Rodrigo Constantino, O Globo
Em “A rebelião das massas”, o filósofo Ortega y Gasset descreveu o homem-massa como alguém que “só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações”. O perfil psicológico que ele faz deste típico homem moderno é o de alguém com livre expansão de desejos e a radical ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência. Em suma, a psicologia da criança mimada.
Qualquer um que assume a segurança econômica como um “direito”, age exatamente como uma criança mimada. Ignora como a natureza é hostil, e que todo o avanço material da modernidade era inexistente no passado. Um operário hoje tem mais conforto que muito nobre medieval. Basta pensar nas dificuldades de sobrevivência de Robinson Crusoé sozinho numa ilha – ou dos cubanos na ilha-presídio caribenha –, para se ter idéia do valor do progresso capitalista.
Sem a compreensão adequada desta realidade, muitos encaram o Estado como uma espécie de Deus, e exigem os bens modernos como “direitos naturais”. A mentalidade econômica predominante assume que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida. Basta o governo tirar de José e dar para João, e todos terão uma qualidade de vida confortável. Esta postura leva à hipertrofia da social-democracia ou, no limite, ao socialismo.
A contrapartida da liberdade é sempre a responsabilidade. Os jovens vão conquistando mais liberdade à medida que passam a assumir as rédeas de suas vidas. Já as crianças mimadas nunca aceitam crescer, e preferem viver sempre à custa do pai, eximindo-se das escolhas essenciais. Para muitos, o Estado se tornou esta figura paterna que vai cuidar de tudo. Tal como as crianças que não são realmente livres, pois a liberdade concedida pode sempre ser retirada, os cidadãos sob o paternalismo estatal se tornam dependentes do governo para tudo.
Liberdade não é o mesmo que poder. Um cego não deixa de ser livre por não poder enxergar, assim como ninguém é escravo por não poder voar. A natureza nos impõe limites. Quando falamos em liberdade, estamos pensando basicamente na ausência de obstáculos criados pelos próprios homens, ou seja, da coerção humana. Este conceito de liberdade não tem ligação alguma com aquele comumente usado pelas crianças mimadas. Para estas, liberdade é ter todos os seus desejos satisfeitos por terceiros, ter um escravo onipotente, um gênio da garrafa pronto para realizar sonhos num estalar de dedos.
O homem moderno deseja ficar “livre” de todo sofrimento, da angústia, da falta, do risco. Ele vive no vale das quimeras, onde basta demandar algo, que o Estado atende. Todos devem ter “direito” à moradia decente, emprego com bons salários, fartas aposentadorias, remédios grátis, em resumo, a uma “vida digna” mesmo que sem esforços. Ninguém liga para como tais anseios serão atendidos. A resposta é automática: o Estado! Bastiat resumiu bem a questão: “O Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo”.
Onde há demanda, haverá oferta. Com tantas pessoas agindo feito uma criança mimada, parece natural que os candidatos a “paizão” ou “supermãe” logo apareçam. São aqueles que Thomas Sowell chamou de “ungidos”, pessoas que se consideram clarividentes, detentoras de uma incrível benevolência, e de um conhecimento quase onisciente. Eles sabem o que é melhor para cada um, e sua meta é proteger o indivíduo de si próprio, cuidar do povo como um pai cuida de seu filho.
A simbiose entre crianças mimadas e governantes paternalistas produz um círculo vicioso, alimentando o infantilismo na sociedade e concentrando mais poder no Estado. O fascismo de Mussolini representa o ápice deste modelo. Tudo no Estado, nada fora do Estado. O cidadão é tratado como um mentecapto, incapaz de tomar decisões acerca de seu destino. Cabe ao Estado escolher por todos: que leitura é adequada para nossos filhos; quais remédios nós podemos comprar; quanto de endividamento cada família pode ter; e até qual tipo de tomada devemos usar em casa!
Enquanto esta simbiose não for quebrada, jamais haverá liberdade individual de fato. Responsabilidade quer dizer “habilidade de resposta”, e esta deve ser do indivíduo. Nunca teremos satisfação plena de nossos desejos, pois somos seres imperfeitos. Mas temos que assumir nossa responsabilidade, sabendo que as coisas não caem do céu – ou do governo. Reconhecer isso é o primeiro passo para o amadurecimento. A alternativa é ser uma criança mimada para sempre, dependente do “papai” governo para tudo.
24 comentários:
Constantino,
concordo em grau, gênero e número!!!
O paternalismo é o pior que pode haver, em todos os sentidos.
abraços de Maria Filomena
"até qual tipo de tomada devemos usar em casa!"
Realmente a mudança das tomadas é uma cereja no centro desse bolo. Muito bem lembrado!
Malditas tomadas! Só servem para encarecer o produto e gerar desperdício de energia por causa dos adaptadores.
Quem determinou o padrão das tomadas? Não acompanhei o caso brasileiro, mas acho que as indústrias opinaram. Padrões/normas técnicas são essenciais para a indústria.
Excelente!
Os presidentes que usam a formula que os grandes lideres religioesos usavam sempre têm mais chances, sobretudo num país de pessoas que andam muito carentes, e se encontram alguém que se importe e pareça as "proteger", se entregam de maneira irracional e inconseqüente.
ao anônimo que perguntou, lembro que a iniciativa da mudança de tomadas foi inteiramente do setor público - as indústrias e o comércio tentaram evitar a mudança, mas no final quem tem a caneta sempre vence.
Rodrigo, os vermelhos estão fazendo Flood no seu canal do Youtube na tentativa de convencer por meio do excesso de postagens... Isso é bem típico desta escória que não consegue conviver democraticamente com idéias divergentes. Sugiro que mande tais comentários para o lixo do cyberespaço, transformando-os em fragmentos de arquivos prontos para serem sobreescritos por coisas melhores. Abs.
Na frase "A mentalidade econômica predominante assume que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida." é bom que se faça algumas considerações:
1º Mentalidade Predominante de quem?!
Embora aqui se fale de uma mentalidade, foi esquecida outra.
Na verdade temos duas idéias distorcidas sobre as duas faces de uma mesma moeda (a produção de mercadorias):
1ª Tem pessoas que assumem que a riqueza não precisa ser criada, devendo apenas ser dividida, e a
2ª Afirma que a riqueza não deve ser divida, apenas criada.
Infelizmente, enquanto os socialistas vulgares defendem a 1ª opção, os capitalistas vulgares pensam apenas na segunda.
É preciso um terceiro termo, que harmonize estas duas fases da mesma moeda, a criação e distribuição de riquezas.
Ah! O restante do texto está muito legal. É isso mesmo que eu acho também, com a devida resalva ao ponto que eu mencionei...:o), ou seja, como dividir riqueza, sem apelar para o paternalismo estatal, ou como criar riqueza material sem extoquir tempo livre de uma grande massa de pessoas (imaginem 2 bilhões de pessoas trabalhando para gerar riquezas materiais em um tempo de apenas 28 horas semanais).
Ninguém precisa conciliar nada com socialismo nenhum.A única coisa que isso gera é miséria, políticos demagogos e serviços porcos feitos por funcionários públicos parasitas.
Brasileiro tem vocação para ser trouxa, DIGÃO. Enquanto mais metade da população aliena suas vontades e até sua dignidade em troca de nada, de ilusões, de migalha, “paizão” vai se dar 10.000 reais de aumento nesse Natal, pois é justo que “paizão” vote o próprio aumento de salário. Bem que o Tirirca disse: Cheguei com sorte.
Fejuncor, Isso aí é apenas para tirar o foco dos roubos maiores... salarios?...coitados de nós brasileiros, eles tomaram conta de tudo, agora entao, depois que descobriram as BOLSAS como grande capital para conseguir votos...e quanto mais esmolas, mais votos...
E o Lula foi hoje reconhecer a gente no cartório, somos filhos do Lula, reconhecido e tudo no cartório, vai ter é processo disso na justiça futuramente.
Quanto mais miserável o país , mais a política serve para enriquecer ou deixar mais ricos os políticos, cento e trinta e três porcento de aumento, para que um salário tão alto ? Eles vivem na faixa, presidente não gasta um centavo.
E quando deixam o cargo, recebem a aposentadoria neste valor p o resto da vida da familia !
E os otários se matando de trabalhar pra sustentar essa escória
Excelente este texto, Rodrigo, parabéns. Acredito q o governo não tenha a obrigação de prover as necessidades do cidadão, e apenas proporcionar q este tenha todas as condições de evoluir por seus próprios méritos e esforços. Hà milhares de famílias pobres, porém dignas e batalhadores, q jamais receberam algum benefício do Estado, por menor q fosse. E isso não os impediu de chegar onde chegaram, formando seus filhos, fundando empresas, construindo carreiras, etc. Como ocorre com as crianças mimadas, feliz exemplo do Rodrigo em seu artigo, também para os adultos, ganhos e perdas, alegrias e frustrações, são normais e necessárias ao crescimento de cada um. É, portanto, necessário q o homem tenha motivação, objetivos e recompensas, do contrário a sociedade se auto-extingue, como aconteceu em TODOS os países comunistas e socialistas do mundo, à exceção de Cuba. Sociedade parasitaria nao produz, mas ajuda a manter um sistema no poder, através da ignorância e manipulação, estratégia inescrupulosa de governantes megalômanos. Infelizmente, acho q já vimos (e estamos vendo) este filme.
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Ntsr, não sei se foi pelo comentário que fiz. Bem, mas se foi, eu não falei em conciliar socialismo com capitalismo...o que é um absurdo! Falei em HARMONIZAR criação de riqueza material com a distribuição de tempo livre para todos... onde eu falei em conciliação de socialismo?!
A criação e distribuição de riqueza é algo que se dá ao mesmo tempo. A riqueza não é criada para posteriormente ser "distribuida". Isso é um besteirol que persiste na cabeça de socialista.
O que precisa harmonizar são as graves diferenças de oportunidades que existem em nossa sociedade.
G.S.
Porque a população brasileira votou na corja comunista em massa?
Porque a propaganda paga pelos coronéis das capitanias hereditárias mandou votar assim.
Allan Kelvin, sua declaração mostra que você, no fundo, não entendeu nada. No capitalismo maduro, balizado por um sistema político democrático, a riqueza não precisa ser "distribuída" porque TODOS tem a liberdade de criar sua própria, essa é justamente a grande sacada.
Aliás, não é que não "precisa" ser distribuída; sequer se CONSEGUE distribuir riqueza.
1. A riqueza não é uma jazida de ouro localizada em algum lugar e dominada por um certo grupo. A riqueza, a princípio, não existe. O estado natural de TODO ser humano é a pobreza absoluta. Para existir riqueza, alguém precisa criá-la.
2. Tirar do rico o desestimula a continuar criando. Logo seca a fonte. Junto com ela, os eventuais empregos e todo o motor do cicli virtuoso do capitalismo.
3. Dar de graça ao pobre o desestimula a começar a criar por si próprio. Mata a fonte antes de ela nascer.
Podia continuar mas estou com preguiça, estude um pouco, que você já está no caminho certo.
E tempo livre também não se distribui,não é uma coisa que cai do céu.
Pessoal, gostei dos comentários. Acredito que tenha dispertado a reflexão. No entanto, observo que ainda se dá muita confusão sobre esse termo "distribuição". Gunar e o anonymous G.S. colocaram distribuição de riquezas!!! Eu não falei em distribuição e riquezas e sim de tempo livre!!!Falei em criação de riqueza material e distribuição de tempo livre, não de criação e distribuição de riqueza! O que é bem diferente. Ntsr fala que tempo livre não cai do céu?! e como se dá a construção do tempo livre?! Ele não existe?!
Mas sobre o que Gunar colocou:
1.Todo estado natural do ser humano é a pobreza absoluta?! Pode ser naturalmente, mas socialmente você jamais vai dizer isso a um filho de um Grande Banqueiro (pelo menos né). A lei não vai te permitir dizer que ele é pobre, pois a herança da familia é toda dele por direito. Alias, já dizia meu avô: pai rico, filho nobre, neto pobre.
2.A questão não é tirar do rico e dá ao pobre, deixemos isso aos robin woods de plantão, ou aos politicos parternalistas. O problema é muito mais o que G.S. colocou, dar iguais oportunidades para todos. O problema disso? Enquanto algumas pessoas podem ter tempo de sobra (tempo livre) para decidir o rumo da sua vida, uma imensa maioria não tem tempo livre para decidir muita coisa, pois precisa trabalhar dois e as vezes tres expedientes para dar o mínimo de conforto a seus familiares e a si mesmo.
Um ponto que se pode colocar aqui é (o outro lado da moeda): aquelas pessoas que não tem trabalho, indigentes, ou sem-tetos. Sim tem tempo livre de sobra, mas não produzem nada. Reflitam então: que quantidade dessas pessoas não trabalham por serem preguiçosas?! Elas não procuram emprego, ou não há empregos para elas? Como colocou G.S. faltam oportunidades para elas, mas então faço uma pergunta simples: quantos empregados uma empresa pode contratar?! Pode empregar quantas pessoas quizer, ou há um limite em que ela tem que se manter para evitar perder rendimentos?! Será que na nossa sociedade não existe um problema estrutural que a impede de dar oportunidades para TODO humano?! Como entao distribuir oportunidades igualmente para todos?!
Ah cada um é livre para criar sua própria riqueza, o problema aqui é que ninguem gera riqueza sozinho. Será que um industrial pode sair produzindo carros sozinho?! Será que um comerciante de mercantil pode atender todo mundo sozinho?! Cada um é livre para criar sua própria riqueza, muito bem, que cada empresário e banqueiro trabalhe só em sua industria e banco e gere sua PRÓPRIA riqueza sozinho. Pois será somente dele.
Lembrem-se não sou socialista nem comunista... Sou um pensador livre. Acho que temos muito preconceito aqui. Tanto dos chamados "esquerdistas" ou petralhas ou seja lá o nome ofensivo que se dê a eles e é claro, há muito preconceito por parte dos liberais, mas discutir exige reflexão e inflexão. Acredito que o liberalismo mostrou o problema do chamado "coletivismo", e isso é um grande passo. Mas esquece de analisar os problemas da sociedade atual, que ele considerada como a última sociedade humana, ou seja, não existe evolução possível, não existe alternativas, ou é capitalismo ou é barbarie (facismo, socialismo ou outro ismo). Na verdade, vive num utopismo sobre o capitalismo: que ele se torne liberal...Não, não é utopia é uma meta, se você quer se enganar mudando o nome da coisa para racionalizar o irracional, tudo bem. Sei que a raça humana pode muito mais, que o socialismo e muito mais que o capitalismo. Se antes dominamos a natureza para nossos fins, nos falta dominarmos nossa própria natureza, nós mesmos, para sermos naturalmente ricos, e não socialmente pobres.
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