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quarta-feira, julho 24, 2013

Comunista gosta é de luxo

Rodrigo Constantino

Deu na FolhaMinistro levou família a Cuba em jato oficial

O ministro Aldo Rebelo (Esporte) usou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a Cuba no Carnaval com a mulher, o filho e assessores.

Ele esteve em Havana em missão oficial e justificou a carona à mulher e ao filho dizendo que ambos também foram convidados pelo governo cubano.

Nenhum dos dois representou o governo brasileiro na missão. Quando o ministério publicou nota sobre a viagem de Aldo, em fevereiro, o nome deles não constava na lista oficial da comitiva.

A mulher do ministro, Rita, é coordenadora na Secretaria da Mulher do governo do Distrito Federal, controlada pelo PC do B, mesmo partido de Aldo. Já o filho, de 21 anos, é estudante universitário e estagiário.

Só o fato de o Brasil ainda ter um partido oficial que leva comunismo no nome é algo assustador. Some-se a isso o fato de tal partido fazer parte do governo, com ministros e tudo, temos um quadro bizarro. É como ter um partido nazista em pleno século 21, fazendo parte da aliança no poder. Coisas de país tupiniquim.

Não bastasse tudo isso, ainda temos que aturar esse ministro desse partido comunista usar o nosso dinheiro para ir visitar Cuba, a ilha-presídio caribenha, a mais longa e cruel ditadura do continente. Isso já é uma afronta, um desrespeito a todos os pagadores de impostos. 

Esses comunistas adoram luxo, e vão passear em Cuba, sob o pretexto de trabalhar parcerias (levando filho e esposa?), com jatinho "particular" e tudo mais que o nosso dinheiro pode pagar.

Eu até aceito o governo bancar a viagem em jato da FAB para o comunista visitar Cuba; desde que seja passagem só de ida!

terça-feira, julho 16, 2013

A insustentável herança maldita

Rodrigo Constantino

Gosto quando Arnaldo Jabor faz um mergulho em seu passado de comunista, pois ele vai no cerne da questão, expor os motivadores emocionais que o levaram a esta utopia assassina. Como, infelizmente, ainda convivemos com comunistas em pleno século 21, muitos no poder, esses relatos se fazem importantes para sanar o país dessa praga de uma vez por todas.

No artigo de hoje, Jabor mete o dedo na ferida: 

O que aconteceu com esse governo foi mais um equívoco na história das trapalhadas que a esquerda leninista comete sempre, agora dentro do PT. O fracasso é o grande orgulho dos revolucionários masoquistas. Pelo fracasso constrói-se uma espécie de 'martírio enobrecedor', já que socialismo hoje é impossível. Erraram com tanta obviedade (no mensalão por exemplo ou no escândalo dos 'aloprados'), com tanto desprezo pelas evidências de perigo, tanta subestimação do inimigo, que a única explicação é o desejo de serem flagrados. Sem contar o sentimento de superioridade que se arrogaram sobre nós, os 'alienados burgueses neoliberais'.

Conheço a turminha que está no poder hoje, desde os idos de 1963, e adivinhava o que estava por vir. Conheci muitos, de perto.

Nos meus 20 anos, era impossível não ser 'de esquerda'. Nós queríamos ser como os homens heroicos que conquistaram Cuba, os longos cabelos de Camilo Cienfuegos, o charuto do Guevara, a 'pachanga' dançada na chuva linda do dia em que entraram em Havana, exaustos, barbados, com fuzis na mão e embriagados de vitória.

A genialidade de Marx me fascinava. Um companheiro me disse uma vez: "Marx estudou economia, história e filosofia e, um dia, sentou na mesa e escreveu um programa racional para reorganizar a humanidade". Era a invencível beleza da Razão, o poder das ideias 'justas', que me estimulava a largar qualquer profissão 'burguesa'. Meu avô dizia: "Cuidado, Arnaldinho, os comunistas se acham médiuns, aquilo parece tenda espírita...". Eu não liguei e fui para os 'aparelhos', as reuniões de 'base' e, para meu desespero, me decepcionei.

Essa passagem é de fundamental relevância, pois mostra como essas pessoas buscam monopolizar as virtudes, de forma maniqueísta, o que os livra de ter que debater meios:

É um ridículo silogismo: "Eu sou a favor do bem, logo não posso errar e, logo, não preciso estudar nem pesquisar".

Jabor conclui:

Quando comecei a criticar o PT e o Lula, 'petralhas' me acusaram de ser de direita, udenista contra operários. Não era nada disso; era o pavor, o medo de que a velha incompetência administrativa e política do 'janguismo' se repetisse no Brasil, que tinha sido saneado pelo governo de FHC. Não deu outra. O retrocesso foi terrível porque estava tudo pronto para a modernização do País; mas o avião foi detido na hora da decolagem. Hoje, vemos mais uma 'revolução' fracassada; não uma revolução com armas ou com o povo, mas uma revolução feita de malas pretas, de dinheiro subtraído de estatais, da desmoralização das instituições republicanas. Hoje, vemos o final dessa epopeia burra, vemos que a estratégia de Dirceu e seus comparsas era a tomada do poder pelo apodrecimento das instituições burguesas, uma espécie de 'gramscianismo pela corrupção' ou talvez um 'stalinismo de resultados'.

O perigo é que os intelectuais catequizados ainda pensam: "O PT desmoralizado ainda é um mal menor que o inimigo principal - os tucanos neoliberais".

Como escreveu minha filha Juliana Jabor, mestra em antropologia, "ajudado por intelectuais fiéis, Lula poderá se apropriar da situação com seu carisma inabalável, para ocupar a 'função paterna' que está vaga desde o fim do seu governo. Pode ser eleito de novo e a multidão se transformará, aí sim, em 'massa'. O 'movimento' perderá o seu caráter de produção de subjetividades e se transformará numa massa guiada por um líder populista".

Eis o grande risco dessas manifestações nas ruas: prepararem o terreno para o retorno do "messias" salvador da Pátria, do líder das massas. Há boatos fortes de que sua saúde não permitiria. Tampouco se sabe o quanto a impopularidade de Dilma pegaria nele. Mas há o risco. E todo cuidado é pouco...

terça-feira, julho 09, 2013

Máquina do tempo

Fonte: Folha
Rodrigo Constantino

O Brasil é um país tão avançado e moderno que já inventou a máquina do tempo, sonho de ficção dos filmes americanos. Vejam este caso, relatado na Folha: Universidade oferece curso para difundir comunismo. Em que outro país teríamos acesso a um regresso no tempo dessa forma? Talvez na Venezuela, ou quiçá na Argentina. Nossos companheiros de avanço tecnológico...

Esse trecho é interessante:

O perfil dos alunos tampouco lembra o de revolucionários engajados. A maioria é composta por moças de classe média baixa e estudantes de serviço social de olho no mercado: esperam que a teoria marxista tenha valia na profissão que escolheram.

Alguns podem ficar surpresos, mas o comunismo não falava, lá no passado distante, aos operários. Claro que não! Marx nunca pisou no chão de uma fábrica e era sustentado por um herdeiro industrial, bem capitalista. Os adeptos do comunismo enquanto ideologia costumam ser de classe média mesmo. A inveja é alimentada nessa classe, o ressentimento é explorado para vender um igualitarismo que nada mais é do que o desejo de tirar daquele que tem mais.

Resta saber como o comunismo pode ajudar na profissão dessa gente. Só se querem ser sindicalistas ou políticos do PSOL, PSTU, PCO, PCdoB ou mesmo do PT. Porque fica difícil saber onde mais há uso para tal teoria. Um médico? Um médico cubano? Só se for para matar Chávez, pois Fidel Castro, que não é bobo, prefere os médicos espanhóis. 

Engenheiro? Já pensou, um engenheiro fazendo cálculos estruturais com as premissas comunistas, de que não há escassez no mundo? Vão construir pontes inexistentes sobre as nuvens. Chama a atenção também a predominância feminina na classe:

Dos 20 alunos, apenas três eram homens. Todas as atividades do centro são gratuitas. O programa consome R$ 60 mil por ano em bolsas mensais de R$ 250, segundo o pró-reitor de Extensão da universidade, Rogério Santos.
Coordenador do Centro de Difusão do Comunismo, André Mayer, filiado ao PCB, diz que a iniciativa permite aos participantes "colocar a sociedade em xeque".

Sessenta mil reais por ano para divulgar o comunismo! A justificativa é colocar a sociedade em xeque, mas o único cheque que interessa é o pagamento no fim do mês para o "professor", leia-se proselitista. O comunista conclui: "É uma proposta muito clara de buscar as contradições dessa sociedade e transformá-la". Sim, transformá-la, deixá-la mais moderna e justa, como Cuba. É ou não é uma viagem no tempo ter esse tipo de coisa em pleno século 21?

terça-feira, janeiro 22, 2013

Uma sociedade adolescente


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Em meu último artigo tratei do lado moral da crise que os países desenvolvidos enfrentam. Algumas pessoas podem estranhar o foco, pois sou economista. Gostaria de lembrar que Adam Smith, antes de escrever sobre a riqueza das nações, escreveu "Teoria dos Sentimentos Morais". Debater o crescimento de 1% ou 2% do PIB pode ter sua relevância; mas economia é muito mais que isso.
Eis porque retorno ao tema da crise de valores, desta vez priorizando o caso latino-americano. Se Japão, Estados Unidos e Europa passam por um declínio moral, parece que a América Latina, em especial o "eixo do mal" bolivariano, sequer experimentou uma fase de maturidade. Estamos estagnados na era do infantilismo.
É por isso que recomendo a leitura de "A sociedade que não quer crescer", do argentino Sergio Sinay. O livro disseca os perigos do fenômeno que podemos observar facilmente no Brasil também: adultos que se negam a ser adultos. São os "adultescentes".
Como a Argentina parece estar em estágio mais avançado da patologia, os alertas de Sinay tornam-se ainda mais importantes. A Argentina pode ser o Brasil amanhã, o que é uma visão assustadora. Não só porque a presidente exagera no botox, mas porque a volta ao passado populista se dá a passos largos.
O autor faz a ligação entre essa postura infantil de boa parte da população e a anomia em que vive seu país, cada vez mais bagunçado e autoritário. É o que acontece quando os adultos preferem agir como adolescentes, no afã de postergar ao máximo a velhice.
Maturidade exige renúncia, sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal. São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:
"Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo, na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos colocados sobre pedestais sem alicerces".
Impossível não pensar em Chávez, Morales, Corrêa, Kirchner e Lula. Ou ainda nos artistas e atletas famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado argentino:
"Uma sociedade é adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um adolescente, os vê como um tributo invejável".
Não podemos ridicularizar nossos "hermanos" nesse ponto. Basta pensar nos nossos próprios heróis. Para sair do futebol, que tal Oscar Niemeyer? Os brasileiros não souberam separar seu talento artístico do restante, e criaram a imagem de um grande humanista abnegado. Um humanista que, como já abordei nesse espaço, adorava o maior assassino de todos os tempos: Joseph Stalin.
Mas a simples constatação de que não se pode ser um grande humanista e um defensor de Stalin ou Fidel Castro ao mesmo tempo, bastou para gerar reações histéricas: "Quem você pensa que é para falar do grande mestre?"
O colunista Zuenir Ventura também reagiu: "Algumas críticas ideológicas a Oscar Niemeyer depois de morto revelam, de tão iradas, que no Brasil foi fácil acabar com o comunismo. O difícil é acabar com o anticomunismo". Resta perguntar: e devemos acabar com a oposição a esta utopia que trucidou dezenas de milhões de inocentes?
O comunismo foi o sonho adolescente de intelectuais que pariu o pesadelo real de milhões de pessoas. Combatê-lo é um dever moral. Hoje ele se adaptou, mudou, mas ainda sobrevive como "socialismo bolivariano", com que muitos brasileiros flertam.
Até quando vamos viver em uma sociedade adolescente, que se recusa a amadurecer e deposita no "papai" governo uma fé messiânica?

terça-feira, dezembro 11, 2012

O humanista que amava Stalin


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Oscar Niemeyer era quase uma unanimidade. A reação à sua morte comprova isso. Mas será que tanta reverência se deve somente às suas qualidades artísticas? Muitos consideram que Niemeyer foi um gênio. Não sou da área, não me cabe julgar. Ainda assim, não creio que tanta idolatria seja fruto apenas de suas curvas.
Tenho dificuldade de entender por que o responsável pelo caríssimo projeto da construção de Brasília, o oásis dos políticos corruptos afastados do escrutínio popular, mereceria um prêmio em vez de um castigo. Por acaso as pirâmides do Faraó eram boas para o povo? Mas divago.
Eis a questão: por que Niemeyer foi praticamente canonizado? Minha tese é que ele representava o ícone perfeito da CHEC (Comunistas Hipócritas da Esquerda Caviar). No Brasil, você pode ser podre de rico, viver no maior conforto de frente para o mar, mamar nas tetas do governo, desde que adote a retórica socialista.
Falar em “justiça social” enquanto enche o bolso de dinheiro público, isso merece aplausos por aqui. Já o empresário que defende o capitalismo, produz bens demandados pelo povo e não depende do governo é visto como o vilão. Os discursos sensacionalistas valem mais do que as ações concretas. Imagem é tudo!
As curvas traçadas pelo “poeta do concreto”, que considerava o dinheiro algo “sórdido”, custavam caro. Quase sempre eram pagas pelos nossos impostos. Foram dezenas de milhões de reais só do governo federal. Muito adequado o velório ter sido no Palácio do Planalto, o maior cliente do arquiteto. Licitação e concorrência? Isso é coisa de liberal chato.
Niemeyer virou um ícone contra o excesso de razão nas construções, mas acabou com extrema escassez de razão em suas ideias políticas. Sempre esteve do lado errado, alimentado por um antiamericanismo patológico. Defendeu os terroristas das Farc, os invasores do MST e o execrável regime comunista, mesmo depois de cem milhões de vidas inocentes sacrificadas no altar dessa ideologia.
Ele admirava os tiranos assassinos Fidel Castro e Stalin, e chegou a justificar seus fuzilamentos. Até o fim de sua longa vida, usou sua fama para disseminar essa utopia perversa, envenenando a cabeça de jovens enquanto desfrutava do conforto capitalista.
No meu Aurélio, há uma palavra boa para definir pessoas assim, que curiosamente vem antes de “craque” e depois de “crânio”. Talvez Niemeyer fosse as três coisas ao mesmo tempo.
Roberto Campos certa vez disse: “No meu dicionário, ‘socialista’ é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros.” Bingo!
Para quem ainda não está convencido de que toda essa comoção tem ligação com sua pregação política, pergunto: seria a mesma coisa se ele defendesse com tanta paixão Pinochet em vez de Fidel Castro? A tolerância seria a mesma se, em vez de Stalin, fosse Hitler o seu guru?
E não me venham dizer que são coisas diferentes! Tanto Stalin como Hitler eram monstros, da mesma forma que o comunismo e o nacional-socialismo são igualmente nefastos. Que grande humanista foi esse homem que defendeu até seu último suspiro algo tão desumano assim?
Acho compreensível o respeito pela obra de Niemeyer, ainda que gosto seja algo subjetivo e que a simbiose com o governo mereça críticas. Entendo o complexo de vira-lata que faz o povo babar com os poucos brasileiros famosos mundialmente. Mas acho inaceitável misturarem as coisas e o colocarem como um ícone do humanismo. Não faz o menor sentido.
Seu brilhantismo como artista não lhe dá um salvo-conduto para a defesa de atrocidades. É preciso saber separar as coisas, o gênio artístico do homem e suas ideias. E tenho certeza de que não é apenas sua arquitetura que gera essa idolatria toda. Basta ver a reação quando questionamos a pessoa, não o arquiteto.
Sua neta Ana Lúcia deixou clara a confusão: “As ideias que ele tentou passar de humanismo, justiça social, isso é tão importante quanto as obras dele. Acho que a gente tem que preservar e difundir o pensamento dele.” Como assim?
Aproveito para avisar que sou sensível ao sofrimento das vítimas do comunismo, mas sou imune à patrulha ideológica da CHEC. A afetação seletiva da turma “humanista” não me sensibiliza. É até cômico ser rotulado de radical por stalinistas.
Por fim, espero que Niemeyer chame logo seu camarada Fidel Castro para um bate-papo onde ele estiver, e que lá seja tão “paradisíaco” como Cuba é para os cubanos comuns. Talvez isso o faça finalmente mudar de ideologia...

quinta-feira, novembro 22, 2012

Os inocentes Dirceu e Genoino


Aloísio de Toledo César, Estadão
Se alguém entrar numa penitenciária e conversar com os presos, individualmente, verificará uma situação muito curiosa, até mesmo engraçada: não há ali nenhum culpado. Quando se pergunta ao preso, como todo juiz faz, ao longo da carreira, "qual é a sua bronca?", logo vem a resposta: "Ah, doutor, armaram pra mim, eu num fiz nada".
Se houver insistência quanto ao tipo de crime de que são acusados, quase todos se saem do mesmo jeito: "O meu é o 155", ou o 158, ou o 171, e assim por diante. Quase sempre há dificuldade em obter do preso afirmações como "eu matei", "eu roubei", "eu trafiquei drogas" e outras que tais, porque, afinal, todos se dizem inocentes. Por isso acham preferível dizer o número do artigo do Código Penal pelo qual foram enquadrados, julgados e condenados.
O mesmo poderá acontecer com os condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares quando estiverem na cadeia, porque, conforme eles propagam o tempo todo, nada fizeram de errado e o que ocorreu - na desculpa esfarrapada com se encobrem - foi o julgamento de um partido político vitorioso. Sim, na visão que procuram propagar, o que houve foi tão somente um julgamento político de pessoas inocentes, tão inocentes que talvez pudessem até ser canonizadas.
Enfim, quando José Dirceu, já preso, for indagado a respeito de sua "bronca", depois de reiterar a proclamação de inocência, ele poderá dizer que é o 333, ou seja, corrupção ativa, e o 288, formação de quadrilha. O primeiro prevê pena de 2 a 12 anos e o segundo, de 2 a 5 anos, além de multa, podendo ser aumentada da metade se a vantagem ilícita for também destinada a servidor ou agente público.
Dada a gravidade da conduta, por envolver o então chefe da Casa Civil, o cargo mais poderoso da República após o de presidente, não se pode alegar que tenham sido severas as penas a ele impostas. Para os ministros do STF Ricardo Lewandowski, revisor do processo, e Dias Toffoli, não havia prova alguma contra José Dirceu e José Genoino. Havia, sim, provas contra todos os outros, menos contra esses dois mais poderosos.
Na visão desses dois juízes, os mesmos delitos, decorrentes das mesmas condutas criminosas, foram admitidos para a imposição de penas aos demais réus, mas não a José Dirceu e Delúbio Soares. Isso equivale a dizer que as provas dos autos foram válidas para condenar e para absolver, conforme as pessoas, sugerindo um paradoxal silogismo jurídico, capaz de entortar o cérebro de quem buscar entendê-lo.
Consequência disso está no infeliz surgimento de anedotas que mostram sempre o relator, Joaquim Barbosa, em posição de antagonismo com o revisor, Ricardo Lewandowski. Numa delas, que circula de boca a boca e também pela internet, aparece um preso, na hora do julgamento, pedindo, pelo amor de Deus, para ser julgado por Lewandowski. Apesar de ser tão sério o assunto, o espírito jocoso do brasileiro sempre encontra uma forma de se divertir.
Contribui para tal o comportamento desse ministro, ao causar a impressão de que se opõe deliberadamente aos julgamentos e à forma de julgar do relator, Joaquim Barbosa. Lewandowski parece não se haver dado conta de que está sob a luz dos holofotes e de que milhões de brasileiros acompanham, pela televisão, cada gesto, cada olhar, cada palavra dele.
Sua irritação quando se retirou do plenário do Supremo porque Barbosa alterou a ordem dos julgamentos, prerrogativa do relator, serviu para demonstrar que Lewandowski anda com os nervos à flor da pele. Não se vê o mesmo nervosismo em Gilmar Mendes, em Celso de Mello, em Marco Aurélio nem em nenhum outro.
Essa atitude o diferencia e o deixa numa situação realmente desconfortável perante o julgamento que cada pessoa faz dos ministros daquela Corte. Sim, os ministros estão sendo julgados por cada um de nós e esse ponto é positivo para o reforço de uma instituição que há anos vem sofrendo processo de deboche e desmoralização.
Também ganha com esse histórico julgamento a democracia brasileira. Exemplo disso está no próprio José Dirceu, que, ameaçadoramente, afirma que não se vai calar e que vai continuar lutando. Para sua sorte, ele está no Brasil e aqui vai cumprir pena, porque se estivesse na sua amada Cuba, cujo regime sonhou importar para nós, nunca mais poderia abrir a boca, a não ser para cantar o hino cubano e dar vivas a Fidel Castro.
É curioso observar que o canto de sereia marxista, que encantou gerações e, felizmente, já não seduz, continuou a fazer estragos e vítimas no Brasil. José Dirceu e José Genoino são duas delas. A geração deles, a mesma da presidente Dilma Rousseff, passou anos a fio estudando Marx e discutindo se foi certa ou errada a opção de Stalin ou de Trotsky para substituir o moribundo Lenin.
Até hoje, alguns desse grupo ainda acham que a matança de mais de 10 milhões de adversários, por Stalin, não é fato relevante nem deslustra o encanto do verdadeiro comunismo. Sempre é bom que cada um de nós pergunte a si mesmo se o verdadeiro comunismo é aquele de Cuba, o da China ou o que foi sepultado na Alemanha Oriental, com a queda do Muro de Berlim.
Enfim, pelo jeito, foi por água abaixo o sonho do pequeno grupo que pretendeu usar dinheiro público - dinheiro nosso, arrecadado dos impostos que pagamos - para a aventura consistente em comprar votos no Congresso Nacional, em atos de corrupção e de formação de quadrilha, com o propósito de implantar no Brasil uma República sindical socialista.
Por trás das grades, terão tempo suficiente para refletir. Dirceu e Genoino já cumpriram pena antes, mas, desta vez, a prisão a eles imposta não vem de ditadura alguma, mas do cumprimento da lei, à qual todos estamos subordinados.

sábado, outubro 20, 2012

Reparação: documentário sobre 1964

Excelente documentário sobre 64, com Marco Antonio Villa, Demétrio Magnoli, Ipojuca Pontes, FHC (que escorrega feio pois não consegue nem criticar Cuba de forma mais enfática), e uma vítima que perdeu uma perna (e seu sonho de vida) em atentado terrorista dos esquerdistas. Fala também da Bolsa Anistia. O resultado final ficou muito bom.


terça-feira, outubro 02, 2012

Castrolândia


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Michael Moore, Jack Nicholson, Oliver Stone, Steven Spielberg, Francis Coppola, Robert Redford, Danny Glover e Sean Penn: o que todos eles têm em comum, além da fama e da fortuna? São bajuladores da mais longa, cruel e assassina ditadura do continente.
Cuba ainda desperta fortes emoções em muito inocente útil mundo afora. Por isso devemos celebrar o lançamento, pela Leya, do livro “Fidel: O tirano mais amado do mundo”, de Humberto Fontova.
Exilado em Miami, Fontova é também autor de “O Verdadeiro Che Guevara”. Não deve ser fácil ver os gringos tratando como heróis esses que dizimaram e escravizaram seus familiares, transformando sua nação em um feudo miserável.
A reverência ao meio século de totalitarismo cubano mostra que alardear boas intenções vale mais do que atos concretos. A retórica “altruísta” dos revolucionários serve como salvo-conduto para todo tipo de crime comum. Em nome da utopia socialista, vale tudo. Os “nobres” fins justificam os meios mais nefastos.
Muitos falam dos “avanços sociais” na saúde e na educação. Como se isso, mesmo que fosse verdade (não é), absolvesse todos os crimes hediondos do ditador adulado por Hollywood.
Cuba não era um prostíbulo americano antes de 1959. Era um país com ampla classe média, com o terceiro maior consumo de proteína no hemisfério ocidental, a segunda renda per capita da América Latina (maior que a Áustria e o Japão), e a taxa de mortalidade infantil mais baixa da região.
Sua taxa de alfabetização já era de 80% em 1957, e o mais importante: os cubanos tinham cerca de 60 opções de jornais diários para escolher. Compare-se a isso a realidade hoje, com um único jornal, monopólio estatal, que reproduz somente aquilo que o ditador deseja. Nas salas de aula, os alunos “aprendem” sobre as maravilhas do socialismo, e depois precisam enfrentar a realidade infernal da ilha-presídio. Educação?
Em 1958, Cuba tinha nove cassinos, e apenas 5% do capital investido no país eram americanos. Se muitos turistas buscavam diversão na ilha, vários cubanos também viajavam para Miami. Hoje, milhares de cubanos estão dispostos a nadar no meio de tubarões para tentar a liberdade nos Estados Unidos, tudo para fugir do “paraíso” socialista onde “nenhuma criança dorme na rua”.
Para piorar o quadro, Havana recentemente passou Bangcoc como “capital do sexo infantil no mundo”. Possui ainda as maiores taxas de suicídio e aborto da região, fruto da miséria e do desespero. Isso apesar dos mais de US$ 100 bilhões de subsídios que a antiga União Soviética mandou para Fidel. Chávez assumiu a mesada, mas fica tudo concentrado na “nomenklatura” escolhida pelo Líder Máximo.
Há também uma segregação racial na ilha, com 80% dos presos sendo negros, contra menos de 1% da cúpula do poder. Homossexuais são perseguidos. Os “progressistas” da esquerda caviar não suportariam viver um dia sequer em “A Ilha do Doutor Castro” (outra leitura recomendada). Cuba virou importante rota de tráfico de drogas, com claros sinais de envolvimento do governo, assim como um quintal para terroristas antiamericanos.
Raúl Castro escreveu em 1960: “Meu sonho é jogar três bombas atômicas em Nova York”. Seu irmão chegou a arquitetar planos para efetivamente lançar bombas na cidade, que felizmente fracassaram.
Fidel, retratado como humanitário pelos idiotas, já demonstrava sua paixão pela violência desde jovem. Em seu livro “Cuba sem Fidel”, Brian Latell diz: “Já com 20 anos de idade, Fidel considerava a prática de assassinatos e a provocação de situações caóticas meios justificáveis e aceitáveis para ver materializados seus interesses pessoais”.
Mas eis que o tirano ainda conquista corações ingênuos por aí. Alguns podem alegar que a Guerra Fria acabou, que o socialismo morreu, e que digo o óbvio. Nelson Rodrigues sabia que “somente os profetas enxergam o óbvio”.
O leitor duvida? Então por que ainda temos partidos que pregam o socialismo, enaltecendo o regime cubano, como faz o PSOL de Chico Alencar e Marcelo Freixo? Por que nossa presidente chama Cuba de “país-irmão” na ONU, criticando o embargo americano (parece que ser “explorado” pelos ianques é algo bom, afinal), mas é incapaz de fazer uma crítica ao regime ditatorial dos Castro? 
Não se engane. A esquerda carnívora ainda vive, e tem em Fidel um guru. Aguardem o dia de sua morte para ver a patética comoção. Daí a importância do livro de Fontova, um antídoto para essa doença que ainda encontra terreno fértil abaixo da linha do Equador, com a ajuda dos nossos “intelectuais” e dos famosos de Hollywood. 

Caminhando com Ferreira Gullar

João Pereira Coutinho, Folha de SP


Viajo para Londres. Na mala, algumas revistas para ler nas duas horas de voo. Tiro a primeira. Folheio as páginas iniciais. Encontro Ferreira Gullar em entrevista à "Veja". O dia está ganho.
Sobre o poeta, não vale a pena dizer o óbvio: depois da morte do lusitano Mário Cesariny (1923-2006), Ferreira Gullar é o único poeta de língua portuguesa que merece a honraria do Nobel.
Embora, atendendo às anedotas recentes da academia sueca (Elfriede Jelinek, Herta Müller etc.), talvez seja mais correto dizer que é o Nobel que precisa do prestígio de Gullar.
Mas a entrevista é sobretudo uma lição de política só possível em alguém que, permanecendo à esquerda no que a esquerda tem de melhor (uma insubordinação instintiva perante abusos ou privilégios injustificáveis), aprendeu e refletiu com a experiência histórica.
"Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é", diz o poeta. Eis o "espírito do tempo", feito de oportunismo e farsa ideológica.
Ferreira Gullar não alinha em farsas. O capitalismo tem páginas abomináveis de miséria e exploração, sobretudo nas incipientes sociedades industriais do século 19? Sem dúvida -e ler Charles Dickens é, nesse quesito, mais relevante do que ler Marx, que nunca pôs os pés numa fábrica e tinha Engels para sustentá-lo.
Mas o capitalismo, apesar de tudo, "é forte porque é instintivo", diz o poeta. Em apenas uma frase, Gullar resume o que Adam Smith escreveu em dois volumes, 250 anos atrás.
Existe nos seres humanos um desejo natural para "melhorarem a sua condição", escrevia o filósofo escocês. E essa melhoria material só se consegue quando o açougueiro, o cervejeiro e o padeiro perseguem o seu próprio interesse, negociando os seus produtos e procurando aumentar os seus lucros.
Fato: sem freios éticos ou legais, o capitalismo é destrutivo e autodestrutivo. Mas quando existem esses freios, e nenhum liberal clássico prescinde deles (Adam Smith, antes de escrever "A Riqueza das Nações", escreveu primeiro a sua "Teoria dos Sentimentos Morais", base ética de qualquer sociedade civilizada), não há outra forma, historicamente comprovada, de gerar riqueza.
Claro que, para um marxista puro e duro, o capitalista nunca gera riqueza; ele explora quem trabalha e vive do suor alheio, de preferência fumando o seu charuto e brandindo o chicote. Raymond Aron, o mais incisivo crítico do marxismo que conheço, tem páginas notáveis onde desmonta essa dicotomia caricatural entre "capital" e "trabalho".
Ferreira Gullar prefere uma metáfora: "O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas". E acrescenta, para os lentos de raciocínio: "A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária".
Finalmente, as lições da história: Ferreira Gullar não se limita a relembrar os crimes do "socialismo real", hoje uma evidência para qualquer pessoa com dois neurônios em funcionamento.
Ele deixa uma pergunta devastadora: quantos dos defensores de Cuba estariam dispostos a viver lá? Sim, a viver enjaulados em uma ilha de onde é difícil sair, onde publicar um livro implica uma permissão governamental -e onde a igualdade na miséria é a única igualdade que existe e resiste?
É um bom princípio de responsabilidade política: só defendermos regimes sob os quais estamos dispostos a viver. Todo resto é pose pornográfica.
Infelizmente, não sobra espaço para as meditações estéticas propriamente ditas. Mas Ferreira Gullar, relembrando a morte de um filho, deixa esta definição (meta) poética primorosa: "Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos".
Nem mais: escrever é continuar essa revelação interminável do ainda não-dito, do ainda não-experimentado, como se o poeta fosse o elo presente de uma corrente interminável.
Ou, como o próprio Gullar escreveu nos seus velhinhos "Poemas Portugueses", que praticamente aprendi de cor: "Caminhos não há/ Mas os pés na grama/ os inventarão/ Aqui se inicia/ uma viagem clara/ para a encantação".
Caminhar com Ferreira Gullar tem sido, hoje e sempre, uma lição e um privilégio.

quinta-feira, agosto 30, 2012

Ferreira Gullar bate na trave


Rodrigo Constantino

No domingo passado, o poeta Ferreira Gullar usou sua coluna da Folha para enaltecer o modelo capitalista de propriedade privada com foco no lucro. Notório defensor do regime comunista, Gullar tem demonstrado, de uns tempos para cá, uma mudança de quase 180o em seu pensamento. Antes tarde do que nunca.

Seus argumentos utilizados no artigo são bastante parecidos com aqueles expostos pelos liberais há décadas. O mecanismo de incentivos é totalmente inadequado quando se trata de empresas estatais, pois falta o olhar atento do dono, o escrutínio dos sócios preocupados com a recompensa dos acertos e a punição dos erros.

Além disso, não é preciso contar com a bondade ou a boa intenção dos empresários para o funcionamento eficiente do modelo capitalista. Felizmente, pois seria uma premissa um tanto ingênua, quase tão ingênua quanto assumir que políticos e burocratas são santos preocupados apenas com o bem-geral.

Em busca de seus próprios interesses, esses empresários, em um ambiente de livre concorrência, são guiados como que por uma “mão invisível” a fazer coisas que beneficiam a maioria. Este foi o grande insight de Adam Smith. Foi da ganância de Steve Jobs, por exemplo, que os usuários obtiveram os excelentes aparelhos da Apple, e não de um suposto altruísmo.

Já nas estatais a ganância costuma ser direcionada para interesses políticos, eleitoreiros, ou sindicalistas. Busca-se estabilidade de emprego, não meritocracia. A maioria se torna verdadeiro cabide de empregos. A promoção costuma ocorrer por critérios ideológicos, não pela maior eficiência. Isso sem falar do mar de corrupção que resulta justamente da falta da presença do dono.

O polemista Paulo Francis, que também foi de esquerda por muitos anos, reconheceu este fato: “Se os recursos que o estado brasileiro canalizou para o estatismo tivessem sido postos ao dispor da iniciativa privada, o Brasil hoje seria uma potencia de peso médio e talvez mais”. Ele foi além: “E, quanto mais gananciosos os capitalistas, melhor. Ganância é sinônimo de ambição”.  

Portanto, é alvissareira a mudança radical no discurso de um antigo ícone do comunismo no Brasil. Mas por que ele bateu na trave então? Por que não foi um golaço? Por causa de uma última frase deslocada no artigo, que demonstra a presença do ranço esquerdista do passado. Eis como Gullar termina seu texto: “Uma coisa, porém, é verdade: cabe ao estado trazer a empresa privada em rédea curta”.

Como assim? Se o poeta já compreendeu que o estado não é formado por santos abnegados ou oniscientes, como delegar tanto poder aos políticos e burocratas e esperar bons resultados? Uma escorregada e tanto do poeta. Se o estado detiver esse poder todo, de controlar as empresas indiretamente, a privatização não ocorrerá de fato. As empresas serão reféns dos interesses políticos, o que, na prática, significa quase o mesmo que ter a velha estatal.

Quando o governo petista aumentou sua ingerência na Vale, este risco ficou evidente. Os milhões de acionistas minoritários acusaram o golpe, e suas ações despencaram. Não é o estado que deve trazer a empresa privada em rédea curta; é a sociedade que deve trazer o estado em rédea curta. O preço da liberdade é a eterna vigilância. E o caminho mais rápido da servidão é concentrar poder demais, e arbitrário, nas mãos do estado.

O poeta levou quase meio século para descobrir os horrores do comunismo e defender as vantagens do capitalismo. Espera-se que ele leve menos tempo para perceber que o capitalismo, para funcionar direito, precisa de mais liberdade e menos intervencionismo estatal.

sábado, junho 23, 2012

Arcaicas, ideias de Safatle deveriam estar em um museu

João Pereira Coutinho, Folha de SP

Vladimir Safatle deveria estar num museu. Digo isso com todo o respeito.

Lendo "A Esquerda que Não Teme Dizer Seu Nome", lembrei de imediato a peça "O Percevejo", de Maiakóvski, história de um antigo bolchevique, Prissípkin, que, depois de um acidente, acorda para o mundo futuro vindo diretamente de um passado irreconhecível.

Safatle é uma espécie de Prissípkin intelectual: o século 20 pode ter sido o grande cemitério de cada uma das suas ideias coletivistas. Mas Safatle, como o anti-herói de Maiakóvski, esteve mergulhado numa tina de água gelada em hibernação ideológica. Não viu nada, não aprendeu nada. E não esqueceu nada.

Ser de esquerda é, para Safatle, estar com aqueles que mais sofrem. É o primeiro clichê. Mas depois vêm outros: a defesa radical do igualitarismo é um valor inegociável para os camaradas.

Infelizmente, ele não explica em que consiste esse igualitarismo, para além das piedades habituais sobre a importância de redistribuir riqueza. Nenhuma palavra sobre a necessidade de a criar.

Criar? Para Safatle, o mundo divide-se em ricos e pobres; os ricos roubam os pobres; a função do Estado é roubar os ricos. "The end".

Igualitarismo é parte da história. Mas a esquerda que não teme dizer seu nome também é, para Vladimir Safatle, "indiferente às diferenças". Não sei se isso significa que o autor, com apreciável coragem intelectual, se opõe às cotas raciais instituídas por universidades brasileiras.

Sei apenas que, para Safatle, cultivar as diferenças (e, por arrastamento, demonizar o outro) é vício judaico-cristão, praticado pela Europa branca e xenófoba.

Curiosamente, não passa pela cabeça do filósofo que esse "culto da diferença" é também prerrogativa de comunidades imigrantes, leia-se "muçulmanas", que habitam a Europa, mas repudiam os seus valores multiculturais e resistem a integrar-se.

SOBERANIA POPULAR

De resto, as melhores páginas deste curto ensaio estão na apaixonada defesa do conceito arcaico de "soberania popular".

Na minha inocência, eu julgava que esta herança rousseauniana, uma metáfora para a total rendição do indivíduo aos ditames da comunidade, tinha ficado enterrada com as "democracias populares" do século 20.

Ilusão minha: as utopias revolucionárias da última centúria foram apenas uma ideia que não deu certo, diz Vladimir Safatle.

E acrescenta: "quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar?".

Não é fácil ler a pergunta e imaginar os 100 milhões de seres humanos (estimativa conservadora) que o comunismo destruiu nas suas "experiências" de criação do "homem novo".

E volto a Maiakósvki, porque são dele as palavras que abrem o livro de Safatle: "Melhor morrer de vodca que de tédio". Admito que sim.

Mas alguém deveria informar Safatle de que não foi a vodca (nem o tédio) que matou o seu herói. Ironicamente, foi o clima de repressão e intolerância do regime soviético que o conduziu à aniquilação pessoal.

quinta-feira, março 29, 2012

Os comissários da “verdade”


Foto: Celso Pupo/Foto Arena/AE

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Nesta quinta-feira ocorreu um evento no Clube Militar com o título “1964 – A Verdade”. Os painelistas convidados eram o jornalista Aristóteles Drummond, Dr. Heitor De Paola e o general Luiz Eduardo Rocha Paiva. O objetivo, como fica claro, era debater o contexto do “golpe” (para alguns um contragolpe) militar que derrubou Jango do poder. Tratava-se de uma evidente resposta a esta tentativa de se reescrever a história com forte viés ideológico por meio da dita Comissão da Verdade.

Manifestantes de esquerda, entretanto, partiram para ataques verbais, acusando os presentes de “torturadores”. Policiais tentaram liberar a avenida, fechada pelos manifestantes, que, por sua vez, começaram a jogar ovos nos representantes da lei e da ordem. Os protestos acabaram em pancadaria, como de praxe quando estes adoradores de Che Guevara resolvem “protestar”.

O episódio ilustra perfeita e sarcasticamente a contradição destes idólatras do comunismo. No afã de apagar os fatos daqueles tempos com a borracha do poder e colocar em seu lugar uma versão totalmente deturpada e maniqueísta, os comunistas acabam deixando transparecer seu real apreço pela democracia, ou seja, zero. Essa gente jamais tolerou o livre debate de idéias, e encara a coisa como uma batalha no ringue, em que socos falam mais que argumentos. Quem esqueceu de José Dirceu incitando seus discípulos a ganhar nem que fosse na pancada?

É assim que os “heróis da democracia”, pela ótica orwelliana moderna, com o beneplácito do poder, enxergam a tolerância democrática. Naqueles tristes anos, a turma, armada e financiada pelos soviéticos, lutava para impor uma ditadura comunista ao estilo cubano no país. Hoje, querem impor sua versão falsa dos fatos, calando com ameaças e violência aqueles que ousam contar o outro lado da história. Com tanto amor assim pela liberdade, esses comissários da “verdade” ainda vão transformar o Brasil em um “paraíso” como Cuba ou Venezuela!

quinta-feira, março 15, 2012

O pecado de Verissimo

Rodrigo Constantino

O simpático cronista Luís Fernando Verissimo ataca novamente, me obrigando a consumir mais Engov para evitar o embrulho estomacal (ainda mando a conta do remédio para ele). Em seu artigo de hoje, "Não é mais pecado", Verissimo resgata o Inferno de Dante, lembrando que os usurários iam direto ao encontro do Capeta na era medieval, quando a Igreja detinha mais poder.

O que o veneno de Verissimo pretende desta vez, sem muito disfarce, é atingir os bancos hoje, condenando a prática de cobrar juros. Segundo Verissimo, que entende um pouco mais sobre a vida privada do que de economia, os bancos modernos são capazes de destruir países inteiros por conta da desregulação. Seu artigo, leve e engraçadinho como de praxe, não passa de mais um ataque ao capitalismo.

Será que Verissimo não sabe que o setor bancário é um dos mais regulados do mundo? Será que Verissimo não sabe que os bancos centrais é que estimulam a criação de bolhas? Será que Verissimo não sabe que a gastança do governo é que ameaça as economias desenvolvidas hoje? Será que Verissimo não sabe que o juro é apenas o preço do capital no tempo, ou seja, como ter algo hoje vale mais do que tê-lo amanhã, devemos pagar para pegar emprestado a poupança alheia? Será que Verissimo não sabe que foi justamente o término desta visão pecaminosa da usura que possibilitou o progresso material moderno, inimaginável nos tempos medievais?

Talvez o cronista seja um saudosista daqueles "maravilhosos" tempos em que a expectativa de vida não chegava à metade do que é hoje. Talvez ele se imagine um aristocrata vivendo em algum castelo francês, sem se dar conta que mesmo assim um simples operário hoje desfruta de mais conforto graças ao capitalismo.

Por fim, Verissimo se justifica quanto ao erro patético da última coluna, apontado por mim. Nele, Verissimo afirmara que Marx teria levado um susto com a revolução soviética, sendo que o comuna barbudo morreu em 1883 e o evento se deu em 1917. Verissimo escreve agora: "Pensei que tivesse ficado subentendido que Marx se surpreendera no além-túmulo, mas nem todos subentenderam". Sério mesmo? Só pode ser limitação minha mesmo. E pensar que todos os leitores de Verissimo sabem exatamente quando Marx morreu! Claro que estava subentendido! Como pude pensar que se tratava de um erro absurdo, deliberado ou não? Fica aqui registrado o meu pedido de desculpas a Verissimo. É que não tenho a capacidade de ler nas entrelinhas do autor.

PS: No final do artigo, Verissimo questiona aonde Marx ficaria no além-túmulo: céu ou inferno. E termina tentando plantar a semente da dúvida: "Há controvérsias". Não! Eu não acredito em céu ou inferno, mas SE eles existissem de fato, não haveria a menor dúvida de qual seria o destino daquele que ajudou a parir o regime mais nefasto, assassino e cruel da história, que foi o comunismo. Marx teria lugar de destaque garantido bem ao lado de Lúcifer.

quinta-feira, março 08, 2012

O enigma de Verissimo

Rodrigo Constantino

Quando você lê com certa frequência as colunas do Verissimo, como eu faço (provavelmente por causa do meu lado masoquista), você começa a compreender melhor como o simpático colunista faz para passar suas mensagens pelas entrelinhas. As mensagens, invariavelmente, levam ao mesmo lugar: a defesa do socialismo. A forma é dissimulada, envergonhada muitas vezes. Mas o destino é sempre este. É o nosso Toohey tupiniquim, para quem leu "A Nascente", de Ayn Rand (para quem ainda não leu, está esperando o que?).

No artigo de hoje, "O enigma", Verissimo tenta culpar o anacronismo russo pela desgraça soviética, livrando assim a cara do comunismo/socialismo. Eis o que ele escreve:

"A própria experiência comunista só enfatizou o enigma. Grande parte da armação teórica da revolução partiu da 'intelligentsia' russa, mas não havia lugar mais improvável para uma revolução proletária do que a Rússia, com sua tradição de servos hereditários e submissos e seu feudalismo medieval. O próprio Marx levou um susto. Um dos problemas do Ocidente na sua relação com a União Soviética durante a Guerra Fria era nunca saber se estava tratando com o comunismo soviético ou com o anacronismo russo, passional e imprevisível."

Perceberam a malandragem? A experiência comunista não veio dos proletários (em lugar algum veio), e o lugar era inapropriado para tal revolução. POR ISSO é que deu errado, ora bolas! Não vem ao caso lembrar que o comunismo deu errado em Cuba, na Coréia do Norte, na China, na Iugoslávia, na Polônia, e onde mais tenha sido imposto pela "intelligentsia" (da qual, por sinal, o próprio Verissimo é um ícone perfeito).

Também não vem ao caso que, segundo Verissimo, o próprio Marx levou um susto com o experimento russo, sendo que Lênin tomou o poder pela força em 1917, enquanto Marx morreu em 1883. Como exatamente Marx fez para levar um susto com um evento que ocorreu 34 anos após sua morte permanece um mistério.

Talvez ESSE seja o enigma do artigo! Até porque, convenhamos, no restante não há enigma algum. O comunismo, inexoravelmente, leva ao caos, miséria e escravidão. Na Rússia ou em qualquer outro lugar, feudalista ou não, anacrônico ou não. Verissimo pode ignorar o fato o quanto ele quiser, mas o fato não muda: o problema é o comunismo em si, este modelo nefasto que deixou um rastro de 100 milhões de mortes na história.

Mas isso não é tudo! Verissimo, depois, tenta ridicularizar Reagan, como fazia a "intelligentsia" mundial na época, por chamar a coisa pelo seu nome, com os devidos pingos nos is. Ele escreve:

"O 'Império do Mal', nas palavras do Ronald Reagan, seria do mal mesmo sem o comunismo. De tais simplificações era feita a política externa americana."

Viram só? Reagan era "simplista" por chamar um "Império do Mal", que escravizou o povo todo, matou milhões, ameaçou a paz mundial, exportou o caos e levou todos à miséria, de "Império do Mal". Eu digo que Reagan era apenas objetivo, e disse uma verdade autoevidente. Isso costuma chocar os comunas mesmo. E novamente, Verissimo tenta jogar a culpa da desgraça soviética nos russos, e não no modelo. Seria o mal "mesmo sem o comunismo".

Calma que não acabou! Verissimo escreve ainda:

"Quando o comunismo caiu, a Rússia adotou o capitalismo selvagem sem nem um período de adaptação. Talvez seja mesmo um caso de caráter nacional."

Verissimo solta no ar a transição para o "capitalismo selvagem", colocando o capitalismo no mesmo saco podre do comunismo, e concluindo que deve ser um problema do "caráter nacional" do país. Entenderam como a estratégia dele funciona?

Haja Engov para aturar Verissimo!

PS: Neste meu artigo de 2005, para o IL, mostro como Putin já derrubava os pilares frágeis do capitalismo no país, resgatando o modelo soviético.

domingo, fevereiro 12, 2012

Um sonho que acabou

FERREIRA GULLAR, FOLHA DE SP

É com enorme dificuldade que abordo este assunto: mais uma vez -a 19ª- o governo cubano nega permissão a que Yoani Sánchez saia do país. A dificuldade advém da relação afetiva e ideológica que me prende à Revolução Cubana, desde sua origem em 1959.

Para todos nós, então jovens e idealistas, convencidos de que o marxismo era o caminho para a sociedade fraterna e justa, a Revolução Cubana dava início a uma grande transformação social da América Latina. Essa certeza incendiava nossa imaginação e nos impelia ao trabalho revolucionário.

Nos primeiros dias de novo regime, muitos foram fuzilados no célebre "paredón", em Havana. Não nos perguntamos se eram inocentes, se haviam sido submetidos a um processo justo, com direito de defesa. Para nós, a justiça revolucionária não podia ser questionada: se os condenara, eles eram culpados.

E nossas certezas ganharam ainda maior consistência, em face das medidas que favoreciam aos mais pobres, dando-lhes enfim o direito a estudar, a se alimentar e a ter atendimento médico de qualidade. É verdade que muitos haviam fugido para Miami, mas era certamente gente reacionária, em geral cheia da grana, que não gozaria mais dos mesmos privilégios na nova Cuba revolucionária.

Sabíamos todos que, além do açúcar e do tabaco, o país não dispunha de muitos outros recursos para construir uma sociedade em que todos tivessem suas necessidades plenamente atendidas. Mas ali estava a União Soviética para ajudá-lo e isso nos parecia mais que natural, mesmo quando pôs na ilha foguetes capazes de portar bombas atômicas e jogá-las sobre Washington e Nova York. A crise provocada por esses foguetes pôs o mundo à beira de uma catástrofe nuclear.

Mas nós culpávamos os norte-americanos, porque eles encarnavam o Mal, e os soviéticos, o Bem. Só me dei conta de que havia algo de errado em tudo isso quando visitei Cuba, muitos anos depois, e levei um susto: Havana me pareceu decadente, com gente malvestida, ônibus e automóveis obsoletos.

Comentei isso com um companheiro que me respondeu, quase irritado: "O importante é que aqui ninguém passa fome e o índice de analfabetismo é zero". Claro, concordei eu, muito embora aquela imagem de país decadente não me saísse da cabeça.

Impressão semelhante -ainda que em menor grau- causaram-me alguns aspectos da vida soviética, durante o tempo que morei em Moscou. O alto progresso tecnológico militar contrastava com a má qualidade dos objetos de uso. O que importava era derrotar o capitalismo e não o bem-estar e o conforto das pessoas. Mas os dirigentes do partido usavam objetos importados e viam os filmes ocidentais a que o povo não tinha acesso.

Se a situação econômica de Cuba era precária, mesmo quando contava com a ajuda da URSS, muito pior ficou depois que o socialismo real desmoronou. É isso que explica as mudanças determinadas agora por Raúl Castro.

Mas, antes delas, já o regime permitira a entrada de capital norte-americano para construir hotéis, que hoje hospedam turistas ianques, outrora acusados de transformar o país num bordel. Agora, o governo estimula o surgimento de empresas capitalistas, como o faz a China. Está certo desde que permita preservar o que foi conquistado, já que a alternativa é o colapso econômico.

Tudo isso está à mostra para todo mundo ver, exceto alguns poucos sectários que se negam a admitir ter sido o comunismo um sonho que acabou. Mas há também os que se negam a admiti-lo por impostura ou conveniência política.

Do contrário, como entender a atitude da presidente Dilma Rousseff que, em recente visita a Cuba, forçada a pronunciar-se sobre a violação dos direitos humanos, preferiu criticar a manutenção pelos americanos de prisioneiros na base aérea de Guantánamo, o que me fez lembrar o seguinte: um norte-americano, em visita ao metrô de Moscou, que, segundo os soviéticos, não atrasava nunca nem um segundo sequer, observou que o trem estava atrasado mais de três minutos. O guia retrucou: "E vocês, que perseguem os negros!".

A verdade é que nem eu nem a Dilma nem nenhum defensor do regime cubano desejaria viver num país de onde não se pode sair sem a permissão do governo.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

A mulher, o bebê e o intelectual

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

As pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários

Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea.

Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse.

Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população.

O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso. A esquerda torce para o mundo dar errado e assim poder exercer seu terror de sempre.

Mas voltemos ao fato histórico sobre o qual os intelectuais de esquerda mentem: os comunistas (Stálin, Lênin, Trótski, Mao Tse-tung, Pol Pot e caterva) mataram mais do que Hitler e em nome das mesmas coisas que nossos intelectuais/políticos radicais de esquerda hoje pregam.

Caro leitor, peço licença para pedir a você que leia com atenção o trecho abaixo e depois explico o que é. Peço principalmente para as meninas que respirem fundo.

"(...) um novo interrogador, um que eu não tinha visto antes, descia a alameda das árvores segurando uma faca longa e afiada. Eu não conseguia ouvir suas palavras, mas ele falava com uma mulher grávida e ela respondia pra ele. O que aconteceu em seguida me dá náuseas só em pensar. (...): Ele tira as roupas dela, abre seu estômago, e arranca o bebê. Eu fugi, mas era impossível escapar do som de sua agonia, os gritos que lentamente deram lugar a gemidos e depois caíram no piedoso silêncio da morte. O assassino passou por mim calmamente segurando o feto pelo pescoço. Quando ele chegou à prisão, (...), amarrou um cordão ao redor do feto e o pendurou junto com outros, que estavam secos e negros e encolhidos."

Este trecho é citado pelo psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu livro "Anything Goes - The Death of Honesty", Londres, Monday Books, 2011. Trata-se de um relato contido na coletânea organizada pelo "scholar" Paul Hollander, "From Gulag to the Killing Fields", que trata dos massacres cometidos pela esquerda na União Soviética, Leste Europeu, China, Vietnã, Camboja (este relato citado está na parte dedicada a este país), Cuba e Etiópia.

Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser "gerida" por filósofos e cientistas sociais.

Pol Pot, o assassino de esquerda e líder responsável por este interrogador descrito no trecho ao lado, estudou na França com filósofos e cientistas sociais (que fizeram sua cabeça) antes de fazer sua revolução, e provavelmente tinha como professor um desses intelectuais (do tipo Alain Badiou e Slavoj Zizek) que tomam vinho chique num ambiente burguês seguro, mas que falam para seus alunos e seguidores que devem "mudar o mundo".

De início, se mostram amantes da "democracia e da liberdade", mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ("real", como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia. O século 20 é a prova cabal deste fato.

Escondem isso dos jovens a fim de não ter que enfrentar sua ascendência histórica criminosa, como qualquer idiota nazista careca racista tem que enfrentar seu parentesco com Auschwitz.

Proponho uma "comissão da verdade" para todas as escolas e universidades (trata-se apenas de uma ironia de minha parte), onde se mente dizendo que Stálin foi um louco raro na horda de revolucionários da esquerda no século 20. Não, ele foi a regra.

Com a crise do euro e a Primavera Árabe, o "coro das utopias" está de volta.

sábado, novembro 12, 2011

Why China Is Unhappy

Editorial do WSJ

Rising discontent is challenging Communist Party rule.

If economic growth is supposed to enhance people's welfare and therefore satisfaction, China in 2011 is a conundrum. The economy is on track to grow more than 9%, yet this has been a year of rising discontent.

On the Chinese equivalents of Twitter, criticism of the government is exploding, despite fierce censorship. A recent poll by Tsinghua University and the magazine Xiaokang found that 40% of Chinese are unhappy with their lives, while another survey by the magazine Outlook and Peoples University found 70% of farmers dissatisfied, mainly because of land seizures. Some 60% of the rich are emigrating or considering doing so, according to a survey by the Hurun Report and the Bank of China. Even the People's Daily warned last week that there is a "crisis of confidence" in government.

***
The crisis is real, but the Communist Party mouthpiece didn't quite get it right. Chinese lost faith in local-level officials a long time ago, but until recently they continued to believe in their national leaders. They also largely accepted the post-1989 social contract in which the Party provided rising living standards in return for not questioning its monopoly on power.

This is changing as a result of two trends. The first is a growing awareness among the bottom strata of society that it is policy made at higher levels, not merely the incompetence or corruption of local officials, that is responsible for their woes. The second is the interest of the wealthy and the intellectuals in reform after two decades of being bought off by the Communist Party.

The first trend is typified by the willingness of about 100 people across the country to risk their freedom and put themselves forward as independent candidates in elections for local People's Congresses. Some are professionals, but most seem to be ordinary workers. These government bodies have traditionally rubber-stamped Party decisions, but their members theoretically have the power to supervise officials.

Most Chinese won't to be so bold unless they are mobilized from above, which is why new activism among the educated minority is so significant. Beijing intellectuals are making pilgrimages to the remote Shandong town of Linyi where blind legal activist Chen Guangcheng is under house arrest. Since the tax authorities last week presented the dissident artist Ai Weiwei with a $2.4 million bill for fines and back taxes, a movement has sprung up to donate money, both electronically and in paper airplanes delivered to his house, to keep him out of prison. Anger over the government's concealment of air pollution levels, even as the leaders in Beijing install air purifiers to protect their own health, has spawned another ad hoc campaign.

What seems to be turning the tide toward political activism is a realization that unless one is a member of the Party elite, upward mobility is limited and hard-won advancement can be taken away without due process. Since universities expanded enrollments in the early 2000s, many families have borrowed heavily to pay tuition for their children. But graduates without political connections have trouble getting on the career ladder, ending up joining the "ant tribe," slang for educated young people living in slums. Meanwhile, the children of elites can street-race their Ferraris without fear of arrest.

Faith in the competence of the central government is also declining because of a lack of accountability. After the July crash of two trains in Wenzhou, the media exposed problems in the trophy high-speed rail program. Yet the Railways Ministry continues to receive massive amounts of new capital to finance rail lines that probably can't recoup the investment. New parents are obsessed with obtaining imported baby formula because they don't trust domestic brands.

State-owned industries increasingly prosper at the expense of private companies and households. In order to tackle high inflation the central bank tightened credit, but state companies continue to get bank loans while entrepreneurs are going bankrupt. Property developers are forced to sell inventory to stay afloat, so the price of real estate, one of the main stores of savings for the rich, is falling nationally, destroying wealth.

That has important knock-on effects. Local governments, which borrowed heavily to build public works and depend on land sales for much of their budgets, now are scrambling to raise tax revenue, which is growing at almost three times the rate of GDP. These taxes further increase discontent, as shown by the riots two weeks ago in the city of Huzhou in Zhejiang province, where capitalists and proletarians went to the barricades arm-in-arm to protest Communist Party exploitation.

So it's hardly surprising that for the first time in years, capital is starting to flow out of China. This reflects the judgment of many Chinese that opportunities to invest are scarce and the economy faces tougher times. Some also worry about political upheaval and so are keeping part of their nest eggs abroad.

***
The government response to all this unhappiness has been to increase the resources and power of the domestic security apparatus. This year the budget for security surpassed that of the military for the first time, and disappearances of dissidents have become commonplace. Instead of cowing the population, this is only creating more instances of official abuse that are publicized on the Internet, leading to greater anger and defiance.

Alarm bells should be ringing. The virtuous cycle of social stability and material progress that has persisted for two decades is going into reverse. This need not lead to disaster, as long as the Communist Party recognizes its mistakes and responds to the public desire for the rule of law and curbs on the power of the state. Otherwise there is more unhappiness ahead.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Ventos da mudança


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Toda sexta-feira me deparo com o mesmo desafio: a escolha do assunto para este Comentário do Dia. Temas cabeludos nunca faltam. Por exemplo: Mais uma queda de ministro por escândalo de corrupção no governo Dilma. Já é o quinto ministro que cai por corrupção em menos de um ano de governo, graças ao papel vigilante da imprensa, a mesma imprensa independente que os petistas querem calar e chamam de “golpista”. Ou poderia falar também do pacote de “resgate” europeu, que empurrou o problema com a barriga uma vez mais sem endereçar os verdadeiros pontos estruturais, e ainda diz que corte “voluntário” de 50% no valor da dívida não é calote.

Mas é sexta-feira, véspera de sábado, e um raio de esperança costuma invadir meu dia pela manhã, lançando-me em busca de alguma notícia boa para relatar. Achei uma! É preciso procurar com esmero, é verdade. E confesso que recebi a dica de outra pessoa. Mas, ainda assim, tenho um assunto bom para comentar. Estampa o “Correio Braziliense”: “Alunos sem ligação com siglas políticas vencem eleição do DCE na UnB”. Resultado surpreendente. Bem no ninho da cobra, na Universidade de Brasília, reduto das esquerdas organizadas, o Diretório Central dos Estudantes, pela primeira vez desde a redemocratização, foi para uma chapa de “direita”.

A chapa “Aliança pela Liberdade” derrotou as demais chapas dos esquerdistas tradicionais, ligados ao PSTU, PSol e PT. Ou seja, os dinossauros de sempre, jovens que aprendem desde cedo que o caminho para o “sucesso” no Brasil passa pela bravata, pelo brado de slogans marxistas, pelo uso de camisetas vermelhas com a foto de Che Guevara e muita baderna. Esta garotada aprendeu que basta isso, em vez de estudar, para se tornar um ministro ou deputado no futuro, e ficar rico como um burguês insensível, desfrutando das benesses que só o capitalismo pode oferecer, pois ninguém é de ferro.

Talvez seja este um dos únicos lados positivos de aturar o PT no poder: expor a hipocrisia dessa esquerda que sempre tentou monopolizar os fins nobres no grito. A postura patética da UNE durante o governo petista, de silêncio sepulcral diante dos infindáveis escândalos de corrupção, acabou por despertar muitos jovens do sono ideológico. Esta cambada de oportunista não os representa! Onde estão os membros da UNE agora que o ministro comunista pede para sair, envolto em acusações com evidências de corrupção?

Finalmente muitos alunos estão abrindo os olhos, cansados desta safadeza nos diretórios estudantis. E acontecer isso justamente no epicentro da podridão, em Brasília, é notícia que merece um comentário diário sim. Parabéns, alunos da UnB, por nos dar alguma esperança de que as coisas podem melhorar. São os ventos da mudança...

terça-feira, junho 14, 2011

O verdadeiro Che Guevara - vídeo

Maradona, Mike Tyson, Carlos Santana, Benício del Toro, Johnny Depp, Jack Nicholson, Angelina Jolie, Gisele Bundchen. O que todos estes famosos possuem em comum além das fortunas? Todos dizem gostar de Che Guevara ou tatuaram nos próprios corpos sua imagem eternizada por Korda. Hoje, data do aniversário de Che, veja esta singela homenagem que fiz a seus admiradores.

sábado, maio 28, 2011

Marxista pop e o novo comunismo


Rodrigo Constantino

A esquerda festiva carioca entrou em polvorosa estes dias, com a visita do filósofo marxista Slavoj Zizek, que atacou a democracia representativa liberal em palestra no Odeon. O caderno Proza & Verso do jornal O Globo entrevistou o filósofo esloveno e traz matéria de capa hoje com o título “A novidade do comunismo”. Como se a mais ultrapassada ideologia de todas pudesse ter realmente alguma novidade...

Zizek defende as “causas perdidas”, e lamenta a perda do espírito revolucionário da esquerda. Ele não tem tempo para angústias e dúvidas, típicas dos liberais que reconhecem a complexidade da vida em sociedade: “Penso que existe a verdade, que existe a verdade universal, e que ela pode mesmo ser vista politicamente”. Claro que esta verdade seria... a sua. Como disse Bertrand Russell, o problema no mundo é que os tolos e fanáticos estão sempre tão certos de si mesmos, mas as pessoas mais sábias estão repletas de dúvidas.

Para Zizek, o problema de Hitler é que ele não foi violento o bastante. Calma, ele explica: não é que ele deveria ter matado mais judeus; é que ele não foi violento o bastante na revolução, em que violência significa “transformação das relações sociais”. Gandhi é que teria sido mais violento como revolucionário, pois organizou um movimento de massa com o objetivo de impedir o funcionamento do Estado colonial inglês na Índia. Alguém sente o cheiro, ainda que de leve, do duplipensar orwelliano aqui? Paz é guerra. Verdade é mentira.

O filósofo não defende, portanto, a violência. A revolução deve vencer no “dia seguinte”. Agora, como ninguém é de ferro, ele confessa: “Se aqueles no poder resistem, é claro que deve haver alguma violência, mas apenas como forma de defesa”. Entenderam? Sou contra a violência, mas se os demais não concordarem com minha revolução, que afinal de contas é a pura encarnação da verdade absoluta, e disso tenho certeza, então sim, posso usar violência como meio, em legítima defesa. Não é fantástico?

Revolução, para Zizek, não é um estado de emergência, mas apenas “mudança radical”. Ele explica melhor: “Revolução para mim é mudança nas relações sociais de poder”. O filósofo acredita que esta “revolução” não se dá com eventos isolados, midiáticos, com massas nas ruas tacando fogo em carros, mas sim de forma lenta e gradual. Um trabalho árduo, diário, paciente. Quem compreendeu isso foi o comunista italiano Antonio Gramsci, que criou um verdadeiro estratagema de tomada de poder em doses homeopáticas, pelas vias culturais principalmente. Nada novo aqui também.

Como em toda seita, há a esperança no dia da redenção. Para Zizek, “o comunismo vai vencer ou estaremos todos na merda” (na verdade, todos onde o comunismo venceu é que ficaram sempre na merda). Ele reconhece que o resultado geral do comunismo no século XX foi um fiasco, e que a social-democracia está hoje em crise. Mas Zizek ainda defende o comunismo, pois o capitalismo liberal global, em que ele curiosamente inclui a China, não tem condições de resolver os problemas atuais, como a questão ambiental, biogenética e propriedade intelectual. E ele não se considera um utópico. Para Zizek, a única utopia é “acreditar que as coisas podem seguir indefinidamente seu curso atual”.

Aqui ele resgata o pessimismo malthusiano para justificar seu ponto: “É claro por exemplo que se a China continuar se desenvolvendo na escala atual haverá uma demanda materialmente impossível de atender”. Será mesmo? Desde muito tempo que os pessimistas alegam que o crescimento populacional não será acompanhado pelo progresso material, mas os dados insistem em prová-los errados. A qualidade de vida material aumentou e muito no mundo de forma geral, e graças justamente ao progresso capitalista. O mercado tem essa mania de inovar, de aumentar a eficiência e produtividade, ou seja, fazer mais com menos. Os recursos naturais não mudaram muito no planeta, mas atualmente temos bilhões de habitantes, e o petróleo não vai acabar em breve! O problema da China não é o crescimento acelerado, mas a falta de liberdade econômica. O lado ruim é justamente a herança comunista, não as pitadas de capitalismo que fizeram milhões saírem da miséria.

Por fim, resta mencionar quem foi o “filósofo” brasileiro que ajudou a divulgar o evento com Zizek: Emir Sader. Para quem não lembra, Sader é aquele que até hoje defende o regime cubano, a mais longeva ditadura do mundo, responsável pela morte de milhares de inocentes. Talvez seja a tal violência necessária para as mudanças sociais, que um dia ainda hão de chegar! Sader escreveu um artigo para enaltecer a vinda de Zizek, em que diz: “Sua nova vinda ao Brasil será, sem dúvida, um grande acontecimento intelectual e político. É um provocador, no melhor sentido da palavra – de provocar o debate, a revisão de clichês, de saber se situar contra a corrente, de enfrentar temas que outros abandonaram, sob a pressão da mídia conservadora. Vale sempre a pena ler e ouvir Zizek, interlocutor obrigatório de quem não tem medo da realidade do presente, do passado e do futuro”.

Como vocês podem ver, é o “novo comunismo”, sem nenhuma ligação com aquele velho, carcomido e putrefato junto com os milhões de cadáveres que produziu. Quem for louco o suficiente que compre estas novas embalagens para os mesmos sonhos utópicos de antes, que deixaram apenas um enorme rastro de sangue e miséria. De minha parte, fico com este “maldito” liberalismo democrático, que tem seus defeitos sim, como qualquer modelo de sociedade com seres humanos imperfeitos, mas que é infinitamente mais justo e eficiente, como a história mostrou. Reformas e mudanças, sempre! Afinal, trata-se de um modelo vivo, uma sociedade aberta, que deve progredir gradualmente, por tentativa e erro. Mas “soluções” mágicas, ainda mais o resgate do mais que ultrapassado comunismo, isso nem pensar!

O filósofo e psicanalista Zizek costuma encantar as esquerdas. É o marxista pop, como alguns já o chamaram. Ser popular com a esquerda festiva que adora viajar a Paris e com jovens revolucionários que odeiam “tudo que está aí” e querem destruir o “sistema” não é mérito algum para mim. Prefiro todos os anônimos ou impopulares que lutam diariamente para construir, de fato, um mundo melhor e mais justo, com respeito às liberdades alheias e, por tabela, repúdio ao comunismo, novo ou velho.