segunda-feira, janeiro 16, 2012

Pérsio Arida na Folha

Trechos da entrevista de Pérsio Arida na Folha de SP hoje.

Foi um erro ter freado a economia no início do ano passado?
O desaquecimento foi intencional e necessário, e foi numa boa medida. A economia brasileira não cresce a taxas de 2010 -são insustentáveis.
Por quê? O normal é um crescimento baixo?
Uma taxa de crescimento muito acima do normal leva a sobreaquecimento, pressão inflacionária excessiva, gargalos de infraestrutura, falta de poupança doméstica. Hoje a taxa sustentável é algo em torno de 3,5%, 4% -que é o que deveremos crescer neste ano, se não houver percalço maior. Para crescer mais do que isso, precisaria ter mais poupança doméstica ou ter mais poupança externa.
Como o sr. define a política econômica? É desenvolvimentista, ortodoxa?
Do ponto de vista fiscal, a performance de 2011 foi melhor do que a de 2010. É um governo mais austero. Houve uma contração dos balanços do BNDES, o que é positivo. Por outro lado, tem uma tendência protecionista que não é ideal.
Por exemplo?
Automóveis. Está protegendo um grupo de multinacionais contra outro. É difícil de entender a racionalidade.
Emprego no Brasil não seria uma justificativa?
Não. As medidas protecionistas dificilmente têm justificativa. A tendência intervencionista tem que ser contida, pois faz um desacerto no longo prazo.
Mas todos os países adotam medidas assim.
Não existe país perfeito no mundo. Se outros erram, é problema deles. Há uma série de reformas estruturais que poderiam ser feitas em sistemas como FGTS, FAT etc. O Brasil tem uma trajetória preocupante em gastos públicos, que não é de agora. Teria muito a ganhar com contração de gastos públicos e desoneração fiscal. Sei que é uma plataforma impopular.
Qual o impacto do novo salário mínimo?
É desastroso. É uma superindexação. Tem um efeito prejudicial para os custos do trabalho, exerce uma pressão inflacionária e tem um efeito danoso sobre os Orçamentos de Estados e municípios e na Previdência.
Mas esse aumento não dinamiza a economia?
Não. A maneira certa de dinamizar a economia é diminuir taxa de juros e impostos.
A alta do mínimo não distribui renda?
Não. Provoca pressão inflacionária e aumenta os gastos. A melhor distribuição de renda é diminuir a taxa de juros, permitir o desenvolvimento do sistema de hipotecas no Brasil, reajustar bem o FGTS. Evita que os trabalhadores sejam roubados. Quer melhor distribuição de renda do que essa?

O sr. concorda com a linha do BNDES de estímulo aos "campeões nacionais"?
Não, mas entendo a racionalidade dela. Coreia do Sul e outros países a adotaram. Há setores onde há falhas do mercado. Ainda há horizontes de empréstimos relativamente curtos. Mas a análise tem que ser a partir das falhas de mercado, e não da constituição de grupos. Quem tem acesso ao mercado de capitais privado não deveria usar recursos do BNDES. É a visão liberal. Se o mercado não estiver falhando, não tem por que [conceder empréstimo].

Como explicar isso?
Existe um pacto entre Estado e grupos empresariais e elites no Brasil que é um pacto antiliberal. Liberal no sentido norte-americano, que é o da plataforma, cronicamente fraca no Brasil, da diminuição da intervenção estatal e das liberdades civis.
O Brasil tem muitas similaridades com os EUA, mas, contrariamente a eles, aqui o liberalismo foi sempre fraco. Se olharmos para a escravidão, o FGTS ou a hiperinflação, há um denominador comum: os mais prejudicados são os mais pobres, sempre. O país tem um pacto entre elites e governo antiliberal.
É um pacto a favor do Estado e que sempre se pautou por uma certa repressão de liberdades civis.
É um pacto contra os mais pobres?
Ninguém é contra os pobres. Pacto é feito para tentar beneficiar. Quando se fazem políticas protecionistas, créditos direcionados, privilégios a determinados grupos, quem está implementando e quem recebe benefícios genuinamente pensa que está fazendo o bem comum.
A fraca tradição liberal se expressa nas dimensões econômica e política. Isso se aplica também para liberdades civis. O caso da Comissão da Verdade é um exemplo.
Basta comparar com a reação da sociedade norte-americana à violação das liberdades civis em Guantánamo em pleno contexto do 11 de Setembro.

10 comentários:

Anônimo disse...

falou bonito!
so que perde bastante a credibilidade trabalhar onde ele trabalha (e no caso é socio tbm...)

reinaldo disse...

Sobre o aumento do salário mínimo, são oito anos de valorização e não vimos explosão inflacionária e nem aumento do desemprego e informalização. São fatos e não ideologia

Rodrigo Constantino disse...

Reinaldo, cuidado para não confundir correlação com causalidade. A informalidade não aumentou A DESPEITO do salário mínimo, pois o crescimento econômico foi forte (graças basicamente ao crescimento chinês e ao crédito). É preciso questionar, com lógica econômica, aquilo que não se vê. Ou seja, quanto teria caído A MAIS a informalidade se não houvesse tantas "conquistas" trabalhistas? Afinal, as conquistas existem faz tempo, e isso levou quase METADE da mão de obra para a informalidade no país. Fato. E lógico.

Cristiano disse...

É preciso entender que a legislação do salário mínimo afeta apenas um grupo em particular caracterizado pelos jovens e pelos trabalhadores não-qualificados.
Segundos dados do IBGE, a taxa de desemprego dos jovens (18 a 24 anos) foi de 36,5% em março/2002, 36% em março/2003, 36,1% em março/2004, 38,3% em março/2005, 36,6% em março/2006, 39% em março/2007, 38,8 em março/2008, 36,9% em março/2009, 35,3% em março/2010 e 34,3% em março/2011.
A partir dessas informaçoes, podemos observar que a legislação do salário mínimo e os sucessivos aumentos, acima da produtividade do trabalho, tem sim um impacto negativo no emprego dos jovens.

reinaldo disse...

O que levou a mais da metade do trabalhadores brasileiros para a informalidade foram as décadas perdidas nos ano 80 e 90. A lei existe desde os anos 40. Se fosse a legislação, a informalidade seria alta desde a sua vigência. E a verdade é que tem muito empresário que esconde sua incompetência com a desculpa da legislação trabalhista.

Rodrigo Constantino disse...

Putz! A culpa ainda é do empresário!!! Meu deus.

reinaldo disse...

Dê uma olhadinha nos processos trabalhistas e vc verá que boa parte do empresariado não é santo. É calote no FGTS, em salários, não assina carteira, não paga hora extra. Boa parte dos empresários não respeitam as leis trabalhistas. Boas ou más, são leis e devem ser respeitadas. Ou vc defende desobediência às leis de nosso país, incluindo as trabalhistas ?

Rodrigo Constantino disse...

Reinaldo, vc não está entendendo que há tanta informalidade e fuga da lei por causa dos abusos dela! Empresário não é santo aqui, nem na Alemanha! E o que faz ele pagar por fora aqui, e não lá, é o fato de que nossas leis são absurdas, inflexíveis e fora da realidade de nossa mercado de trabalho.

Nossa Justiça do Trabalho tem claro viés marxista, sempre encarando empregador como safado explorador e empregado como pobre vítima. Essa visão tosca aumenta justamente o CUSTO final do trabalho, prejudicando o trabalhador e as empresas (quem ganha são os sindicalistas e advogados).

Anônimo disse...

Concordo plenamente com a afirmação de que o FGTS é um assalto ao tabalhador !!

reinaldo disse...

Um dos princípios do direito do trabalho se chama "princípio da norma mais favorável" ao trabalhador. Esse princípio é universal e existe porque a relação entre trabalhador e empregador é desigual. O poderio econômico do empresário faz pender a "balança" para seu lado. Isso é óbvio. E dizer que as empresas não pagam seus encargos por causa da lei, é injustiça com empresas que pagam seus encargos legalmente. Se a lei é boa ou não, deve ser cumprida. Uns 90% dos empresários que burlam a legislação trabalhista fazem de má fé. E depois posam de vítimas.