sexta-feira, junho 12, 2009

Cotas para Baixinhos



Rodrigo Constantino

“A menor minoria de todas é o indivíduo; aqueles que negam direitos individuais, não podem alegar serem defensores de minorias.” (Ayn Rand)

Em artigo hoje no jornal Valor Econômico ("Altura e desempenho no mercado de trabalho"), Naércio Menezes Filho mostra que a altura tem correlação com o salário: "Mesmo entre pessoas com o mesmo nível educacional, as mais altas ganham mais. Os dados mostram que 1% a mais de estatura entre os homens, eleva o salário em cerca de 2%". Mas o próprio autor reconhece que correlação pode não ser causalidade, lembrando que a explicação mais plausível é que “a altura das pessoas está refletindo, em parte, as condições sócio-econômicas de suas famílias na infância e até no ambiente uterino”. Ainda assim, ele afirma que “não se pode descartar a possibilidade de discriminação contra os mais baixos no mercado de trabalho, assim como ocorre com as mulheres e os negros”.

Creio que isso é o suficiente, no momento atual em que vive o país, para se criar um movimento em prol das cotas para os baixinhos. A primeira medida, entretanto, deve ser a mudança do termo, para se adaptar à era do politicamente correto, onde eufemismos predominam. Logo, “baixinho” não parece um adjetivo adequado, tampouco “nanico” seria desejável. A luta deve ser pelas cotas dos “verticalmente prejudicados”, assim como “negros” viraram “afro-descendentes”, mesmo que inúmeros descendentes da África possam ser brancos. Esses detalhes não vêm ao caso. O importante é criar um novo privilégio, pois essa é a demanda da mentalidade brasileira: o governo vai solucionar todos os males do mundo com uma canetada milagrosa. Baixinhos do mundo todo, uni-vos!

Qual será o argumento para condenar esse novo privilégio pela altura, se defendem a mesma medida por causa da cor? E naturalmente, não devemos parar aqui: os gorduchos deveriam se unir para reivindicar cotas também. Afinal, existe preconceito contra aqueles “com peso avantajado”. Os carecas, sem dúvida, merecem alguma compensação pela discriminação que sofrem. Não deve ser fácil ser um portador de “insuficiência capilar”. E por aí vai...

Ou entendemos que cada indivíduo, com suas características particulares, merece um tratamento igual perante as leis, ou abrimos espaço para todo tipo de privilégio arbitrário. A primeira postura é uma bandeira tipicamente liberal, que rejeita privilégios com base na cor, no credo, no sexo, na renda, na altura, no peso, etc. A alternativa é uma eterna luta por privilégios, onde indivíduos desaparecem, dando lugar a grupos coletivistas que selecionam uma das várias características da pessoa, e a usam como o fator predominante, ignorando o resto todo. O indivíduo deixa de ser quem ele é, e passa a ser um “negro”, ou um “baixinho”, ou um “careca”, pois essa específica característica passa a ser dominante, garantindo seu privilégio. Isso sem falar, evidentemente, que cada privilégio gera um discriminado, ou seja, todo tipo de cota fomenta a segregação com base na característica usada para o privilégio.

É nesse mundo que queremos viver? A única solução justa é a igualdade perante as leis, ou seja, abolir todo e qualquer tipo de privilégio, mantendo a isonomia das leis. Caso contrário, o caminho da servidão será inevitável.

9 comentários:

Unknown disse...

A continuar nesse ritmo, daqui a pouco vão criar cotas para os feios (ops, esteticamente desfavorecidos, perdão!!!), principalmente nas São Paulo Fashion Weeks da vida e nos papéis de protagonistas de filmes, novelas e afins...

sicário disse...

Sensacional!

Sou insuciente capilar, tb.não posssuo piscina. Já pensei em criar o Movimento do Sem Cabelo mas com a existência do movimento dos sem teto, acredito que os sem cabelo não terão futuro.
Parabéns pelo blogg

Francisco

@MauroVS disse...

Sou do grupo minoritário de Massa Corporal excedente, não possuo jetski e enfrento discriminação do mercado, pois estou entre o tamanho XXG e os tamanhos só encontrados camisaria Varca.

fejuncor disse...

Ou talvez conceder reserva de vagas aos estudantes afro-arianos budistas?

Kkkkk perfeito !!

Luís Cláudio Amarante disse...

Pelo menos "baixos" e "altos" podem ser diferenciados por critérios bastante objetivos. Já negros e brancos...

Interessante que muitos citam Obama para mostrar como o sistema de cotas deu certo nos EUA. Esquecem-se que o próprio Obama é contra as cotas raciais.

José Fagner Alves Santos disse...

A servidão já é inevitável.

Unknown disse...

Totalmente de acordo com vc, Rodrigo. Essa historia de cotas é um absurdo, um risco enorme para as liberdades civis. Valeu a ironia!
Mas nao duvide nao, meu amigo, pois, do jeito que as coisas andam, daqui a pouco teremos mesmo cotas para baixinhos?!

Everardo disse...

A compreensão da história do Brasil, a partir do seu sistema de colonização, precisa chegar a alguns que desejam entrar na universidade apenas porque são carecas, baixos, etc. Esses confessam o despreparo, mesmo que aleguem ironia no que dizem. A Maristela poderá entender que grande parte dessa incompreensão está realmente na mesma raiz do problema da educação no Brasil:á má qualidade do ensino.

fejuncor disse...

Nossa sociedade se assenta no privilégio. O alento é que a Economia de Mercado é subversiva numa Sociedade do Privilégio pois propugna a competição, a impessoalidade e a Meritocracia, e dispensa, tanto quanto possível a interveniência de um Estado cheio de vícios. Logo, sabemos qual a solução.

Como diz Gustavo Franco num excelente artigo: "Só uma verdadeiro e bem urdido Império do Privilégio consegue o prodígio de alijar a Economia de Mercado do sistema político-partidário, e nos impor 4 candidatos a desancar o que chamam de “modelo neoliberal”, cada qual propondo, em suas vestimentas, a extensão de novos Privilégios e o crescimento do Estado."