segunda-feira, maio 29, 2006

A Auto-suficiência em Petróleo



Rodrigo Constantino

A Petrobrás, apesar de monopolista, tem gasto rios de dinheiro em propaganda recentemente, celebrando a auto-suficiência brasileira em petróleo. O país produz o mesmo que consome, ainda que o óleo aqui produzido seja de pior qualidade, fazendo com que tenhamos que importar petróleo mais leve. Quando o assunto é Petrobrás, as emoções costumam dominar a razão, e após tanta repetição, muitos acreditam de verdade na expressão “o petróleo é nosso”, mesmo que o “nosso” petróleo seja um dos mais caros do mundo. O “argumento” de setor estratégico também conquista muitos adeptos, ainda que estratégico mesmo seja ter comida na barriga, não petróleo. Vamos analisar esses pontos com maior atenção.

Quais são os países no mundo que conseguiram essa conquista da auto-suficiência em petróleo? Podemos começar pela Venezuela, que há décadas recebe bilhões de dólares pela exportação do “ouro negro”. O que isso fez pelo povo venezuelano? Não muito, posto que o desemprego é enorme, a população abaixo da linha de pobreza é muito grande e a renda per capita é baixa. A estatal PDVSA ganha muito dinheiro, mas quem vê a cor dele são os políticos e seus aliados. Outro país exportador de petróleo é a Nigéria. Creio que não há muito o que falar de um país cuja expectativa de vida do povo está abaixo de 50 anos, e a renda per capita não passa de mil dólares. A abundância de petróleo não parece ter feito muito pelo povo de lá também.

Em compensação, o Japão é um dos países mais dependentes da importação de petróleo do mundo. Mas possui o segundo maior PIB mundial. Na frente dele, apenas os Estados Unidos, outro país extremamente dependente da commodity. A China tem crescido em ritmo acelerado após reformas liberais, e também depende da importação do petróleo, assim como a Coréia do Sul. Cingapura não tem recursos naturais, mas seu PIB per capita chega a US$ 30 mil. A riqueza de um povo claramente não depende dos recursos naturais. Não é diferente no caso do petróleo.

Refutando o argumento de que a auto-suficiência em petróleo automaticamente gera benefícios para o povo, resta rebater o argumento de “setor estratégico”. Nada mais estratégico que o setor de alimentos, e no entanto o setor privado, em livre concorrência, representa o melhor mecanismo para satisfazer as demandas. Quando o Estado monopolizou este setor na URSS e China, tivemos milhões morrendo de inanição. Fora isso, nenhum outro país pode alegar que o petróleo é estratégico mais que os Estados Unidos. No entanto, lá temos dezenas de empresas privadas competindo livremente, incluindo estrangeiras. Gigantes privadas como a ExxonMobil, ChevronTexaco, ConocoPhillips, Marathon Oil, Occidental Petrol, todas competem no livre mercado em busca da maximização dos lucros. Não é por outro motivo que o setor funciona bem lá, enquanto vemos estatais como a Petrobrás virarem palco de corrupção, cabides de emprego, pressão política etc. Justamente por ser estratégico é que o setor de petróleo deve respeitar a livre concorrência de empresas privadas, garantindo maior eficiência e preços menores.

Muitos falam das conquistas tecnológicas da Petrobrás, líder em extração em águas profundas, mas ignoram o custo de oportunidade para tais conquistas. Não param para refletir como estaria a situação hoje se o setor contasse com várias empresas privadas competindo. Todas as empresas que foram privatizadas passaram por profundas melhorias, como a Vale, Embraer, CSN, Usiminas e Telebrás. A gestão privada é sempre mais eficiente. A competição força o aprimoramento da produtividade e a redução dos custos.

Por fim, temos que levar em conta a alternativa para o uso do capital do governo empatado na empresa. Governo não tem que ser empresário. O valor de mercado da Petrobrás oscila atualmente perto dos R$ 200 bilhões. A União Federal possui 32,2% do capital total, exercendo o controle acionário através de 55,7% das ações votantes. Supondo um prêmio de controle da ordem de 50%, normal em privatizações, a União poderia arrecadar cerca de R$ 100 bilhões com a venda do controle da Petrobrás. Essa montanha de dinheiro poderia ser usada para abatimento da dívida pública, hoje acima de um trilhão de reais. Isso economizaria algo como R$ 15 bilhões de juros por ano. O país continuaria auto-suficiente, teria provavelmente um preço do combustível bem menor por conseqüência da maior competição, e reduziria o uso político de um importante setor da economia. Todos os consumidores e pagadores de impostos teriam muito a ganhar. Isso sim, seria motivo de “orgulho nacional”. Não a auto-suficiência por si só, que como vimos, não garante nada de bom ao povo.

13 comentários:

Anônimo disse...

Só há um grande problema, vontade política...Nem direita e nem essa pseudo-esquerda gostariam de abrir mão dessa mamata

Anônimo disse...

Concordo 200% com vc. O unico problema, Rodrigo, eh que dinheiro nao tem carimbo. E assim como o governo FHC conseguiu queimar quase todo o dinheiro da privatizações segurando o cambio fixo, nao sabemos se o destino do dinheiro de uma eventual venda da petrobras iria realmente para abater divida (que, como vc falou, seria o melhor uso). Do jeito que nossa classe politica eh, corremos o risco do dinheiro sumir pelo ralo.

Rodrigo Constantino disse...

muito bem lembrado o alerta!

dinheiro não tem carimbo. esses políticos acabariam usando a grana para mais assistencialismo populista. tem que condicinar a venda ao abatimento da dívida, sem dúvida!

Anônimo disse...

Só o fato de saber que se a empresa fosse privatizada, deixaria de ser usada de forma torpe, como cabide de emprego político e outros esquemas bem mais ardilosos, já seria um enorme ganho para a nação. Não tenho a menor dúvida que se a "caixa preta" dessa empresa fosse aberta, seria um escândalo (mais um!). Outra coisa, alguém pode justificar porque ou para que uma empresa que tem o monopólio de exploração de petróleo no país, portanto sem concorrência, precisa fazer essa avalanche de propaganda na mídia (TVs, rádios, jornais)? Os verdadeiros motivos aviltam a inteligência de qualquer brasileiro isento e com QI médio !!

Anônimo disse...

quanta ignorância, a petrobras ja nao detem o monopólio a muito tempo.

Anônimo disse...

Somente uma mente neoliberal para pensar assim mesmo! Petróleo ou energia em geral é estratégico no mundo atual. Um pais emergente não pode abrir mão disso. Quais seriam os beneficios da privatização? Quanto os males, são muitos. Privatizar apenas para ser "cabide de emprego"? Fala sério! Hoje a Petrobras possui uma diretoria e conselho administrativo muito mais profissional que muita empresa privada e multinacional.

Anônimo disse...

Creio que a pessoa acima tenha trabalhado em diversas empresas do setor para tirar tais conclusões.

Anônimo disse...

Um sujeito que se diz economista argumentar que teríamos "um preço do combustível bem menor por conseqüência da maior competição", em decorrência da privatização da PETROBRAS e da entrada de outros agentes no país, é, no mínimo, medíocre. O raciocínio pífio parte do pressuposto errado de que a fronteira de mercado do nosso petróleo é o Brasil, não considerando o óleo como uma commoditie negociada MUNDIALMENTE, em um mercado oligopolizado e cartelizado. É óbvio que a redução nos custos de produção no Brasil não acarretá em redução no preço da commoditie. Creio que ser "economista formado pela PUC com MBA no IBEMEC" (aliás, que merdinha de pós, hein?)te possibilita ministrar aulas para seus amiguinhos, bebericando nos botecos da Zona Sul. Além de prepotente, és medíocre.

Anônimo disse...

André Luis Mota Novakoski: Ao ler as críticas depreciativas, mormente as de cunho coletivistas, neste e noutros artigos do articulista, deparei-me com um fato recorrente e bastante interessante: via de regra tais explanações não informam seu autor, i.e., são redigidas sob anonimato.

Quer-me parecer que nossos colegas coletivistas não tem a coragem de mostrarem quem são, especialmente no plano acadêmico.

De forma covarde e despudorada, agridem o articulista, censurando-o, chegando ao disparate de pretender desmerecer seus estudos acadêmicos, como se o título fosse mais importante que seu intelecto.

Utilizam, ainda, e em especial no lastimável comentário acima, um português de baixa qualidade, decerto fruto da preguiça mental - esta praga que assola nosso pais - desde a mais tenra idade.

Deixo, finalmente, de abordar o questão trazida à baila pelo articulista anônimo, pois logo se vê que o mesmo não reúne, como deveria, os adjetivos morais mínimos para receber uma resposta...

Jair Humberto disse...

falar que a Telebras passou por profundas melhorias, e que o preço diminuiu depois da privatização, aí é falar pelos cotovelos

Anônimo disse...

As empresas privadas que trabalham no ramo do petróleo têm os preços dos seus produtos alinhados com o mercado externo, o que não acontece com a Petrobras.
Recentemente apesar das subidas freqüentes do barril do petróleo no mercado externo, a Petrobras ficou 31 meses sem alterar os seus preços, perdendo assim uma receita adicional bastante considerável em bilhões de reais. Teve um reajuste recentemente de 10% na gasolina e 15% no diesel, o que ainda não cobre a sua necessidade de caixa.
E se considerarmos que o tributo que incide no preço por exemplo da gasolina é em torno de 53% ? E sabemos que os produtos gerados pela Petrobras têm um peso relevante no comportamento da inflação. Fica difícil concordar com o economista Rodrigo.

santelmo disse...

Como o Presidente tem a coragem de dizer que o pais e autosuficiente em petroleo tendo em vista o preço tao auto da gasolina ah e no pais vizinho do amigo do lula Hugo Chaves e so 0,08 centavos de reais o litro da mesma la o povo lava ate a calçada com gasolina e so analizar pra vermos quanto custa, em reais, e por litro, a gasolina em alguns países:EUA (Nova York) R$ 1,38, São Paulo R$ 2,45, Londres R$ 3,34, Tóquio R$ 2,25, Bagdá R$ 0,59, Caracas R$ 0,08Ah, e o Brasil ainda diz que e auto suficiente e eu ainda me mudo pra Venezuela viu.
*Depois desses dados a gasolina esta ainda mais cara
http://www.noticiasautomotivas.com.br/veja-os-precos-de-gasolina-ao-redor-do-mundo/#ixzz0QQOHTpR8« menos

Anônimo disse...

"Refutando o argumento de que a auto-suficiência em petróleo automaticamente gera benefícios para o povo"...hum

Faz acreditar que nenhum pais quer ser auto-suficiente em petróleo quando na verdade são dependentes por ter reservas insuficientes devido ao alto consumo e adorariam economizar os dolares da importação.

Vc provou que a auto-suficiencia em petróleo não leva AUTOMATICAMENTE a benefícios ao povo, mostrando que países autosuficientes como a Nigeria e a Venezuela não tem um povo muito beneficiado, mas esqueceu é claro de mencionar o Bahrein, Qatar, Arabia Saudita, etc...

Ser auto-suficiente é otimo para o pais, e para o povo brasileiro. E ficaria melhor ainda se este povo escolher bem seus governantes e manter um regime de liberdade, e corrigir seu sistema judiciário, e investir em educação, democratizar a informação, a comunicação, etc.