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segunda-feira, agosto 22, 2011
A tragédia do euro
Rodrigo Constantino, para a revista Banco de Ideias - IL
A escalada da crise européia coloca em dúvida a própria sobrevivência do euro. Será que Milton Friedman estava certo ao prever que a moeda comum não suportaria sua primeira grande crise? O livro “The Tragedy of the Euro”, de Philipp Bagus, ajuda a lançar luz sobre este debate.
Para o autor, existiam na época da criação do euro duas visões distintas da Europa. De um lado, a visão liberal clássica, que defendia a livre circulação de bens, serviços, capital e mão de obra. Do outro, a visão socialista, com foco na harmonização da regulação social, cuja padronização poderia ameaçar os trabalhadores de países menos competitivos.
A França, devastada após a ocupação nazista e seus fracassos coloniais, encontrou na Comunidade Européia um meio para recuperar sua influência e orgulho. Um Estado centralizado parecia adequado para sua elite governante, e uma moeda comum seria um importante passo nesta direção. A Alemanha, afinal, possuía uma arma muito poderosa que precisava ser desativada: o marco.
Com a criação de uma moeda comum, os países menos competitivos acabaram tendo problemas. É o pretexto perfeito para uma centralização de políticas fiscais, com harmonização tributária. Trata-se de uma forma de acabar com a competição entre governos, que força menos impostos. Todos acabam pressionados para elevar seus tributos ao patamar mais alto. O fim do euro, ao contrário do que alegam os alarmistas, não seria o fim da idéia européia; apenas o fim de sua versão socialista.
Bancos centrais inflacionistas representam o mais poderoso aliado de governos irresponsáveis. O Bundesbank era um obstáculo a esta política inflacionária na região. A Alemanha viveu o inferno da hiperinflação e aprendeu com a experiência. Seu banco central era a pedra no sapato daqueles governos sedentos por mais gastos, mas ávidos por quebrar o termômetro que mostrava a febre do doente. A desvalorização das demais moedas frente ao marco era humilhante. Era preciso se livrar da “tirania” do Bundesbank.
Uma moeda única controlada por um Banco Central Europeu (BCE) era a solução final para os governos com ambições inflacionárias. Esta solução representava a abolição do espírito e força do Bundesbank. Por isso seus principais membros foram totalmente contrários à criação do euro. E por isso seu presidente, Alex Weber, decidiu renunciar há pouco tempo, quando o óbito do Bundesbank foi finalmente decretado após o BCE rasgar sua tradição ortodoxa para salvar governos deficitários.
Hoje se discute um Euro Bond ou uma atuação ainda mais ativa do BCE na compra de títulos dos governos falidos. São eufemismos para uma “transfer union”, um mecanismo de redistribuição de riqueza dos mais produtivos para os mais ineficientes. O plano da moeda comum contou com o empolgado apoio de Jacques Delors, com longa carreira nas políticas socialistas francesas. Parece que seus ideais estão finalmente se tornando realidade.
O Tratado de Maastricht, assinado em 1991, teoricamente impediria posturas muito irresponsáveis dos membros do euro. O déficit fiscal não poderia superar 3% do PIB, e a dívida pública ficaria limitada a 60% do PIB. Estes limites foram ultrapassados com margem folgada, mas não houve punição alguma. Ao contrário, a pressão crescente é para que o BCE atue como salvador, usando sua varinha mágica inflacionária. A Alemanha foi seduzida a este acordo com o discurso ameaçador de que o euro era necessário para preservar a paz na região. O sentimento de culpa após o nazismo fez o resto.
Em suma, o euro é um projeto político, que visa à centralização do poder na região. Os alemães de classe média poderão ser obrigados a sustentar a farra dos gregos, italianos, espanhóis e até franceses mais irresponsáveis. Essa é justamente a visão socialista de mundo. E ela nunca deu certo.
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