quinta-feira, maio 18, 2006

Os Pacifistas



Rodrigo Constantino

Diante do pânico incutido pela escalada do crime, muitos correm para o refúgio do pacifismo. A decisão de enfrentar a violência de forma dura traz consigo riscos imediatos, e perdas no curto prazo são inevitáveis. Contemporizar com os criminosos garante um interregno de paz, passando a falsa sensação de solução dos problemas. No entanto, a complacência hoje é paga com a angústia de amanhã e com o sangue mais tarde. Com certos criminosos, não há diálogo possível.

A história tem muito a nos ensinar sobre o pacifismo e suas conseqüências para a criminalidade. Infelizmente, as lições não costumam ser vantajosas para a ótica do “paz e amor”. Para começo de conversa, o principal símbolo do pacifismo já foi criado pelos motivos completamente errados. Em 1949, o cartaz para o Congresso Mundial da Paz em Paris foi impresso com uma litografia de Picasso, que eternizou a pomba como símbolo da paz. Os patrocinadores do evento, paradoxalmente, eram os assassinos de Moscou. Os objetivos dos comunistas eram basicamente dois: poderiam dispersar a atenção mundial de Moscou e das atrocidades lá cometidas por Stalin; e forçariam uma associação simplista entre comunismo e luta pela paz. Enquanto ingênuos bem intencionados levantavam cartazes pedindo paz, seus financiadores executavam milhões de inocentes.

Os pacifistas costumam sempre pregar a saída diplomática para os problemas geopolíticos. Vestidos com a causa pacifista, os comunistas franceses exortaram os trabalhadores das fábricas de armamento a sabotarem seu trabalho e pressionaram os soldados a desertarem, quando os exércitos nazistas estavam a poucas semanas de ocupar Paris. Quando o inimigo despreza a razão e luta por uma causa fanática, ou quando já afastou de vez os vestígios de civilização em sua alma, a diplomacia é totalmente ineficaz. Conversar com Bin Laden, Hitler, Stalin ou Ahmadinejad não rende bons frutos. Com terroristas não se negocia.

Muitos pacifistas usam o caso de Gandhi como suposta prova de que a paz pode ser o caminho certo. Ignoram que do outro lado estava a Inglaterra, com uma população mais esclarecida e sujeita aos apelos da razão. Fosse um Hitler ou Stalin, Gandhi seria apenas mais um mártir morto sem bons resultados. Para quem dúvida, basta ver o destino do Tibete. Gandhi teria alertado que “olho por olho e a humanidade acabará cega”. Creio que faltou mencionar algo alternativo: “olho por nada e uma parte da humanidade acabará cega; a parte inocente”.

Não quero ser mal compreendido. Odeio violência com todas as minhas forças. Acho que seu uso é um último recurso, após o fracasso de todas as alternativas. Porém, não vou sucumbir ao mundo das fantasias, dissociado da realidade. Em certas ocasiões, lidando com certas pessoas, não existe outra opção que não a reação dura ou mesmo violenta. Ninguém vai oferecer rosas para um estuprador na iminência de um estupro. Não é razoável achar que há chance de diálogo com quem mata crianças deliberadamente. Chega a ser ridículo afirmar que a educação sozinha faria um animal que pratica genocídio virar um bom samaritano. O mundo real não é tão simples. Frutos podres existem e as causas são variadas. Quem não ataca as conseqüências dos atos bárbaros desses indivíduos está pedindo para viver num mundo caótico, sob o domínio do mal.

Entre os casos de sucesso no combate à criminalidade, temos a cidade de Nova Iorque. Seus métodos passaram longe da receita pacifista. A violência não foi controlada com apelos de homens vestidos de branco nas ruas. Tampouco foi resultado de ONGs pregando mais “direitos humanos” para os bandidos. Também não foi através do desarmamento de inocentes. A receita nova-iorquina contou com um decente aparelhamento da polícia, a aplicação do império da lei e uma política de tolerância zero com o crime. Nem mesmo os pequenos delitos sairiam impunes. Não haveria complacência nem acordo com bandidos. Apenas punição exemplar.

Eis o que anda faltando em nosso país. Não vamos oferecer rosas – ou aparelhos de televisão – para os criminosos. Vamos puni-los!

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