terça-feira, janeiro 24, 2012

As lições de Churchill


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Winston Churchill faleceu no dia 24 de janeiro de 1965. Este artigo é uma homenagem a este que foi a figura política de maior destaque no século 20. Liderança inquestionável nos turbulentos anos 40, Churchill foi o maior responsável individual pela derrota nacional-socialista na Segunda Guerra Mundial. Não é pouca coisa.
De sua longa vida, podem-se tirar diversas lições importantes. Superação é uma das primeiras palavras que vem à mente. A quantidade de adversidades e obstáculos que surgiram em seu caminho apenas fortalece o mérito de suas conquistas. Churchill não era de desistir, e usava cada tropeço para se reerguer com mais determinação ainda. Para ele, sucesso era a habilidade de sair de um fracasso para outro sem a perda do entusiasmo.
Como todo ser humano, Churchill tinha suas falhas e contradições. Nem sempre foi correto, e errou em suas previsões em importantes situações. Mas todos estes defeitos servem para torná-lo mais humano, e não eclipsam de forma alguma seus tantos acertos, fundamentais para preservar a liberdade naqueles ameaçadores anos.
Uma de suas maiores qualidades como estadista era seu realismo. Enquanto muitos preferiam o falso consolo de esperanças ingênuas, Churchill analisava os fatos com maior frieza. Como escreve Paul Johnson em sua biografia, “Churchill era realista o bastante para perceber que as guerras aconteceriam e, por mais terríveis que fossem, ele preferia vencê-las a perdê-las”. Ele sabia ser pragmático quando necessário, mas sua essência era basicamente a de um liberal, defensor da democracia e também do livre mercado.
Sobre a democracia, aliás, Churchill tornou famosa a idéia de que se trata do pior modelo político, exceto todos os outros. Ele era realista o suficiente para não esperar escolhas democráticas fantásticas, e costumava dizer que o melhor argumento contra a democracia era uma conversa de cinco minutos com um eleitor médio. Esta postura cética é importante para limitar os estragos que podem ocorrer com o abuso de poder do governo, mesmo sob regimes democráticos.
Nas grandes batalhas do século 20, tanto ideológicas quanto físicas, Churchill esteve do lado certo. Ele abominava os monstros aparentados: o comunismo, o nazismo e o fascismo. Considerava a tirania bolchevique a pior de todas. Chegou a afirmar que “o vício intrínseco do capitalismo é a partilha desigual do sucesso”, enquanto “o vício intrínseco do socialismo é a partilha equitativa do fracasso”.
Ainda assim, soube fazer concessões práticas quando a própria sobrevivência dos valores ocidentais estava em jogo. Até mesmo com Stalin ele costurou um pacto para derrotar Hitler, após este trair o ditador soviético. Para Churchill, se Hitler invadisse o inferno até o diabo mereceria ao menos uma palavra favorável.
Churchill havia lido “Mein Kampf” e, ao contrário de tantos que consideravam Hitler apenas um aventureiro iludido, ele acreditou em suas promessas. O “pacifismo” era o credo da moda, mas Churchill soube enxergar melhor a realidade. Isso fez com que a Inglaterra estivesse preparada quando o inevitável ataque nazista ocorreu. O papel de liderança exercido por Churchill neste momento de vida ou morte foi crucial para a vitória inglesa. “Nós nunca nos renderemos”, enfatizou em seu famoso discurso.
Ele era a “personificação do entusiasmo”, como explica Johnson. Sua retórica não era, entretanto, vazia, e suas ações incansáveis colocavam em prática sua mensagem. Sua coragem na liderança da máquina de guerra inglesa comprovava sua fala. Sua confiança era contagiante, e sua determinação, inspiradora. Segundo o historiador Paul Johnson, seria legítimo dizer que Churchill realmente salvou a Inglaterra (e, portanto, o Ocidente).
Além das medalhas militares, Churchill publicou quase 10 milhões de palavras em discursos e livros, pintou mais de 500 telas, construiu pessoalmente boa parte de sua propriedade particular, foi membro da Royal Society, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, foi exímio caçador e jogador de pólo, criou cavalos vencedores e consumiu espantosa quantidade de champanhe, em companhia de seus charutos. Era muito espirituoso, com incríveis tiradas dignas de uma mente rápida e sagaz.
Para Paul Johnson, a vida de Churchill passa ao menos cinco lições importantes: pense sempre grande; nada substitui o trabalho árduo; nunca deixe que erros e desastres o abatam; não desperdice energia com coisas pequenas e mesquinhas; e, por fim, não deixe que o ódio o domine, anulando o espaço para a alegria na vida. Belas lições!

8 comentários:

Anônimo disse...

Para uma visão um pouco diferente:
http://mises.org/daily/2973

Anônimo disse...

Se alguém que é lunático o suficiente pra acreditar em anarquismo não gosta desse cara, ele deve ser um sujeito muito bom

Anônimo disse...

Rodrigo, precisa incluir o seu sexto livro aí no seu perfil...

samuel disse...

Britain, rule the waves, Britons shall not be slaves!
Churchill, the last of the Britons

Anônimo disse...

Olha só o trabalho que os ancaps têm para tentar deturpar a história:

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1215

Além de lamentável, o que você acha disso, Rodrigo?

Tiago disse...

Escrever uma ode a favor de um inapto que provocou desastres no campo militar, no econômico e tb no diplomático é no mínimo temerário. Churchill foi a perfeita solução que o parlamento britânico encontrou para enterrar (sem honras), o decadente império britânico. Foi sim, o responsável tanto pela intransigência do governo em negociar com os alemães, qdo estes quiserem negociar a paz em 1939 e 1940, tanto pela morte de milhões de soldados das forças armadas derrotadas (durante e após a guerra) pela guerra aérea de extermínio e pelo descaso proposital dos prisioneiros germânicos, que, mesmo com a guerra terminada, morreram às dezenas de milhares, enfiados em campos de concentração em campo aberto sem nenhuma proteção, sem instalações sanitárias, sem assistência médica nem remédios, com o simples intuito de acabar com o inimigo de qquer forma. Conseguiu arruinar financeiramente o império, por causa de uma promessa feita a oficiais poloneses, e que acabou não cumprindo.

Rodrigo, se vc tivesse lido, entre outros, este artigo (1215) posto no site, teria uma fonte, no mínimo, para contrapor estas informações que vc leu num livro claramente tendencioso.

Brasileiro disse...

Tiago, que postou o último comentário, você é um gênio! Pena que você não era o primeiro ministro britânico na segunda guerra!

Tiago disse...

Brasileiro, Churchill era o candidato perfeito para os reais donos do poder, aqueles desconhecidos que comandam o show por trás das cortinas. Ele era bem conhecido por suas opiniões anti-germânicas, e estava sedento de sangue alemão. Se vc tentar sair do circuito de leng-lenga que há décadas se fala sobre a Alemanha e o Hitlerismo, verá que os alemães tentaram de todas as formas evitar a guerra, pq não queriam outro banho de sangue europeu em menos de 20 anos, consideravam os ingleses e franceses aliados naturais contra o verdadeiro inimigo (bolchevismo), tinham nas casas reais(antiga no caso alemão) parentes muito próximos, e sobretudo pq sabiam que, uma vez iniciada uma guerra no oeste, os generais alemães tinham consciência que se debateriam até o momento que a besta soviética atacaria os novamente exauridos ocidentais (para ter uma idéia mais completa disso, sugiro ler "O Grande Culpado", de Viktor Suvorov).

Tendo isso em mente, não há como excusar Churchill. Ele tinha plena consciência destas possibilidades, e mesmo assim bancou a guerra. Como disse anteriormente, ele completou a ruína do Império Britânico por uma pretensiosa promessa feita à oficiais poloneses, e que se encarregou pessoalmente em não cumprí-la, ao eclodir o conflito.

Alias, há uma frase dele muito singela, que resume seu pensamento com relação aos alemães: "Primeiro o dever, depois o prazer", enquanto conversava com seu Marechal do Ar, Bomber Harris, para ele se concentrar nas áreas industriais alemãs para depois bombardear mulheres e crianças nas cidades indefesas.

Legal, não é, brasileiro?