sexta-feira, fevereiro 22, 2013

A lógica do chuchu


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O ministro do Turismo, Gastão Vieira, disse nesta quinta-feira que o governo vai monitorar o comportamento das diárias de hotéis para evitar preços abusivos durante a Copa das Confederações, em junho. Trata-se de apenas mais um caso entre tantos que demonstra o viés intervencionista desse governo atual.
O ministro Guido Mantega já declarou que o câmbio pode flutuar, mas perto do seu preço “justo”, assim como o ministro de Minas e Energia, Lobão, afirmou que o preço da gasolina era livre, desde que sem abusos. Na cabeça de todos os ministros de Dilma, pelo visto, a ideia de preço livre existe somente atrelada à convergência para o que eles consideram preço justo. Preço de mercado, nesse caso, seria preço de Estado.
Nenhum governo precisa de tabelamento oficial de preço quando adota essa noção de preço livre. O mais preocupante, naturalmente, é constatar que esse governo não tem o menor conhecimento sobre o funcionamento do mercado, sobre as leis de oferta e demanda. E ainda querem segurar os índices oficiais de inflação com esse tipo de malandragem, postergando ajuste de ônibus e aluguel, travando na marra tarifas de hotéis e preço da gasolina, concedendo desoneração pontual para produtos que subiram muito.
É a “lógica do chuchu”, alusão ao método com que o então ministro Delfim Netto combatia a inflação no passado. Em busca desse tal “preço justo”, o governo Dilma vai conseguir criar a prateleira vazia e o mercado negro. Socorro!

terça-feira, fevereiro 19, 2013

A ameaça fascista


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Os liberais defensores do livre mercado são comumente chamados de “reacionários” ou de “fascistas” pela esquerda. O que nem todos sabem é que o fascismo sempre foi um casamento entre nacionalistas, sindicatos e grandes empresários, em uma simbiose totalmente antiliberal.
Para Robert Paxton, em “A anatomia do fascismo”, o programa fascista era “uma curiosa mistura de patriotismo de veteranos e de experimento social radical, uma espécie de “nacional-socialismo’”.
Donald Sassoon, em “Mussolini e a ascensão do fascismo”, mostra como o clientelismo, a mentalidade antiparlamentar presente na tradição socialista italiana, e um dos mais altos índices de sindicalização da Europa ajudaram a levar os fascistas ao poder.
O próprio Mussolini foi socialista, gostava de se identificar como “homem do povo” e se dizia um defensor da classe operária. Sua visão era extremamente coletivista, bem sintetizada na máxima: "Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado." Não existe nada menos liberal que isso!
Se há um “liberalismo” que realmente se assemelha ao fascismo, este é o dos “progressistas” modernos que usurparam o termo para pregar bandeiras estatizantes e coletivistas, como demonstra Johah Goldberg em “Fascismo de esquerda”. Mas este não guarda nenhuma relação com o liberalismo clássico, defensor do livre mercado e do indivíduo como um fim em si mesmo.
O capitalismo liberal defende a propriedade privada, a liberdade individual e a livre concorrência, inclusive universal (globalização). Se, por um lado, esse modelo é o melhor para a grande maioria dispersa, por outro ele gera desconforto em certos grupos organizados. Ninguém gosta de concorrência, ainda que ela seja essencial para o progresso.
É assim que algumas categorias se unem e, apesar de minoritárias, conseguem fazer um forte lobby para obter privilégios estatais. Suas vantagens são concentradas, e os custos são espalhados por toda a sociedade. Grandes empresários e sindicatos se juntam em busca de medidas que obstruem a livre concorrência, e tudo isso em nome dos “interesses nacionais”.
Tivemos recentemente um claro exemplo disso na questão dos portos. Qualquer um sabe que nossa infraestrutura é caótica, e impõe um pesado custo ao país em termos de competitividade. Mas, quando reformas tímidas para modernizar um pouco os portos foram propostas, a reação foi imediata. Modernizar os portos implica mais concorrência, e isso os sindicatos e os capitães da indústria nacional não aceitam.
Toda a retórica nacionalista serve somente para ocultar essa agenda de interesses que, no fundo, prejudica a população brasileira. Nossos portos, assim como estradas e aeroportos, estão em estado precário porque faltam investimentos e porque a gestão estatal é sempre terrível. Mas mexer nisso é comprar briga com as forças reacionárias.
O ideal, do ponto de vista liberal, seria privatizar de uma vez portos, estradas, ferrovias, bancos públicos, a Infraero e a Petrobras. A Companhia Docas do RJ, por exemplo, dá prejuízo acima de R$ 100 milhões por ano! Os escândalos de corrupção são frequentes. A reserva de mercado garante privilégios absurdos aos sindicatos. Os produtos chegam aos consumidores a preços maiores. A quem interessa isso tudo?
A Petrobras está em evidência também, pois o governo está destruindo a olhos nus a maior empresa brasileira. Seu uso político para fins partidários já fez com que dezenas de bilhões de reais evaporassem em seu valor de mercado. O país ainda precisa importar gasolina, e faltam recursos para os investimentos necessários. Quem ganha com isso?
Mas quando um liberal aponta esses fatos e apresenta seus argumentos em defesa das privatizações, ele é logo tachado de “reacionário” ou “fascista” pelos esquerdistas. Quem é reacionário: aquele que deseja modernizar a economia com mais concorrência ou aquele que luta pelo passado mercantilista? Quem é fascista: aquele que combate a nefasta aliança entre sindicatos e grandes empresários ou aquele que pede mais privilégios em nome do nacionalismo?
Um dos aspectos que facilitaram a ascensão fascista na Itália foi a total descrença na democracia, no Parlamento corrupto, envolto em escândalos de compra de votos dos deputados. Outro fator foi a inexistência de uma oposição organizada. Soa familiar?
Todo cuidado é pouco. O fascismo é uma ameaça real, como podemos ver na Venezuela e na Argentina. Antídotos contra ele são justamente a privatização e a concomitante redução do intervencionismo estatal na economia.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Como a venda de estatais salvou o Brasil


Excelente resenha do meu livro "Privatize Já" escrita por José Maria e Silva para o Jornal Opção.

"Se o movimento pelas Diretas Já devolveu ao cidadão seus direitos políticos, ainda falta ao Brasil devolver às pessoas seus direitos econômicos — começando pelo direito de não ser escravizado por impostos, que roubam o salário do trabalhador e o lucro das empresas, sem devolver praticamente nada em troca, pois os serviços públicos são muito ruins." (José Maria e Silva)

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Que venha o Carnaval

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Hoje é sexta-feira, véspera do feriadão de Carnaval. O bom senso demanda que o tema desse comentário seja leve, se possível até positivo. Afinal, não queremos estragar o clima de ninguém com coisas sombrias.


Por exemplo: eu não pretendo falar de como o governo Dilma está destruindo a Petrobras. Seria triste demais lembrar que todos aqueles que acreditaram que “o petróleo é nosso”, na promessa de autossuficiência de combustível, que as ações da estatal “orgulho nacional” dariam uma boa rentabilidade, foram ludibriados, deliberadamente enganados, feitos de otários.

Tampouco pretendo falar das patéticas maquiagens contábeis do governo para fingir que ainda cumpre a meta de superávit primário. Novamente, isso iria estragar a alegria dos foliões, podendo causar indigestão e mal-estar nesse momento de festa. Quem quer saber de Mantega no Carnaval? Se ainda fosse KY...


O leitor será poupado também de outros assuntos chatos, como a “bolsa novela” que o governo quer criar para levar a televisão digital aos mais pobres, incluindo aqueles que dependem das esmolas estatais para viver (afinal, novelas são itens necessários em nossa cesta básica). Quem quer se preocupar com mais um privilégio, mais uma esmola, mais um esquema de compra de votos, tudo pago com o couro da classe média?

Nada disso. É hora de pular Carnaval, de participar dos blocos de rua, de sambar, de ver peitos siliconados na televisão. Ou, se o leitor tiver um perfil mais parecido com o meu, é o caso de aproveitar o feriado para ler um bom livro e passar tempo com a família. Qualquer coisa, menos falar das trapalhadas do governo. Por isso poupei o leitor desses temas incômodos. Que venha o Pão e o Circo! Que venha o Carnaval...

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Mais um capítulo da guerra cambial


Rodrigo Constantino

Mario Draghi, presidente do ECB, falou hoje que o euro forte está prejudicando a recuperação da região. A moeda cai 1% agora, como resultado. O discurso de Draghi já é, por sua vez, reação às medidas do Japão, que pretende desvalorizar o Yen para "ganhar competitividade". 

No Brasil, muitos keynesianos defendem uma moeda desvalorizada como política econômica. Hoje mesmo tem um desses artigos no Valor, do vice-presidente da Associação Keynesiana Brasileira, José Luis Oreiro. 

Em suma, são capítulos da "guerra cambial" que ocorre no mundo, com todos os governos pensando que é possível proteger seus mercados e economias apenas mexendo na moeda, sem fazer o dever de casa com reformas liberais. Doce ilusão! 

O resultado poderá ser uma nova escalada protecionista mundial e mais inflação. Por isso o ouro acaba sendo uma espécie de "porto seguro" nessa hora. Quem viver, verá. 

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Luis Stuhlberger no Valor

Seguem alguns trechos da excelente entrevista com Luis Stuhlberger no Valor:

Não acho que agora dá para dizer que os problemas do Brasil são culpa dos americanos, dos europeus ou dos russos, dos árabes, dos gregos. Os problemas nossos serão nossos. Os emergentes vão ter um ambiente melhor para crescer e competir.

[...]


Eu tenho um tema macro [sobre o Brasil] que eu chamo, lembrando aquele filme, de "Alguém tem que ceder". Dado que as bocas de jacaré não fecharam, ou vai ter mais inflação ou o câmbio vai depreciar, ou você vai ter um problema nas finanças públicas. Eu tenho várias teses no fundo para me beneficiar disso. Só que isso custa caro. No sentido de que enquanto não acontece, você perde dinheiro. Outra questão é que todo mundo acha que a única consequência desse colapso de modelo é crescer pouco, certo? É isso: cresce pouco e so what? So what? Não tem nenhuma influência sobre o câmbio, sobre inflação, nenhum colapso das finanças públicas? Ninguém olha isso.

[...]

Os empresários estão com medo de investir por várias questões. Mas o principal é o momento em que as empresas vivem, de colapso de modelo, porque como a tributação não cai e a massa de salário sobe, sem ganho de produtividade, as empresas têm uma compressão de margem. Tudo demora, tudo custa mais caro e os impostos e salários avançam na lucratividade.

[...]

Estou pagando para ver que o dano colateral vai vir mais rápido do que as melhorias. E o investidor me cobra todo dia. Ser gestor de recursos é pior que mulher posar para a "Playboy". Minha cota está lá para todo mundo ver, nua e crua. Se eu errar, não tem photoshop.

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Os Trapalhões

Rodrigo Constantino, O GLOBO

Sou uma pessoa nostálgica. Uma das boas lembranças que tenho de minha infância é ficar no colo do meu falecido avô assistindo “Os Trapalhões”. Eu adorava. É por isso que devo agradecer ao governo Dilma por resgatar lembranças tão doces de minha vida. Acompanhar os atos de seus ministros é voltar no tempo, é como ver as trapalhadas da turma do Didi.

Comecemos pelos malabarismos contábeis que o governo fez para apresentar o superávit fiscal de 2012. A coisa foi tão primária que faria um mágico de festa infantil ruborizar diante do amadorismo. Poderiam ao menos ter chamado um David Copperfield para ajudar a esconder as peripécias!

O ministro Mantega é imbatível. Sua declaração sobre a taxa de câmbio comprova: “O câmbio é flutuante, mas, se exagerar na dose, a gente vai lá e conserta.” Ou seja, o câmbio flutua, desde que na direção do valor que o governo considera “correto”.

Na mesma linha, o ministro Lobão (não confundir com o músico inteligente) nos brindou com essa pérola ao falar sobre o aumento da gasolina: “O mercado é livre, mas não deve exceder o limite do razoável.” Traduzindo: o mercado é livre, desde que coloque o preço que eu considero razoável.

Quem precisa de preços tabelados quando se tem uma “liberdade” dessas? O governo Dilma demonstra a cada dia seu forte ranço intervencionista. Pretende controlar toda a economia. Triste o país em que os preços mais importantes são todos decididos pelo governo!

Mas o nexo causal nunca foi o forte dessa equipe econômica. Eles acreditam que a economia ainda não se recuperou a despeito de suas fantásticas medidas. Não passa por suas brilhantes cabeças que é justamente o contrário: a economia patina e a inflação sobe por causa do governo!

Os investidores estão assustados com o grau de intervenção arbitrária. Também, pudera: a presidente usa seu poder para criar “campeões nacionais”, enquanto todos os privilégios e subsídios concedidos acabam prejudicando o restante, longe das graças estatais. O cobertor é curto. Para ajudar os “amigos do rei”, o governo tem destruído setores inteiros.

Basta ver o que aconteceu com o setor elétrico. As estatais foram dizimadas em bolsa, pois o governo, com foco no curtíssimo prazo, decidiu dar mais uma ajudinha aos industriais. Quem, em sã consciência, investiria em geração de energia em um cenário desses?

Mas isso não impediu a presidente de fazer propaganda eleitoral, anunciando a queda das tarifas e abusando do ufanismo boboca: quem critica a medida está contra o país!

A Petrobras tem sido utilizada para fins políticos desde o começo da gestão petista. O governo segura o preço da gasolina defasado para não impactar as taxas de inflação. Faltam recursos para a estatal investir, e sua ineficiência cria a necessidade de importação de combustível.

O Brasil perde, mas nunca se esqueçam de que “o petróleo é nosso” e a Petrobras é motivo de “orgulho nacional”.

Curiosidade: por que a presidente não fez uso da rede nacional de rádio e televisão para comunicar ao povo o aumento da gasolina, como fez para anunciar a queda das tarifas de eletricidade? Pergunta retórica, claro. Sabemos a resposta.

Mas o governo tem cartas na manga para conter a “inflação” (na verdade, o índice oficial, não a inflação verdadeira). A gasolina aumentou? Então basta aumentar a parcela de etanol na sua composição, diluindo o efeito. Se o próximo vilão for o feijão, já sabemos qual a solução: basta acrescentar mais água na feijoada!

Não devemos ficar surpresos com tais trapalhadas, quando lembramos que a Argentina é admirada por nosso governo, e que Delfim Netto é bastante influente na economia. Aliás, Delfim influencia nossa economia há décadas, sempre perto do poder. É uma espécie de Sarney da economia. O Brasil idolatra o fracasso.

O resumo da ópera bufa? Não temos mais câmbio flutuante, a Lei de Responsabilidade Fiscal foi abandonada, a inflação ameaça sair de controle, os bancos públicos criaram uma bolha de crédito, a inadimplência aumentou, os investimentos não vêm e a economia não cresce. Promissor?

O crescimento dos últimos anos, que já foi medíocre, teve boa ajuda externa. Tanto que nossa produtividade não aumentou quase nada. Tivemos um empurrão da alta das commodities. Isso acabou. E agora? Como crescer com esses trapalhões no governo?

Eu achava graça nas piadas dos Trapalhões. Elas eram inofensivas, ainda que politicamente incorretas para nossos padrões chatos de hoje. Mas as trapalhadas do governo não têm a menor graça. Elas vão custar muito caro ao Brasil.

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

A vida sob quatro milhões de normas

João Luiz Mauad, O GLOBO


As causas técnicas da tragédia de Santa Maria ainda são imprecisas e certamente serão objeto de vasta perícia.  Uma conclusão, no entanto, parece inescapável.  Negligência, imprudência e desrespeito à lei caminharam de mãos dadas naquela noite.
Como era de se esperar, tão logo surgiram as primeiras notícias começou o clamor por mais regulação e mais burocracia, como se o problema fosse falta de leis.  Ao contrário, aqui elas abundam e talvez por isso sejam tão ineficazes.   Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), desde 05 de outubro de 1988 (data da promulgação da atual Constituição Federal), até 05 de outubro de 2012 (seu 24º aniversário), foram editadas 4.615.306 normas que regem a vida dos cidadãos brasileiros. Isto representa, em média, 788 por dia útil.
Trata-se de um evidente exagero, alimentado por uma lógica perversa segundo a qual a eficiência de políticos e burocratas seria diretamente proporcional à quantidade de leis editadas, ainda que amplamente desrespeitadas.
Já notaram que o primeiro item do currículo de qualquer candidato à reeleição é justamente o número de projetos de lei propostos?
Diante dessa voracidade legiferante, resulta impossível a qualquer um conhecer o inteiro teor de uma determinada legislação.  A existência de direitos e deveres pouco nítidos transforma os brasileiros em personagens kafkianos, reféns de processos burocráticos absurdos e totalmente vulneráveis à ação de agentes públicos mal intencionados, especialistas em criar dificuldades para vender facilidades.
Não foram poucas as vezes, ao longo da história, em que leis elaboradas com as melhores das intenções acabaram gerando incentivos perversos e consequências imprevistas, não raro na direção oposta à planejada.
Se a velha indústria de alvarás ainda corre solta e muita gente insiste em operar sem as devidas licenças, ao arrepio da legislação, mesmo com todos os riscos que isso representa, é porque o funcionamento regular é praticamente inalcançável.  Como ensinam os economistas, os incentivos fazem toda a diferença.
O antigo filósofo chinês Lao Tsu já dizia que quanto mais restrições artificiais impuserem ao povo, mais ele será empobrecido; e quanto mais regulamentos houver, mais se estimularão as fraudes, os roubos e outros ilícitos.  As normas devem ser poucas, simples e objetivas, a fim de facilitar não só a sua aplicação como também a fiscalização.  Não por acaso, os advogados competentes sempre acabam encontrando, na própria legislação, brechas que livram a cara de eventuais infratores.  O fato é que de nada adiantam as leis se não puderem ser aplicadas com rigor.
Alguns dirão que, à medida que a sociedade cresce, as normas devem se multiplicar, a fim de que a ordem seja mantida.  Ledo engano.
Quanto mais complexas forem as sociedades, mais as leis devem ser parcas e simplificadas, de fácil aplicação e rápida execução.  Ademais, quanto mais ampla, prolixa e detalhada a legislação, maiores serão as chances de serem burladas com sucesso.

Até quando apanhar?


Carta mensal da MP Advisors

Na Subida do Morro
Me Contaram
Que você bateu na minha nêga
Isso não é direito
Bater numa mulher
Que não é sua
Deixou a nêga quase nua
No meio da rua
A nêga quase que virou presunto

(Moreira da Silva e Ribeiro Cunha)

Se a economia brasileira fosse uma mulher, estaria apanhando tal qual na letra do samba de Moreira da Silva, o Kid Morengueira.  Definitivamente, enquadra-se na Lei Maria da Penha por agressões e maus tratos.    A "nêga" já mostra sinais de cansaço de tanto apanhar, porém o agressor continua batendo nela; insiste no mesmo remédio, crendo que a "nêga" irá ceder aos seus encantos. Ledo engano.

A "nêga" chamada "superávit primário", que nada mais é do que a economia entre receitas e despesas para pagamento dos juros da dívida, já há algum tempo não alcança sua meta de 3,1% do PIB.  Ano passado, pelos truques contábeis do Mantega, foi de 2,00% do PIB (governo central), pelos números corretos foi algo como 1,80% do PIB (também somente governo central, sem estados e municípios).  Além de ser um governo gastão, o atual comando da economia corrói a credibilidade do país por meros 0,20% do PIB.  E a gastança, ao que tudo indica, não tem conseguido gerar crescimento. 

A "nêga" chamada "meta de inflação" permanecia inconsciente num canto da sala quando começou a dar sinais de vida (tênues, por hora).  O Banco Central, em sua última ata, finalmente reconheceu que o problema da economia nacional não é falta de demanda (que sim senhor, já está bem aquecida) e sim a oferta.  A economia não cresce por falta de investimento.  Pela primeira vez, o BC (ainda que timidamente, usando seu linguajar peculiar) apresenta um discurso diferente daquele da presidente Dilma e de seu despachante, o Guido. O BC deixa claro que a falta de oferta é problema do governo e não dele.  Com isso,depreende-se que não haverá mais aventuras com os juros para baixo; porém isso não indica que o BC ganhou autonomia para subir os juros sem autorização da Dilma.

O principal motivo de preocupação com a inflação no curto prazo reside no mercado de trabalho extremamente apertado (já vivemos o pleno emprego) e um governo que a todo custo deseja o crescimento econômico. Como crescer sem mão de obra disponível?  A saída desse dilema, sem gerar inflação, é o aumento de produtividade, o que não ocorre da noite para o dia e sem investimentos em educação.  Não podemos esperar isso no curto prazo. 

É claro que o governo usa de todas as artimanhas possíveis (redução do preço de energia, postergação dos aumentos dos transportes e sangria da Petrobrás ) para manter o IPCA dentro da sua meta de 6,5% ao ano.  No curto prazo ele tem sido bem sucedido, porém sabemos que a inflação é como um imenso caminhão, tem muita inércia para sair do lugar, mas depois que sai é complicado segurar o bruto.

Voltando para o lado da oferta, sabemos que os grandes investimentos industriais analisam certos aspectos como estoque de mão de obra qualificada com custo justo e oferta de energia.  Sabemos que qualquer novo projeto de grande monta terá dificuldades em contratar e não há garantia de energia. 

É claro que a energia do Brasil era muito cara. Mas reduzir estes 20%, da maneira como foi feito e, principalmente, com a oferta limitada, é no mínimo temerário.  Se, em 2012, com o país crescendo 1% e o preço caro, o consumo cresceu 4%, imagine em 2013, se o país crescer algo como 2% e com o preço da energia 20% mais baixo. Quanto será o aumento de consumo?  Haverá oferta? 

Olhando para a última "nêga", que se chamava "câmbio flutuante",vê-se a maneira errática de agir do governo petista.  Quando quem esperneava mais alto era a FIESP, o câmbio oscilando entre 2,05 e 2,10 era interessante para o governo.  E para lá ele foi.  Quando a inflação começou a incomodar, lá veio o governo dizendo (através de leilões de swaps cambiais) que o nível era um pouco mais embaixo.  E lá foi o valor do dólar para abaixo de R$ 2,00. Nos restaurantes, há o "menu do chef" e no Brasil, o "câmbio da Dilma".

O Brasil, já há algum tempo, não tem uma política econômica baseada em regras estáveis e previsíveis; o que existe é a política do "puxadinho":uma improvisação  levando à outra  até o surgimento de uma favela com barracos amontoados no barranco.  Quando a chuva forte chegar....

Não é a toa que a imprensa internacional tem criticado a errática forma de governar de Dilma & Cia. Publicações sérias como The Economist e Financial Times parece que demoraram, mas pegaram gosto em denunciar o agressor da "nêga".  O queridinho da vez,para os investidores estrangeiros, é o México.  O vizinho dos americanos tem lá os seus problemas crônicos, mas tem feito o dever de casa e está pegando uma carona com a recuperação dos EUA. 

Não que deva haver uma catástrofe iminente, apenas uma preguiçosa (bocejando, por favor) economia, com inflação em alta, infraestrutura em pandarecos e, mais uma vez, perdendo o bonde da história para nos tornarmos uma nação decente.

Não fica difícil entender porque o Ibovespa fechou o primeiro mês do ano no território negativo enquanto o SP500 já acelera no ano com cerca de + 7%.  Quando olhamos uma empresa como a Apple, que fatura USD 157 bilhões, com margem de 27% e negocia (após a correção) com relação preço-lucro de 10, fica complicado comprar as ações de consumo brasileiras com o triplo de relação preço-lucro.  E o que ainda está barato (Petrobrás, Vale, bancos) não parece que vai começar a andar.  Não esperem um ano interessante para as ações brasileiras; há opções mais interessantes lá fora.

Na renda fixa, os prêmios estão magros e não compensam o risco de posições pré-fixadas ou mesmo compradas em ativos públicos atrelados a inflação (NTNB).  Uma NTNB para 2014 paga hoje IPCA + 1,84%.  Se os alquimistas conseguirem ajustar o IPCA para 5,5% (sem chicanas eu creio algo como 6,5¨%) teremos apenas 7,34%, bem perto do CDI.  Ainda é melhor do que ficar pós fixado, mas os grandes ganhos se deram em 2012.  Quem comeu, comeu.

Quanto às posições cambiais, o melhor a fazer é esquecer.  O câmbio vai para onde o humor do dia da Dilma mandar.  Não dá para apostar.

O momento é escorregadio.  Estamos vivendo uma era onde os ativos financeiros carregam um risco superior ao seu retorno potencial.  O poder de compra do dinheiro se deteriora numa velocidade maior do que o índice oficial de inflação.  A resposta dos indivíduos é um afluxo de dinheiro para o setor de imóveis.  Isso fica claro quando olhamos a demanda altíssima de 2 fundos imobiliários (de agências de bancos) recém-lançados.  Nos dois casos a demanda foi 10 vezes a oferta. Como o preço dos imóveis também está em seu máximo histórico, a chance de se fazer besteira também é grande.  

Hoje, após anos de juros reais altos, chegou a hora de profissionalizar a gestão dos seus investimentos e saber que mais do que os juros fáceis do CDI, o vetor de crescimento do seu dinheiro virá de bons investimentos, a boa e velha economia e aportes mensais.  Lembre-se que você agora vive em um país de juros reais perto de zero e com nível de vida bem caro.  Como você está planejando a sua aposentadoria?

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Privatize Já na Amazon

Meu novo livro, Privatize Já, está à venda na versão ebook pela Amazon. Sai por menos de $ 14. Não percam!

E tem na Amazon Brasil também!

Crédito Vapt Vupt


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Deu no GLOBO: “O governo vai usar os bancos públicos para estimular investimentos e aumentar o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos). A ordem é acelerar o financiamento de grandes projetos de infraestrutura. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reuniu com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho; da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda; e do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, para pedir agilidade na aprovação de financiamentos, acelerando, por exemplo, a análise de risco”.

No afã de ver o PIB crescer no curto prazo, eis que o governo “pede” aos bancos públicos, responsáveis pela metade do crédito no país, para “acelerar” a análise de risco. Traduzindo: isso quer dizer afrouxar os critérios de risco. O importante é dar o financiamento, mesmo que aumentando os riscos. Se a coisa ficar feia, se a inadimplência aumentar muito, isso será mais à frente. Pode ser que a presidente Dilma já tenha até sido reeleita. Quem liga para os pepinos lá no futuro “distante”, após as eleições?

Na mesma matéria, consta que “Fontes da área econômica avaliam que o ciclo econômico baseado na expansão do consumo está esgotado e que apenas o retorno dos investimentos é capaz de reativar a economia”. Se for verdade, é boa notícia, ainda que bem tardia. Resta avisar aos membros da equipe que suas medidas contribuem para afastar investimentos. E também resta explicar o motivo pelo qual a Caixa resolveu aceitar até prata agora na penhora de bens para novos financiamentos, como relatou a rádio CBN. Em breve, o banco estatal aceitará latão para expandir o crédito popular!

O que fica disso tudo é o alerta de que governos cuidando do crédito são como raposas vigiando o galinheiro. Muitos ainda acusam o mercado pela bolha de crédito americana. Ignoram que as impressões digitais do governo estavam em todas as cenas do crime. No Brasil, estamos vendo dia a dia como o próprio governo faz de tudo para criar uma bolha creditícia. Quando ela estourar, não venham jogar a culpa no mercado!