segunda-feira, dezembro 11, 2006

A Longa Noite



Rodrigo Constantino

“Pinochet simbolizou um período sombrio na história da América do Sul; foi uma longa noite em que as luzes da democracia desapareceram." (Presidente Lula)

Morreu o ex-ditador chileno Augusto Pinochet. Creio que ditador algum mereça absolvição por parte de quem luta pela liberdade. O general Pinochet deve ser condenado e ponto final. Dito isto, podemos deixar as emoções e a parcialidade de lado e partir para uma análise mais fria dos fatos. São basicamente três pontos relevantes que não devem ser ignorados com a morte de Pinochet: o contexto do seu golpe; o legado econômico; e a comparação com outros ditadores curiosamente idolatrados pela esquerda.

Comecemos pelo contexto do golpe em 1973. Salvador Allende era um revolucionário socialista que desrespeitava a Constituição chilena e lançava seu país no completo caos. Foi eleito com 36% dos votos, o que mostra que não desfrutava de amplo apoio popular. Em seguida, partiu para um aberto desrespeito às leis e às propriedades privadas. Com o tomas, avançou sobre as terras agrícolas e expropriou várias, incluindo o uso de violência. Usou brechas legais para infernizar empresas que estavam contra seu governo, montou uma espécie de guarda pessoal, aproximou-se de grupos revolucionários como o MIR, iniciou um programa de nacionalização de diversos setores da economia etc. Seu governo recebeu ajuda dos comunistas soviéticos para solapar de vez com a democracia no país. Allende, que enquanto ministro tentou adotar medidas nazistas como a eugenia, mostrou enorme desdenho pelas leis e pelo Congresso quando eleito presidente. Chegou a afirmar que o importante era a revolução socialista, não a verdade. E com suas medidas, jogou a economia chilena na completa miséria, com enorme desemprego e queda de produção, concomitante a uma galopante hiperinflação. Em resumo, eis o contexto do golpe, o que se não absolve Pinochet, serve como atenuante, posto que era isso ou o socialismo. Inexplicável mesmo é uma figura como Allende ainda ser visto como “guru” da esquerda. É preciso idolatrar muito mesmo o fracasso.

Fora isso, não há como negar o legado econômico deixado pela era Pinochet. Os “Chicago boys” foram chamados para reformar a economia, e várias medidas colocaram o país no rumo certo. Muito ficou faltando ainda para que o Chile fosse realmente um ícone do sucesso liberal, mas o choque dado já foi suficiente para transformar o país no melhor exemplo de estabilidade da região. A previdência, privatizada por Pinochet, é estudada pelo mundo todo como caso de sucesso. Da miséria total herdada da era Allende, o Chile passou para o país com os melhores indicadores econômicos após o período Pinochet. Tanto que quando veio a abertura política, os candidatos não ousaram mexer na “vaca sagrada”, mantendo o básico da trajetória econômica. Portanto, o julgamento do período ditatorial chileno serve ao menos para corroborar, uma vez mais, com a infinita superioridade do modelo de liberdade econômica vis-à-vis o intervencionismo estatal.

Por fim, o que é totalmente incompreensível é alguém condenar Pinochet pela ditadura mas aliviar o pior ditador de todos da vizinhança, o carniceiro cubano. Fidel Castro perde, e muito feio, simplesmente em todos os aspectos se comparado a Pinochet. Na ditadura chilena, foram mortos cerca de 3 mil pessoas, sendo que quase a metade logo no começo, numa guerra civil com comunistas. Não eram inocentes, na maioria dos casos, mas guerrilheiros tentando transformar o Chile em Cuba. Já na ditadura cubana, que ainda sobrevive depois de quase meio século, foram assassinados, por baixo, uns 20 mil inocentes. Isso para não falar dos que morreram tentando fugir da Ilha-presídio, algo inexistente no Chile, pois qualquer um poderia deixar o país livremente. Nos indicadores sociais e econômicos, o Chile de Pinochet dá uma lavada no regime cubano, onde a miséria é total. Fidel adotou um claro culto à personalidade, típico de ditadores socialistas, e trata o país como seu, pretendendo passar o poder ao irmão, enquanto o próprio Pinochet chamou eleições depois dos 17 anos no poder. Poderíamos continuar a comparação ad infinitum, mas o resultado seria sempre o mesmo: Fidel Castro é infinitamente pior que Pinochet em todos os quesitos. Logo, somente a demência explica alguém condenar Pinochet ao mesmo tempo que inocenta Fidel Castro.

No entanto, é justamente o que faz a nossa esquerda. Pinochet é a encarnação do mal, mas Fidel compete com os santos pelo seu lugar no céu. A esquerda não agüenta viver dois segundos sequer sem os dois pesos e duas medidas. Como pode o nosso presidente falar em período sombrio, em longa noite em que as luzes da democracia desapareceram, ao mesmo tempo que idolatra seu mui amigo Fidel Castro? Será que tamanha contradição não lhe incomoda nem um pouco? Se com Pinochet o Chile viveu uma “longa noite”, com Fidel Castro Cuba ainda encontra-se completamente submersa em uma eterna sombra, onde as luzes da democracia foram totalmente apagadas. Não obstante, a morte de Pinochet é celebrada pela esquerda, mas a de Fidel, que está por vir, irá gerar enorme comoção. Faz-se necessário o consumo de muito Engov para viver num país desses...

10 comentários:

Reginaldo Macêdo de Almeida disse...

Assim é esquerda! Contraditória, cínica e dissimulada.

Esse Gramsci deveria ganhar o Nobel póstumo, pela competência com que conseguiu empapar a sociedade com o romantismo da esquerda.

Temos que comer muito feijão pra poder contra-restar parte dos avanços desse pessoal, estudar muito os nossos pensadores, os deles, as suas atrocidades e publicar milhares de artigos em blogs.

Essa é uma luta assimétrica, sendo que começamos em desvantagem, porque nesse campo nunca lutamos.

Essa é uma luta que quem sabe os nossos netos vençam.

Anônimo disse...

Perfeita tua crônica.

Só espero ver estampada na capa do JB, assim que o Fidel Castro morrer o 'Já vai tarde!', que doi dado à Pinochet.

Ambos duraram demais!!!

Anônimo disse...

A questão é: qual a alternativa de Pinochet para combater os maníacos socialistas?
Deveria chama-los para conversar, tentar convence-los a não continuarem atacando fazendas e empresas, até com mortes de "burgueses" e "colaboracionistas" como já havia começado ainda com Allende?
Deveria manter a democracia que lhes permitiria destrui-la e implantar o que foi implantado em Cuba? Ora, se não endurecesse ocorreria o que ocorreu na Colômbia, onde as FARCs, entr outros, já produziram algo como 20 vezes as mortes sob Pinochet. Certamente lá os socialistas também assassinaram companheiros (justiçaram) sob suspeita de traição, como aqui. Mas esta parte não é mencionada.
O erro de Pinochet foi o silencio, o que prova que era um imbecil politicamente. As esquerdas sempre se entrehgam a um frenesi histérico verborrágico, acusador e com máxima visibilidade, para fazer com que as palavras se façam "a realidade". Mas o estúpido Pinochet não se valeu das palavras, agia e deixava que as esquerdas criassem "realidade" com o imenso berreiro. Uma covardia inominável que faz com que pretensos ditadores se apresentem como vítimas de ditaduras. Também, os bandidos que assassinam pais de família inocentes e indefesos, são grandes defensores dos seus direitos humanos, pois não respeitam os dos inocentes.
.
Sob Arafat foram mais pessoas mortas do que sob Pinochet, mas o terrorista Arafat foi incensado no mundo todo como herói ou pelo menos "gerreiro por seu povo".
As FARCs já mataram muiiiitas ves mais que Pinocfhet, e chegam a propor que estas se tornem um partido politico para disputar eleições democraticas.
O Hamas está lá, continua matando e não há condenação moral; eles são "guerreiros".
Quanto a Fidel, nem vale a comparação.
ENFIM, PARECE QUE O QUE MAIS SE FALA, MAIS SE EXIBE, É O MAIS VERDADEIRO.
...Já há muito o nacional-socialista Goebbels disse; uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. ...Mas Pinochet, imbecil, não sabia disso, e nada disse, numa abjeta anuencia silenciosa com o que seus adversários berravam, pois só isso podem fazer, já que tudo mais lhes falta.
É preciso considerar com mais frieza a alternativa de Pinochet. ...Uma FARC chilena? seria isso melhor, mais democrático? com 20 vezes mais mortes democráticas?
.
Em tempo, a expressão não era tão censurada. O sistema previdenciario foi criado por quem ousou fazer críticas a Pinochet, pois podia critica-lo nos jornais.
Abraços
C. Mouro
Abraços
C. Mouro

Anônimo disse...

estamos torcendo para que fidel seja o proximo

Anônimo disse...

Recentemente, em entrevista coletiva, Marco Aurélio Garcia, Chefe da Assessoria. Especial do Presidente da República, ao ser questionado se o brasil não deveria se unir aos outros países do mundo e pedir a abertura política de Cuba frente a uma eventual morte
do ditador Fidel Castro. Este foi enfático, afirmando que cabe ao povo cubano decidir os rumos de seu pais sem interfêrencia externa.
Com a morte do ex-ditador chileno Augusto
Pinochet, nosso ilustre lider declarou:
"simbolizou um período sombrio na história da América do Sul. Foi uma longa noite em que as luzes da democracia desapareceram, apagadas por golpes utoritários. Cabe fazer votos de que nunca mais a liberdade na região venha a ser ameaçada e que, em cada país, os povos possam sempre resolver em paz as suas diferenças"

É sabido do estreito relacionamento de nosso presidente com o regime cubano. Que moral tem um presidente que condena um regime totalitário ao mesmo tempo que venera outros, muito mais nocivos e violentos que o primeiro. Qual será a atitude de nossa casa civil na ocasião da morte do ditador cubano? Eis alguns numeros para refletirnos:
Os números, que abrangem o período de 1959 até hoje, retirados do livro "Livro Negro da Revolução Cubana" de Armando M. Lago
(presidente da Câmara Ibero-Americana de Comércio e consultor do Stanford Research Institute),traz alguns feitos do ditador Castro e seu braço direito "che guevara", ídolos máximos do "lulopetismo":

Fuzilados:........................5.621
Assassinados extrajudicialmente:...............1.163.
Presos políticos mortos no cárcere por maus tratos, falta de
assistência médica ou causas
naturais:.........................1.081.
Guerrilheiros anticastristas mortos em combate: ........................1.258.
Soldados cubanos mortos em missões no exterior:.... ..................14.160.
Mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga do país: .......................77.824.
Civis mortos em ataques químicos em Mavinga, Angola: .........................5.000.
Guerrilheiros da Unita mortos em combate contra tropas cubanas:.......... 9.380.
Total: ................................115.127
(não inclui mortes causadas por atividades subversivas no exterior).

A ditadura militar brasileira, segundo fontes esquerdistas, matou trezentas pessoas. Fulgêncio Batista, governo deposto pela revolução castrista, três mil. Pinochet, três mil. Some tudo, multiplique por vinte e obterá a medida aproximada dos elevados ideais humanitários do regime cubano.

Então, não se deixe enganar quando te disserem que comunistas comem
criancinhas, é pura mentira, eles mandam matar.

Rodrigo Xavier disse...

Rodrigo,

Excelente texto. 2006 é o ano da morte de ditadores latino-americanos: Stroesner, Pinochet, e daqui a pouco, Fidel.

Anônimo disse...

xavier: tomara hein, só faltam 20 dias.

Anônimo disse...

A maioria das pessoas que condenam os regimes militares, dizendo que foi um período sombrio, se esquecem que eles nos salvaram de um período infinitamente mais sombrio, e certamente muito mais longo.

Aqueles que ainda mantém o bom senso sabem que nos anos 60 a América Latina estava passando por um intenso processo de revolução marxista, que objetivava transformar o continente em uma Cuba gigante.
Em um ambiente desse, onde graças aos comunistas não existia a opção democrática, tivemos que escolher entre militares e comunistas, entre anos de chumbo e rios de sangue, como disse Roberto Campos.

Felizente escolhemos os militares.

Anônimo disse...

O general Pinochet conseguiu em 10 anos (1973 -1983) elevar o nível de desemprego de 4,3% a astronômicos 22%!!! Tudo isso com a ajuda da "Escola de Chicago" e suas bizarras teorias de laissez-faire. Pinochet liberou o mercado de qualquer freio regulamentador, aboliu o salário mínimo, eliminou direitos trabalhistas, minou a ação dos sindicatos e privatizou cerca de mais de 200 estatais e 65 bancos. E o resultado disso? Além do aumento do desemprego citado anteriormente, o número de pessoas que vivam na miséria subiu de 20% para 40% e o produto interno caiu 19%. Sendo que, o Chile só melhorou sua situação, quando o Governo do Gen. Pinochet resolveu ressuscitar o velho modelo do Estado de bem-estar social, ou seja, as velhas teorias keynesianas vieram botar ordem no caos criado pelas teorias de Milton Friedman. A partir de 1983 Pinochet ressuscitou o salário mínimo, aos poucos foi restituindo os direitos trabalhistas cassados nos tempos da Escola de Chigago, estatizou bancos e indústrias numa escala de arrepiar qualquer neoliberal e até mesmo restringiu a entrada de capital estrangeiro. Mas ainda assim o Chile vive até hoje as conseqüências dessa mal fadada experiência neoliberal, pois o Chile até o ano de 1998 ostentava o título de economia mais desigual do mundo; perdido nesse mesmo ano para o Brasil. Resumindo, o que salvou o Chile foram as políticas do Welfare states e não a panacéia neoliberal de Milton Friedmam. Porém, o Chile só é visto como prova de que o neoliberalismo é o melhor sistema do mundo pela seguinte razão: é aquele tipo de mentira que se torna verdade porque é repetido incessantemente. Nesse caso o Chile não é nem mesmo uma exceção à regra.

Anônimo disse...

A carpideira capitalista-neoliberal-fascista Otário enaltece as 'virtudes' do falecido 'defensor da liberdade'... e mente desesperadamente! A obra da concubina de Pinochet é conhecida no Chile. A História não mente. Resultados do 'milagre chileno' (expressão auto-laudatória criada por Friedman) que você louva:

Índice de desemprego: 1973 - 4,3%; 1983 - 22%
% da população vivendo na pobreza: 1970 - 20%; 1990 - 40%
1973-1990: queda de 40% do poder de compra dos salários
1982-1983: queda de 19% no PIB