Rodrigo Constantino
Em A Era da Turbulência, o livro de memórias de Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve dedica uma boa parte de um capítulo ao tempo em que conviveu com o então presidente americano Ronald Reagan. A seguir, pode-se ter uma idéia do que Greenspan pensa a respeito de Reagan:
"O que me atraía em Reagan era a clareza de seu conservadorismo. Ele também costumava explorar outra frase em sua oratória política: ‘Os governos existem para nos proteger uns contra os outros. O governo vai além de seus limites quando decide proteger-nos de nós mesmos.’ Um homem que se expressa nesses termos não deixa dúvidas quanto às suas crenças."
"Mas Reagan parecia bem disposto e, quando o avião decolou, ele estava fazendo perguntas amistosas sobre Milton Friedman e sobre outras pessoas que ambos conhecíamos. A partir daí, a conversa foi fácil. Acho que ouvi mais histórias inteligentes durante aquele vôo do que em qualquer outro período de cinco horas, em toda a minha vida."
"O temperamento dele me fascinava. A resplandecência e a benevolência que ele trouxe para a presidência nunca perderam a intensidade, mesmo quando teve de enfrentar uma economia disfuncional e o perigo global de guerra nuclear. Armazenadas em sua cabeça talvez houvesse quatrocentas histórias e frases. (...) Sob o governo Reagan, os americanos deixaram de achar que os Estados Unidos eram uma ex-grande potência e reconquistaram a autoconfiança."
"Por trás do humor, transparecia a antiga desconfiança de Reagan em relação aos economistas, que promoviam o que ele considerava interferência destrutiva do governo nos mercados. Ele era, evidentemente, adepto do laissez-faire. Ele queria abrir a economia. Embora sua percepção da economia não fosse profunda nem sofisticada, ele compreendia a tendência de autocorreção dos mercados abertos e a grande capacidade de criação de riqueza do capitalismo. Confiava no poder da mão invisível de Adam Smith, para não só encorajar a inovação, mas também para produzir resultados que ele, em geral, considerava justos."
"Reagan comparava a redução do tamanho do governo à aplicação da disciplina paterna: ‘Sabe, podemos fazer sermões aos filhos sobre suas extravagâncias, até perder o fôlego, ou podemos combater esses abusos simplesmente reduzindo a mesada deles.’"
"A pedra angular dos cortes de impostos de Reagan foi um projeto de lei que havia sido proposto pelo congressista Jack Kemp e pelo senador William Roth. Ele exigia a redução de 30% na carga tributária sobre pessoas jurídicas e pessoas físicas, com o objetivo de arrancar a economia daquele estado de letargia, que agora entrava em seu segundo ano. (...) Em breve, a reunião terminava e Reagan se retirava, fortalecido na determinação de pressionar pelo corte de impostos. Como se sabe, o Congresso acabou aprovando sua própria versão do plano econômico. No entanto, como a contenção de gastos foi tímida demais, o déficit continuou sendo um problema aflitivo e crescente."
Em resumo, a visão de Greenspan sobre Reagan é a de um homem simples mas com clareza moral, fiel às suas convicções, focado nos seus poucos princípios essenciais, que acreditava na liberdade dos indivíduos, no funcionamento do livre mercado e num governo bastante limitado em seu escopo. Humildemente, eu concordo plenamente com esta imagem que Greenspan guardou do ex-presidente, que conheceu bem de perto.
PS: Em 2003, Greenspan, ainda presidente do Fed, fez um discurso sobre o legado de Reagan. Eis o link para o discurso:
http://www.federalreserve.gov/BOARDDOCS/SPEECHES/2003/200304092/default.htm
4 comentários:
Dê uma olhada nos vencedores do Nobel de economia deste ano. Afirmam categoricamente que não há nenhuma "mão invisível" regulando o mercado.
Enquanto isso,Reagan era incessantemente demonizado pelos idiotas esquerdistas latino-americanos.
Pues yo digo que un pueblo sin raices profundas no puede sostenerse.
el peor escritor del mundo....www.antoniolarrosa.com
‘Os governos existem para nos proteger uns contra os outros. O governo vai além de seus limites quando decide proteger-nos de nós mesmos.’
O autor dessa frase é o pai da "War On Drugs". Pra mim não passa de um hipócrita.
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