Rodrigo Constantino, Jornal Valor Econômico
A Irlanda está no radar dos investidores como a bola da vez na crise mundial, que ainda parece longe do fim. O pequeno país europeu foi arrastado pelo estouro da bolha imobiliária, que afetou inúmeros países do mundo todo. Seu caso mostra os enormes riscos que o excesso de crédito pode gerar mesmo numa economia saudável.
O país já foi visto como o "patinho feio" da região. Após uma série de reformas liberalizantes, o quadro mudou radicalmente. Os impostos corporativos foram cortados para 12,5%, um dos menores do mundo. A abertura comercial trouxe bastante investimento estrangeiro, modernizando o parque industrial.
O setor de tecnologia se fortaleceu muito com a vinda de multinacionais, tornando o setor agrícola menos relevante. A burocracia foi reduzida: para abrir uma empresa eram necessários poucos dias. As leis trabalhistas ficaram flexíveis. A corrupção é percebida como mínima.
De 1995 a 2007, a média do crescimento econômico ficou em 6% ao ano. Os quase cinco milhões de habitantes passaram a desfrutar de um dos melhores padrões de vida do mundo, com renda per capita superior a US$ 40 mil, expectativa de vida acima de 80 anos, mortalidade infantil abaixo de quatro mortes para cada mil nascimentos, e a erradicação do analfabetismo. Muitos passaram a se referir a Irlanda como o "tigre celta". Parecia um "milagre econômico", ainda que nada houvesse de milagroso em seu sucesso. Era apenas a adoção de medidas reconhecidamente benéficas.
Mas tudo veio abaixo com o estouro da bolha imobiliária em 2008. O PIB irlandês caiu mais de 10% em 2008 e 2009 somados. O setor bancário implodiu, forçando a intervenção do governo por meio da "National Asset Management Agency" (NAMA), que iria comprar ativos dos bancos para evitar uma catástrofe ainda maior.
As medidas de resgate do setor financeiro fizeram o déficit fiscal explodir para mais de 30% do PIB em 2010. Ao contrário de seus pares no chamado PIIGS, a Irlanda não foi vítima de uma crise do modelo de "welfare state", mas sim da perda de controle do setor financeiro.
Com a enorme competitividade da Irlanda e a bonança do crescimento mundial antes do estouro da bolha, os bancos irlandeses conseguiram acumular elevados lucros através da acelerada expansão de crédito.
Em boa parte, isso ocorreu devido à crença de que haveria socorro do governo em caso de crise, aquilo que os economistas chamam de "moral hazard". Os banqueiros ficaram mais ousados na certeza de que os lucros seriam privados, mas os prejuízos seriam socializados.
Além disso, o sistema de reservas fracionárias permitiu uma verdadeira bolha de crédito, criando por tabela uma bolha imobiliária. A alta no preço dos ativos imobiliários tornava as garantias dos empréstimos melhores, estimulando ainda mais a bolha. Quando esta estourou, os bancos insolventes enfrentaram imediatamente problemas de liquidez.
Os bancos começaram a cobrar seus financiamentos, os especuladores precisaram vender desesperadamente suas casas, e isso adicionou mais lenha à fogueira deflacionária. Em suma, um típico ciclo de "boom & bust", como tantos outros.
O caso irlandês mostra, uma vez mais, como é perigoso um sistema bancário com possibilidade de expansão creditícia quase ilimitada, garantida pelo "emprestador de última instância", o banco central. Os economistas da Escola Austríaca, com isso em mente, se dividem em dois grupos: aqueles que defendem a desestatização da moeda, ou seja, um livre mercado para a emissão de moeda privada, fugindo assim do monopólio do governo no setor; e os que pregam um retorno ao padrão ouro, obrigando os bancos a emprestar somente de acordo com a poupança efetiva depositada em seus cofres.
Ambas as soluções parecem distantes de nossa realidade. Mas o alerta feito pelos austríacos continua válido: sempre que os bancos puderem expandir o crédito sem respaldo algum nos depósitos, isso irá produzir bolhas especulativas seguidas de depressões econômicas. Como disse Mises: "Não há meios de evitar o colapso final da expansão econômica provocada pela expansão do crédito. A alternativa é apenas se a crise deve chegar mais cedo como o resultado de um abandono voluntário de mais expansão de crédito, ou mais tarde, como uma catástrofe final e total do sistema monetário envolvido".
Não custa lembrar que o Brasil passa por um acelerado ciclo de crédito. É verdade que ele parte de uma base ainda reduzida. Mas que a desgraça que assola os irlandeses sirva de alerta para evitarmos tal destino.
3 comentários:
É a política. Na política não ha santos, mas precisamos votar em quem ao menos ainda se importa com o povo um pouquinho. Que tenhamos melhores candidatos para as próximas eleições,isso depende de nos também!
Um pais que espalha pelos noticiários sobre sua boa economia não deveria tratar tão mal sua população, Países como a Irlanda, a Inglaterra, os EUA estão em grande crise, e entretanto o povo não sofre nem vive nas ruas esmolando. Acorda Brasil!!!
Quando eu digo que o crescimento do mercado brasileiro é artificial, baseado em concessão de créditos excessiva, ninguém acredita. Eis a prova.
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Banco Central acaba de determinar que os financiamentos de carros ficarão mais difíceis agora. Contratos de mais de 24 meses terão de contar com entrada. Por exemplo, financiamentos com prazo entre 24 e 36 meses tem que ter entrada de pelo menos 20%.
Acima disso, até 48 meses, a entrada terá de ser de 30%. E até 60 meses a entrada sobe para 40%. Todas as vendas de veículos com prazo superior a 60 meses terão restrição, independentemente da entrada. Para restringir essas operações, o BC vai exigir que os bancos façam uma reserva de capital 50% maior para garantir esses empréstimos.
Hoje, para cada R$ 100 emprestados, o banco precisa ter uma reserva de R$ 11. Nos financiamentos que o BC classificou como de ‘prazos muito longos ou garantias insuficientes’, o valor da reserva sobe para R$ 16,50. Isso significa que, se o banco fizer essas operações, terá menos recursos para emprestar.
E este tipo de regra não foi adotada apenas para financiamentos de carros. Empréstimos consignados acima de 36 meses e crédito pessoal ou aquisição de bens acima de 24 meses também foram afetados. A medida vale somente para novos empréstimos, concedidos a partir da próxima segunda-feira (6).
Como o BC quer restringir apenas o crédito ao consumo, não haverá restrição de prazo para crédito imobiliário, rural ou aquisição de veículos de carga com capacidade de transporte acima de duas toneladas, como caminhões. O crédito a pessoas jurídicas também não foi afetado.
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Corruptocracia, eu acredito, eu acredito em você e não só.
Basta ver que tem milhões de brasileiros comprando perfume em 12 vezes, chinelos em 10 etc, etc.
Gostaria de saber onde esta a prosperidade do país? Ilusão, viver de créditos e devendo a meio mundo não é prosperidade, um país prospero o povo tem poupança, tem economia não precisa comprar umperfume em 10 vezes, se não tiver dinheiro não compra. Comprar um batom em 10 vezes, isso me assusta.
O governo petista é uma grande burla.
Fico totalmente desconcertada, os brasileiros não compram uma caixa de fosforo sem ser em 10 vezes.
Facilitar e incentivar o crédito a todos não é desenvolvimento é populismo.
Até as banquinhas que situam-se nas ruas vendem bugigangas no "cartão".
Incrível, bagatelizaram tudo.
O Silvio Santos até poderia distribuir cartões de créditos no tal do báu da infelicidade.
Se o Chacrinha fosse vivo estaria certamente jogando cartões de créditos em vez de kgs de café e bacalhaus no público.
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