quinta-feira, abril 17, 2008

A Meta de Inflação


Rodrigo Constantino

"A autoridade tem que enfrentar a alternativa: ou aceita o mercado e suas leis como são, ou tenta substituir a economia de mercado por um sistema sem mercado, ou seja, pelo socialismo." (Mises)

A taxa básica de juros subiu 0,5 ponto percentual na última decisão do COPOM, sob uma nova chuva de críticas por parte do público em geral. Quando leigos no assunto olham apenas o efeito imediato e criticam a medida, podemos dar um desconto. Mas quando economistas e empresários caem na mesma falácia da miopia, levantando a falsa dicotomia de mais inflação e mais crescimento, aí temos muito o que temer. Afinal, a estabilidade dos preços e a maior previsibilidade advinda dela são fundamentais para o crescimento sustentável da economia. Esta confiança é o pilar que sustenta o crescimento a longo prazo, favorecendo o crédito e, acima de tudo, os investimentos produtivos. Eis os pilares que muitos querem derrubar, pedindo menor controle inflacionário para ter mais crescimento imediato.

Vários países parecem ter aprendido a lição de que o controle da inflação é fundamental. Inflação não é fruto da ganância de empresários ou nem mesmo de choques de oferta, que geram apenas mudanças relativas nos preços. Inflação é uma política, pois é sempre um fenômeno monetário. O padrão-ouro, com seus defeitos, servia ao menos para controlar a fome insaciável dos governos. Com as moedas fiduciárias sem lastro real, esse controle foi perdido, e a década de 1970 mostrou os enormes riscos disso. Os pobres são os que mais sofrem com o "imposto inflacionário". O mundo evoluiu então para uma espécie de meio termo, com as moedas fiduciárias, mas com bancos centrais mais independentes, com autonomia para o mandato de controle da inflação. Foi uma evolução saudável após o fracasso dos governos irresponsáveis, que custaram milhões de empregos e muita destruição de riqueza.

Nesse contexto estão inseridos diversos países desenvolvidos e até alguns emergentes. A Zona do Euro, por exemplo, conta com uma meta implícita de 2% para a inflação, e a independência do banco central é garantida, nas tradições do Bundesbank. Os Estados Unidos possuem o Federal Reserve, banco central independente e que trabalha com meta implícita de 2% também. A Suíça vai na mesma linha, com meta implícita de 2%. O Canadá possui uma meta oficial de 2%, assim como a Inglaterra e a Suécia. Entre os países menos desenvolvidos, o Chile possui uma meta oficial de 3%, a mesma da Hungria, Coréia e México. A Noruega trabalha com metas oficiais de 2,5% para a inflação, a mesma da Islândia e Polônia. O Brasil, que ainda não tem, por lei, um banco central independente do governo, utiliza uma meta inflacionária de 4,5%, e uma banda entre 2,5% e 6,5%. Como podemos ver, os principais países do mundo objetivam uma inflação perto dos 2%, e garantem autonomia para seus bancos centrais buscarem tal meta. No Brasil, que já possui uma meta maior e não conta com a independência do banco central, ainda há uma pressão enorme para menor controle, permitindo mais inflação, na falsa crença de que isso gera maior crescimento. Estamos muito atrasados no debate econômico!

Na verdade, o maior aliado do crescimento econômico é o investimento produtivo, e este é conseqüência, basicamente, de um ambiente favorável aos negócios. Isso quer dizer boa infra-estrutura, baixa carga tributária, flexibilidade trabalhista, abertura comercial e ampla liberdade econômica, de forma geral. Em outras palavras, tudo aquilo que o Brasil não oferece! Por isso convivemos com baixas taxas de investimento, sempre inferiores a 20% do PIB. O principal responsável por isso é o governo, que arrecada muito imposto, gasta demais e ainda controla muito a economia, através de uma burocracia asfixiante e infinitas leis inúteis. Para um crescimento maior e sustentável, o país precisa de uma drástica redução nos gastos públicos, das reformas tributária, previdenciária e trabalhista, e de investimento em infra-estrutura, de preferência através do setor privado. Em suma, se o governo sair um pouco da frente e deixar mais espaço para a iniciativa privada, o país avança.

Enquanto isso não ocorre – e parece fantasia esperar algo positivo do governo Lula nesse sentido – não resta outro mecanismo para debelar a inflação além da taxa básica de juros. Como o economista Paulo Guedes muito bem colocou, atacar a inflação com um único instrumento é como fazer cirurgia de córnea usando uma britadeira. O banco central brasileiro, sem independência legal mas com algum grau de autonomia na prática, vem fazendo o dever de casa, mesmo contra todo o barulho contra. Joga no time adversário pois o governo não ajuda onde deveria. O governo Lula tem sido terrível em quase todos os aspectos, mas não podemos tirar seu mérito de manter a autonomia do banco central. Em vez dos empresários e esquerdistas condenarem a entidade, deveriam voltar suas energias para o ataque aos gastos excessivos do governo. Já passamos da fase de acreditar em contos de fada, como se a caneta milagrosa do governo fosse capaz de criar riqueza, como se fosse possível gerar crescimento marretando a taxa de juros para baixo. O juro é um preço e não pode ser manipulado ao bel prazer do governo sem graves conseqüências.

Muitos preferem usar a taxa de juros elevada como bode expiatório para nossos males, em vez de focar no cerne da questão. O dilema não é aceitar mais inflação para ter maior crescimento. O dilema é entre um crescimento sustentável ou um vôo de galinha. Para seguir pelo primeiro caminho, faz-se necessário um rígido controle da inflação, através de uma meta baixa a ser obtida através de um banco central independente. A taxa de juros mais baixa será resultado de um governo responsável, que gasta menos do que arrecada e não atrapalha tanto a iniciativa privada. Ou seguimos essa trajetória racional, ou ficaremos sempre reféns das maluquices de economistas que acham que riqueza se cria por decreto estatal.

5 comentários:

Anônimo disse...

Controle de preços? Como assim?

Anônimo disse...

50 pontos percentuais? ou 0,50?

Unknown disse...

Pelo menos esse é um post que não vai encher de comentários de comunistas..

André Barros Leal disse...

o que o governo gasta face ao que investe é uma verdedeira piada! mas o que se apresenta como uma irritaçao permanente é o governo sendo passivo à inflaçao, quando é exatamente ele que pode ser proativo frente a essa questao, reduzindo gastos.

Anônimo disse...

"Para um crescimento maior e sustentável, o país precisa de uma drástica redução nos gastos públicos, das reformas tributária, previdenciária e trabalhista, e de investimento em infra-estrutura, de preferência através do setor privado."

Este negócio de reforma da previdência é pura bobagem, não tem nada que tirar o direito de se aponsentar de quem deu duro a vida inteira. O que deve ser feito é acabar com esta política assistencialista FDP e parar de fazer caridade com a grana dos outros. Concordo que o ideal seria uma previdência em regime de captação individual ao invés desta cretinice distributiva que é o que realmente está destruindo o Brasil, porém, acabar com o direito a aponsentadoria digna, além de oportinismo e charlatanismo, reflete o espírito de inveja e mediocridade advindo de uma educação pobre e esquerdizada que ainda encontra "ranço" em algumas mentes que se definem como privilegiadas. Enquanto os formadores de opinião não se livrarem do mau caratismo e do discaso em relação ao mal que pode se suceder ao próximo, bem como seus sentimentos, o Brasil não irá para frete. Pelo visto andaremos como caranguejos muito tempo ainda...

Ps. Para falar a verdade, o verdadeiro problema do Brasil é o povo brasileiro, este povinho de bosta onde é cada um por si, no final - todos perdem.