domingo, abril 22, 2007

Liberalismo e Religião


Rodrigo Constantino

“O resultado final da disputa entre liberalismo e totalitarismo não será decidido pelas armas, mas por idéias.” (Ludwig von Mises)

O liberalismo trata dos aspectos mundanos não por desprezo aos bens espirituais, mas por convicção de que as mais elevadas e profundas demandas do espírito não podem ser tratadas pela regulação de qualquer força exógena. Elas partem de dentro de cada indivíduo. Mesmo aqueles que abraçam um ideal de vida ascético, fazendo até mesmo voto de pobreza e pregando o desapego material como ideal de vida, não podem rejeitar o liberalismo por objetivar o bem-estar material dos outros, que podem não concordar com tais estilos de vida. A busca pelo prazer material destes não atrapalha em nada a escolha pela vida humilde daqueles.

Os liberais, como explica Mises em Liberalism, estão cientes do fato de que os homens agem de forma não razoável de vez em quando. Se os homens sempre agissem de forma razoável, seria supérfluo exortá-los a serem guiados pela razão. O liberalismo não diz que os homens sempre agem de forma inteligente, mas sim que eles deveriam agir através da compreensão de seus próprios interesses, de forma inteligente. A essência do liberalismo seria, segundo Mises, essa vontade de conceder à razão na esfera da política social a mesma aceitação que é concedida em todas as demais esferas da ação humana. Nosso poder de compreensão é bastante limitado, mas tudo que o homem é e que o coloca acima dos demais animais ele deve à sua razão. Por que então abdicar do uso da razão justamente na esfera da política social e confiar em sentimentos ou impulsos vagos e obscuros?

O campo de preocupação do liberalismo é totalmente restrito aos aspectos da vida nesse mundo. O reino da religião, por outro lado, não é deste mundo. Portanto, o liberalismo e a religião podem ambos existir lado a lado sem que suas esferas se toquem. Se chegarem ao ponto de colisão, não é por culpa do liberalismo, já que este não pretende transgredir sua própria esfera. Ele não invade o domínio da fé religiosa ou da doutrina metafísica. Entretanto, ele pode encontrar a Igreja como uma força política demandando o direito de regular de acordo com seu julgamento não apenas da relação do homem com o mundo do além, mas também dos aspectos desse mundo. Quando este ponto é atingido, as linhas que demarcam os territórios precisam ser traçadas.

A vitória do liberalismo, conforme coloca Mises, foi tão avassaladora que a Igreja teve que desistir, de uma vez por todas, de reclames mantidos por séculos. Os heréticos sendo queimados, as perseguições da Inquisição, as guerras religiosas – tudo isso pertence ao passado, onde o liberalismo deu o ar de sua graça. Ninguém consegue entender hoje como alguém poderia ser levado diante de julgamento apenas por praticar uma devoção que considerava correta entre quatro paredes de sua própria casa. E vários ainda foram torturados ou mortos por conta disso! Ainda assim, uma razoável magnitude de intolerância perdura. E o liberalismo deve ser intolerante com todo tipo de intolerância. Como dizia Sir Karl Popper, “não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”. A cooperação pacífica e voluntária entre os homens não deve ser perturbada por fanáticos religiosos.

O liberalismo proclama a tolerância com toda fé religiosa ou crença metafísica, pela convicção de que esse é o único meio de se manter a paz. E porque ele defende a tolerância com todas as opiniões de todas as igrejas e cultos, ele deve lembrar sempre os limites dessas crenças, evitando que avancem na esfera desse mundo de forma intolerante com os que não compartilham da mesma crença. Eis um princípio básico de um Estado laico, que separa a religião dos assuntos do governo, como os “pais fundadores” americanos já pregavam. Não custa lembrar que Thomas Paine afirmou que “é um grande perigo para a sociedade uma religião tomar partido em disputas políticas”, exortando seus concidadãos a “desprezar e reprovar” esta mistura entre ambos.

Mises considera difícil entender porque estes princípios de tolerância do liberalismo fazem inimigos entre os adeptos de diferentes tipos de fé religiosa. Se por um lado não se permite a conversão de crentes pela coerção, por outro lado se protege cada credo do proselitismo coercitivo de outras seitas. O liberalismo não tira nada da fé que pertença à sua esfera adequada. No fundo, as próprias seitas religiosas costumam pregar a tolerância, mas apenas quando são minoritárias. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência. Uma vez assumindo a posição majoritária na sociedade, costuma ser intolerante com as demais seitas. Não gosta de competição. A tolerância defendida pelo liberalismo não tem este caráter de oportunismo. Ela é calcada em princípios, e aceita as mais absurdas crenças, por mais heterodoxas que possam ser, incluindo todo tipo de superstição tola. Somente a tolerância pode criar e preservar as condições da paz social sem a qual a humanidade iria retornar à barbárie e penúria de séculos atrás.

Ludwig von Mises resume de forma muito objetiva: “Contra aquilo que é estúpido, sem sentido, errôneo, e mal, o liberalismo luta com suas armas da mente, e não com a força bruta e repressão”. O liberalismo tolera todo tipo de religião enquanto esta ficar restrita ao seu campo adequado de atuação. Que toda religião tolere o liberalismo também!

20 comentários:

Anônimo disse...

Rodrigo, muito bom, como sempre....

Anônimo disse...

Concordo com o texto.

“Contra aquilo que é estúpido, sem sentido, errôneo, e mal, o liberalismo luta com suas armas da mente, e não com a força bruta e repressão”. O liberalismo tolera todo tipo de religião enquanto esta ficar restrita ao seu campo adequado de atuação. Que toda religião tolere o liberalismo também!

Mas, a partir do momento em que uma religião - como por exemplo o Islã radical - ameaça as conquistas liberais, como deveríamos agir? Apenas palavras seriam suficientes para detê-los e voltá-los à razão, ou deveríamos ser mais incisivos em nossa reação?

Anônimo disse...

A reação deve ser proporcional. Mas
"conquistas" Liberais não são fatos imutáveis. Podem a qualquer tempo ser "ameaçados" e modificados. Desde que as condições sejam favoráveis ou que ocorram a incidência da maioria sobre
a minoria. Não existe reação suficiente ao poder da maioria.

Anônimo disse...

O BRASIL ESTÁ MORRENDO!!!

Infelizmente, profundamente triste, é hora de admitir que o Estado Democrático de Direito morreu no Brasil, é apenas letra morta no papel.

O que existe de fato é o Estado Autoritário do Lulismo.

Enquanto a existência deste Estado ilegal e infame não for admitida, não há luta verdadeira contra ele. O mal tem que ser reconhecido que existe antes de ser eliminado.

O lulismo finge que é Estado Democrático de Direito, a oposicão finge que acredita, todos fingem que lutam para mantê-lo.

Não há mais volta, deixaram esta corja ir longe demais para solucionar o problema pacificamente agora.

Lula afrontou a Constituicão quando tentou desautorizar o Comando da Aeronáutica a prender os amotinados.

Veja a violência e ousadia do MST onde chegou: invadir terras do Exército!!! Aquilo foi para testar a reacão militar enquanto estão promovendo o caos pelo país sem que nenhuma autoridade se pronuncie.

Veja os desmandos no Judiciário capenga e relapso, agora também tão desmoralizado quanto o Legislativo.

Só Lula mantem sua imagem de santo-salvador imaculada, ninguém ousa tocá-lo com medo das massas!!!

Ele está aguardando a solucão do impasse entre ele e Chaves sobre quem será o ditador-líder da AL para clamar pela massa de manobra e dar o golpe final. Veja que Chaves já proclama que a AL é 'NOSSA GRANDE NACÃO'!!!

Precisamos sair às ruas e agitar nossas bandeiras para exigir que as FAS cumpram sua obrigacão de defender o Estado Democrático de Direito e a Soberania brasileira já que os 3
Poderes da Repúblicas estão seriamente corrompidos.

O Brasil é uma mera mercadoria para ser repartida e negociada no balcão de politicagem do Conchavo Nacional sob o comando de quadrilheiros dos 3 Poderes: Executivo negocia, Legislativo executa, Judiciário garante.

Não há como evitar mais: temos que escolher entre apoiar uma ditadura esquerdistas nos moldes de Cuba, URSS e China ou apoiar os Militares numa luta contra esta quadrilha no poder.

SALVEMOS NOSSO BRASIL!!!

Anônimo disse...

"Lula afrontou a Constituicão quando tentou desautorizar o Comando da Aeronáutica a prender os amotinados."

Quando se acalmar do xilique histérico pode postar aqui aonde o Lula afrontou a Constituição.
Nunca li tanta besteira desde que acabou a guerra fria.
Toma um calmante vai dar uma volta. Tenta respirar fundo. Se acalma!!!!
Olha o Coração!!!

Anônimo disse...

A OPERACAO FURACAO DEVE TER PRENDIDO ALGUM PARENTE DO VL.

COITADO!!!!!!!SURTOU!!!!!!

Anônimo disse...

Anônimo: "Não existe reação suficiente ao poder da maioria".

Se algum dia houve conquistas liberais, significa que a maioria aprovava e desejava essas mesmas conquistas. A questão é como defender essas conquistas caso pouco a pouco - os movimentos históricos nunca acontecem assim de repente - a minoria se torna maioria e ameaça o liberalismo. A minha pergunta é: os liberais devem ficar parados esperando a minoria se tornar maioria e sufocá-los, ou deve haver uma reação mais incisiva por parte de seus defensores?

Cito novamente o problema do Islamismo na Europa laica.

Anônimo disse...

O Lula afrontou o RDE (regimento disciplinar do exército). Isso não poderia ser feito. As leis estão aí para serem cumpridas.

Anônimo disse...

Não afrontou não. O presidente é comandante supremo das forças Armadas em qualquer tempo.
Qualquer ordem pode ser revogada pelo presidente e tem de ser cumprida imdediatamente.
É claro que isso tem consequências. Mas aí e outra questão.
Os militares tem que se acostumarem a obedecer a civis. Sem espernear!!!

Anônimo disse...

NEM O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ESTÁ ACIMA DAS LEIS.

O APEDEUTA AFRONTOU A CONSTITUICÃO, ALÉM DO REGIMENTO DISCIPLINAR, ESPECIALMENTE, SENDO O COMANDANTE SUPREMO TEM A OBRIGACÃO DE DAR O EXEMPLO DE RESPEITO À LEI:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na HIERARQUIA E NA DISCIPLINA, sob a autoridade suprema do Presidente da República...

PENA NÃO EXISTIR REMÉDIO PARA BURRICE E DESRESPEITO, O Anonymous E O indignatus ESTÃO PRECISANDO MUITO.

Anônimo disse...

"Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na HIERARQUIA E NA DISCIPLINA, sob a autoridade suprema do Presidente da República..."

Vc é maroto mas não sabe ler. vc e a canalha golpista não entendem a interpretação das leis. Alias não entendem o momento político. Vai rezar lá no Reinaldão. Sua turma é outra.

Anônimo disse...

CLAP CLAP CLAP...!!!!!

Este e mais os três acima estão geniais! artigos de primeiríssima!
BRILHANTES!
.
MAGNÍFICO!!!!!!!
PERFEITO!!!!!!!!!!
SUPREMO!!!!!!!!!!!!!!!
.
Forte abraço
C. Mouro

Anônimo disse...

sob a autoridade suprema do Presidente da República

Blogildo disse...

O artigo está ótimo e espero que as olavates e rodriguetes cheerleaders não estraguem o debate. A minha indagação é basicamente a mesma do gabriel: Como o liberalismo “lidaria” com uma religião que promove ilegalidades sem necessariamente cometer ilegalidades? Se ele aceita as mais absurdas crenças, por mais heterodoxas que possam ser, incluindo todo tipo de superstição tola, como lidaria com uma religião ou corrente filosófica que promove idéias como o suicídio, a mentira, o roubo, impiedade etc sem necessariamente cometer atos contrários a lei? Essa suposta religião ou corrente de pensamento encontraria abrigo dentro de um regime liberal?

Rodrigo Constantino disse...

Blogildo, sim. Enquanto estiver restrito ao campo das idéias, pode defender isso. Afinal, não podem defender o socialismo também, que é a pura idealização da inveja?

O que não podem é executar a escravidão dos outros, pois aí esses terão direito de defesa.

Rodrigo

PS: Para mim, quando a Igreja combate a eutanásia, pregando que nobre é manter "vivo" um vegetal enquanto os seres humanos sofrem, isso é um absurdo que atenta contra a vida humana e a felicidade. Mas jamais defenderia a proibição da livre manifestação da ICAR...

Anônimo disse...

Olavetes, principalmente aquelas que o C. Mouro ralou o focinho delas no chão, é que estragam os debates. Enquanto o focinho delas arder, não se conformarão.
Me lembra o filme Nome da Rosa, onde o pecador se martiriza, se faz sofrer para se redimir (será?). Resquicios dos tempos que iam para os fundos das igrejjas com padres ou pastores para "aprenderem a doutrina"... ...hehehe!
Por isso mentem e praticam safadezas de toda sorte, já que se desprezam e que seu único valor é o valor da religião (valor postiço), se a religião perde o valor na sociedade elas, essas olavetes, também perdem seu único "valor", postiço, e por tal não se tombam ao pejo por mentir, deturpar e praticar safadezas em nome da religião.... ...e aí o C. Mouro rala o focinho delas no chão, mostrando, provando as imbecilidades e safadezas que praticam ....hehehe! ...e aí elas o odeiam com todas as suas porcas forças ...hehehe!
.
Abraços
C. Mouro

Anônimo disse...

Chegou o estraga-debate. Começou o Mouro com sua alucinação psicótica. Esse cara é doente, esquizofrênico: vê cristãos em todos os pontos atacando-o como louco, daí advem o fato de ele lançar sua baba raivosa pitbulliana a torto e a direito e não respeitar o espaço de debate.

Blogildo disse...

Rodrigo, no excelente "A curva S" vc escreveu o seguinte: As idéias têm conseqüências que nem seus próprios autores podem imaginar.

No caso da ICAR não há só manifestação de opinião. Existe também pressão política quanto ao aborto, eutanásia etc a Igreja não apenas opina, age. Dentro da legalidade, claro. Existe até a famigerada bancada evangélica que quer - dentro da legalidade, claro - fazer valer seus "ideais".
Não concordo com a pressão política de religiões. Mesmo a cristã.

Não acha que o liberal estaria dando ao adversário ideológico um benefício que o adversário certamente não daria a ele? Ou melhor não estaria o liberal abrindo uma porta para o prejuízo da própria liberdade?

Anônimo disse...

ANONYMOUS

SUPREMO NÃO SIGNIFICA ACIMA DA LEI, DEMENTE.

QUER QUE EU SOLETRE?

Anônimo disse...

sob a autoridade
significa abaixo da autoridade
e com isso espero não precisar soletrar, Maroto