sábado, abril 28, 2012

Decadência moral ou saudosismo idealizado?

Rodrigo Constantino

Em artigo na Folha hoje, a senadora Kátia Abreu culpa o crescente ateísmo pela crise que assola os Estados Unidos e a Europa. Segundo a senadora, a crise não é do capitalismo em si (o que concordo), mas sim de um capitalismo mais hedonista, materialista e ateu (o que discordo). Ao retirar Deus da história, diz ela, os valores morais se perderam e tudo entrou em decadência. Sem Deus, tudo é permitido!

Não creio que os dados empíricos corroboram com tal visão. A crise não seleciona de acordo com a fé. Ataca países de todos os tipos. Por outro lado, os países asiáticos seguem em melhor situação, e tampouco creio que seja por causa da fé em Deus (muito menos por causa do cristianismo). Não consta também que os muçulmanos, repletos de fé religiosa (até demais), naveguem em um mar de prosperidade.

Também questiono se há de fato este hedonismo todo nesse mundo moderno e mais laico, quando vejo tanta gente abraçando novas formas de fé na "imortalidade", postergando os prazeres do momento em nome de uma vida (qual vida?) sempre mais longa. As cruzadas anti-tabagistas e contra o açúcar e fritura ilustram bem isso. Tem muita gente com medo de viver o presente!

Mas o que eu gostaria de questionar aqui é se há mesmo uma decadência moral em curso, para começo de conversa. Sim, eu não posso negar que vejo certos valores em declínio, valores estes que eu respeito e admiro. Só que nem tudo é decadência moral. Os hábitos e costumes mudam, e muitas vezes temos dificuldade de adaptação. Quando tais mudanças ocorrem em ritmo muito acelerado, esta aceitação fica ainda mais difícil. Portanto, eu já colocaria em xeque a principal premissa da senadora (e de muitos conservadores): há mesmo este declínio moral ou estamos diante de novidades que incomodam, mas que não necessariamente vão tornar o mundo um lugar pior?

Nesse meu artigo, falo mais dessa questão dos "saudosistas". Acho que devemos tomar muito cuidado com este julgamento precipitado de que tudo vai de mal a pior com o mundo moderno. Creio que o cético David Hume, que não pode ser acusado de ingênuo e esperançoso, colocou o dedo na ferida quando disse: "O hábito de culpar o presente e admirar o passado está profundamente arraigado na natureza humana". Em seu novo livro "Civilization: The West and the Rest", Niall Ferguson arrisca uma boa explicação para este fenômeno tão comum, principalmente entre pessoas com mais idade. Ele afirma que a idéia de que estamos "fritos", que o declínio é inevitável, que as coisas só podem piorar, está altamente conectada à noção de mortalidade que temos. Como vamos degenerar enquanto indivíduos, então, de forma instintiva, nós sentimos que as civilizações em que vivemos devem seguir o mesmo destino.

Longe de mim apresentar um quadro muito esperançoso e otimista, ignorando os enormes riscos existentes e até mesmo os aspectos que considero degenerados de fato em nosso mundo atual. Mas eu iria com menos fervor neste diagnóstico e prognóstico. O crescimento da riqueza mundial pode representar simplesmente a ascensão de uma classe média, e comparar seus gostos (sempre medíocres por definição) com as preferências aristocráticas do passado é uma injustiça (Michel Teló x Mozart, por exemplo).

Não acho, portanto, que exista esse declínio moral todo e que ele se deve ao ateísmo. Até porque, como dizia Humboldt,  "A moralidade humana, até mesmo a mais elevada e substancial, não é de modo algum dependente da religião, ou necessariamente vinculada a ela". Eu concordo, e vejo isso no dia a dia. Pessoas com profunda fé espiritual que não são ícones de moralidade, e ateus ou agnósticos que se mostram pessoas rigorosamente corretas. O capitalismo depende mesmo da fé religiosa? Eu penso que não.

Por fim, e para ilustrar com um bom exemplo o alerta de Hume, segue uma constatação feita pelo jesuíta espanhol Baltasar Gracián, em "A Arte da Prudência". Detalhe: o livro foi escrito em 1647!

Muitos valores vieram a parecer antiquados: falar a verdade, manter a palavra. Os bons parecem pertencer aos velhos bons tempos, embora sejam sempre queridos. Se é que ainda há alguns, são raros, e nunca são imitados. Que triste época essa, quando a virtude é rara e a maldade está no cotidiano.  

Será que o mundo fica cada vez pior mesmo, ou será que são nossos olhos, nosso saudosismo de um passado idealizado, nossa insegurança diante das novidades, que criam esta imagem sombria do presente e futuro? Deixo com o leitor a resposta.

24 comentários:

amauri disse...

"Será que o mundo fica cada vez pior mesmo, ou será que são nossos olhos, nosso saudosismo de um passado idealizado, nossa insegurança diante das novidades, que criam esta imagem sombria do presente e futuro? Deixo com o leitor a resposta."
Não Rodrigo, o mundo não fica cada vez pior, ele está como sempre esteve. O que mudou é a pessoa humana, eu tenho saudosismo de poder quando criança ficar na rua o dia inteiro, tenho saudosismo não por que hoje as crianças não podem fazer isto, mas por que já passei dos 50. Essa sua questão foi muito infantilizada. Acho que voce é capaz de questionamentos mais inteligentes.

Anônimo disse...

Há um ódio implícito ao sistema e a toda espécie de arquitetura conceitual a obra do referido autor da frase que voce pediu para os leitores responderem. Voce poderia tambem dar seu parecer.

Leticia disse...

Passado idealizadíssimo.

E já que o colega Amauri mencionou, passar o dia inteiro na rua também tinha suas calhordices. (mas você está se referindo às férias, não? Porque eu era moleque mas ia à escola tb. - outro templo à maldade).

Ah, e dou de boa todo um passado de cores pastel-amareladas por uma consulta no destista HOJE.

Anônimo disse...

O problema não está nas mudanças em si que, como tudo o mais, trazem aspectos nocivos e benéficos. O problema reside nas mudanças geradas por grupos ideológicos de pressão, com vistas a fins políticos. O multiculturalismo, que está sim deteriorando a cultura ocidental, tem sido imposto por pressão de ocidentais traidores: os "politicamente corretos". E o islamismo é, sim, a longo prazo, uma ameaça à cultura ocidental. Os islâmicos se reproduzem mais e com mais velocidade e não se integram às culturas dos países que os recebem. Isso é suicídio cultural e político.

Sou ateu, porém vejo o cristianismo mais ativo como um bom obstáculo a essa escalada. Dos males, o menor. Como já afirmei em outro comentário, a maioria dos ateus não se insurge contra os islâmicos, por medo, por anticristianismo ou por esquerdismo puro e simples.

É óbvio que não é essa a causa da crise econômica da Europa, mas é inegável que o esquerdismo "politicamente correto" (o mesmo que prega o aborto livre, a proibição de críticas às minorias, o desarmamento civil, as cotas raciais, etc) vem enfraquecendo culturalmente a Europa, os EUA e todo o mundo ocidental.

Não se trata de conspiração organizada em um centro qualquer, mas de uma cultura suicida que o Ocidente, julgando-se culpado por uma reiterada acusação esquerdista (socialista e social-democrata), desenvolveu em seu próprio prejuízo.

amauri disse...

Parece que muitos concordam que após 0 iluminismo (?) o mundo começou a experimentar a luz intelectual. Antes do século XVIII não havia universidades, catedrais e filósofos. Não havia Santo Tomás, Santo Agostinho e Aristóteles. Não havia Palestrina, Monteverdi, Tomás de Victoria, Corelli, a ópera e a música renascentista e barroca. Não havia artistas, pintores, escultores ou poetas. O mundo era obscuro, senil, enlouquecido. Era dominado pelo fanatismo religioso e pelas arbitrariedades do Antigo Regime. Realmente a tecnologia teve um desenvolvimento impressionante, e a humanidade só está pior para os conservadores.

Anônimo disse...

Estou fazendo um curso de extensao no CECIERJ, area de sociologia, a primeira aula e de indiViduo x pessoa, e pelos fóruns de discussão, Ai,Ai,Ai o grande demônio do mundo é o.......... Capitalismo. Esse discurso marxista, pseudo moralista se tornou uma seita no meio acadêmico . Depois a gente critica que tem gente fazendo mestrado em "Poesia nas asas das borboletas" e eles nos chamam de radicais de direita. (suspiro) Ai, Ai.

Anônimo disse...

Rodrigo, ó aqui é a maior briga por causa de vc....meu marido odeia minhas argumentações com ele, que eu uso, embasada em seus artigos. Da graça.kkkkk olha só, li isso aqui e gostei. Se vc tiver tempo. Fale sobre o assunto .


http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/04/mais-um-pouco-de-paulo-freire-por-olavo.html

"Vocês conhecem alguém que tenha sido alfabetizado pelo método Paulo Freire? Alguma dessas raras criaturas, se é que existem, chegou a demonstrar competência em qualquer área de atividade técnica, científica, artística ou humanística"

Anônimo disse...

Os do extremo-oriente não são cristãos em sua maioria, mas são religiosos (em sua maioria, budistas, creio). Não é a religião em si que orienta moralmente, mas as tradições culturais como um todo. Essas culturas são tradicionalmente disciplinadas. Acho que Kátia Abreu quis dizer, com referência no cristianismo ocidental, que a Europa e os EUA estão sendo vítimas do debilitamento de suas tradições culturais causado pelo esquerdismo cultural e pelos relativismos axiológicos. E isso não deixa de ser verdadeiro. A pior coisa para uma cultura é pôr em dúvida seu orgulho, seu amor-próprio, suas verdades. O esquerdismo "politicamente correto" está gerando essa auto-flagelação no Ocidente. Dá-se mais valor às outras culturas, principalmente às mais preriféricas e primitivas. Tem-se vergonha do passado colonialista, quando dever-se-ia ter orgulho do domínio exercido.

Anônimo disse...

O declinio moral deve-se justamente ao cristianismo que vei com seu ascetismo (o desprezo por si mesmo)destruir a rigidez estóica na questão moral.

Cristo disse que os passarinhos não trabalham e mesmo assim sobrevivem, aludindo ao "excesso de esforço" para produzir e acumular riquezas.

Cristo também disse que "se roubarem o que é teu não te queixes", também sugeriu que se te roubarem a de-lhe também a túnica. E ainda abençoou aqueles que são perseguidos pela justiça e claro que o bandido crucificado ao lado do cristo iria estar no céu logo que morresse: o BOM BANDIDO.

Fora isso cristo defendeu o perdão incondicional a toda sorte de agressões, afirmando moralmente bonito amar o bandido e claro, dando a outra face. ORA COM UMA MORAL PÍFIA DESTAS é lógico que, superado o rigor estóico (da moral estóica) pelo pieguismo chinfrim-populista demagógico a idéia de moral se perde numa massaroca disforme de sentimentalismos e autodepreciação em favor do mau e do mal. Tudo se relativisa com o cristianismo e moral relativista se deteriora como titica ao sol.

Atualemte o rigor stóico, da moral estóica, foi aniquilado com o pieguismo populista cristão que amando os bandidos e os maus (deus gosta que sofras sob os maus, diz a bíblia) certamente que não mais se pode julgar coisa alguma e moral sem julgamento é vento.

FOI O PRÓPRIO CRISTO QUE SUGERIU:
NÂO JULGUES PARA NÂO SERDES JULGADO.

ORA, que moral pode decorrer de tal proposição ridicula e espúria????

O que havia de moral estóica foi completamente superado no sec XX, agora prevalece o relativismo moral-populista do cristianismo, onde JULGAR pode ser algo imoral, mas depende né?
...Nunca o mundo foi tão cristão em termos morais:
Populista, demagógico e relativista
...Nisso deu o cristianismo MORALÓIDE!

Anônimo disse...

Decadência moral, claro que sim.
As vezes quando eu passo um tempo com o meu sobrinho, vcs sabiam que hoje em dia existe propaganda gayzista até em desenhos animados?Do cartoon network?

Anônimo disse...

Não é necessariamente uma questão de religião, mas é óbvio que sem moral e ética o capitalismo é cobra comendo cobra.

E é óbvio tb que não só a religião mas TODOS os valores ocidentais vem sendo atacados pela esquerda há mto tempo.

Anônimo disse...

Eu não acredito na bíblia literalmente, mas quando vejo a corja esquerdista atacando o cristianismo e os valores ocidentais com tanto fervor, deve ser porque tem alguma coisa muito boa neles.

Anônimo disse...

E outra coisa NO MÍNIMO curiosa é que esse ataque aos valores tradicionais é sempre, SÓ no ocidente.Asia, Russia, Oriente médio, todos continuam com sua cultura firme e forte.Só a gente que tem que ter vergonha do nosso passado e abrir as pernas pra tudo que a escória esquerdista inventar.

Anônimo disse...

Qualquer um pode progredir na vida hoje, oq antigamente era bem mais difícil, e sem contar que a qualidade de vida melhorou muito! Essa mulher so pode estar louca!

E sem contar que o mundo nunca esteve tão interligado como está hoje! Isso é positivo.

Não creio que o problema é em Deus, sinceramente. Hitler, por ex, era cristão devoto e n bebia bebidas alcolicas.
Os extremamente moralistas são os piores de todos!

Sobre religiao, acho que o Cristianismo n eh uma grande ameaça nos dias de hoje. Aqui no Brasil, tenho receio dos evangelicos. E no mundo, dos islâmicos. Todos eles são mto radicais.

Esse negócio de moralismo é a pior coisa do mundo, quem não gosta de apreciar uma bela mulher por exemplo? Um belo carro? uma bela casa?
Os moralistas são hipocritas...

Os grandes avanços da sociedade é devido a ciência, q na epoca era uma grande afronta a religiao e Deus.

É saudosismo por parte dela mesmo!

Anônimo disse...

Crente e da bancada ruralista... Quer achar a decadência? Tá no espelho!

Anônimo disse...

O ideal seria a Europa indenizar e expatriar os muçulmanos que lá vivem para suas terras de origem. Mas com a crise econômica de agora fica difícil ou impossível.

Joao Labrego disse...

Copiei o texto abaixo na esperança de que lance luz sobre esse mistério apresentado no artido.

Eis o texto:

Síndrome de Estocolmo é o nome atribuído a um fenômeno psicológico diagnosticado, pela primeira vez, após um assalto com sequestro ocorrido na capital sueca nos anos 70. Ao longo do período de cativeiro, que durou seis dias, os reféns desenvolveram, em relação aos sequestradores, uma relação afetiva que acabou interferindo, até mesmo, na acuidade de seus depoimentos como vítimas e testemunhas do crime. Tal síndrome, em síntese, resulta de uma operação mental inconsciente, gerada com o objetivo de proteger a psique, mediante a ilusão de que não há um perigo real na situação a que o sequestrado fica exposto.



Desde muito tempo, observando certos atores na cena política brasileira, percebo que idêntico fenômeno se manifesta entre eles. Trata-se de um apego emocional que não se dirige a pessoas, mas a certos períodos históricos em que estiveram envolvidos, ainda que tais períodos tenham sido de sofrimento e de anomalia institucional. Os tempos não lhes foram bons, mas esses senhores e senhoras estruturaram suas biografias sobre as dificuldades do momento. Boa parte da esquerda brasileira, por exemplo, demonstra, por atitudes, o quanto era feliz e não sabia nos anos que ela mesma denominou “de chumbo”. A agitação e a propaganda lhes concederam uma aura de vanguarda dos direitos humanos, liberdades públicas e justiça social (embora muitos tenham pegado em armas para lutar por um comunismo que é, em tudo, o contrário disso). Um pouco mais de fantasia e uma persistente repetição convenceram a muitos de que haviam sido a encarnação do bem na luta contra o mal.



Na eleição da “abertura política”, o PMDB (esquerda da época e primeiro beneficiário daquele momento histórico) elegeu, sozinho, a maioria do Congresso e todos os governadores estaduais, à exceção de Sergipe. Foi uma das mais contundentes vitórias eleitorais da vida republicana, seguida de um fracasso com raras exceções no subseqüente exercício do poder. Decorridas mais de duas décadas, muitos líderes nacionais do PMDB padecem a nostalgia e vivem do dividendo que lhes ficou daqueles tempos. Trazem-nos permanentemente à memória de quem os escuta, não como advertência, mas por saudade, mesmo, e por falta de méritos posteriores.

Ynot Nosirrah disse...

Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Acredito que há, no passado da história da humanidade, coisas que devem ficar lá e ser esquecidas, e que surgiram, no presente, e que devem surgir também, no futuro, coisas novas que não deviam ser inventadas jamais, como o recrudecimento da criminalidade e o sugimento de certas modalidades de crimes, como o sequestro-relâmpago, por exemplo. Você há de convir que, com ou sem religião, há uma perda de valores, e o meio ambiente está se degradando. Estamos caminhando para nossa autodestruição, embora certas catástrofes naturais, como terremotos e maremotos, por exemplo, não sejam novidades, mas vieram a ganhar destaque e nos causar maior preocupação, de uns tempos para cá, porque as notícias do que acontece no Brasil ou em qualquer lugar do mundo chegam até nós hoje de maneira muito diferente da que chegava no século XIX, por exemplo. Mesmo assim, vale a pena se questionar: até quando este planeta será capaz de nos sustentar???

Joao Labrego disse...

Complementando o texto acima que postei com um relato pessoal informo-lhe que tornei-me praticamente um doutor nesse assunto de superação da síndrome de Estocolmo.

Há 12 anos atrás, após a morte de minha mãe precisei recorrer à um psicoterapeuta para entender o que se passava comigo.

Depois de 4 anos de psicoterapia ficou acordado entre eu e o psicoterapeuta de que eu era um edipiano, ou seja, sofria do Complexo de Édipo e eu precisaria aprender a conviver com isso sem culpas e sem vergonhas pelas minhas motivações absurdas que me assaltavam o íntimo.

Os anos foram passando e eu fui me auto-observando dentro desse modelo explicativo proposto pelo psicólogo mas, apesar de muitas coisas baterem algumas ficavam meio que soltas dentro do modelo explicativo adotado.

Conclusão: esse modelo explicativo não me ajudou a superar meus problemas mas ajudou-me a ir tomando consciência de meus anseios reprimidos que ora batia com o complexo de Édipo, ora não batia com nada do que eu conhecesse racionalmente.

Durante os anos fui tomando consciência de muitos comportamentos atuais tanto a nível profissional quanto a nível social.

Como eu já tinha lido sobre a síndrome de Estocolmo essa idéia ficou meio que vaga em minha memória e não lhe dei maior atenção, visto que ainda estava concentrado no paradigma do complexo de Édipo.

Foi aí que a resposta explodiu na minha mente há cerca de 2 semanas atrás.

Eu não sofria de Complexo de Édipo mas sim de Síndrome de Estocolmo.

A confusão se deu devido ao fato de a minha mãe ter sido minha maior algoz tanto na infância como na adolescência.

Daí a minha busca neurótica de aprovação materna me torturou por muitos anos e se constituiu praticamente em minha única motivação na vida para me dar bem profissionalmente e financeiramente.

Esperava com meu sucesso profissional e financeiro conquistar as simpatias de minha mãe exatamente como uma vítima de sequestro ou cárcere privado ou violência prolongada faz com seu algoz.

Enfim, sinto agora de alma lavada e sei que eu não sou um louco mas sim, uma vítima da crueldade de pais incapazes de demonstrar um mínimo de amor pelos filhos que muito provavelmente, dado o comportamento deles, eram também vítimas dessa síndrome.

Deixo aqui meu relato na esperança de que muita gente comece a analisar as ocorrências políticas sob esse paradigma e sou capaz de jurar com 100% de certeza de que esse modelo explicativo baterá com muitos fatos inexplicáveis à nossa razão que vem acontecendo no cenário político nacional.

Joao Labrego disse...

Aproveitando-me do ensejo proporcionado por este artigo e este blog quero deixar aqui as mudanças que vem ocorrendo em meu íntimo desde o dia em que tomei consciência de minha síndrome de Estocolmo.

Parece-me impressionante como o meu cérebro trabalha sozinho na superação de meus problemas emocionais bastando alimentá-lo com as informações corretas.

Além dos problemas citados com minha mãe em postagem anterior, sofri também muito bullying nas escolas em que estudei.

O chato é que esse bullying perdurou até a minha idade de 18 anos no ensino médio.

De alguma forma me afeiçoei ao ambiente escolar e sentia muita saudades do mesmo por mais ruim que tivesse sido para mim.

De posse da racionalização adequada da síndrome de Estocolmo estou percebendo que não sinto mais nenhuma saudade do ambiente escolar do passado e muito menos desejos de a ele voltar para reviver velhas emoções já esquecidas ou que não aproveitei melhor no passado.

Aquela sensação de que eu era feliz e não sabia desapareceu por completo pois finalmente meu cérebro aprendeu que tudo aquilo não era felicidade e por que eu tive que confundir infelicidade com felicidade.

Acreditem: quem despreza a psicanálise como ciência e prática clínica não sabe o que está perdendo na vida.

Claro que o processo é demorado pois precisamos partir de um paradigma qualquer como o Complexo de Édipo e ir gradualmente tomando consciência de nossas motivações na vida por mais que elas nos envergonhem e humilhem nosso ego.

O moralismo é um empecilho para tomarmos consciência de nossas motivações inconscientes que muitas vezes são até mesmo piores do que as motivações inconscientes ou conscientes das pessoas que acusamos.

Quando adotamos diante de nós não uma atitude moralista mas sim, a de um amigo e observador imparcial, por mais difícil que isto possa nos parecer, cada vez mais vamos coletando informações sobre nós mesmos que ora batem e ora não batem com o modelo explicativo adotado.

Conforme as contradições com o modelo vão aumentando o modelo se torna inútil e nosso cérebro nos provoca certas vontades de buscar mais informações como se dizendo para nós: dados insuficientes - não tem registro.

Enfim, é uma aventura dolorosa e estafante procurar a verdade de nós mesmos mas altamente compensadora no final.

Enfim, hoje é o melhor dia da minha por finalmente estar podendo encerrar este capítulo da história de minha vida.

Não sinto mais medo do futuro e nem do presente, o que me fazia refugiar-me no passado que eu supunha bom sem saber exatamente por que.

Cheguei até mesmo a adotar o modelo explicativo da saudade do útero para tentar dar uma certa racionalidade às minhas emoções e sentimentos e creiam-me: bateu com muita coisa que eu sentia também que à medida que íam se encaixando nesse modelo explicativo também íam desaparecendo de meu íntimo.

Felicidade para todos porque hoje finalmente entendi o que é felicidade e sinto-a muito forte em mim.

Parece-me que apesar de eu ser livre hoje eu ainda estava preso à alguma coisa e finalmente sinto-me completamente livre.

Por isso, felicidade está fortemente atrelado à liberdade.

André disse...

Lembra o filme do Woody Allen Meia Noite em Paris em que sempre havia um saudosismo por parte de artistas do presente em relação às escolas do passado... os artistas contemporâneos que acham que a década de 20 e 30 eram o supra-sumo das vanguardas estéticas e estes com saudades da renascença...

Joao Labrego disse...

Quanto mais eu leio na Internet a respeito de determinados assuntos mais uma certa teoria vai fazendo sentido para mim e dessa vez é a semelhança de causas do comportamento homossexual com a origem da síndrome de Estocolmo.

Explico: fizeram nos anos 60 ou 70 uma experiência com ratos, construindo-se um ecossistema fechado com espaço, comida e água a vontade para os mesmos viverem confortavelmente.

À medida em que os ratos foram se reproduzindo e o ecossistema tornando-se insuficiente os ratos começaram a desenvolver comportamentos agressivos e até HOMOSSEXUAIS entre entre eles.

Essa experiência levou alguns, ou pelo menos eu, a especular se o homossexualismo nos mamíferos não é causado pelo acionamento de um dispositivo inconsciente no cérebro provocado pela percepção ou crença de que o ecossistema está se tornando exíguo para tantos indivíduos.

No caso do ser-humano, o mesmo não precisa da percepção direta da ocorrência de uma super-população humana, bastando-lhe apenas a crença nisso.

Também na síndrome de Estocolmo o indivíduo não precisa necessariamente passar por uma situação de perigo real mas apenas acreditar por um certo tempo que está sob constante perigo de vida.

Hummmm... Parece-me que as coisas começam a se encaixar na compreensão do tipo de engenharia social que se está praticando no mundo e como a mesma funciona.

Essas teorias que ora apresento aqui já perspassaram por minha mente no passado mas não lhe dei maior importância e nem quis compará-la com os fatos observados porque até então os fatos não haviam ainda se avolumado a ponto de inserir até mesmo o MEC nessa campanha homossexualizante da sociedade brasileira.

Achava mais que os políticos estavam fazendo desafôro para o povo brasileiro moralista que apoiou o regime militar e não fazia idéia de que pude de fato haver uma orientação política nessa direção, chegando mesmo a achar que Olavo de Carvalho exagerava em suas teorias conspiratórias.

A luz que foi lançada sobre a síndrome de Estocolmo acabou por endossar essa impressão que eu tinha a respeito das causas da homossexualidade humana, corroboradas por essa experiência com ratos.

Fico a me indagar que outros tipos de comportamento social estão hoje sendo induzidos na sociedade através das crenças que estão passando para nossos jovens nas escolas.

Quem viver verá e acho que muitos ainda verão.

Anônimo disse...

Até na América Puritana do século XVII, havia este saudosismo. E sua "Earnest Exhortation To the Inhabitants of New-England" publicada em 1676, Increase Mather diz:

"The Plenty, which our Peace hath been attended with, hath been abused unto great Sensuality, and many Professors and Church-Members have been shamefully guilty in that respect. How common hath it been with them to haunt Taverns ; and squander away precious hours, nay dayes in public houses, which if but half that time had been spent in Meditation, Secret Prayer and Self Examination, it had been happy for them, and it may be for others for their sakes. When as our Fathers were Patterns of Sobriety, they would not drink a cup of wine nor strong drink, more then should suffice nature, and conduce to their health, men of latter time could transact no business, nor hardly ingage in any discourses, but it must be over a pint of wine or a pot of beer, yea so as that Drunkenness in the sight of man is become a common Sin, but how much more that which is drunkenness in the sight of God. And how have the Blessings of God been abused to nourish pride ? There hath been no small Provocation before the Lord in that thing, yea as to Pride in respect of Apparel. People in this Land have not carryed it, as it becometh those that are in a Wilderness, especially when it is such an humbling time as of late years hath been. And none more guilty then the poorer sort of people, who will needs go in their Silks and Bravery as if they were the best in the Land. Though it be also too true that the rich and honourable have many of them greatly offended by strange Apparel, especially here in Boston. A proud Fashion no sooner comes into the Country, but the haughty Daughters of Zion in this place are taking it up, and thereby the whole land is at last infected. What shall we say when men are seen in the Streets with monstrous and horrid Perriwigs, and Women with their Borders and False Locks and such like whorish Fashions, whereby the anger of the Lord is kindled against this sinfull Land ! And now behold how dreadfully is God fulfilling the third chapter of Isaiah. Moreover the Lord saith (if the Lord say it who dare slight what is said) because the Daughters of Zion are haughty, therefore he will discover their Nakedness."

(pp. 8 e 9)

http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1031&context=etas

Anônimo disse...

Até na América Puritana do século XVII, havia este saudosismo. E sua "Earnest Exhortation To the Inhabitants of New-England" publicada em 1676, Increase Mather diz:

"The Plenty, which our Peace hath been attended with, hath been abused unto great Sensuality, and many Professors and Church-Members have been shamefully guilty in that respect. How common hath it been with them to haunt Taverns ; and squander away precious hours, nay dayes in public houses, which if but half that time had been spent in Meditation, Secret Prayer and Self Examination, it had been happy for them, and it may be for others for their sakes. When as our Fathers were Patterns of Sobriety, they would not drink a cup of wine nor strong drink, more then should suffice nature, and conduce to their health, men of latter time could transact no business, nor hardly ingage in any discourses, but it must be over a pint of wine or a pot of beer, yea so as that Drunkenness in the sight of man is become a common Sin, but how much more that which is drunkenness in the sight of God. And how have the Blessings of God been abused to nourish pride ? There hath been no small Provocation before the Lord in that thing, yea as to Pride in respect of Apparel. People in this Land have not carryed it, as it becometh those that are in a Wilderness, especially when it is such an humbling time as of late years hath been. And none more guilty then the poorer sort of people, who will needs go in their Silks and Bravery as if they were the best in the Land. Though it be also too true that the rich and honourable have many of them greatly offended by strange Apparel, especially here in Boston. A proud Fashion no sooner comes into the Country, but the haughty Daughters of Zion in this place are taking it up, and thereby the whole land is at last infected. What shall we say when men are seen in the Streets with monstrous and horrid Perriwigs, and Women with their Borders and False Locks and such like whorish Fashions, whereby the anger of the Lord is kindled against this sinfull Land !"

http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1031&context=etas