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sexta-feira, janeiro 06, 2012
Bullseye
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O IBGE divulgou hoje a inflação oficial de 2011, medida pelo IPCA. O acumulado no ano ficou em 6,50%. A meta do Banco Central é de 4,50%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo. Ou seja, a inflação oficial cravou o topo da meta, incluindo a segunda casa decimal. Se a inflação ficasse acima do teto, o presidente do BC, Alexandre Tombini, teria que escrever uma carta com explicações para o ministro Guido Mantega. Que diferença uma casa decimal faz! A chamada dos jornais não precisa afirmar agora que a inflação rompeu a meta do BC no ano.
Na competição de tiro ao alvo, o centro do alvo é conhecido como “bullseye”. Se aceitarmos a meta oficial do governo, então o alvo seria 4,5% de inflação. Mas os investidores já perceberam há muito tempo que a meta verdadeira do BC tem sido os 6,5% do topo da banda de tolerância mesmo, e não o centro. Este é um governo que tolera “mais inflação” para ter “mais crescimento”, ainda que a inflação suba, mas não o crescimento, mostrando se tratar de uma falsa dicotomia. A inflação oficial foi a mais alta desde 2004, e o crescimento do PIB não vai chegar nem aos míseros 3%.
Mas, o ponto aqui é que podemos afirmar que o BC fez um “bullseye”. Se o IPCA fechasse o ano com alta de 6,55%, então todos os jornais publicariam que a inflação estourou a meta, e teria aquela cartinha incômoda do presidente do BC. No imaginário do povo ficaria esta mensagem: a inflação superou a meta. Perda de controle? Agora, nada disso é necessário. Inflação dentro da meta. O comunicado do BC diz: “A meta para a inflação foi cumprida em 2011 pelo oitavo ano consecutivo”. Lindo. E olha que não precisou nem arredondar a segunda casa decimal. Foi pura coincidência?
Talvez. Tudo é possível. Mas se Hugo Chávez pode achar “muito, muito, muito estranho” os vários casos de câncer dos líderes latino-americanos, insinuando que o governo americano pode estar por trás desta coincidência (quem precisa de comediante quando se tem caudilhos assim?), então acho que posso ao menos levantar a suspeita: estranho, muito estranho! O governo trocou o presidente do IBGE faz pouco tempo, os pesos dos produtos no índice serão recalculados favorecendo o resultado final, o BC usou o modelo SAMBA (do crioulo doido) para reduzir na marra a taxa de juros, e agora a inflação oficial fica exatamente no topo da meta.
Analisando cada caso isolado, nada demais. Mas tudo junto, e com este governo “desenvolvimentista” que claramente tolera mais inflação, ainda mais tendo o exemplo da Argentina ao lado, então é legítimo ter calafrios. Não quero ser leviano. Mas que esse “bullseye” é estranho, isso é!
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5 comentários:
Não são é só o IBGE que está sob suspeita. Os dados da Balança Comercial,relativos a dezembro, de responsabilidade da SECEX, são suspeitíssimos. Veja abaixo meu comentário para o BOLETIM DE COMÉRCIO EXTERIOR do ICEG, da Universidade Santa Úrsula.
Hugo Faria
BALANÇA COMERCIAL DE DEZEMBRO DE 2011
As estatísticas do comércio exterior brasileiro, a cargo da SECEX, correm o sério risco de perderem credibilidade, a exemplo do que aconteceu com o INDEC, na Argentina.
Embora a imprensa ainda não tenha se apercebido do fato, os dados da SECEX nada ficam a dever a um grande presente de NATAL para as nossas contas externas na semana natalina.
Numa análise sucinta foi isto que aconteceu na última semana de dezembro, conforme tabelas em anexo.
A média diária das exportações de petróleo e derivados pulou de US$113,344 milhões nas primeiras quatro semanas (17 dias úteis) para US$265,811 milhões na última (5 dias úteis), sofrendo um acréscimo de 134,5%, o correspondente a mais US$762 milhões de receita. Em contrapartida, as importações de combustíveis caiu quase a metade, passando de US161,705 milhões para US$87,506 milhões, proporcionando uma economia de divisas da ordem de US$371 milhões. Como resultado, o saldo da Balança Comercial, só com os combustíveis, registrou um aumento de US$1.133 milhões na semana natalina.
Outro produto abençoado foi minério de ferro. De uma média de US$152,378 milhões nas quatro primeiras semanas, avançou para US$268,040 milhões, na última semana, propiciando um aumento de receita de US$578 milhões, que se refletiu no superávit.
Então, somente esses dois itens foram responsáveis por quase 50% do superávit registrado na última semana do mês, que, por sua vez, respondeu por 77% do superávit de todo o mês.
Cumpre notar que as exportações dos demais setores caiu 12,5%, o equivalente a US$380 milhões. Cabe então a pergunta: se a tendência geral era de queda por que as exportações de petróleo e derivados e de minérios de ferro fugiram totalmente a essa regra? A resposta que me ocorre é que as exportações dessas gigantes estatais e paraestatais fogem ao controle da SECEX, a quem cabe apenas sancioná-las, sem nenhum poder de controle.
No caso das importações, o caso é ainda mais bizarro. Todos os principais setores, sem exceção, sofreram queda do valor de suas importações na última semana. De um total de US$914,765 milhões nas quatro primeiras semanas, elas caíram para US$552,2 milhões na última semana, sofrendo um recuo de 39,6%, o correspondente a US$1.813 milhões. Além dos combustíveis, destacaram-se os equipamentos mecânicos, com 38,7% de baixa e menos US$258 milhões de gastos; adubos e fertilizantes, com 81,6% e menos US$199 milhões; veículos automóveis e partes. Com 35% e menos US$183 milhões; e equipamentos elétricos e eletrônicos, com 31,5% e menos US$134 milhões).
Como os dados são divulgados para o mês “fechado”, não se questiona sua evolução ao longo das semanas. Se se tiver este cuidado, verifica-se que na última semana do mês – em plena festa natalina – as exportações e importações de determinados produtos sofreram modificações abruptas, sem nenhuma lógica que as justificassem, a não ser para quem ainda acredita em Papai Noel.
Quando questionados sobre uma possível bolha na economia americana, os keynesianos mostravam os índices de inflação "sob controle" e diziam que não havia nada de errado!
Índice de inflação é outra medida que devemos olhar com muito cuidado. A cadeia de produção de uma economia moderna é muito complexa.
R.C., como vc pode ter certeza de que o crescimento do PIB não vai chegar nem a míseros 3% em 2011?
Valeria a pena cumprir o centro da meta em 2011? Não haveria uma perda excessiva de empregos e de crescimento e não seria mais difícil reanimar os agentes econômicos depois de tal baque? Não seria correta a estratégia do BC de perseguir o centro da meta num prazo maior?
Hugo, quando uma instituição privada de boa credibilidade falar que dados divulgados pelo governo estão sendo adulterados, eu acreditarei. Até lá, se é que vai acontecer, essas acusações tem tanta credibilidade quanto teorias da conspiração do tipo que o governo dos EUA que causou os ataques do 11 de setembro. Governos que divulgam dados falsos acabam descobertos. O governo brasileiro sabe disso e não é burro de fazer tal coisa. Isso mancharia a credibilidade do governo no exterior. Imagine o FMI ou outra instituição internacional de peso pondo em cheque os dados do governo brasileiro, sua seriedade? Seria um pesadelo. Ele morre de medo disso. O que ele pode fazer é mudar a metodologia, sem grandes exageros, para que o método corretamente aponte um resultado desejável ou menos ruim ao governo, mas que não é falso segundo o próprio método. Por exemplo, diminuir o peso de itens, no cálculo da inflação, que a tem pressionado demais. O governo brasileiro não é o argentino, que divulga dados falsos na cara dura.
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