quinta-feira, março 13, 2008

A Falácia da Renda Nacional



Rodrigo Constantino

"A individualidade sobrepuja em muito a nacionalidade e, num determinado homem, aquela merece mil vezes mais consideração do que esta." (Arthur Schopenhauer)

Para o economista austríaco Ludwig von Mises*, o pior inimigo do pensamento claro é a propensão à hipostatização, ou seja, atribuir existência real aos conceitos e constructos mentais. Um exemplo evidente disso está no conceito de sociedade. Uma sociedade não é nem uma substância, nem uma força, nem um ser que age. Apenas indivíduos agem. A cooperação de indivíduos gera um estado de relações que o conceito de sociedade descreve. Mas a sociedade não existe separada dos pensamentos e ações das pessoas. Ela não tem "interesses" e não objetiva nada. O mesmo vale para todos os outros coletivos, incluindo nação.

A hipostatização não é apenas uma falácia epistemológica. Para Mises, ela é usada nas ciências sociais para servir às aspirações políticas de determinados grupos, colocando no coletivo em questão uma importância e dignidade superiores àquelas atribuídas aos indivíduos. Estes passam a ser simples meios sacrificáveis para o objetivo maior. A propaganda socialista conseguiu criar nos termos "sociedade" e "social" uma aura de santidade que se manifesta por uma estima quase religiosa. Os fins "sociais" justificam quaisquer meios, mesmo que em nome da abstração, os seres concretos sejam eliminados ou sofram. O nacionalismo, outra forma de coletivismo, faz a mesma coisa. Pelos "interesses nacionais", tudo é desejável, mesmo que o preço seja o sacrifício de indivíduos.

Com isso em mente, podemos analisar melhor a falácia do conceito de renda nacional. Para Mises, tal conceito oblitera totalmente as condições reais de produção dentro de uma economia de mercado. Este conceito parte da idéia de que não são as atividades individuais que geram o avanço ou regresso da quantidade de bens disponíveis, mas algo que está acima e fora dessas atividades. Esse ente misterioso produz uma quantidade chamada "renda nacional", e depois um segundo processo "distribui" esta quantidade entre os indivíduos. O significado político desse método é óbvio. Os coletivistas criticam a "desigualdade" existente na "distribuição" da renda nacional, e demandam a concentração de poder arbitrário nas mãos dos "clarividentes" que irão distribuir essa renda de forma mais "justa".

Se alguém questiona quais fatores permitem o aumento da renda nacional, a resposta deverá ser: a melhoria dos equipamentos, das ferramentas e máquinas empregadas na produção, por um lado, e o avanço na utilização dos equipamentos disponíveis para a melhor satisfação possível das demandas individuais, por outro lado. O primeiro caso depende da poupança e da acumulação de capital, o segundo, das habilidades tecnológicas e das atividades empresariais. Se o aumento da renda nacional em termos reais é chamado de progresso, devemos aceitar que este é fruto das conquistas dos poupadores, investidores e empreendedores, cooperando voluntariamente numa economia de mercado.

Segundo Mises, o foco na "renda nacional" é uma tentativa de fornecer uma justificativa para a idéia marxista de que no capitalismo os bens são "socialmente" produzidos e depois apropriados por alguns indivíduos. Este approach inverte tudo. Na verdade, os processos produtivos são atividades de indivíduos cooperando uns com os outros. Cada colaborador individual recebe aquilo que os demais, competindo entre si no mercado, estão preparados para pagar por sua contribuição. Não existe razão, além do interesse político, para somar estas rendas individuais dentro do conceito de "nação" e não num contexto coletivo mais amplo ou restrito. Por que não renda do bairro, ou do município, ou do continente ou do globo? É possível concordar ou não com os objetivos políticos, mas não é possível negar que o conceito macroeconômico de renda nacional é um mero slogan político sem qualquer valor cognitivo.

O nacionalismo é um dos coletivismos mais perigosos que existem, como Hitler e Stalin podem comprovar. Toda a mentalidade mercantilista é fruto desse coletivismo também. Achar que a importação "nacional" é ruim e a exportação "nacional" é desejável é um absurdo total, resultado desta mentalidade. A existência de empresas estatais para lutar pelos "interesses nacionais" é outra enorme falácia resultante desse coletivismo tosco. O "orgulho nacional" é mais um grave sintoma desse nacionalismo bobo, uma "doença infantil", como disse Einstein. O conceito de "justiça social", que prega a distribuição forçada de renda dentro de uma nação, é mais um exemplo desse coletivismo que ignora a menor minoria de todas: o indivíduo.

Em economia, o que importa é a ação humana. Esta será sempre individual. Os dados agregados podem servir para estudos estatísticos, mas não para a compreensão da praxeologia, o estudo da ação humana, que é uma ciência apriorística. E esta representa a escolha de meios para determinado fim, que é sair de um estágio de menos satisfação para outro de maior satisfação. Somente um ente concreto possui tais metas e pode agir: o indivíduo. O grande inimigo da ação humana e, portanto, do progresso, é a idéia coletivista que escraviza o indivíduo, delegando o planejamento de suas ações a algum ente coletivo qualquer. Este ente, através da hipostatização, passa a ser visto como o ente real, enquanto cada indivíduo é que se transforma numa abstração. O controle do planejamento, no entanto, passa a ser exercido por alguns poucos indivíduos poderosos. Não existe ação fora dos indivíduos. Em nome da "renda nacional", alguns indivíduos da nação assumem o controle total, enquanto todo o restante se transforma numa simples marionete.

* The Ultimate Foundation of Economic Science, Liberty Fund

20 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkk.
Nesse ritmo o Constantino vai falar que as empresas são coletivismo também, afinal são o ajuntamento de mais de uma pessoa.

kkkkkkkkk.

Rodrigo Constantino disse...

Alexandre,

Leia novamente o artigo. Acho que vc não entendeu NADA!

Rodrigo

Rodrigo Constantino disse...

Alexandre,

Eu vou te explicar: uma empresa é uma associação voluntária de indivíduos, mas são ESTES que continuam agindo, tendo interesses e metas. A empresa existe para atender aos objetivos dos seus acionistas, o que ocorre somente se a demanda dos consumidores for atendida.

O coletivismo não é a existência de coletivos voluntários, mas sim considerar este ente abstrato como o real concreto, colocando-o acima dos indivíduos que formam tal coletivo.

Rodrigo

Anônimo disse...

Rodrigo,
Desculpe-me, mas este artigo está tão simplista quanto falso. Ignorar a "personalidade coletiva" de instituições ou sociedades é tão tolo quanto atribuir-lhes importância superior à "personalidade individual". Lembre-se de que, numa economia de mercado, o indivíduo, quase sempre, adquire produtos e serviços de corporações. O contrato de direitos e deveres é constantemente estabelecido entre um indivíduo e uma instituição e assim deve ser entendido por todo aquele que quiser defender e preservar seus direitos. Qualquer um que acessa um "call center" sabe que uma empresa pode, quando quer, impor sua máscara coletiva para proteger-se de reclamações e ressarcimentos.
Num outro exemplo, quando escolhemos uma empresa para investir em seus papéis, devemos avaliar seus resultados globais e não a ação individual de seus sócios e empregados.
Entender a "ação humana" como uma relação estabelecida exclusivamente entre indivíduos é ERRADO, INGÊNUO e EXTREMAMENTE PERIGOSO porque enfraquece o próprio indivíduo diante das instituições com as quais ele tem que lidar cotidianamente. Infelizmente, temos que considerar o caso complexo que é o emaranhado de relações indivíduo-indivíduo, indivíduo-empresa, indivíduo-estado, etc..., que permeia a ação humana na economia.

Anônimo disse...

Rodrigo, você continua se baseando no príncipio de Adam Smith de que se cada um procurar individualmente o melhor lucro para si, o resultado médio será sempre o melhor para todos. Esse princípio é ultrapassado, obsoleto e já foi matematicamente provado errado, existem inúmeros cenários em que um planejamento cooperativo evita problemas causados pelo individualismo. Pesquise "Teoria do Jogo", "Equilíbrio de Nash" e "Dilema do Prisioneiro".

$ disse...

Pesquise "Teoria do Jogo", "Equilíbrio de Nash" e "Dilema do Prisioneiro".

São absolutamente irrelevantes, pois não se pode fazer conta com a vida, liberdade e felicidade das pessoas.

Se eu perco um real mas fulano ganha dois - a "sociedade" saiu ganhando? Não. Eu perdi, ele ganhou. Fim de papo.

Anônimo disse...

Rodrigo
Parabéns pelo artigo. Os vários conceitos contidos no texto derivam-se do tratado Ação Humana, de Mises. Este livro é leitura fundamental, mas demanda bastante esforço. Teu artigo foi bem sucedido em resumir um dos pilares do pensamento de Mises. Um dia as pessoas vão entender a diferença entre ação individual (intrinsecamente cooperativa e voluntária) e ação de Estado (por natureza imposta e violenta).

Anônimo disse...

Os dois lados estão certos.

COMO?

Ora bolas,eu sei lá como!

Anônimo disse...

Rodrigo,

O Direito que protege as empresas necessita da abstração sociedade. Negar o conceito de sociedade é simplesmente jogar O sistema legal no lixo.

A proteção jurídica que as empresas recebem fazem dela uma ficção (Savigny). Em suas palavras a empresa seria um "ente abstrato" pensado como "real concreto", também.

Anônimo disse...

Sua posição me prece extrema demais. O indivíduo pode ser o mais importante, mas o coletivo tem seu peso e valor tambem.

Juliano VL disse...

"O Direito que protege as empresas necessita da abstração sociedade."

Que besteirol. Não é porque um selvagem pratica uma dança de chuva que existe um deus da chuva. Justiça não é nada mais do que mais uma relação entre indivíduos, é só essa doença mental platônica de que Justiça deve servir "à sociedade".

Anônimo disse...

Rodrigo, gostei de seu artigo. É a primeira vez que leio seu blog.
Quero lê-lo mais.
Aumentei minha lista de articulistas, a qual já tem Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo.
Parabéns.

Unknown disse...

Mises é um afetado. Quem o ler, facilmente verificará que ele optou pelo radicalismo ideológico.
Triste figura.

Anônimo disse...

Anônimo ingênuo,

Não cite Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo neste blog porque vão soltar(o dono) os cachorros(Catellius,C.Mouro,etc)em cima de vc.

Anônimo disse...

Será que não basta, para convencer às viuvinhas de Marx, que tudo que se tentou no mundo em termos de coletivismos e socialismos tenha dado errado? Até quando essas almas penadas vão ficar procurando um corpo para reencarnar?

Não dá certo, gente, nunca deu! Desistam e voltem às suas tumbas!

Anônimo disse...

"Mises é um afetado. Quem o ler, facilmente verificará que ele optou pelo radicalismo ideológico.
Triste figura."

Só uma coisa a dizer a respeito de um comentário desses:

VÁ PRA PUTA QUE O PARIU !

Anônimo disse...

Srs. Coletivistas,

Se uma empresa comete um crime, uma fraude, por exemplo, quem é responsabilizado criminalmente e vai para a cadeia, ela ou o(s) indivíduo(s) que agem em seu nome?

Anônimo disse...

Rodrigo parabéns!
Vi seu artigo e aproveitei para ler alguns artigos! Acho que vc deve levar críticas todo dia, tem uns esquerdopatas ainda. Escrevo algumas coisas e caem de pau, mas é vida, o tempo foi o senhor da razão!
Parabéns!
Abraços

Anônimo disse...

Hauahauhauhauhau,
como é hilário ver a ilusão que a ignorância pode causar. Rodrigo, não faça isso com suas tietes...
Aos economistas de boteco uma informação: indivíduos nas sociedade estão constantemente envolvidos em situações onde a alocação ótima de recursos depende de estratégias cooperativas e competitivas ( v. teoria dos jogos). Não há nada de esquerdopatia nisso e não adianta vcs quererem simplificar a realidade para torná-la acessível ao entendimento das mentes mais toscas. Isso equivale ao mesmo obscurantismo tantas vezes denunciado aqui com relação às religiões, ao misticismo, etc...
Então senhores, engulam a arrogância, vão estudar e parem com essa frescura de achar que qualquer um que encontre erros nos argumentos puramente liberais são comunistas. Ou alguém aí tá achando que Von Mises também é dotado de infalibilidade papal?...

Anônimo disse...

É uma pena que o espaço de comentários destes blogs de economia sempre virem uma putaria generalizada.

Mas Rodrigo, passei para dizer que achei magnífica a fala de Mises que você trouxe.