terça-feira, outubro 13, 2009

Nacionalismo Oportunista

Rodrigo Constantino, O Globo
13/10/2009

Será que o Brasil deve mesmo comemorar antecipadamente as suas reservas abundantes de pré-sal? Qual será o custo de oportunidade desses investimentos, que têm forte caráter especulativo? Em nome de tais investimentos, o governo concentra um enorme poder em suas mãos. Quais são os riscos para a democracia que tal concentração de poder representa? Tais questões não combinam com o caráter de urgência com que o governo tem tentado tratar o assunto.

Alguns especialistas falam na “maldição do ouro negro”, referindo-se aos riscos que uma repentina descoberta de petróleo pode causar. Sem sólidos pilares institucionais, o país pode ser vítima de uma tentação autoritária irresistível. A descoberta do “ouro negro” pode ser uma dádiva, mas se explorada de forma oportunista por poucos que ocupam o poder, pode abrir o caminho para o enfraquecimento da democracia. O verdadeiro interesse da nação é ter um setor dinâmico e competitivo, capaz de produzir mais riquezas e empregos para todos. A nacionalidade das empresas responsáveis pela exploração do petróleo não é um fator relevante.

Desde a primeira prospecção de petróleo feita por Edwin Drake na Pensilvânia, em 1859, o setor petrolífero tem crescido de forma impressionante, alimentando com combustível as máquinas da prosperidade industrial moderna. Muitas empresas gigantes do setor são filhotes da Standard Oil, o conglomerado criado por Rockfeller que foi dividido em partes menores em 1911. Ninguém considera o petróleo mais estratégico do que os americanos. No entanto, foi justamente esta competição entre empresas privadas que permitiu tamanha prosperidade naquele país.

Por outro lado, vários casos demonstram como a manutenção de um monopólio em mãos estatais pode ser prejudicial ao progresso econômico de uma nação. Na década de 1920, o México era o segundo maior produtor mundial de petróleo. O General Lázaro Cárdenas, que se tornou presidente em 1934, pretendia se livrar da presença de empresas estrangeiras no setor, e utilizou todo seu poder para concretizar este objetivo. A estatal Pemex seria a monopolista por longas décadas, ajudando a manter o Partido Revolucionário Institucional no poder por 70 anos, enquanto o setor sofria com a perda de eficiência. Os mexicanos saíram perdendo.

O México está longe de ser um caso isolado. A Venezuela vem sofrendo do mesmo mal há tempos, e com Hugo Chávez a situação piorou bastante. O petróleo representa um ganho fácil para o governo, que o utiliza para concentrar poder de forma preocupante. Quando se observa quais são os principais países exportadores de petróleo no mundo, este alerta merece ainda mais atenção. Países como a Arábia Saudita, o Irã, o Iraque, a Rússia e a Venezuela não são bons exemplos de democracias prósperas. Por outro lado, países como Inglaterra, Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul são importadores de petróleo, mostrando ao menos que a condição de exportador do produto não é necessária para a prosperidade.

Em nome do “interesse nacional”, muitos privilégios já foram criados para o benefício de poucos, que enriquecem ou se mantêm no poder. E o custo é dividido por toda a população. Com o petróleo pré-sal, o país corre o risco de cair uma vez mais nessa armadilha. Resgatou-se a retórica ufanista que confunde Nação com Estado, como se aquilo desejável para o povo brasileiro fosse necessariamente o que é bom para o governo. Trata-se de mais um caso de exploração do nacionalismo para a concentração de recursos no Estado.

6 comentários:

Everardo disse...

Talvez estejamos diante de situações diferentes das que você citou, Rodrigo. O mundo e as leis sociais não são recorrentes como são as leis naturais. O atual modelo de exploração do petróleo não pode ser considerado um caso de sucesso. Os EUA mantiveram um modelo que lhe custou muito caro, inclusive a destruição do seu nome perante a comunidade internacional. O Iraque nos ensinou muito sobre o que somos capazes de fazer por alguns poços de petróleo. E o Brasil pode fazer um novo modelo. Todos acreditam nisso. O pré-sal não trás nenhum mal agouro, embora os magnatas estejam de olho nele.

Rodrigo Constantino disse...

"Os EUA mantiveram um modelo que lhe custou muito caro, inclusive a destruição do seu nome perante a comunidade internacional."

????

A imagem dos EUA tem a ver com GUERRAS do GOVERNO, e não com empresas privadas explorando petróleo.

"O Iraque nos ensinou muito sobre o que somos capazes de fazer por alguns poços de petróleo."

????

"E o Brasil pode fazer um novo modelo. Todos acreditam nisso.

Vc tem procuração para falar em nome de "todos" os brasileiros? Eu, por exemplo, acho que vc está viajando. Mas eu não existo para vc.

"O pré-sal não trás nenhum mal agouro, embora os magnatas estejam de olho nele."

De fato, basta ver os magnatas do governo de olho nisso...

Coelho disse...

sempre q vc postar uma materia sua q saiu no globo seria bom colocar o link pra lá.

Eu sempre me divirto com os comentários.

Aprendiz disse...

Gostaria de saber qual a minha vantagem, como brasileiro, em ser "dono" da petrobrás. Pago um gasolina cara prá caramba, e ruinzinha também.

Nacionalismo não enche o meu tanque.

Everardo disse...

Rodrigo, você acha, entâo, que o "governo" dos EUA nada tem a ver com as suas empresas privadas? Que a política americana é desconectada dos interesses da indústria armamentista e do petróleo? Que os magnatas, que financiam a política não participam das estratégias do governo?

Everardo disse...

Aprendiz, a goasolina poderia ser mais barata se não financiasse o transporte de alimentos [diesel](que chega mais barato à mesa de todos o sbrasileiros), as pesquisas de novas jazidas (que permite que o país deixe de transferira metade do seu PIB para a conta petróleo, como em 1973), além de inúmeros outros programas sociais. Mas, acredito que você preferia que o país abrisse mão de tudo isso, contanto que você pagasse menos por um litro de gasolina. Responsabilidade social é isso!!