sexta-feira, julho 27, 2012

Mais uma dose


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que que a gente é assim?

A música de Cazuza expressa bem a sensação predominante nos mercados financeiros do mundo todo atualmente. A apreensão dos investidores é grande, pois há riscos enormes de crise em todo lugar. A China está desacelerando rapidamente, os Estados Unidos não conseguem crescer mesmo com tanto estímulo e a Europa pode ir para a UTI a qualquer momento (ruptura do euro). Os fundamentos econômicos são ruins, o clima é de pessimismo generalizado.

Todos os olhares se voltam neste momento para os donos das impressoras de moeda fiduciária. Como Santo Agostinho, os investidores sabem que a castidade (austeridade) é fundamental, pois há excessos no organismo (endividamento insustentável), mas eles pedem em coro: não agora! Os ajustes seriam dolorosos demais. Deixem-nos curtir um pouco mais o aqui e agora como se não houvesse amanhã. A noite nunca tem fim...

E, como viciados em heroína, todos lançam olhares suplicantes ao fornecedor da droga, implorando por mais uma dose. Sim, cada rodada produz efeito eufórico menor, e mais estragos no organismo. Sim, a ressaca pela manhã será braba. Sim, há o risco de que, em algum momento, o organismo acuse o golpe e a overdose seja fatal. Mas entre o sofrimento certo da abstinência hoje, e o risco de morte amanhã, o viciado “escolhe” jogar todas as fichas na sorte.

Isso explica as reações dos mercados ontem, após a firme declaração de Mario Draghi, presidente do BCE, de que faria “o que for preciso” para salvar o euro (e seu emprego, diriam os mais cínicos). É música para o ouvido dos dependentes “químicos”. O fornecedor deu o sinal: nova rodada de droga a caminho! Hora de celebrar. Até porque a euforia dura pouco. Cada vez menos. Por que que a gente é assim?

2 comentários:

Anônimo disse...

Toda farra, diga-se irresponsável, do boi um dia acaba.
Os grandes capitais (aqui englobando empresas, bancos, etc) associados ao lícito e ilícito começam a amargar seus "dividendos negativos". Irresponsabilidade fiscal, gastanças "políticas e ideológicas" descontroladas e interesseiras, acumpliciamento escuso com drogas e armas no mercado global e por aí vai.
Lembrando da fábula dos Três Porquinhos, o mundo, infelizmente, está ficando mais para Cícero do que para Heitor. Muito poucos, mas muito mesmo, representam o porquinho Prático.

Teo O disse...

Concordo com bastante do que escreveu, mas eu acho que a questao do euro e da comunidade europeia tem que ser vista como um projeto geopolitico de paz duradoura. A integracao economica e social representa a melhor chance que a Europa tem para atingir paz e equilibrio. Quando foi o ultimo periodo de 50 anos em que a Europa esteve em paz? Aconteceram alguns conflitos perifericos, mas nada comparado aos 400 anos anteriores. A guerra fria com certeza influenciou bastante, mas penso que na segunda metade destes 50 anos a integracao (e o euro) tiveram papel fundamental.