quarta-feira, maio 31, 2006

O Declínio de Porto Rico



Rodrigo Constantino

A revista The Economist trouxe uma interessante matéria sobre Porto Rico esta semana, mostrando a deterioração do quadro econômico do país. Porto Rico é território americano por mais de um século, e seu povo tem cidadania americana desde 1917. Esta proximidade com os Estados Unidos contribuiu muito para o enriquecimento do país no passado, mas a economia vem mostrando sinais de desgaste nas últimas três décadas. A culpa poderia ser encontrada no excesso de governo.

A renda per capita do país estava em US$ 12 mil em 2004, um bom patamar para os padrões do Caribe, mas menos da metade de Mississipi, o estado americano mais pobre. A taxa de pobreza era quatro vezes maior que a média nacional americana. Os “anos dourados” após a Segunda Guerra parecem ter chegado ao fim. Desde 1970, Porto Rico tem ficado para trás se comparado aos tigres asiáticos ou Irlanda, que tinha então uma mesma renda per capita. O governo americano assumiu um papel grande demais na economia local, e um agigantado “welfare state” tem prejudicado a dinâmica do país. As transferências federais para Porto Rico aumentaram drasticamente desde 1970, e ainda correspondem a cerca de 20% da renda pessoal na ilha. Algo como 30% dos empregos estão no setor público. Como lamentou o próprio prefeito de Aguadilla, Carlos Méndez, “tudo que querem é achar segurança apenas”. Ele completa que “não existe mais ambição, todos querem trabalhar para o governo”. Como o governo não cria riqueza, um país sempre encontra dificuldades quando muitos querem os privilégios do setor público. Afinal, quem paga a conta assume um fardo cada vez maior. E como resultado concreto disso, a renda per capita de Porto Rico vem caindo em relação a americana desde 1970, enquanto países mais liberais, como Cingapura, Taiwan e Irlanda, vem reduzindo bastante a diferença.

O excesso de controle estatal gera um efeito moral perverso. As pessoas passam a ver os bens e serviços disponíveis como “direitos naturais”, passando apenas a disputar pela via política mais e mais privilégios. O “welfare state” acaba criando problemas de conflito em vários níveis, forçando as pessoas a competir por suas parcelas de uma riqueza continuamente decrescente. A “necessidade” passa a substituir o mérito, e a liberdade individual cede espaço para mais e mais regulações e controles estatais. A responsabilidade do próprio sustento deixa de ser uma prioridade, pois os indivíduos consideram como certo que o Estado irá prover suas demandas. Como crianças mimadas, ignorando como a riqueza é de fato criada, os indivíduos exigem seus “direitos”, jogando a obrigação de produzi-los para os outros. O caso de Porto Rico, com suas mudanças nas últimas décadas, não é uma exceção. Podemos observar essas características até mesmo na Suécia e demais escandinavos. Alguns estão agora tentando adotar reformas mais liberais, devido ao fato desse modelo se mostrar insustentável no longo prazo. A mentalidade de que tudo que é desejado cabe ao Estado cria verdadeiros parasitas. Tivemos um caso esdrúxulo na Escandinávia onde um idoso entrou na justiça para exigir do Estado o pagamento de prostitutas!

A riqueza de uma nação é criada pelos seus indivíduos, e quanto maior a liberdade desses, maiores os incentivos para o trabalho e a conseqüente criação de riqueza. Indivíduos reagem a incentivos. O “welfare state” acaba reduzindo bastante os incentivos ao esforço individual, posto que a responsabilidade individual é substituída por uma sensação de proteção coletiva. No longo prazo, entretanto, trata-se de uma falsa proteção. O caso de Porto Rico apenas corrobora, entre muitos outros, com essa lógica. O país teria muito a ganhar se mudasse seu modelo, delegando novamente ao próprio indivíduo a tarefa do seu sustento. Afinal, a nação mais rica do mundo, da qual Porto Rico faz parte por acordo, foi criada justamente com esta mentalidade.

9 comentários:

Lisavieta disse...

Porto Pobre, cada vez mais miserável!
Guardadas as devidas proporções, o Brasil, de umas décadas pra cá, tb tem tendido a ter a sua população massissamente buscando a "estabilidade" de trabalhar no setor público.
Vide os formanos de hoje... a maioria entra em cursinhos para concurso.

Anônimo disse...

Excelente!
Infelizmente, mais uma vez podemos ver uma situação parecida no Brasil. Apesar da política de FHC ter sido longe de uma política liberal, comparado ao governo Lula, parece um paraíso liberal. O atual governo se esforça em sua busca pelo "Estado forte", aumentando absurdamente o número de servidores públicos e aumentando seus salários além do pensado.
Vale demais ler os exemplos sempre citados aqui. Só não vê quem não quer.
Parabéns!!!

Anônimo disse...

Vejo o exemplo de Porto Pobre, ops...Porto Rico e receio que coisa semelhante, que já acontece de certa forma no Brasil, se torne uma rotina.

Ainda mais se atentarmos para fato de que Lulla está nas alturas nas pesquisas e que foi um dos governos que mais inchou o estado. Eu tenho escutado todos os dias de recém-saídos da faculdade que estão procurando fazer concurso público e, o que é pior: já ouvi colegas dizendo que vão votar no molusco justamente pela promessa de mais empregos públicos.

Anônimo disse...

É de fato assustadora a realidade do Brasil hoje, andré. Imagine se tudo isso fosse expandindo numa bola de neve, com mais e mais empregos do governo (o que sempre garante alguns votos da classe média e alta), com o voto no PT das camadas populares garantido através de mais e mais assistencialismo; tudo isso sustentado por cargas tributárias cada vez mais altas, e cada vez mais desestimulando o empreendedorismo e expulsando potenciais capitães da indústria, até que um dia todos que realmente dêem uma mínima para esse país toquem o foda-se e se mandem. Aí o Brasil quebra de vez e a gente vira a Etiópia, uma bosta de país onde se paga impostos de uns 80%.

Anônimo disse...

é realmente assustador,Juliano. E se formos seguir a tendência da Aérica Latrina, Estamos indo exatamente na direção desse quadro catastrófico de que falas. Acabo de ver as últimas pesquisas para presidente e não vejo muitos motivos para ser otimista. Enfim, tenho esperanças de que o Brasil não siga o nível de bovinização de nossos "hermanos" vizinhos. Afinal, ainda temos uma evolução histórica diferente deles,uma economia mais desenvolvida. Só não sei até quando........

Anônimo disse...

Rodrigo, parabens por seus textos.

Tenho duvidas sobre as privatizaçoes do setor energetico. Se as privatizaçoes foram boas, porque, pelo menos em minha regiao ( Mato Grosso), a energia custa tao caro? Apoio sempre privatizaçoes, mas não entendo o porque desse preço.
Desculpe fugir do tema do artigo.
Obrigado,
abraços.

Rodrigo Constantino disse...

Ricardo, o setor elétrico foi privatizado em parte, e o grosso da geração ainda é estatal. Fora isso, é altamente regulado pelo Estado. E muitos querem o capitalismo "sem risco", com ajustes inflacionários automáticos para garantir o retorno. A crise da Califórnia, por exemplo, deixou claro que o problema foi não ter liberado TODOS os preços da cadeia. Privatização "meia bomba" dá nisso. A alternativa, o Estado controlando todo o processo, nos leva aos casos de Cuba ou URSS. Ou seja, apagões constantes. Privatizar ainda é a melhor solução, mesmo no setor elétrico.

Abraços

Anônimo disse...

Um dos motivos para que a luz elétrica seja cara é que o programa "Luz para todos" criou uma sobretaxa para a classe média, que consome acima, salvo engano de 120 KWH e, com essa sobretaxa, financia a quase gratuidade das familias que consomem pouco..ou seja,o governo, mais uma vez está fazendo caridade com chapéu alheio. Não culpe as privatizações, e sim o governo assistencialista

Anônimo disse...

Manerooou!