Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
terça-feira, dezembro 12, 2006
Imagine
Rodrigo Constantino
O romantismo sempre conquistou mais adeptos que a razão. Na tentativa de posar como nobre homem, muitos buscam monopolizar as virtudes, fugindo da necessidade de um debate sobre os meios factíveis. Um dos melhores exemplos diz respeito aos “pacifistas”, todos aqueles que pretendem monopolizar a defesa do fim nobre de um mundo pacífico, sem encarar seriamente quais os melhores métodos para se chegar lá. Ignoram que existem guerras necessárias ou justas, até mesmo para garantir a paz. Acusam todos os que não compartilham de suas idéias ingênuas de belicosos. A música Imagine, escrita e gravada por John Lennon em 1971, representa um excelente ícone desse romantismo.
O próprio John Lennon descreveu sua canção como sendo anti-religiosa, anti-nacionalista, anti-convencional e anti-capitalista. A letra foi inspirada em um desejo de Lennon de ver um mundo em paz. Mas curiosamente, os países que mais se afastaram do capitalismo foram os maios violentos. As nações socialistas iniciaram inúmeras guerras com outros países, fora o regime de terror adotado em casa, impedindo até que o próprio povo possa sair livremente. Os “pacifistas” ignoram que a própria pomba virou símbolo da paz por uma litografia que Picasso fez em 1949 para o Congresso Mundial da Paz, cujos patrocinadores eram paradoxalmente os assassinos de Moscou. A religião pode gerar violência sim, principalmente pelo fanatismo. Mas a URSS, formada por comunistas ateus, foi mais violenta que muitos países religiosos.
Analisando mais atentamente os principais trechos da música de Lennon, que virou hino dos “pacifistas”, podemos notar uma dose cavalar de ilusão, com total descaso da realidade dos fatos.
Imagine there’s no countries
It isn’t hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
Ora, nessa passagem o autor ignora totalmente que não é a existência de nações que fomenta as guerras e a violência. Nação foi um conceito relativamente recente na história da humanidade, e qualquer antropólogo sabe que as tribos primitivas eram tão ou mais violentas que qualquer nação possa ter sido. Uns literalmente matavam os outros, sem qualquer critério de justiça ou direitos humanos, conceito bem recente.
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
Nesse trecho a utopia cede lugar à hipocrisia mesmo. Afinal, eis um sujeito defendendo o fim das posses enquanto mora num caro edifício em frente ao Central Park em Nova Iorque, endereço nobre para qualquer padrão mundial. Temos inúmeros exemplos de socialistas defendendo a igualdade material enquanto desfrutam do que há de mais luxuoso no mundo. No Brasil mesmo vemos cantores famosos idolatrando Fidel Castro de suas mansões luxuosas, ou escritores de crônicas do cotidiano pregando o socialismo entre uma viagem e outra para Paris. No meu dicionário, isso tem um único nome, que é hipocrisia. Pelo visto, o problema não é a riqueza desigual, mas sim como ela foi obtida. Se for um milionário que prega a "igualdade material" de seu luxuoso apartamento não tem problema algum, mas já se for um empresário trabalhando para oferecer os produtos demandados que geram maior conforto para as massas, é pecado na certa.
Fora isso, essa visão tola ignora que a ganância não existe por causa da existência da posse, e sim é algo natural dos homens. Nos países socialistas ou em comunas israelenses, onde tentaram acabar com o direito de propriedade privada, a ganância e a inveja não deixaram de existir, nem de perto. E a fome aumentou. As nações socialistas foram máquinas de mortes por inanição. Por fim, fica a pergunta de como essas pessoas todas iriam "dividir o mundo todo". Não é por acaso que todas as tentativas de seguir no rumo socialista levaram ao despotismo.
You may say that I’m a dreamer
But I’m not the only one
I hope someday you’ll join us
And the world will live as one
Sem dúvida aqueles que abraçam esses movimentos “pacifistas” podem ser divididos basicamente em dois grupos: os sonhadores e os hipócritas. E Lennon, infelizmente, está correto quando afirma que não é o único. Pelo contrário: milhões e milhões preferem abdicar da razão e mergulhar na solução fácil, apenas repetindo que sonham com a paz e que seria maravilhoso se todos deixassem a ganância de lado. Atacam os inimigos errados, o capitalismo, a existência do lucro, da propriedade privada. ”I hope someday you’ll join us”. Não, obrigado. Eu fico com a razão. “And the world will live as one”. Sim, como um enorme formigueiro, que é o sonho dos socialistas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
mais violentos
“olho por nada e uma parte da humanidade acabará cega; a parte inocente”
Felizmente, como o próprio Lennon diz em God: The Dream is over.
As crenças do Lennon são compartilhadas por quase todos os membros daquela geração. Com diferenças de intensidade, a maioria dos "baby boomers" em quase todo o mundo foi (e ainda muitos vão) na mesma conversa do Lennon. Enquanto este pessoal estiver no controle nõs vamos ter muitos problemas.
Prezado Senhor.
Ainda que se eliminasse a posse da riqueza entre os homens restaria o Poder e a Glória para serem disputados. Parece que a visão economicista está acima da realidade social. O nosso ser psicológico tem demandas que a razão desconhece.
Léo G.
Parece que Lula já esqueceu Imagine e anda preferindo outra música dos Beatles: When I’m sixty-four...
Ele ataca até o Lennon para aparecer. Esse Rodrigo Constantino "Carvalho" é bom demais!
Eu gosto da música Imagine. Mesmo! A voz do Lennon na gravação está ótima.
Entretanto ouço-a quando eu estou dentro do meu quarto, tomando uma cerveja gelada, com o único intuíto de me embriagar e fugir da realidade.
Quem gostar de cervejas aos finais de semana (como eu) faça o mesmo. Mas faça quando vc já estiver ligeiramente embriagado, senão, ao som daquela melodia, você pode engasgar no primeiro gole.
olha só que interessante...
http://thiagomaschinezeit.blogspot.com/2006/12/imagine.html
Postar um comentário