quinta-feira, fevereiro 14, 2008

A Cidade da Música


Rodrigo Constantino

"Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?" (Legião Urbana)

As obras faraônicas do prefeito César Maia na Barra, para a construção de um complexo "cultural", já custaram, segundo matéria dos jornais, quase meio bilhão de reais. O orçamento inicial era de R$ 80 milhões. Em um bairro onde as ruas mais parecem queijos suíços, o transporte é caótico e pivetes intimidam os motoristas em cada sinal de trânsito, eis que o prefeito "blogueiro" resolve gastar uma fortuna com mais uma casa de espetáculos e centro de lazer. As prioridades estão completamente distorcidas. O prefeito, cria antiga de Brizola, mostra cada vez mais que não abandonou suas raízes. O carioca paga a conta.

O problema começa já no modelo político. O superfaturamento é a regra, não a exceção, no setor público. A razão é evidente: governantes gastam o dinheiro dos outros! Ora, quando cada um de nós entra num mercado, há uma preocupação total com o custo e o produto comprado, pois a conta sai do nosso bolso, e o benefício do bem é nosso. Quando vamos comprar um presente para um conhecido, a preocupação dos custos permanece, mas o produto a ser adquirido já não merece tanta atenção. Agora, quando gastamos o dinheiro de outros com outros, não há grande preocupação nem com o custo nem com a qualidade do produto. Eis a natureza dos gastos públicos. Um caso ainda pior é quando gastamos dinheiro dos outros para nós mesmos. Os custos explodem, pois não somos nós quem pagamos a conta, e o benefício é nosso. Os gastos em cartões corporativos do governo, especialmente da presidência, são prova disso.

Logo, a primeira constatação que podemos fazer é que gastos públicos tendem a ser irresponsáveis, gerar corrupção e não criar grandes benefícios a quem paga a conta. O dinheiro é da "viúva". Ninguém cuida bem de um carro alugado, que será devolvido em breve. Portanto, a magnitude dos gastos públicos deve ser mantida num mínimo necessário. Se o governo tivesse que focar apenas na segurança e nos serviços intrinsecamente públicos, com certeza haveria uma qualidade de vida melhor no país. No caso da Barra da Tijuca, o governo estaria focado na qualidade das ruas, no transporte público e na segurança, impedindo os pivetes de abusar do medo dos motoristas. O bairro seria outro, com certeza. Enquanto isso, temos um transporte caótico, falta um metrô para desafogar as avenidas, as ruas são totalmente esburacadas, e ainda temos um prefeito que resolve torrar meio bilhão num empreendimento totalmente desnecessário. Ali perto, há uma casa de espetáculos no shopping Via Parque. Cinemas não faltam na Barra, com o UCI e o Cinemark bem próximos do "elefante" de César Maia. Em resumo, não há nada que justifique a loucura do prefeito.

Não é racional contar com a honestidade dos governantes. Claro que quando aparece um governante maluco ou safado tudo piora, mas o foco deve ser limitar o escopo do governo. Somente assim os pagadores de impostos estarão mais protegidos, independente de quem chega ao poder. Os gastos públicos devem ser reduzidos, e as funções do governo devem ser bem limitadas. Como disse Hayek, "não é a fonte, mas a limitação do poder que o impede de ser arbitrário". Quando não há limites claros para o poder público, temos como resultado a Cidade da Música de César Maia, ou o governo Lula torrando nosso dinheiro em gastos pessoais com os cartões corporativos. A mentalidade do eleitor precisa mudar. Ele deve focar em quem será eleito, claro. Mas, acima de tudo, deve lutar para que qualquer governante tenha limites muito bem definidos para os gastos do dinheiro público. O Estado mínimo, defendido pelos liberais, tem justamente este objetivo. Mas o liberalismo passou longe do Brasil. Que país é esse?

7 comentários:

Anônimo disse...

Enquanto os policiais ganham menos de 1000 reais para morrer cumprindo a sua missão, César Maia esbanja 500 milhões com esse elefante.

Realmente, como o Rodrigo falou, a mentalidade anti-liberal, o "me ajude pois sou pobre-coitado", a impunidade e o governo do nosso país dão NOJO em qualquer um.

Estamos muito perto da escória do mundo, acima apenas dos países mulçumanos e das tribos indígenas!

Blogildo disse...

Essa é a vingança do César Maia por nós cariocas não termos permitido que ele fizesse o tão desejado museu Guggenheim.
E olha que o povo acha que o César é da direita.

Anônimo disse...

Rodrigo, não se esqueça que nós temos uma Câmara de Vereadores que, a princípio, se prestaria como contraponto ao nosso VirtuAlcaide, mas não faz nada, ou melhor, faz tudo que não devia.

São tantos os absurdos que nem vale a pena comentar, mas quem quiser rir e se indignar, pode dar um pulinho em http://www.camara.rj.gov.br/ e dar uma olhada nas Ordens do Dia que, por acaso está fora do ar há algum tempo.

Eu já esgotei meu latim falando sobre esse doido que nem se lembra mais onde morou. Outro dia, em seu ex-blog, ele localizou a Praça General Osório em Copacabana, tendo morado bem em frente a ela, em Ipanema, durante a sua juventude. Só para ilustrar.

Anônimo disse...

Adoro seus comentários econômicos. Sou seu leitor assíduo e prefiro esse tipo de artigo. Grato por esse espaço virtual.

Anônimo disse...

Falando em Câmara Municipal, a Gaiola das Loucas em 2007 gastou R$ 295.294.534,00, o que, divididos por 50 vereadores dá R$ 5.905.890,68. E foi o que cada um deles custou a nós em 2007. Ou:

R$ 492.158,00 por mês;
R$ 16. 181,00 por dia;
R$ 674,00 por hora é o que pagamos para CADA um deles!

Mas e o custo-benefício?

jjj disse...

O "jus esperneandi" é livre mas não resolve o problema! Ninguém aponta forma de mudar esta situação sem queimar pólvora ?
Eu penso que a instituição do voto facultativo realmente teria efeitos revolucionários. Alguém conhece casos reais da repercussão da mudança de sistema de voto obrigatório para facultativo em outros países ?

Thiago Tavares disse...

Olha. A verdade é uma só. Será? Sim, dinheiro publico mal administrado tem deixado um legado de falta responsabilidade não apenas na Barra mas em todo o Brasil. Não. Não defendo nenhum tipo de investimento super-faturado, se for provado, mas dizer através da "soberba da certeza única e plena" que não há um motivo sequer para ser
feito uma sede para uma orquestra que, desde sua fundação há 60 anos, vive de aluguel e esquecimento. Tendo um pouco de oxigênio devido a alguns políticos que enxergam alguma importância na música, uma orquestra que através de Projetos musicais como o Projeto Aquarius levando música a milhões de Brasileiros que são marginalizados de entretenimento desse tipo, Projeto do concerto para Juventude que faz com que apresentações no valor de 1 real LOTEM Teatro Musical do Rj, que tb está abandonado e será reformado somente um ano antes de seu aniversário de muitas décadas, e nenhum desses empreendimentos justificariam, por causa da surrealidade em que vivemos, algum investimento?? E os músicos então merecem respeito? Será? Claro que sim. Nenhum músico tapa buraco, protege crianças marginalizadas de trabalharem nas ruas ao invés de estarem estudando ...
Quando esse quadro de injustiça será sanado???
AHHH... até lá músicos e profissionais da cultura não merecem um trabalho digno? Mesmo há 60 anos trabalhando em um local através de favores, sofrendo o mesmo esquecimento que a população sofre de hospitais, pistas de trânsito bem asfaltada, dinheiro público bem investido.
Sabe estamos num caos.
E sua sentença de que não há motivo para ser feito uma sede da Sinfônica Brasileira, ou outra que seja,...ah..lembrei já tem muito cinema por ali, shopping centers...é sua cultura de entretenimento é muito abrangente e inteligente. Não conheço cinema que tenham projetos destinados a pessoas que possam pagar apenas 1 real. Mas para que?? Música erudita no Brasil não existe!!! Veio de FORA!!! Dos EUA provavelmente. Isso mesmo. Você mata o maior compositor das Americas, Heitor-Villa-Lobos?Conhece? Esse mesmo o do Canto Orfeônico!!! Que fez um projeto de Educação musical nas escolas Públicas. é..deveria ter feito um projeto de tapa buracos para ser respeitado. Para os músicos serem, lembrados! E não Marginalizados.
Temos o maior gênio do gênero de ópera das Américas também. Quem??? Carlos Gomes, conhece? Bom, outro mané que perdeu tempo.
Resumindo: não tenho a solução. Mas fica minha indignação, não com quem escreveu muitas coisas certas nesse texto apesar de ter esquecido, marginalizado uma classe trabalhadora inteira originalmente Brasileira. Por sinal essa classe existe desde a vinda da Côrte Potuguesa ao Brasil.Com os índios. Nãaaaooo. Com um mestiço afrodescendente chamado Padre José Maurício. Conhece???
Você não tem culpa do seu esquecimento dos músicos, ou melhor dos sonhos de uma classe inteira de possuir um lugar próprio para trabalhar dignamente. A culpa é dos maus políticos. Dos maus cidadãos. Da falta de conhecimento do real significado da palavra cultura, que pode ser popular ou erudita. De uma sociedade esquecida dos valores éticos e morais. E de tantas outras coisas que ficaram para trás...

Resumindo 2

Resumindo: não tenho a solução. Mas fica minha indignação, não com quem escreveu muitas coisas certas nesse texto apesar de ter esquecido, marginalizado uma forma de cultura importante sim para o Brasil. Por sinal essa cultura tenta se firmar desde a vinda da Côrte Potuguesa ao Brasil.Com os índios. Nãaaaooo. Com um mestiço afrodescendente chamado Padre José Maurício. Conhece???
Você não tem culpa do seu esquecimento de outras manifestações artísticas. A culpa é dos maus políticos. Dos maus cidadãos. Da falta de conhecimento do real significado da palavra cultura, que pode ser popular ou erudita. De uma sociedade esquecida dos valores éticos e morais. E de tantas outras coisas que ficaram para trás...