terça-feira, outubro 28, 2008

Previsões Esquizofrênicas



Rodrigo Constantino

"O futuro está em aberto; não é predeterminado e, deste modo, não pode ser previsto – a não ser por acidente." (Karl Popper)

A mania dos seres humanos de tentar prever o futuro, de preferência exagerando para o bem ou para o mal, é no mínimo tão antiga quanto o Antigo Testamento. Mais recentemente, o nome de Malthus logo vem à mente quando pensamos em previsões pessimistas para o futuro da humanidade. Esta tendência não é exclusividade daqueles que antecipam um apocalipse. Muitos extrapolam uma fase de bonança também, imaginando um “novo paradigma” onde as crises seriam coisas do passado. Essas oscilações pendulares de humor são potencializadas no mercado financeiro, onde tudo parece acontecer mais rápido. O “guru” de Warren Buffett, Ben Graham, costumava dizer que investir é como ter um negócio com o Senhor Mercado, um maníaco-depressivo cujo humor oscila radicalmente entre medo e entusiasmo.

Nada disso é novidade. Durante o boom da década de 1920, vários “profetas” extrapolaram o cenário positivo, pouco antes do maior crash da história. O economista John M. Keynes teria dito, em uma conversa com Felix Somary em 1927, que não haveria mais crashes durante seu tempo. Myron E. Forbes, o então presidente da Pierce Arrow Motor Car Co, afirmou que não haveria interrupção alguma da prosperidade permanente da nação, no começo de 1928. O renomado economista Irving Fisher foi autor da infeliz declaração de que o preço das ações tinha atingido aquilo que parecia um permanente e elevado patamar. Ele disse isso em 1929! A Harvard Economic Society (HES) escreveu em novembro de 1929 que acreditava no caráter temporário da queda das ações, considerando uma depressão séria como algo improvável. Como fica claro, vários “especialistas” sucumbiram à tentação de colocar a esperança acima do realismo, e fizeram previsões otimistas que se mostraram totalmente infundadas.

Do lado dos eternos profetas do apocalipse existem inúmeros exemplos também. Em 1856, em plena crise econômica, Fredrich Engels escreveu para seu amigo Marx que ao longo do ano seguinte haveria "um dia de fúria como jamais ocorrera”. Ele previa que “toda a indústria européia irá ruir”, e antecipava “as classes proprietárias em apuros, completa falência da burguesia, guerra e devassidão ao enésimo grau". Desde então, vários marxistas antecipam o fim do capitalismo em cada nova crise econômica, apenas para ver seus sonhos esfarelarem uma vez mais. Como perguntou Thomas Sowell, por que ainda entramos em pânico quando escutamos previsões terríveis de grupos que estão no negócio de fazer previsões terríveis?

Várias pesquisas realizadas mostraram que os seres humanos de fato apresentam uma tendência a extrapolar o cenário atual, após algum tempo de ceticismo. Antes tem a fase de conservadorismo, onde os novos dados são vistos com desconfiança. E em seguida vem a fase de extrapolação do histórico recente, quando o caos parece ordenado num padrão conhecido. Isso normalmente acontece com os resultados trimestrais de empresas com o capital aberto. Quando uma seqüência de bons resultados ocorre, os investidores costumam levar algum tempo até incorporar essa tendência nas estimativas, mas uma vez feito isso, eles extrapolam a tendência até a perpetuidade. O resultado dessa característica demasiada humana costuma ser um aumento expressivo do volume negociado, justamente perto do topo dos mercados, quando a alta se torna exponencial. Muitos investidores abraçam tardiamente a tese de “novo paradigma”, e projetam uma contínua era de ouro. A ganância domina o medo, e quando o cenário é revertido, vários investidores são pegos em cheio na contramão.

Mas felizmente, o contrário também é verdadeiro. Após um período de pânico, onde o preço das ações despenca, muitos investidores jogam a toalha, abraçam o pessimismo e extrapolam o caos momentâneo. Alguns chegam a questionar a sobrevivência do sistema capitalista ou até da humanidade. Uma nova Idade das Trevas parece iminente. E justamente quando quase todos estão adotando esse tom catastrófico, as coisas começam a melhorar. As previsões escatológicas acabam refutadas uma vez mais.

Não é possível saber exatamente em qual ponto estamos atualmente. A crise sem dúvida é muito séria, a mais grave desde 1929. Acertar quando será o fim do poço é um exercício de pura adivinhação. O futuro é incerto. Mas uma previsão parece ser mais segura: não será o fim do mundo, nem do capitalismo. Não devemos levar tão a sério assim certas previsões esquizofrênicas demais.

Um comentário:

Gus disse...

Notícia interessante...

http://cio.uol.com.br/estrategias/2008/10/29/para-roberto-lima-crise-representa-ruptura-com-sociedade-industrial/