Rodrigo Constantino
“Não é suficiente dizer que a história é juízo histórico, é necessário acrescentar que todo juízo é um juízo histórico ou, simplesmente, história.” (Benedetto Croce)
Um dos mais influentes mitos sobre a história diz respeito à idéia de que o capitalismo, em sua infância, não passou do advento de um sistema possível pelo sofrimento de vários indivíduos que antes viviam confortavelmente. A relevância disso surge porque a experiência passada – ou o que entendemos por ela – é o pilar das crenças acerca das políticas e instituições que defendemos no presente. O que consideramos ter sido seus efeitos no passado molda nossas visões sobre a aprovação ou desaprovação de diferentes instituições. Conforme diz Hayek, os mitos históricos têm, provavelmente, desempenhado um papel tão importante na formação de opiniões quando os fatos históricos. A busca honesta pelos fatos históricos, separando-os dos mitos propagados, se torna um objetivo indispensável para quem deseja a verdade.
Logo de cara, deparamos com a questão delicada sobre quais perguntas merecem ser feitas, já que o julgamento de valor individual influencia até isso. Aquele que ignora este desafio de interpretação sob a luz de valores pessoais irá provavelmente se iludir, tornando-se vítima de seus próprios preconceitos inconscientes. Quem acredita ser possível reunir diversos fatos passados e então traçar conexões causais dos complexos eventos sociais sem o uso de uma teoria prévia, está fadado ao curso da ilusão. Explicações “óbvias”, como lembra Hayek, freqüentemente não passam de superstições aceitas, que não recebem a devida reflexão. A imagem de que o surgimento do capitalismo, como sistema descrito pelos socialistas, se deveu à exploração de uma classe de proletários, pode ser visto como um bom exemplo de tais superstições. Um exame mais cuidadoso dos fatos refuta facilmente esta crença.
A aversão emocional ao capitalismo, tão difundida ainda hoje, está relacionada a esta visão de que o crescimento da riqueza através da ordem competitiva produziu uma redução no padrão de vida dos mais fracos da sociedade. Será mesmo verdade isso? O fato é que a vida sempre foi dura para a grande maioria, e antes do advento do capitalismo, nem mesmo havia a esperança de melhoria. A população ficara estagnada por muitos séculos, até começar a aumentar vertiginosamente. O proletariado que o capitalismo é acusado de ter “criado” não era uma proporção da população que teria existido sem este sistema e que foi degradado por ele; era um adicional populacional que pôde crescer justamente pelas inúmeras oportunidades de empregos que o capitalismo possibilitou. É evidente que os motivos não foram altruístas, como ainda hoje não o são. Ainda assim, era um momento único na história onde um grupo de pessoas considerava de seu próprio interesse usar seus lucros de forma a fornecer novos instrumentos de produção a serem operados por aqueles que, sem eles, não poderiam produzir a própria subsistência.
O capitalismo trouxe consigo, portanto, enorme avanço material para muitos. O que um operário pode desfrutar de conforto material hoje era algo inimaginável até para nobres no passado. Este aumento na riqueza despertou a demanda por novas aspirações antes impossíveis de se imaginar. Aquilo que por séculos foi visto como um estado natural e inevitável passava a ser encarado como incongruente com as novas oportunidades oferecidas. Claro que a vida dos novos operários não era nada fácil. Ninguém ousaria negar este fato. O ponto é que poucos se questionam sinceramente como era a vida antes da revolução industrial. Como vivam de fato os camponeses? Ainda que as várias horas trabalhadas nas fábricas fossem degradantes – especialmente vistas pelo conforto do progresso atual – a verdade é que a migração era vista como vantajosa para aqueles que abandonavam o campo. Era um avanço para eles! Entre trabalhar várias horas e morrer de inanição, não resta muita dúvida qual a escolha preferível. Não parece honesto comparar uma realidade dura com uma alternativa inexistente, utópica, fantasiosa. Muitos repudiam o fato de mulheres e até crianças terem ido trabalhar nas fábricas, mas ignoram que era um ato voluntário, pois a alternativa era ainda pior. O capitalismo veio para salvar estes miseráveis, não para explorá-los. Muitos dos que puderam condenar os abusos depois nem sequer estariam vivos, não fosse o progresso da industrialização. Como ingratos, cospem no prato que comeram.
A história dos Estados Unidos corrobora com esta análise. A nação já foi praticamente toda ela agrícola, e hoje uma minúscula parcela da população trabalha no meio rural. A migração para as indústrias e, depois, para o setor de serviços, foi natural, ou seja, voluntária. A maior produtividade do trabalho nas indústrias permitiu maiores salários para os operários, que desejavam migrar do campo para as cidades. O mesmo pode ser observado atualmente na revolução industrial que a China vive. Milhões de camponeses tentam abandonar os campos para trabalhar horas e horas nas indústrias, por salários que, do ponto de vista ocidental, parecem uma exploração, mas que para esses chineses significa um salto considerável frente à realidade atual, herança socialista. Os chineses que trabalham nas indústrias recebem, em média, até três vezes mais que os trabalhadores rurais. As multinacionais que instalam fábricas na China e são acusadas de exploradoras costumam pagar ainda mais.
Os salários dependem, evidentemente, da produtividade do trabalho. Não se melhora a condição de vida dos trabalhadores por decretos estatais. Se assim fosse, não haveria mais miséria no mundo. De fato, há mais miséria justamente onde esta mentalidade, de que cabe ao governo decretar as conquistas trabalhistas, predomina. Os ganhos dos trabalhadores dependem de sua produtividade, e esta normalmente depende do grau de liberdade econômica do país. O capitalismo, com sua revolução industrial e inovações tecnológicas, atua como o grande aliado dos trabalhadores. Máquinas não são inimigas do emprego. Pelo contrário: são seus grandes aliados! Ao menos é o que mostra a lógica econômica, sustentada pelos fatos históricos. Resta decidir se os fatos são mais importantes, ou se são os mitos históricos, que pintam o capitalismo como grande inimigo dos trabalhadores. A verdade ou a superstição: façam suas escolhas.
“Não é suficiente dizer que a história é juízo histórico, é necessário acrescentar que todo juízo é um juízo histórico ou, simplesmente, história.” (Benedetto Croce)
Um dos mais influentes mitos sobre a história diz respeito à idéia de que o capitalismo, em sua infância, não passou do advento de um sistema possível pelo sofrimento de vários indivíduos que antes viviam confortavelmente. A relevância disso surge porque a experiência passada – ou o que entendemos por ela – é o pilar das crenças acerca das políticas e instituições que defendemos no presente. O que consideramos ter sido seus efeitos no passado molda nossas visões sobre a aprovação ou desaprovação de diferentes instituições. Conforme diz Hayek, os mitos históricos têm, provavelmente, desempenhado um papel tão importante na formação de opiniões quando os fatos históricos. A busca honesta pelos fatos históricos, separando-os dos mitos propagados, se torna um objetivo indispensável para quem deseja a verdade.
Logo de cara, deparamos com a questão delicada sobre quais perguntas merecem ser feitas, já que o julgamento de valor individual influencia até isso. Aquele que ignora este desafio de interpretação sob a luz de valores pessoais irá provavelmente se iludir, tornando-se vítima de seus próprios preconceitos inconscientes. Quem acredita ser possível reunir diversos fatos passados e então traçar conexões causais dos complexos eventos sociais sem o uso de uma teoria prévia, está fadado ao curso da ilusão. Explicações “óbvias”, como lembra Hayek, freqüentemente não passam de superstições aceitas, que não recebem a devida reflexão. A imagem de que o surgimento do capitalismo, como sistema descrito pelos socialistas, se deveu à exploração de uma classe de proletários, pode ser visto como um bom exemplo de tais superstições. Um exame mais cuidadoso dos fatos refuta facilmente esta crença.
A aversão emocional ao capitalismo, tão difundida ainda hoje, está relacionada a esta visão de que o crescimento da riqueza através da ordem competitiva produziu uma redução no padrão de vida dos mais fracos da sociedade. Será mesmo verdade isso? O fato é que a vida sempre foi dura para a grande maioria, e antes do advento do capitalismo, nem mesmo havia a esperança de melhoria. A população ficara estagnada por muitos séculos, até começar a aumentar vertiginosamente. O proletariado que o capitalismo é acusado de ter “criado” não era uma proporção da população que teria existido sem este sistema e que foi degradado por ele; era um adicional populacional que pôde crescer justamente pelas inúmeras oportunidades de empregos que o capitalismo possibilitou. É evidente que os motivos não foram altruístas, como ainda hoje não o são. Ainda assim, era um momento único na história onde um grupo de pessoas considerava de seu próprio interesse usar seus lucros de forma a fornecer novos instrumentos de produção a serem operados por aqueles que, sem eles, não poderiam produzir a própria subsistência.
O capitalismo trouxe consigo, portanto, enorme avanço material para muitos. O que um operário pode desfrutar de conforto material hoje era algo inimaginável até para nobres no passado. Este aumento na riqueza despertou a demanda por novas aspirações antes impossíveis de se imaginar. Aquilo que por séculos foi visto como um estado natural e inevitável passava a ser encarado como incongruente com as novas oportunidades oferecidas. Claro que a vida dos novos operários não era nada fácil. Ninguém ousaria negar este fato. O ponto é que poucos se questionam sinceramente como era a vida antes da revolução industrial. Como vivam de fato os camponeses? Ainda que as várias horas trabalhadas nas fábricas fossem degradantes – especialmente vistas pelo conforto do progresso atual – a verdade é que a migração era vista como vantajosa para aqueles que abandonavam o campo. Era um avanço para eles! Entre trabalhar várias horas e morrer de inanição, não resta muita dúvida qual a escolha preferível. Não parece honesto comparar uma realidade dura com uma alternativa inexistente, utópica, fantasiosa. Muitos repudiam o fato de mulheres e até crianças terem ido trabalhar nas fábricas, mas ignoram que era um ato voluntário, pois a alternativa era ainda pior. O capitalismo veio para salvar estes miseráveis, não para explorá-los. Muitos dos que puderam condenar os abusos depois nem sequer estariam vivos, não fosse o progresso da industrialização. Como ingratos, cospem no prato que comeram.
A história dos Estados Unidos corrobora com esta análise. A nação já foi praticamente toda ela agrícola, e hoje uma minúscula parcela da população trabalha no meio rural. A migração para as indústrias e, depois, para o setor de serviços, foi natural, ou seja, voluntária. A maior produtividade do trabalho nas indústrias permitiu maiores salários para os operários, que desejavam migrar do campo para as cidades. O mesmo pode ser observado atualmente na revolução industrial que a China vive. Milhões de camponeses tentam abandonar os campos para trabalhar horas e horas nas indústrias, por salários que, do ponto de vista ocidental, parecem uma exploração, mas que para esses chineses significa um salto considerável frente à realidade atual, herança socialista. Os chineses que trabalham nas indústrias recebem, em média, até três vezes mais que os trabalhadores rurais. As multinacionais que instalam fábricas na China e são acusadas de exploradoras costumam pagar ainda mais.
Os salários dependem, evidentemente, da produtividade do trabalho. Não se melhora a condição de vida dos trabalhadores por decretos estatais. Se assim fosse, não haveria mais miséria no mundo. De fato, há mais miséria justamente onde esta mentalidade, de que cabe ao governo decretar as conquistas trabalhistas, predomina. Os ganhos dos trabalhadores dependem de sua produtividade, e esta normalmente depende do grau de liberdade econômica do país. O capitalismo, com sua revolução industrial e inovações tecnológicas, atua como o grande aliado dos trabalhadores. Máquinas não são inimigas do emprego. Pelo contrário: são seus grandes aliados! Ao menos é o que mostra a lógica econômica, sustentada pelos fatos históricos. Resta decidir se os fatos são mais importantes, ou se são os mitos históricos, que pintam o capitalismo como grande inimigo dos trabalhadores. A verdade ou a superstição: façam suas escolhas.
7 comentários:
Tem uma frase do Lênin que é bem interessante. É mais ou menos o seguinte:
"Os capitalistas chamam de liberdade a liberdade que os proletários têm de escolher entre trabalhar exaustivamente e morrer de fome"
De certo, não é uma escolha muito interessante. Eu não gostaria de ter apenas essas duas opções. Mas é melhor do que só ter a segunda opção, que foi o que o socialismo fez.
Pior é aqui no Brasil, o qual estamos num pré-capitalismo tosco e a caminho do socialismo bolivariano populista nojento,caminhando para o fim de nossa soberania! Fora Lula e seus lixos esquerdistas!
Ha ha ha
verdade Capitão, isso é um trabalho pro sr. e pro capitão Nascimento.
CAVEIRAAAAA!!!!!!!!!!!
"Lulla, vc é mu-le-que.Mu-le-que!"
"Os capitalistas chamam 'liberdade' a dos ricos de enriquecer e a dos operá-rios para morrer de fome." Essa é a frase de Lênin e não a acima citada.
Ridículo achar que socialismo ou comunismo foi aquilo que aconteceu na URSS. Aqueles que acreditam nisso com certeza não entenderam Marx e as verdadeiras aspirações do comunismo. O que houve na URSS foi o comunismo autoritário de Stalin, nem de longe o que foi idealizado nas teorias marxistas.
Aprenderam o que é mais-valia? Parece que não muito bem também. É a usurpação do sangue do trabalhador pelo capitalista que detém os meios de produção. O trabalhador nada têm para vender além da sua força de trabalho. Enquanto isso a concentração de renda e os monopólios e oligopólios só crescem.
Defender o capitalismo em face do feudalismo é ridículo. A realidade na infra-estrutura é que determina a super-estrutura. Óbvio que com a revolução industrial haveria progresso e avanços gigantescos na economia, porém não nos moldes da concentração de renda individualista, e exploração dos trabalhadores com brutais desigualdades sociais.
Muito bem Leandro...
Interessante que, em um texto que fala de fatos e mitos, o nosso autor compare o modelo capitalista apenas com o do campesinato feudal, outro sistema de explorãção. Acontece que antes da idade média, quando os Homens ainda estava concentrados em tribos, não existiam classes sociais e o trabalho e o fruto dele eram divididos... Leia Nahuel Moreno.
Agora, tratando-se da afirmação de que os capitalistas não exploram os operários, e sim dão grandes oportunidades, isto é uma das grandes piadas que já ouvi! Falta leitura mesmo. Marx escreve muito sobre isso, vide O Capital, ou mesmo, um mais simplezinho, Salário, Preço e Lucro.
Me entristece que pessoas ainda se agarrem neste tipo de afirmação para defender o individualismo brutal que é o capitalismo. Quantos ainda terão de morrer?
E como disse aquela mina: Socialismo ou Barbárie (Rosa Luxemburgo).
Comunistas são uns analfabetos funcionais, até parece que os trabalhadores das fábricas eram escravos e não eram pagos, comparam o padrão de vida atual com o do século passado esquecendo que até as “zelite” do passado viviam em piores condições que o cidadão médio de hoje. Se trabalhar nas fábricas era ruim bastava se demitirem, e francamente não dá para levar a sério alguêm que leve a sério as besteiras do picareta do Marx. E esquecem que foi o capitalismo que elevou o padrão de vida dos próprios trabalhadores no mundo inteiro, e comparar com o feudalismo é válido sim, pois antes o camponês era servo e de fato não podia crescer na vida, o operário com estudo e com esforço pode crescer na vida sendo promovido por exemplo.
E finalmente a baboseira da condenação do lucro. Esses cidadãos de esquerda tem na cabeça a imagem do empresário como um canalha de cartola que não faz nada e vive apenas a parazitar os trabalhadores, essa imagem é ridícula, infantilóide. Mas sabem esses esquerdistas que abrir uma empresa é um trabalho com grande risco de fracasso, um trabalho metódico, cansativo e dispendioso. Que o empresário tem que arcar com os custos da produção, pagar em dia seus funcionários e ainda aturar a alta carga tributária do Estado, tem de agradar ao consumidor, que o empresário gera emprego e é a fonte de renda para seus empregados, que o empresário é um trabalhador, que muitas vezes não conhece férias, muitas vezes é o primeiro a entrar e o último a sair de sua empresa, para somente depois de todo este esforço finalmente obter lucro que por acaso é tambêm seu salário.
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