segunda-feira, maio 08, 2006

A Sanção das Vítimas



Rodrigo Constantino

“Tudo que é necessário para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam.” (Edmund Burke)

No filme “V de Vingança”, que conta a história futurista de uma Inglaterra dominada por um governo totalitário, o rebelde, conhecido apenas por V, faz um pronunciamento público com uma passagem que marca a mensagem do filme, na minha opinião. Nesta passagem, o revolucionário, que luta sozinho contra o autoritarismo estatal, destaca que a culpa pela presente situação do povo é de ninguém menos que do próprio povo. “Se querem achar um culpado, que olhem no espelho”, é o recado do justiceiro. De fato, a maldade no mundo costuma ser possível somente pela sanção das vítimas.

Tal reflexão me remete ao presente momento brasileiro. Ainda estamos bem longe de um cenário caótico como o descrito no filme, que mais se assemelha às experiências socialistas mundo afora, onde as liberdades individuais foram totalmente extirpadas pelo governo. Mas o governo avança sobre o cotidiano do cidadão, assim como seus bens, com uma volúpia assustadora. E o que é mais preocupante: com seu consentimento! O caminho da servidão parece ser uma questão de escolha no país, com os próprios eleitores votando em partidos que pregam o aumento do poder estatal. Os galos querem que a raposa tome conta do galinheiro.

Não parecem suficientes as infindáveis lições de que o excesso de governo causa miséria e escravidão. As vítimas parecem não se importar com o fato de que o nacional-populismo fracassou em todos os países onde foi adotado. Modelos que concentram no Estado o poder de cura para os males do povo, normalmente criados pelo próprio Estado, geraram apenas desgraças. Governos dirigistas, fortemente interventores na economia, que pregam a “justiça social” acima de tudo, que apelam para o ufanismo patriótico, que prometem mais e mais sem focar nos custos, sempre representaram a causa primeira do atraso de uma nação. A América Latina é a prova incontestável disso. Mas com Hugo Chávez, Evo Morales, Kirchner e Lula no poder, parece que alguns povos nunca aprendem.

Dizem que cada povo tem o governo que merece. Seria uma outra maneira de falar que a culpa de um governo totalitário reside no próprio povo. Claro que muitos foram inocentes vítimas de uma carnificina injusta como a perpetrada por Stalin. Mas será que o ditador teria se mantido no poder por tantos anos sem um apoio de boa parte da população, ainda que contando com um regime de terror? O mesmo vale para Hitler. É evidente que o medo incutido pelos governantes nos leigos é uma poderosa arma de sedução. Um povo aturdido, em pânico, miserável e ignorante sempre será presa mais fácil para o oportunismo dos inescrupulosos. Mas será que, no final do dia, não está no espelho o reflexo do verdadeiro culpado? Toda ação gera uma reação. Quando o estado mental da vítima de uma ação maléfica é de letargia total, quando não aprovação masoquista, como culpar somente o ator da ação? Quando a covardia domina os bons, como culpar unicamente os maus? Os alemães que foram complacentes com os nazistas, os soviéticos que contribuíram para a causa comunista, todos esses merecem sua parcela de culpa.

Portanto, todos os brasileiros que defendem mais e mais governo, mesmo após tantas evidências do resultado terrível desse modelo, são culpados pela atual situação do país. Todos aqueles que ignoram os fatos disponíveis e pedem mais do veneno que assola o país merecem parte da culpa. Ignorância não é atenuante neste caso. Não há como alegar total ignorância quando tantas provas estão disponíveis para quem quiser vê-las. Quando um eleitor ignora o “mensalão” e vota no PT apenas porque está satisfeito com seu “bolsa-família”, está consentindo com o “rouba mas faz”. Quando um cineasta ignora o Ancinav e defende o PT apenas para garantir as verbas federais está autorizando sua escravidão, ainda que bem paga. Quando um jornalista ignora o CNJ proposto pelo PT e vota no partido em troca de cargos para parentes, está pedindo para ser escravo. Quando um funcionário público ignora que os elevados gastos públicos são insustentáveis e vota no PT apenas para manter alguns privilégios, está assinando embaixo de um modelo injusto e criador de miséria.

Enfim, quando alguém ignora o caráter autoritário do PT, o enorme esquema de corrupção arquitetado pelo partido, seu populismo demagógico, suas péssimas amizades, sua ideologia fracassada, fazendo vista grossa à todas as atrocidades cometidas pelo governo Lula, em troca de algum interesse imediato qualquer, merece ser culpado também pelo rumo do país. Afinal, está dando uma carta branca nas mãos de políticos comprovadamente corruptos e incompetentes, vendendo a alma ao diabo em troca de migalhas. Está estendendo o pescoço voluntariamente à guilhotina. Focando apenas no lucro momentâneo, está vendendo a corda que será usada para seu próprio enforcamento. Eis o que ocorre quando o caminho da servidão conta com a sanção das vítimas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo seu artigo!
Grande abraço,
Sandra patrocinio