sexta-feira, setembro 23, 2011

O país dos feriados

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Lendo os jornais hoje para escolher um tema para este comentário, a lista de opções pareceu vasta: o agravamento da crise mundial com a queda abrupta dos mercados acionários; a “comissão da verdade” que busca revanchismo ideológico e não a verdade histórica; o discurso repleto de clichês da presidente Dilma na ONU; a questão Israel x Palestina que está na ordem do dia; o descaso dos hospitais públicos enquanto o governo demanda mais recursos para o setor. Todos eles assuntos sérios, que merecem comentários.

Mas fiquei com uma alternativa mais suave, talvez por ser sexta-feira. O editorial do jornal O Globo fala sobre a Lei Geral da Copa, que foi enviada pelo governo federal para o Congresso. Entre as providências para o país receber milhares de pessoas de forma razoavelmente organizada, consta a possibilidade de a União, o Distrito Federal, estados e municípios decretarem feriado nos dias de jogos. Como diz o editorial, a medida causa apreensão, pois sinaliza o “reconhecimento prévio de inaptidão do poder público, notadamente o governo federal, diante de um compromisso assumido com a sociedade”.

Este compromisso, vale lembrar, seria “aproveitar a chance histórica de utilizar o fantástico aporte de recursos no país, carreados pelo Mundial, para enfrentar com ações duradouras demandas urbanísticas e administrativas”. Claro que, em se tratando de Brasil, isso era apenas sonho. Eis o que teremos, na verdade: obras tocadas em cima da hora, com pouco escrutínio e muito roubo; elefantes brancos que ficarão sem grande utilidade após os eventos; e uma pesada conta pública para ser paga pelos “contribuintes”.

Ah sim, já ia me esquecendo: e teremos também os feriados, que o povo adora! Ao ler o editorial, pensei imediatamente em Nelson Rodrigues. O dramaturgo dizia que “o brasileiro é um feriado, temos alma de feriado”. E quem pode negar? Brasileiro gosta mesmo é disso: samba, futebol, domingão do Faustão e praia. Pelo brasileiro típico, o ano teria uns cem feriados! E não faltaria um economista keynesiano, com PhD e tudo, para afirmar que isso gera riqueza, pois estimula o comércio dos shoppings.

Era apenas esta a mensagem de hoje: o brasileiro é um feriado. E fico por aqui, pois milhares de brasileiros estão eufóricos com a abertura hoje a tarde do Rock in Rio, que tem de tudo, até mesmo um pouquinho de rock. Segundo Roberto Medina, organizador do evento, o público pode ficar tranqüilo, pois não deve chover. Quem afirma é o cacique Cobra Coral, que presta serviços até para a Prefeitura. O que me remete a Nelson Rodrigues novamente, para finalizar. Ele também dizia que o brasileiro é um povo extremamente religioso. Tão religioso que é capaz de manter umas cinco religiões simultâneas.

Façamos então uma macumba e uma reza para que o feriado nos dias de jogos seja aprovado, sem chuva graças às danças do cacique, e tudo com muito samba, se Deus quiser! Amém.

5 comentários:

Anônimo disse...

Recordo com saudade, os bons velhos tempos em que o Brasil era de facto um país religioso. O país trocou os valores morais pela "consciência trabalhadora". Para a Copa, vamos ter muitas celebrações petistas e no meio algumas foices e martelos. O apogeu da festa vai ser quando os petralhas cantarem o "Lula Lá" e quando o Lula chorar de emoção e disser "nunca antes na história deste país."

gustavosauer disse...

Anseio pelo dia que as religiões atuais vão todas fazer parte do que chamamos de mitologia (estudo das religiões que ninguém leva mais a sério).

Muito bom o texto, rodrigo. Os keynesianos realmente adoram feriados. Fazem o povo gastar seu dinheiro e mover a economia.

Mas pra que o Brasil seja considerado um país com muitos feriados, tem que ser relativamente a outros países. Pelo que já li, não confirmei ainda, o Brasil teria menos feriados que os EUA, por exemplo.

http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=5030

Anônimo disse...

Em resumo: país de merda, a cara do Lula.

GUSTAVO MIQUELIN FERNANDES disse...

É chegada a hora da nação decidir o que quer ser: o país do samba,das novelas (sem desmerecer a alta cultura), da prostituição, dos feriados, do futebol, das praias, OU DO PLENO EMPREGO, DA GERAÇÃO DE RENDA ENFIM DA JUSTIÇA SOCIAL.

Ou estaremos fadados a sermos o "eterno país do futuro"; dum futuro que nunca chega.

Anônimo disse...

"Pelo brasileiro típico, o ano teria uns cem feriados! E não faltaria um economista keynesiano, com PhD e tudo, para afirmar que isso gera riqueza, pois estimula o comércio dos shoppings. "

Faltou colocar a CUT nessa parte, com o seu discurso de que com menos horas de trabalho e mais feriados o brasileiro teria mais tempo para "estudar" e se profissionalizar.
Talvez a própria defenda uma espécie de bolsa-coçar-o-saco, onde o indivíduo recebe dinheiro do governo, nos dias de feriados, para "estudar" e se "profissionalizar".