terça-feira, março 20, 2012

Resgatando o monopólio da Petrossauro

Acusações contra executivos da Chevron ameaçam planos de novos investimentos

Por Daniel Gilbert e John Lyons | The Wall Street Journal

A intenção de promotores brasileiros de apresentar acusações criminais contra executivos da Chevron devido aos vazamentos de petróleo no mar ameaça dissuadir empresas estrangeiras de concretizar seus planos de abertura de poços nesse país rico em petróleo, disseram especialistas.

O Brasil apresentará acusações criminais amanhã contra executivos da Chevron e da Transocean, operadora de equipamentos de perfuração, acusando-os de crimes ambientais relacionados a vazamento de petróleo no mar ocorrido em novembro, disse o promotor Eduardo Santos de Oliveira.

A Chevron tem enfrentado dificuldades para estancar vazamentos no fundo do mar no lucrativo campo de Frade, 230 quilômetros a nordeste do Rio. Na semana passada, a petrolífera americana informou que um segundo vazamento submarino está liberando pequena quantidade de petróleo no oceano. A empresa interrompeu sua produção no campo.

Na sexta-feira, um juiz brasileiro proibiu um grupo de executivos e funcionários da Chevron e da Transocean de deixar o país. Oliveira disse que "existem informações e provas da ocorrência de conduta criminosa" por funcionários nas empresas relacionadas com o acidente de perfuração em novembro, que causou um vazamento de 2,4 mil a 3 mil barris de petróleo do fundo do mar.

"Vamos defender a empresa e seus funcionários. A Chevron está confiante em que, depois que todos os fatos forem plenamente examinados, irão comprovar que a Chevron tomou as providências adequadas e responsáveis diante do incidente", disse Kurt Glaubitz, porta-voz da companhia de San Ramon, Califórnia, em comunicado. Guy Cantwell, porta-voz da Transocean, disse que a empresa "sempre cooperou com as autoridades, mas continuará a defender vigorosamente seu pessoal".

Os acontecimentos são um revés para a Chevron, que tem cerca de 700 milhões de barris em reservas de petróleo no Brasil e está investindo cerca de US$ 2 bilhões em um de seus maiores projetos de petróleo no país - no campo marítimo de Papa-Terra - em associação com a Petrobras.

"Acho que alguns executivos ficarão muito alarmados com isso", disse Subash Chandra, analista da Jefferies & Co. em Nova York. Pavel Molchanov, analista da Raymond James em Houston, disse que o Brasil tem mais a perder do que a Chevron, que, segundo ele, tinha 1% de suas reservas no país. "O governo brasileiro está dando um tiro no pé", disse Molchanov. "O Brasil ainda precisa de capital e de know-how tecnológico. Não é estrategicamente vantajoso para o Brasil fazer as pessoas sairem do país ou deixarem de investir."

Um porta-voz da Chevron informou que a empresa não mudou seus planos de investimento no Brasil, mas o principal executivo da companhia, John Watson, disse aos analistas na semana passada que "ainda resta conferir" qual será o futuro da empresa no Brasil.

A polêmica está repercutindo no setor brasileiro de prospecção em águas profundas, dominado pela Petrobras, mas poderá causar impacto nas petrolíferas internacionais parceiras da estatal, como a BG, do Reino Unido. A Anadarko , sediada em Denver, tenta vender participação em 283.281 hectares ao largo da costa brasileira. Ontem, porta-vozes de ambas as empresas preferiram não comentar.

Os enormes depósitos de petróleo na costa brasileira são altamente atraentes para empresas que procuram ter uma base de sustentação em um dos poucos países do mundo que têm o potencial de aumentar a produção e que não pertencem à Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).

O desenvolvimento das reservas brasileiras em águas profundas tem enorme peso político para o governo da presidente Dilma Rousseff. Seu partido, o PT, prometeu empregar os rendimentos do petróleo para oferecer mais programas sociais e sustentar uma expansão da economia que já dura vários anos.

Em novembro, a Chevron despertou fortes críticas das autoridades brasileiras após reconhecer ter calculado mal a pressão do petróleo e do gás de seu reservatório do Frade, o que resultou no lento vazamento de petróleo pelas fissuras do fundo do mar. Na época, a empresa absolveu publicamente sua contratada Transocean de qualquer responsabilidade.

O volume de petróleo derramado foi relativamente pequeno, menos de 1% do vazamento da BP em 2010 no Golfo do México. As autoridades brasileiras, no entanto, multaram a Chevron em milhões de dólares por infrações ambientais e a proibiram de fazer perfurações de exploração, veto que continua em vigor. Promotores federais entraram com ação civil pedindo cerca de US$ 11 bilhões da Chevron e Transocean.

Entre os executivos atingidos pela ordem do juiz de restrição de deslocamentos, está George Buck, americano que chefia a subsidiária brasileira da Chevron. Glaubitz, da Chevron, não quis comentar se o novo vazamento estava relacionado às operações da empresa nas proximidades até que uma avaliação técnica, que pode levar meses, seja concluída. A agência de regulamentação brasileira do setor de petróleo informou ontem em comunicado, depois de realizar uma análise, que não há indícios de que o vazamento tenha aumentado.

Vazamentos, que podem ocorrer naturalmente, são comuns em águas acima de reservas de petróleo. Nos anos 40, manchas escuras de petróleo na superfície do Golfo do México deram pistas às empresas de perfuração sobre as possibilidades no leito marinho na área, que acabaria se tornando uma das maiores fontes de petróleo nos EUA.

No Brasil, no entanto, os vazamentos aqueceram o debate sobre como regulamentar a exploração marítima, com o vazamento da BP ainda sendo motivo de preocupação na opinião pública.

Comentário: o governo PT está conseguindo resgatar o monopólio da Petrobras, inviabilizando a presença de empresas estrangeiras no país. Se continuar assim, vão sobrar apenas Petrobras e OGX, de Eike Batista, explorando "nosso" petróleo. Para quem tiver interesse, segue meu artigo sobre a postura da ANP em relação ao vazamento da Chevron.

18 comentários:

Anônimo disse...

A questão é que não foi um acidente, mas sim a incompetência dos engenheiros que causou o vazamento. Posto isso, nada mais justo que multar pesadamente a empresa pelo dano ambiental.

Anônimo disse...

Poxa é mesmo né? Quando o vazamento é da Petrobras ninguém fala nada!

"analista da Raymond James em Houston, disse que o Brasil tem mais a perder do que a Chevron, que, segundo ele, tinha 1% de suas reservas no país. "O governo brasileiro está dando um tiro no pé", disse Molchanov"

verdade! deviam então liberar os caras, já que eles não vão voltar!


"Penso justamente o contrário: o setor é estratégico demais para ficar tanto em mãos estatais! "

Então vamos entregar aos estrangeiros e ao Eike!!!

Anônimo disse...

'A intenção de promotores brasileiros de apresentar acusações criminais contra executivos da Chevron devido aos vazamentos de petróleo no mar ameaça dissuadir empresas estrangeiras de concretizar seus planos de abertura de poços nesse país'

Isso aí não faz sentido.Vamos agora ser vassalos desses caras que entram na nossa casa, quebram, emporcalham tudo, não querem ser punidos e ainda ameaçam ir embora falando que quem perde é o dono?
Peraí né, se tem uma coisa que tem que existir governo é pra fiscalizar e punir quem faz m****, principalmente os caras grandes

Rodrigo Constantino disse...

Aonde está a IGUALDADE PERANTE AS LEIS?

Essa postura tem claramente um viés xenófobo, oportunista para reservar o mercado para a Petrobras. Os vazamentos da Petrossauro não são tratados da mesma forma.

Nacionalismo xenófobo é uma doença!

Anônimo disse...

Um erro n justifica outro, se a petrobras faz merda, que seja punida também.
Agora ficar com medo de punir esses daí só pq eles ameaçam sair? O que é que falta agora? Ele ferrar minha casa e eu ter que pedir desculpas?

Agora olha como o cara justifica:'ah, o vazamento foi muito menor que o dos EUA'...
WTF????

Rodrigo Constantino disse...

Acho que vc AINDA não entendeu, anônimo.

O estrago no Golfo pela BP foi MUITO maior, e a multa foi parecida. Isso demonstra que a ANP tem um viés xenófobo, que claramente agrada aos nacionalistas de plantão, que, como vc, acusam "esses gringos" de virem aqui fazer merda. Ora, a Petrobras faz "merda" várias vezes e a postura é diferente! Isso é ridículo. Isso fere o império da lei, as regras isonômicas do jogo. Isso é nacionalismo tupiniquim, doença muito comum abaixo da linha do Equador...

márcio disse...

Rodrigo
Quem deu oportunida para "xenofobia" da ANP foi a própria empresa. Ela errou e tem que ser punida. Se é xenofobia ou não, não sei, mas que ela tem que ser punida não há a menor dúvida.

Rodrigo Constantino disse...

Em momento algum eu disse que ela não deve ser punida. A questão aqui é outra. É QUAL a punição, se ela é estritamente de acordo com regras claras, e acima de tudo, se é com base em regras isonômicas, ou seja, igualmente válidas para TODAS!

Anônimo disse...

O monopólio da União é constitucional, isto não adianta discutir.
Querer ceder o petróleo aos estrangeiros, evitando a "xenofobia" que cita em seus textos é como colocar a raposa no galinheiro.
A decisão do juiz federal no presente caso demonstra que este país tem dado sinais de que está se tornando sério e parando de "baixar a cabeça" para os demais.
Tomara que continue assim, e que a Petrobrás ocupe cada vez mais a exploração de petróleo do país, pois alegar que a ineficácia governamental deve ser resolvida com a abertura de mercado para os estrangeiro, com o devido respeito, é uma afirmação destituída de qualquer fundamento sério e aprofundado.

Anônimo disse...

Rodrigo, por favor, analise a possibilidade do Blog ganhar um registro tipo INF.BR ou .com.br para que possamos acessá-lo durante o almoço no trabalho!

Vale ressaltar que na maioria das empresas não é possível acesssar blogs.

Obrigado!

Anônimo disse...

"Aonde está a IGUALDADE PERANTE AS LEIS?

Essa postura tem claramente um viés xenófobo, oportunista para reservar o mercado para a Petrobras. Os vazamentos da Petrossauro não são tratados da mesma forma."

Two wrongs don't make a right, a Petrobras também tinha que pagar uma multa proporcional à da Chevron pelo estrago que essa fez.




"O estrago no Golfo pela BP foi MUITO maior, e a multa foi parecida. Isso demonstra que a ANP tem um viés xenófobo"

Essa é uma hipótese, outra hipótese (que eu acho muito mais razoável) é que o valor da multa aplicada lá nos EUA foi baixa, afinal o lobby por lá é muito mais forte.

márcio disse...

Rodrigo
Vou ser sincero e talvez vc não goste mas acho que essa empresa tem mais é que ir embora mesmo. Duas catástrofes ambientais. Errar é humano. Persistir no erro já é burrice. Multa ? Não há preço que pague as bobagens dessa empresa.

márcio disse...

Rodrigo
Reportagem do jornal O Globo mostra que a Petrobras é a que menos vazou óleo em 2010.
abs

Anônimo disse...

Rodrigo, acho q foi vc que não entendeu.Eu nao estou defendendo multas mais baixas pras empresas brasileiras.O que eu disse foi que UM ERRO NÃO JUSTIFICA OUTRO

'O estrago no Golfo pela BP foi MUITO maior, e a multa foi parecida.'

E daí? O Brasil bota a multa do tamanho que quizer, as regras são essas, a empresa entrou pq quiz.Se ele acha a multa mto grande, ninguém ta obrigando ele a entrar


'Isso demonstra que a ANP tem um viés xenófobo'
Pode até ser, agora justificar a impunidade pra irresponsabilidade deles com 'vc precisa mais de mim do que eu de vc', isso é conversa pra boi dormir.
ntsr

Anônimo disse...

"Ora, a Petrobras faz "merda" várias vezes e a postura é diferente! "

Diferente? Dê um exemplo!

Multa parecida da BP e da Chevron? Tá maluco?

Rodrigo

Anônimo disse...

Rodrigo,
acho interessante comentar a aquisição pela Petrobras das duas únicas empresas de petroleo privadas do Brasil(manguinhos e ipiranga)

Anônimo disse...

Caro Rodrigo,
juntou a fome com a vontade de comer!
Vão logicamente fazer uma novela com esse assunto. É xenofobia sim, é tentativa de criar um ambiente ruim para os investidores estrangeiros sim. E não adianta falar, a empresa-fetiche é idolatrada e defendida como se aqueles fósseis garantissem o futuro do Brasil. Cabeças pensantes e inovadoras é que são! Educação de qualidade. Mas isso não é assunto apaixonante pra esse povo. Falar de petróleo, minério de ferro, coisas palpáveis pra suas cabecinhas, isso eles adoram! Se eu fosse perder meu tempo para defender uma estatal (coisa que não faço pois tenho vida sexual ativa) seria a Embrapa. Mesmo assim com vivas ao agronegócio e empresas associadas!
Abraço.
Flavio - Rio

Anônimo disse...

Quem defende a Petrobrás é quem se interessa em trabalhar lá ou pensa que é nacionalista. não pago o preço caro desse combustível, não compro se for da Petrobrás. Acho que o conforto de um carro não vale a pena de se pagar tanto por um combustível poluente como a Gasolina. Eu sou a favor da convocação nacional por um boicote a compra de produtos dessa Petrobrás. assim quero ver não abaixar o preço dos combustíveis.