quinta-feira, agosto 11, 2011

Um governo em dieta

por Dom Armentano (dezembro de 2010)

Podem os gastos de um governo federal, e consequentemente seu déficit orçamentário, serem de fato reduzidos substancialmente sem fazer com que o PIB entre em uma espiral descendente e o desemprego aumente a níveis extraordinários?

Social-democratas e economistas com simpatias keynesianas sempre argumentaram que reduções substanciais no gasto federal quando a atividade econômica está fraca (como atualmente nos países desenvolvidos) são medidas desastrosas. Será mesmo? Vejamos o que realmente aconteceu na última vez em que o governo de um país desenvolvido realmente reduziu seus gastos de maneira substancial.

O país é os EUA e o período é de 1945-1950. Tal período é (praticamente) um teste científico de uma hipótese keynesiana. Não obstante os repetidos alertas de vários economistas convencionais de que cortar gastos ao fim da Segunda Guerra Mundial traria de volta a Grande Depressão, o Congresso americano reduziu dramaticamente os gastos governamentais entre 1945 e 1950.

Os gastos do governo federal caíram de US$ 106.9 bilhões em 1945 para US$ 44,8 bilhões em 1950. Os gastos com defesa sofreram o maior corte de todos, caindo de US$ 93,7 bilhões em 1945 para apenas US$ 24,2 bilhões em 1950. Em apenas 5 anos, os gastos do governo caíram (em porcentagem do PIB) de 45% em 1945 para apenas 15% em 1950, e o déficit orçamentário anual do governo federal caiu de US$ 53,7 bilhões em 1945 para apenas US$ 1,3 bilhão em 1950.

Porém, o que aconteceu com a produção econômica e o desemprego? Não obstante as maciças transições econômicas por que passava a economia, que rearranjava sua estrutura até então voltada para o esforço de guerra para a produção doméstica, o PIB na verdade aumentou (confundindo todos os keynesianos) de US$ 223 bilhões em 1945 para US$ 244,2 bilhões em 1947 e então para US$ 293,8 bilhões em 1950. E mesmo com os milhões de soldados voltando para casa após a guerra, a taxa de desemprego ficou na média extremamente baixa de 4,5% entre 1945 e 1950. Desastre econômico? Dificilmente.

A história, obviamente, nunca se repete da mesma maneira, e 2010 não é 1945. Porém, uma coisa é clara: cortar os gastos e os déficits do governo federal americano no período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial não foi nenhuma obstrução à economia; longe disso. Com efeito, à medida que os gastos do governo e os controles de preço da época da guerra recuaram, a economia do setor privado expandiu-se robustamente e o desemprego permaneceu sensivelmente baixo. Os keynesianos, completamente errados na teoria, estavam completamente errados na prática também.

3 comentários:

samuel disse...

A diferença é simplesmente A RACIONALIDADE E EFICIÊNCIA DO INVESTIMENTO PRIVADO.
Investimento através do GOVERNO é simplesmente um desperdício. Exemplo: Investimentos do Ministério do Turismo do Brasil: 100% desperdiçado.

alexandre disse...

Esse dados do PIB americano estão em valores correntes ou nominais, influcenciados pela inflação. Sempre haverá aumento. Pelo PIB real, os valores de 1945 a 1950 foram : 1945 ( -1,1%), 1946 ( -10,9%), 1947(-0,9%), 1948(4,4%), 1949(-0,5%) e 1950(8,7%). ou seja, houve estagnação durante o período. Tem o link do fedstats com os indicadores do PIB de todos os anos dos EUA. Mas tem que levar em consideração o PIB real e não o nominal
abraço
http://www.bea.gov/national/index.htm#gdp

alexandre disse...

Não sou a favor do desperdício do dinheiro público e nem que o estado tenha sempre que gastar para crescer a economia. Mas infelizmente estamos numa situação onde o setor privado e os consumidores estão com receio de gastar. Nesse caso eu sou favorável a investimentos públicos que possam dinamizar a economia. Mas quando falo investimentos públicos não estou levando em conta ajuda a bancos e empresas. Eu defendo mais investimentos em obras públicas e investimentos sociais. Quando a economia se recuperar e o setor privado estiver com mais confiança na economia, aí pode ser feito alguns cortes nas contas públicas. Nesse caso dos EUA entre 1945-50 o corte abrupto levou a economia a uma queda na produção, como vc pode ver nas estatísticas do Fedstats