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sexta-feira, janeiro 27, 2012
O fim da meta de inflação?
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A ata do Copom divulgada nesta quinta-feira possui um tom extremamente “dovish”, ou seja, suave em relação ao combate à inflação. Os argumentos citados para manter a trajetória de queda da taxa Selic são muito questionáveis, para dizer o mínimo. Se a queda prematura e ousada em 2011 contava como justificativa com o agravamento do cenário externo, por conta do risco de ruptura na Europa, desta vez o mesmo não ocorre. Restou ao Copom forçar a barra para sinalizar que a taxa de juros vai seguir rumo a um dígito.
Nas últimas decisões de reduzir os juros, o Copom apelou até para o SAMBA (do crioulo doido). Trata-se de um modelo econométrico com inúmeras variáveis incertas e, portanto, enorme arbitrariedade. Muitos economistas sérios apontaram, à época, para a ousadia que beirava à irresponsabilidade do BC. O governo, à medida que a crise europeia se deteriorava, cantou vitória: o BC fora preventivo e estava correto. Talvez tenha se empolgado cedo demais.
Com a recente atuação agressiva do Banco Central Europeu, o risco de uma ruptura na Europa se reduziu bastante, ao menos no curto prazo. Além disso, o Fed resolveu adotar um tom mais “dovish” ainda, e afirmou que as taxas de juros devem ficar extremamente reduzidas até pelo menos 2014. Com este cenário de nova rodada de liquidez nos países “desenvolvidos”, aumentam as chances de alta no preço das commodities.
Este não é um quadro deflacionário. Fora isso, o Brasil apresentou índice de inflação acima do esperado na última semana, sem esquecer que fechou 2011 no topo da meta, já muito elevada. A taxa de desemprego está em patamares extremamente baixos, mostrando um mercado de mão de obra bastante aquecido. O crédito segue em expansão. O governo conta com o corte nos gastos fiscais para conter a inflação, mas já vimos que tais promessas são vazias.
Em suma, o país corre sérios riscos de ver a inflação sistematicamente acima da meta. E isso não parece incomodar muito o BC. Será que estamos vendo o fim do modelo de metas inflacionárias no Brasil? Será que o BC mira agora em uma meta de juros? O governo Dilma, com maior ingerência sobre o BC, está dando sinais preocupantes nesta direção. Seria um retrocesso institucional incrível, ameaçando o retorno de uma inflação fora de controle. Todo cuidado é pouco.
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Um comentário:
A verdade é que ninguém sabe o que pode acontecer com a negociação entre a Grécia e os credores. O acordo com o IIF está a caminho. Mas o IIF representa 70% dos credores. E os outros 30%? Sem contar que para alguns credores é melhor a Grécia dar calote por causa do CDS (seria melhor receber o CDS por um calote do que perdoar 70% da dívida). E se a Grécia der um calote, sai de baixo por que pode arrastar Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Ou seja, o melhor nesse monento é ter prudência na política monetária.
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