Ótima entrevista nas páginas amarelas da revista VEJA esta semana, com o cientista político Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia Group. Seguem alguns trechos de destaque:
"O grande risco que as economias emergentes correm é cair na tentação estatizante. Existe sempre o perigo de, a pretexto da crise global, os emergentes se deixarem levar pelo ímpeto de intervir mais fortemente na economia. Como se sabe, a qualidade dessas ingerências cedo ou tarde se deteriora e elas passam a ser motivadas por interesses políticos e empresariais localizados ou, pior, por bandeiras ideológicas. É na interferência excessiva do estado que reside o maior de todos os perigos para os países emergentes. Nos momentos de crise, isso pode parecer justificável, pois tem-se a impressão de que há alguém no comando enfrentando a turbulência econômica. Nessas horas, a idéia estatizante fica ainda mais perigosa."
"Espero que as autoridades dos países emergentes resistam à tentação de ampliar seus tentáculos pretextando a necessidade de ter mais poderes para enfrentar a crise externa. Espero que segurem o ímpeto desastroso de instrumentalizar as estatais, os bancos públicos ou os fundos soberanos - e, o que seria ainda mais ruinoso, bulir com o destino das empresas privadas que recebem alguma forma de ajuda financeira do estado. Na crise, sob a justificativa de estimular o crescimento e criar mais empregos, esses movimentos podem parecer naturais e necessários. Mas são fatais. O capitalismo de estado desencoraja a competição e, por isso, é insustentável as longo prazo."
"O atual capitalismo de estado nada mais é do que a expressão nova do velho e arcaico nacionalismo. [...] O viés nacionalista é um elemento integrante da cultura nas nações hoje emergentes. Esse componente histórico torna mais fácil o trabalho de convencimento dos governantes que desejam intervir excessivamente na economia, oferecendo ao povo diversas modalidades de protecionismo. Isso precisa ser superado pelos países emergentes."
"Adotar a verdadeira economia de mercado é o único caminho que os chineses têm para continuar a enriquecer e a sobressair na competição global."
"Falta ao governo brasileiro uma reflexão mais aprofundada e menos ideológica sobre as consequências de optar por esse rumo intervencionista."
"Será que a ajuda estatal não acabará criando uma relação de dependência do setor privado em relação à máquina pública? Até que ponto as verbas do governo não criam um ambiente de negócios artificial, em que as empresas se tornam incapazes de sobreviver pelas próprias pernas? Para mim, existe um balizamento claro para todas essas indagações: o mercado livre das amarras do estado será sempre mais eficaz."
"O cenário é favorável. Mas o Brasil precisa se livrar de vez de anacronismos ideológicos que convergem para um aparelho estatal grande, pouco eficiente e burocrático. Só isso pode sabotar o avanço do Brasil."
E claro que a presidente Dilma está se esforçando ao máximo para tornar tal sabotagem uma realidade...
8 comentários:
Engraçado essa sugestão aos países EMERGENTES.
Não foi o governo dos EUA que colocou trilhões nos bancos privados para evitar o agravamento da crise?
Não seria melhor seguir a receita deste entrevistado, e deixar o mercado reagir naturalmente, mesmo correndo o risco de jogar fora o patrimônio e emprego de milhões de pessoas?
Sem contar as outras formas de intervenção dos governos nas economias desenvolvidas, como subsídios à agricultura europeia e estadunidense, que também criam uma "economia artificial", mas que serve para garantir empregos e competitividade a seus cidadãos.
É mais que natural que aqui se faça a intervenção do Estado para proteger SIM os interesses nacionais, ainda que haja críticas à MANEIRA como isso é feito aqui.
Estou esperando ainda um exemplo real (não artigos utópicos) que comprove a eficiência de um Estado não-intervencionista na crianção de uma nação competitiva, porque o exemplo das nossas economias desenvolvidas do planeta Terra sempre mostra um Estado TOTALMENTE intervencionista na defesa dos interesses nacionais.
Uma lei pra eles, uma lei pra nós? Como fica isso?
Hj li a seguinte notícia : ” Grécia não irá cumprir as metas de déficit público em 2011 e 2012″.Depois disso me lembrei de meus professores “esquerdista” e “doutrinadores” que diziam que em países com recessão, fazer pacote de austeridade fiscal para equilibrar o orçamento não adianta, é “enxugar gelo”. O ministro das finanças da Grécia explicou o porquê do não cumprimento : ” a recessão foi mais severa que imaginávamos”. Ontem leio na Folha de SP uma frase típica de um credor da dívida grega : “sou um operador de mercado, se enxergo uma chance de ganhar dinheiro, corro atrás. não é problema meu como vão sanear a economia”. Depois de tudo isso, vejo que meus professores esquerdistas estavam certos. E olha que a Grécia fez tudo direitinho que o FMI mandou, com demissões, privatizações e corte de gastos sociais. Agora quero ver a galerinha do FMI, liberais e escola austríaca que diziam que se a Grécia seguissem a recomendações deles (austeridade fiscal), ela iria sair dessa.
Alexandre, vc só pode estar brincando...
'Estou esperando ainda um exemplo real '
A liberdade nos EUA dos pais fundadores, que criou apenas o país mais poderoso e rico que jamais existiu, ta bom?
Tem tb cingapura, se for o caso...
Os EUA como exemplo de país que não pratica subsídios?
Você só pode estar brincando [2]
Os EUA seguem o liberalismo dentro de suas fronteiras, estimulam suas empresas nacionais. QUando se trata de colocar sua economia em contato com o mundo lá fora, são os maiores praticantes do criticado protecionismo (que é o assunto desse post.)
Lamentável é vê-los ordenando aos emergentes algo que eles não praticam.
A hipocrisia dos grandes já cansou.
Anônimo, a economia americana é uma das mais abertas do mundo. Veja por quanto chega um carro coreano importado lá, e compare com o preço que pagamos aqui. Veja isso para todos os demais setores.
Onde os EUA ainda praticam protecionismo é na produção de algodão e algumas outras commodities. Falar que são ricos POR CAUSA disso é uma besteira sem tamanho! São os piores setores deles, justamente por causa do protecionismo, que é sempre uma droga.
(Sou o Anônimo do 1º e do último post.)
Rodrigo, meu ponto aqui é mais amplo: o apoio governamental por lá se dá de diversas formas, em várias frentes.
Negar que essa proteção às empresas nacionais americanas não tem influência no sucesso deles também é besteira.
Óbvio que isso não explica tudo do sucesso. Tem fatores como a qualidade da educação (para os ricos) superior, mas essa também tem influência do governo, pasme!, e os outros já mencionados.
Sobre os carros coreanos, há que analisar quanto do capital dessas montadoras NÃO É americano. ;)
Estou lendo o livro do Ian Bremmer (entrevistado aí de cima) "O Fim do Livre Mercado". O título parece indicar no sentido oposto das conclusões do autor. É um excelente livro, mas eu discordo das premissas de que o entrevistado parte, principalmente aquela de que o livre mercado trouxe prosperidade para o mundo todo. Não trouxe, e para perceber isso basta uma passeada pelo Rio de Janeiro ou pelo sertão do Nordeste. O livre mercado só inseriu um mundaréu de gente no mercado de consumo, mas não diminui a miséria dos países periféricos.
Outro "problema" na análise dele, é que ele vê no mercado um fim em si mesmo, enquanto eu prefiro ver nele um meio. Assim, obviamente que ele se posiciona contrário ao dito "capitalismo de estado" que intervem fortemente nos rumos econômicos, já que intervindo, o Estado acaba comprometendo a eficiência e, assim, elevando os custos e preços suportados pelos indivíduos.
Enfim, eu acho que o mercado como meio, para ser eficiente, deve ser socialmente construtivo, ainda que economicamente não seja 100%.
Sobre a receita que ele sugere na entrevista, bem, obrigado mas no meu entendimento não serve para gente. Prefiro pagar mais caro num Hyundai e na gasolina e ter meu vizinho com condições dignas de vida do que levar vantagem nos preços e ter que conviver com a miséria humana ao meu redor.
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