Rodrigo Constantino
Defensores do governo petista – e eles ainda existem – têm focado bastante em números da economia, comparando a era FHC com a era Lula. Creio que o foco míope na árvore os impede de enxergar a floresta. Na verdade, a melhora em alguns indicadores econômicos vem quase toda de fora. O país surfa na onda de liquidez e crescimento mundial. No governo Lula, temos coisas boas e coisas novas. Entretanto, as boas não são novas, e as novas não são boas. O que permitiu o aproveitamento do vento externo foi justamente o PT ter ignorado tudo que sempre pregou na macroeconomia. Sem ousar neste campo, esquecendo o que sempre defendeu, ao menos não prejudicou tanto as vantagens provenientes de fora.
A acusação mais injusta que fazem a FHC é a de “neoliberal”. Maldade com os liberais! FHC combateu a inflação, mas não através do corte abrupto de gastos públicos, receita liberal, mas sim com o aumento do endividamento estatal e da carga tributária. Mas justiça seja feita, seu governo enfrentou graves crises internacionais, como a da Ásia, Rússia, LTCM, Y2K, Argentina e Nasdaq. Que tal compararmos esse ambiente hostil com o contexto mundial em que Lula “governou”?
O mundo nunca passou por uma fase tão próspera assim. São várias as causas, como a entrada da China e Índia no mercado globalizado, liquidez abundante no Japão, revolução tecnológica etc. O resultado é um crescimento econômico mundial acima de 4% ao ano por vários anos seguidos, sem pressão inflacionária. Os países emergentes apresentam números ainda melhores, crescendo cerca de 6% por ano. O promissor BRIC, que junta Brasil, Rússia, Índia e China, vai ainda melhor, com o Brasil na lanterna. A China cresce perto de 10% ao ano. O Brasil tem que melhorar para ficar medíocre. Consegue ganhar do Haiti, e olhe lá! Mas ainda tem petista que comemora isso.
A balança comercial brasileira virou, apresentando elevado superávit. Novamente, nenhum mérito de Lula. Não foram as suas viagens para o Gabão ou Cuba que possibilitaram tal virada, mas sim a elevação dos preços das principais commodities que exportamos, como o minério-de-ferro. O CRB, índice de uma cesta de diferentes commidities, saiu de 200 pontos em 2002 para mais de 350 atualmente, uma alta de 75%. A China merece grande mérito por isso. O governo Lula, nenhum. Pelo contrário: seu governo contribuiu bastante para o aumento de invasões dos criminosos do MST, gerando instabilidade no agronegócio.
Falam da queda nos juros internacionais pagos pelo governo brasileiro também. Agora escutamos até petistas falando no tal “risco país”, antes tratado como um bicho estranho usado por engravatados de Wall Street para criticar as propostas heterodoxas do então candidato a presidente pelo PT. De fato, o risco país despencou. Os títulos do Brasil negociam perto de 220 pontos base acima dos títulos do governo americano. Uma beleza, ainda mais se comparado aos 2.000 pontos que atingimos em 2002. Na verdade, era mais para perto dos 1.000 pontos no final do governo FHC, mas o próprio risco Lula fez o risco disparar. Depois voltou a cair, quando viram que Lula não seria na verdade o Lula que sempre havia sido. E iniciou uma forte trajetória descendente. Mérito de Lula? Complicado defender tal tese quando vemos que o risco da Turquia, que também chegou aos 1.000 pontos em 2002, está hoje abaixo dos 200 pontos. A média dos mercados emergentes, que chegou a bater nos 900 pontos em 2002, está abaixo dos 180 pontos atualmente. O spread dos títulos de high yield, de empresas americanas mais arriscadas, desabaram de 1.100 pontos base em 2002 para perto de 300 pontos hoje. Enfim, se Lula é a causa da drástica redução do risco país, ele merece o lugar de santo, não de presidente. Afinal, trata-se de um milagre ele ter feito o risco do mundo inteiro cair tanto!
Poderíamos continuar ad nauseam aqui refutando cada falso argumento que os petistas usam para enaltecer o governo Lula. Isso para não falar do fator ética, totalmente ignorado mesmo com o “mensalão” comprovado. Como os petistas não têm mais como se agarrar nessa bandeira, totalmente esgarçada pelas traças do poder, partem para o “rouba mas faz”, focando nos avanços econômicos. Acontece que esses avanços, muito aquém do potencial, não são mérito algum desse governo. Suas causas podem ser encontradas em fatores exógenos.
Os petistas terão que martelar apenas no quesito economia nas próximas eleições. Seria útil que os eleitores tivessem, portanto, maior conhecimento sobre o que ocorreu de fato. A esperança dos petistas é a ignorância popular - além da compra de votos com o assistencialismo populista, claro. Os fatos jogam contra o PT, e por isso os petistas fogem tanto deles. Nosso presidente já está no mundo da lua, considerando a saúde brasileira perto da perfeição. Veremos nas eleições o quanto alienado encontra-se o povo brasileiro.
5 comentários:
Enquanto houver congresso, José Mentor e deputado gastante 60 mil reais em gasolina por mês, pode colocar Jesus Cristo como presidente do Brasil que absolutamente nada vai mudar.
O poder de um presidente no Brasil é nulo. E isso é proposital para que a classe política continue nadando em dinheiro e trabalhando muito pouco.
Se assim é, por que eles se canditatam como salvadores dos pobres e oprimidos? ...é bom não esquecer que presidentes são políticos como José Mentor e demais crápulas.
Dizer que o presidente não resolve não resolve o problema dele!
São os políticos que escolhem os presidenciaveis segundo a própria imagem e imperfeição.
Só os piores chegam ao Poder. Os "bons" não suportam a vida política porque o povão safado quer os safados no Poder, e sempre serão esmagadora maioria (a minoria é zero).
É lamentável, mas difícil mudar isso. A maioria não presta e a maioria decide.
Abçs
C. Mouro
Nestes últimos anos o PT foi a pior aventura política que o Brasil passou. Perto deles (Lula e companheiros), o Collor foi um anjo.
O pior do PT foi a enganação a que submeteu a classe média e setores esclarecidos da sociedade brasileiros. Foram estes que garantiram a vitória do Lula. Pensou-se que as coisas mudariam para melhor porque o discurso do PT era para mudar. Depois de vencer a inflação e implantar algum controle do gasto público a sociedade queria as outras reformas: fiscal, tributária, trabalhista, sindical, administrativa, eleitoral, política e tantas outras. Tudo o que o PT sempre pregou e conseguiu incutir estas idéias na sociedade mais esclarecida do País.
Foi tudo enganação. A tal "Carta aos brasileiros" não passou de bravata. O que o PT queria mesmo era chegar ao Poder e nele se perpetuar. O mensalão era a fonte de financiamento para garantir esta manutenção. O povão seria mantido com esmolas como o bolsa-família e outras mixarias.
Esquerda no Brasil nunca mais.
Bob explicou o porquê do "mensalão" e donativos do PT a outros partidos. A questão é que a camarilha petista já há décadas se enquistando no Poder , pela incucação da base ideológica e pela ocupação física da base que sustenta o Poder, como se "sem pressa" de assumir o topo estéril. Quando no topo, simplesmente centralizou TUDO e a corrupção ficou inteiramente sob seu controle, cabendo aos demais corruptos safados receberem o seu quinhão das "mãos do PT", devendo-lhe obediência. ...isso é estratégia de médio ou longo prazo. Acreditar que chegar no topo garante o Poder é estupidez; é na base que se começa. O PT sempre esteve com a mão na "escada", sempre afastando os demais, e não há como ficar no alto apenas se agarrando na "brocha". Esse é o erro dos que imaginam que no topo podem mudar algo. Tem que ser pela base!
Quanto as mudanças, esta é apenas mais uma mera palavra vazia de significado que muito simplifica mas nada esclarece. O PT de fato vem de muito fazendo mudanças, e para pior. E vai demorar para Mudar isso, pois a base que sustenta o Poder é ideológica e é PT e assemelhados.
Nada se propõe de efetivo como base e meios mas apenas firulas como fins desejáveis que não se sustentarão sem um entendimento. Não há como consertar tudo que foi estragado com passes de mágica. Eu imagino que vai demorar, pois difícil será mudar costumes de uma hora para outra. Mas é possível se começando pelo inicio, pela base.
Abs
C. Mouro
Ref. ao artigo O FATOR EXÓGENO, tenho a acrescentar que além de tudo, boa parte vigor pujante das exportações obtido no governo Lula, deve-se a medidas estruturantes estabelecidas no governo FHC, como por exemplo, a LEI KANDIR, e a implantação de um sistema de financiamento da exportações.
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