o tipo de corrupção predominante e o papel dela na engrenagem do poder. Dia chegará - se não houver reação - em que a corrupção passará a ser condição de governabilidade, como ocorre nos chamados narcoestados. Não, naturalmente, em função do tráfico de drogas e do jogo (que também se podem propagar), mas da disponibilidade do uso da caneta para firmar ordens de serviço ou contratos importantes.
Não por acaso se ouvem vozes, cada vez mais numerosas, na mídia, no Congresso e mesmo no governo, a clamar contra a corrupção. E o que é mais entristecedor, algumas delas por puro farisaísmo, como ainda agora, em clamoroso caso que afeta o Senado e sabe Deus que outros ramos do poder. O perigo, não obstante, é que se crie uma expectativa de que um líder autoritário ou um partido-salvador seja o antídoto para coibir a disseminação de tais práticas. Em outros países já vimos líderes supostamente moralizadores se engolfarem no que diziam combater, e a experiência com partidos "puritanos", mesmo entre nós, tem mostrado que nem eles escapam, aqui ou ali, das tentações de manter o poder ao preço por ele cobrado. Quando este passa a ter a conivência com o setor gris da sociedade, lá se vão abaixo as belas palavras, deixando um rastro de desânimo e revolta nos que neles acreditaram.
A experiência histórica mostra, contudo, que há caminhos de recuperação da moral pública. Na década de 1920, nos Estados Unidos, havia práticas dessa natureza em abundância. O controle político exercido por bandos corruptos aboletados nas câmaras municipais, como em Nova York, por exemplo, onde o Tammany Hall deixou fama, é arquiconhecido. As ligações entre o proibicionismo do álcool e o poder político, da mesma forma. Pouco a pouco, sem nunca, por certo, eliminar a corrupção completamente, o caráter sistêmico desse tipo de procedimento foi sendo desmantelado. À custa de quê? Pregação, justiça e castigo. Hoje, bem ou mal, os "graúdos", ao menos alguns deles, também vão para a cadeia. Ainda recentemente, em outro país, a Espanha, depois de rumoroso escândalo, alto personagem político foi condenado e está atrás das grades. Não há outro meio de restabelecer a saúde pública senão a exemplaridade dos líderes maiores, condenando os desvios e não participando deles, o aperfeiçoamento dos sistemas de controle do gasto público e a ação enérgica da Justiça.
A despeito do desânimo causado pela multiplicação de práticas corruptas e pela impunidade vigente, há sinais alvissareiros. É inegável que os sistemas de controle, tanto os tribunais de contas como as auditorias governamentais e as Promotorias, estão mais alerta e a mídia tem clamado contra o mau uso do dinheiro e do patrimônio públicos. A ação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da Lei da Ficha Limpa mostram que o clamor começa a despertar reações. Mas é preciso mais. Necessitamos de uma reforma do sistema de decisões judiciais, na linha do que foi proposto pelo ministro Peluso, para acelerar a conclusão dos processos e dificultar que bons advogados posterguem a consumação da justiça. Só quando se puserem na cadeia os poderosos que tenham sido condenados por crimes de colarinho branco, o temor, não da vergonha, mas do cárcere coibirá os abusos.
Não nos esqueçamos, porém, de que existe uma cultura de tolerância que precisa ser alterada. Não faltam conhecidos corruptos a serem brindados em festas elegantes e terem quem os ouça como se impolutos fossem. As mudanças culturais são lentas e dependem de pregação, pedagogia e exemplaridade. Será pedir muito? E não nos devemos esquecer de que a responsabilidade não é só dos que transgridem e da pouca repressão, mas da própria sociedade - isto é, de todos nós -, por aceitar o inaceitável e reagir pouco diante dos escândalos.
Houve tempo em que se dizia que ou o Brasil acabava com a saúva ou a saúva acabaria com o Brasil. As saúvas andam por aí, não acabaram, nem o Brasil acabou. Será a mesma coisa com a corrupção? Que ela anda vivinha por aí não restam dúvidas, que acabe com o Brasil é pouco provável, que acabe no Brasil, tampouco. Mas que causa danos enormes é indiscutível. Haverá quem diga que sempre houve corrupção no País e pelo mundo afora, o que provavelmente é certo, mas a partir de certo nível de sua existência e, pior, da aceitação tácita de suas práticas como "fatos da vida", se ela não acaba com o País, deforma-o de modo inaceitável. Estamo-nos aproximando desse limiar.
Há formas e formas de corrupção, especialmente das instituições e da vida política. As mais tradicionais entre nós são o clientelismo - a prática de atender os amigos, e os amigos dos amigos, nomeando-os para funções públicas -, a troca de favores e o patrimonialismo, isto é, a confusão entre público e privado, entre Estado e família. Tudo isso é antigo e deita raízes na Península Ibérica. A frase famosa "é dando que se recebe", de inspiração dita franciscana, referia-se mais à troca de favores do que ao recebimento de dinheiro. Por certo, um sistema político assentado nessas práticas já supõe o desdém pela lei e é tendente a permitir deslizes mais propriamente qualificados como corrupção. Mesmo quando não haja suborno de funcionários ou vantagem pecuniária pela concessão de favores, prática que os juristas chamam de prevaricação, os apoios políticos obtidos dessa maneira são baseados em nomeações que implicam gasto público. Progressivamente, tais procedimentos levam a burocracia a deixar de responder ao mérito, ao profissionalismo. Com o tempo, as gorjetas e mesmo o desvio de recursos - o que mais diretamente se chama de corrupção - aumentam como consequência desse sistema.
Nos dias que correm, entretanto, não se trata apenas de clientelismo, que por certo continua a existir, ao menos parcialmente, mas de algo mais complexo. Se o sistema patrimonialista tradicional já contaminava nossa vida política, a ele se acrescenta agora algo mais grave. Com o desenvolvimento acelerado do capitalismo e com a presença abrangente dos governos na vida econômica nacional, as oportunidades de negócios entremeados por decisões dependentes do poder público ampliaram-se consideravelmente. E as pressões políticas se deslocaram do mero favoritismo para o "negocismo". Há contratos por todo lado a serem firmados com entes públicos, tanto no âmbito federal como no estadual e no municipal. Crescentemente, os apoios políticos passam a depender do atendimento do apetite voraz de setores partidários que só se dispõem a "colaborar" se devidamente azeitados pelo controle de partes do governo que permitam decisões sobre obras e contratos. Mudaram, portanto, o tipo de corrupção predominante e o papel dela na engrenagem do poder. Dia chegará - se não houver reação - em que a corrupção passará a ser condição de governabilidade, como ocorre nos chamados narcoestados. Não, naturalmente, em função do tráfico de drogas e do jogo (que também se podem propagar), mas da disponibilidade do uso da caneta para firmar ordens de serviço ou contratos importantes.
Não por acaso se ouvem vozes, cada vez mais numerosas, na mídia, no Congresso e mesmo no governo, a clamar contra a corrupção. E o que é mais entristecedor, algumas delas por puro farisaísmo, como ainda agora, em clamoroso caso que afeta o Senado e sabe Deus que outros ramos do poder. O perigo, não obstante, é que se crie uma expectativa de que um líder autoritário ou um partido-salvador seja o antídoto para coibir a disseminação de tais práticas. Em outros países já vimos líderes supostamente moralizadores se engolfarem no que diziam combater, e a experiência com partidos "puritanos", mesmo entre nós, tem mostrado que nem eles escapam, aqui ou ali, das tentações de manter o poder ao preço por ele cobrado. Quando este passa a ter a conivência com o setor gris da sociedade, lá se vão abaixo as belas palavras, deixando um rastro de desânimo e revolta nos que neles acreditaram.
A experiência histórica mostra, contudo, que há caminhos de recuperação da moral pública. Na década de 1920, nos Estados Unidos, havia práticas dessa natureza em abundância. O controle político exercido por bandos corruptos aboletados nas câmaras municipais, como em Nova York, por exemplo, onde o Tammany Hall deixou fama, é arquiconhecido. As ligações entre o proibicionismo do álcool e o poder político, da mesma forma. Pouco a pouco, sem nunca, por certo, eliminar a corrupção completamente, o caráter sistêmico desse tipo de procedimento foi sendo desmantelado. À custa de quê? Pregação, justiça e castigo. Hoje, bem ou mal, os "graúdos", ao menos alguns deles, também vão para a cadeia. Ainda recentemente, em outro país, a Espanha, depois de rumoroso escândalo, alto personagem político foi condenado e está atrás das grades. Não há outro meio de restabelecer a saúde pública senão a exemplaridade dos líderes maiores, condenando os desvios e não participando deles, o aperfeiçoamento dos sistemas de controle do gasto público e a ação enérgica da Justiça.
A despeito do desânimo causado pela multiplicação de práticas corruptas e pela impunidade vigente, há sinais alvissareiros. É inegável que os sistemas de controle, tanto os tribunais de contas como as auditorias governamentais e as Promotorias, estão mais alerta e a mídia tem clamado contra o mau uso do dinheiro e do patrimônio públicos. A ação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da Lei da Ficha Limpa mostram que o clamor começa a despertar reações. Mas é preciso mais. Necessitamos de uma reforma do sistema de decisões judiciais, na linha do que foi proposto pelo ministro Peluso, para acelerar a conclusão dos processos e dificultar que bons advogados posterguem a consumação da justiça. Só quando se puserem na cadeia os poderosos que tenham sido condenados por crimes de colarinho branco, o temor, não da vergonha, mas do cárcere coibirá os abusos.
Não nos esqueçamos, porém, de que existe uma cultura de tolerância que precisa ser alterada. Não faltam conhecidos corruptos a serem brindados em festas elegantes e terem quem os ouça como se impolutos fossem. As mudanças culturais são lentas e dependem de pregação, pedagogia e exemplaridade. Será pedir muito? E não nos devemos esquecer de que a responsabilidade não é só dos que transgridem e da pouca repressão, mas da própria sociedade - isto é, de todos nós -, por aceitar o inaceitável e reagir pouco diante dos escândalos.
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