"Se me
perguntarem qual a fatalidade de nossa época, responderia que são as
esquerdas.”
Nelson Rodrigues
Após
a derrocada da URSS, Coréia do Norte, Leste Europeu e Cuba, alguns ainda persistem
no erro. O ser humano continua apostando
num modelo que deu errado, a despeito de Darwin. Nesta carta, beberemos um
pouco das águas da consultoria Gavekal para falar sobre o momento atual da
França, que parece rumar para uma segunda recessão pós-crise de 2008. Faremos também um paralelo dos problemas do
modelo econômico francês com o modelo para o qual o governo brasileiro caminha
a cada dia que passa.
Vamos ser claros: a França de François Hollande está no meio
de uma paralisia política, moral e econômica. O desemprego alcança novas máximas, a
confiança no governo entre os empresários se deteriora, a produção industrial
afunda, bem como o consumo privado, que já cai para os patamares de pós-crise
2008.
O
desenho rígido do sistema do euro indica que países como a França irão experimentar
um brutal ajuste cíclico como nos tempos do padrão ouro (onde não se podia
imprimir ou desvalorizar a moeda). Os
compatriotas de Asterix chegaram longe no experimento coletivista de bem estar
social e agora rumam impávidos para o abismo.
As
crises daquela época (padrão ouro) seguiam um padrão bem estabelecido: começavam
com investidores animados com os bons retornos aumentando cada vez mais as suas
apostas, bancos afrouxando os seus padrões de crédito, dificuldade de
distinguir os reais empreendedores dos charlatões e analistas comentando que 'desta vez é diferente'. Isso ocorreu
entre 1995 e 2007.
Depois
vinha o pânico, com alguns investidores realizando
que o retorno esperado não era mais aquele e vendendo suas posições, causando
medo e movimentos súbitos no mercado Fase de algumas falências. Isso foi o que houve no biênio 2007-2008.
Na
sequência, a fase de alívio com taxas de juros baixas, ajudas do governo e
preços dos ativos retornando ao que eram antes da crise anterior. Então, as
pessoas, erroneamente, concluem que a vida voltou ao normal. Isso foi vivido
entre 2008 e 2012.
A
fase que vem a seguir, em especial na França, é de depressão secundária, quando
os investidores realizam que afinal o retorno dos investimentos continua bem
baixo e, portanto vendem seus ativos. Os
estudiosos da época do padrão ouro falam que essa fase pode durar entre três e cinco
anos. A desvalorização da moeda, a única
saída viável, está fora de cogitação pela estrutura do euro.
Mas se o problema é
de desenho do euro, porque afinal a França é que vai primeiro para o abismo? Boa pergunta e começamos respondendo com o
adágio popular (para os europeus) de que
"muitas casas na Espanha, muitas
fábricas na Alemanha e muitos funcionários públicos na França". O
gasto público na terra de Amélie Poulain representa 57% do PIB. Você não leu errado, é isso mesmo! Quase 2/3 do PIB vem do setor público.
É
muita gente sendo sustentada por poucos. Como se sabe, o 'estado' não cria riqueza e nada produz, ele apenas redistribui (com
extrema corrupção e ineficiência) uma parte de quem produz para aqueles que não
produzem (por incapacidade, doença ou por preguiça mesmo). Na França, há uma
relação de dois 'malandros' sendo sustentados por um 'trabalhador'. Não tem
como dar certo, não é verdade?
O
ciclo vicioso funciona assim: uma 'elite' captura o estado e cresce cada vez
mais. Para sustentar a farra, novos impostos são criados, reduzindo a
capacidade de investimento dos empreendedores, que, por sua vez, têm lucros
menores e naturalmente pagam menos impostos.
Com a arrecadação em queda o que
fazem os 'saqueadores' que tomaram conta do estado? Aumentam mais os impostos e contraem mais
dívida (pública) para financiar o rombo.
Chega
ao ponto em que até o mais pacífico dos servos protesta, como foi o caso de
Gérard Depardieu que recentemente se naturalizou russo para não ter que pagar
75% de imposto de renda. E veja que ele foi
duramente criticado por não ser 'patriota' e 'fraterno'. Trata-se
do parasita se revoltando contra o hospedeiro que resolve tomar um vermífugo. No
gráfico anexo, a lenta agonia do empreendedor na França.
O
irônico desse desenho político, é que na medida em que você aumenta o número de
'beneficiados', mais fácil fica de se perpetuar no poder através do voto da
maioria. Funcionários públicos, bolsistas, cotistas e alguns empresários que
gostam da letra 'X', naturalmente tendem a perpetuar o sistema que lhes permite
ganhar a vida sem muito esforço. Por
hora, o que há é um sistema onde o setor público saqueia continuamente o setor
privado. Esse assalto institucionalizado
naturalmente cria um ciclo de queda econômica sem fim. O resultado disso será o sucateamento da indústria, fuga de cérebros
para o exterior, recessão, inflação e desemprego nas alturas.
Esse
avanço do estado francês sobre os empreendedores ocorre tanto em governos de
'esquerda' quanto de 'direita'. Sarkozy,
a despeito de ter um senso estético melhor do que o de Hollande, na prática
tocou a mesma música. O problema é
cultural, ou indo mais fundo: trata-se da falência moral de uma sociedade.
As elites francesas de fato acreditam que a tecnocracia comunista é melhor do
que o capitalismo, e essa crença é aceita por grande parte da população. A música vai tocar até que o financiador
dessa dívida continue aceitando isso e também até que o último empreendedor
francês arrume as suas malas para Palo Alto, Nova York ou Cingapura. Um dia a
farra termina.
E o que isso tem a ver
com o Brasil? Acho que não precisa ter muita imaginação
para traçarmos um paralelo com os charmosos franceses. Temos muito do que eles tem. Um 'estado' voraz e saqueador do setor
privado, baixo crescimento, inflação, uma cultura 'esquerdizante', uma dívida
pública que só cresce, uma indústria decadente, muitos 'direitos', poucos
'deveres' e uma demografia que daqui para frente teremos cada vez mais menos
gente trabalhando e mais gente aposentada.
Além disso, ainda temos corrupção endêmica e um nível educacional
péssimo.
De positivo o
Brasil tem uma capacidade (espero, ainda) de corrigir suas rotas e seus
descaminhos. Caso não mudemos o nosso
passo, seguiremos para o abismo, só quem sem a educação, charme, vinho e o TGV
dos franceses.