terça-feira, setembro 26, 2006

A Importância do Voto



Rodrigo Constantino

“O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam.” (Arnold Toynbee)

A consciência do eleitor sobre o valor do seu voto é importante em uma democracia. O alerta de Toynbee, na epígrafe acima, é verdadeiro. Se os cidadãos não se importarem com quem estão colocando no poder, serão mais facilmente vítimas de abusos deste poder. Apesar de no Brasil o voto ser uma obrigação – o que é um absurdo, ele deveria ser encarado como um direito de todos, e contribuir com o voto nas eleições deveria ser uma escolha individual, calcada no sentimento de responsabilidade, já que o resultado irá afetar a vida de todos. O preço da liberdade é a eterna vigilância.

Entretanto, há uma explicação bastante racional também para a falta de interesse generalizada no voto. Várias pessoas sequer lembram em quem votaram nas últimas eleições. Isso, apesar de condenável, não é totalmente irracional. O motivo encontra-se no peso de cada voto, do ponto de vista individual. Quanto temos algo como 100 milhões de votos, cada um com o mesmo peso, um único voto isolado realmente não move moinhos. O agente racional sabe disso. Ele entende que quando vai gastar o seu dinheiro num mercado, seu “voto” tem total poder na escolha, afinal, é ele mesmo quem decide o que comprar. Mas quando sua escolha é somada às preferências de dezenas de milhões de pessoas, e o resultado final é aquele que a maioria escolhe, sua preferência particular importa pouco. O esforço de conscientização feito pelo TSE com propagandas onde o eleitor aparece como o verdadeiro patrão escolhendo seus funcionários públicos é louvável, mas não tão verossímil assim. Não é que ele não seja de fato o patrão. Ele é. Mas é que ele divide esse poder com outros milhões e milhões de patrões, cada um com o mesmo peso. Isso pode ser um pouco frustrante pelo prisma individual.

Essa realidade da política gera uma reflexão interessante: quanto mais coisa puder ficar fora do escopo do governo, melhor. Imagina se a escolha da cerveja preferida passasse pelo mesmo processo decisório, com milhões votando e depois a maioria decidindo qual cerveja todos deverão tomar! Seria absurdo e autoritário. O processo de escolha democrática acaba sendo uma espécie de ditadura da maioria. Parece bastante razoável então que essa maioria tenha poder somente sobre questões bem abrangentes, deixando as demais escolhas para os próprios indivíduos. Chegamos ao princípio da subsidiariedade, onde as decisões devem ser mantidas o mais próximo possível do cidadão. O que realmente não couber ao indivíduo escolher por si só, sobe para o critério de bairro, depois município, estado e finalmente país. O governo federal cuidaria somente dos interesses gerais da nação, não interferindo nos detalhes do cotidiano. Dessa forma, o poder de escolha dos indivíduos estaria preservado e alinhado com seus reais interesses. Isso não acontece quando o cidadão deposita um único voto entre vários milhões para escolher governantes que terão poder demasiado sobre suas decisões particulares.

Resumindo, o voto tem sim um papel fundamental na vida democrática. O cidadão deve ter a consciência de sua relevância no processo de escolha dos governantes. Mas precisamos levar em conta também que o poder do governo deve ser o mais descentralizado possível, e sempre reduzido ao máximo para garantir as liberdades individuais. Fora isso, é importante acabar com a obrigatoriedade do voto, pois um direito cívico não pode ser encarado como uma imposição. Juntando essas duas questões – a redução do poder estatal pelo critério da subsidiariedade e o voto livre – creio que os cidadãos terão, naturalmente, maior interesse no seu voto. O paradoxo é que para chegarmos neste ponto, dependemos justamente do voto, ainda que hoje ele seja obrigatório e deposite poder demais em poucos governantes. Os indivíduos que prezam a liberdade devem escolher os candidatos que representam esta trajetória rumo ao menor poder estatal e maior poder da escolha individual. E claro, repudiando a corrupção que atrapalha todo o processo democrático.

12 comentários:

Anônimo disse...

Rodrigo
Mais uma vez, Lula não sabia.Foram os “aloprados” que, à sua revelia, aprontaram mais esta confusão do dossiê contra os candidatos tucanos. Assim como devem ter sido os “aloprados” os responsáveis pelo valerioduto, pelo mensalão e por todos os demais malfeitos que envolveram este governo.A se acreditar em Lula – e tem muita gente que acredita! – nos resta indagar o que faz o presidente num partido que só quer ver a sua caveira. Isto porque todo o primeiro time de colaboradores de Lula, gente que privava ou que ainda priva de sua amizade quase íntima, chega ao fim do mandato, afastados do governo ou do partido, por suspeita de corrupção. Quem poderia imaginar, no início do governo, que José Dirceu, Antonio Palocci, José Genoino, Luis Gushiken, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, Silvio pereira, e Ricardo Berzoini cairiam um a um, como pedras de dominó?É muita trição para um homem apenas. Nem Cristo , que foi traído por Judas deve ter tido tanta decepção.

Anônimo disse...

Rodrigo
Ha a necessidade urgente de uma reforma política. Penso que o número de políticos que nos "representa" é escancaradamente elevado. Muitos deputados federais, estaduais. Cada político desses tem um séquito de subordinados que temos que sustentar. Cada parlamentar custa muito caro aos cofres públicos. E claro, numa democracia que se prese, jamais o voto deveria ser obrigatório. Sendo o voto facultativo no mínimo levaria uma decisão tão importante como a eleição do chefe da Nação a pessoas que realmente votam "conscientes"

Anônimo disse...

Você tocou na ferida da democracia. O governo do PT nestes 4 anos certamente dividiu a opinião pública brasileira em um grande número de fortes intervenções estatais: o referendo contra as armas (que saiu pela culatra), a mordaça na imprensa (que não funcionou), as cotas nas universidades, a transformação do programa de renda mínima em um instrumento clientelista, a expansão do funcionalismo público, que compra o apoio de eleitores de todas as classes "para ver se sai um concurso na minha área"...

Se na primeira eleição poderíamos aceitar a legitimidade do Lula, já que o voto era proveniente de todas as regiões do país e de todos os níveis de educação, agora a situação é bem diferente. O voto do PT agora vem maciçamente das regiões nordeste e norte, tradicionais redutos do clientelismo - infelizmente.

Se a coisa continuar assim, com o poder centralizado em um poder federal corrupto, só restará como alternativa a não-cooperação, a sonegação, a luta por um verdadeiro federalismo, mesmo o separatismo.

Anônimo disse...

excelente seu artigo. o voto é obrigatório, spó para politicos de esquerda e populistas poderem usar o povo como massa de manobra.

tenho um blog tb, mas não consigo postar nele. sabe como faço para entrar. eu fiz o blog enunca usei, agora quero postar um artigo e não sei como fazê-lo. é verdadedireta.blogspot.com.

grato

Anônimo disse...

excelente seu artigo. o voto é obrigatório, spó para politicos de esquerda e populistas poderem usar o povo como massa de manobra.

tenho um blog tb, mas não consigo postar nele. sabe como faço para entrar. eu fiz o blog enunca usei, agora quero postar um artigo e não sei como fazê-lo. é verdadedireta.blogspot.com.

grato

Anônimo disse...

Amigos
A política brasileira se faz muito mais em função de nomes e de pessoas do que de partidos e de idéias. Não é sem motivo que Lula lidera as pesquisas de intenção de votos, enquanto o seu partido claudica na maioria dos estados. É claro que , neste caso ,também contribuiu em muito a crise vivida pelo PT desde o ano passado. Os escândalos do mensalão, valerioduto, dólar na cueca, e a recente crise do dossiê, foram decisivos para a queda do partido. Mas parecem não ter afetado a popularidade de Lula.
Mas este fenômeno do personalismo na política e da fraqueza partidária não ocorre apenas com o PT. É comum aos demais partidos brasileiros. Políticos como Aécio Neves(MG), José Serra(SP), Paulo Souto(BA) e outros, que alcançam um grande índice de popularidade em seus estados, certamente conservariam estes altos índices independente dos partidos aos quais estivessem filiados.O povo não vota no partido, vota em candidatos.

Anônimo disse...

Rodrigo, fazendo coro com a Nathalie,já faz duas semanas que nÃo recebo teus artigos. Se você poder cadastrar meu e-mail(continua sendo o mesmo), de forma independente do orkut?, eu agradeço.

Um pergunta que eu faço: Lulla de novo diz que não sabia de nada. Ok. Se ele não sabe, então,temos um presidente autista,ou seja, não tem sanidade mental para administrar o país.

Oras, não foi por essa razÃo que o presidente do Equador,Abdala Bucaram foi derrubado? o congresso alegou "incapacidade mental" do mandatário. Não seria o caso de fazermos o mesmo? Se o cara não sabe o que acontece a 30 centimetros de seu gabinete,ele no minimo deve ser autista. Devemos entregá-lo a sua familia ou a uma instituição que cuide dele com carinho, respeito e longe de tarefas complexas........

Anônimo disse...

ops,a interrogaçÃo que aparece no primeiro paragrafo foi postada indevidamente. Desculpe.

Anônimo disse...

Debate eleitoral, como muitas outras, já foi coisa séria neste país. Já se foi o tempo em que contavam com o comparecimento de todos os candidatos e serviam como ponto de referência para a decisão final do eleitor.Hoje em dia, debate eleitoral virou apenas um mero instrumento tático dos partidos e dos candidatos: quem lidera as pesquisas se ausenta, quem está atrás comparece.Quem lidera acha que só tem a perder se comparecer, quem não lidera acha que só tem a ganhar comparecendo.
Para o eleitor consciente, questões táticas e estratégicas dos candidatos não interessam. E também não vale o argumento muito freqüente de que Lula não vai a debates mas os tucanos nos estados – vide Aécio Neves e José serra – também não vão.O que interessa é que eles têm que prestar contas ao cidadão de cada passo, de cada palavra e de cada ato público. Se eles agem desta forma como meros candidatos, é de se imaginar que nível de responsabilidade pública terão depois de eleitos. Portanto, o comparecimento de todos eles ao debate de logo mais é muito mais do que conveniente e aconselhável. É um dever moral.

Anônimo disse...

As pessoas não gostam mesmo, a política é sempre lembrada como uma aporrinhação, uma lengalenga repetitiva. Quando uma pessoa de mais idade ouve no rádio essa arenga toda diz: “Ih, isso é velho! Sabe desde quando eu escuto isso...”? As pessoas não são desmemoriadas, um cidadão é capaz de escalar o time de futebol campeão de 1977, lembrar um samba de 1965 etc. Lembrar quatro ou cinco nomes de políticos escolhidos no ano passado não é difícil, mas é um desprazer.

Alex Rosa disse...

Pena que não tenhamos um voto distrital ou pelo menos uma variação dele... já pensou uma eleição municipal assim? Teríamos quase um vereador pra cada grupo de 3 ou 4 bairros.

Anônimo disse...

um dos principais problemas dos Estados é termos economistas ditando os rumos da política.