Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
terça-feira, junho 03, 2008
A Lição de Jonas para a Amazônia
Rodrigo Constantino
“Se o indivíduo busca satisfazer seu próprio interesse num contexto de respeito à propriedade privada e às trocas efetuadas no mercado, estará fazendo o que a sociedade espera que ele faça.” (Mises)
Ao se deparar com o título do artigo, o leitor pode se perguntar quem é esse tal de Jonas. Seria ele algum ambientalista importante, renomado mundialmente? Ou seria ele algum especialista em florestas, profundo conhecedor da legislação ambiental brasileira? Seria ele, no fundo, algum burocrata do Ibama? Na verdade, não é nada disso. Jonas é apenas o personagem de um livrinho escrito para um público mais jovem, chamado As Aventuras de Jonas, O Ingênuo, que conta as experiências do garoto Jonas numa ilha onde ele foi parar depois de uma tempestade à deriva. Através de perguntas objetivas feitas pelo ingênuo garoto, sinceramente interessado em aprender, as incoerências do modelo de governo na ilha vão ficando cada vez mais evidentes. Em um dos casos, conversando com um pescador, a lição aprendida por Jonas pode ser muito útil para uma possível solução ao problema da Amazônia, cujo desmatamento foge totalmente do controle do governo.
Ao tentar beber água de um lago, Jonas escuta a advertência de um pescador, para não beber aquela água contaminada. Os dois iniciam uma conversa então, e o pescador conta para Jonas que o lago está poluído, e que os peixes que restaram são miúdos. Jonas quer saber por que as outras pessoas pegam o peixe do pescador e jogam lixo em seu lago. O garoto fica espantado então ao saber que o lago não é do pescador, mas “de todos”, assim como as florestas e rios. Jonas passa a entender rapidamente a idéia de que aquilo que é de todos, na verdade não é de ninguém, não tem dono. Não há incentivos adequados para que o pescador cuide daqueles peixes, alimentando-os para que cresçam, já que qualquer um pode pescá-los a qualquer momento. O pescador explica: “Por que eu deveria cuidar dos peixes, já que a qualquer momento qualquer outra pessoa pode vir aqui e pescá-los? Se alguém mais pode pescar os peixes, ou poluir o lago com lixo, então lá se vai todo o meu esforço!”
Qual poderia ser a solução para este problema? A resposta está naquilo que o pescador contou a Jonas: “Pense numa coisa: eu bem que gostaria de ser o dono deste lago. Então eu me asseguraria de que os peixes seriam bem cuidados. Tomaria conta do lago, assim como o criador de gado que administra a fazenda do próximo vale. Eu criaria os peixes mais fortes e gordos, e pode apostar que não permitiria que roubassem peixes, ou que jogassem lixo no lago”. Em outras palavras, a solução seria o direito de propriedade privada, tal como ocorrem nas fazendas com gados, normalmente muito bem cuidados. Foi mais ou menos a solução encontrada na Islândia, onde a indústria pesqueira é fundamental para a economia. Mas o lago do livro era administrado pelo governo, o Conselho dos Lordes, e o curioso é que os amigos dos Lordes geralmente pescavam e poluíam à vontade. O pescador desabafa: “É como se o peixe diminuísse à medida que aumenta o que é pago ao administrador da pesca”.
E não é exatamente isso que acontece com a Amazônia brasileira? Ela não é um “patrimônio de todos” e, portanto, de ninguém? Não é explorada de forma totalmente irracional, com foco em lucros imediatos, principalmente pelos “amigos do governo”? Por que há esse problema todo de desmatamento na Amazônia, mas não nas florestas da Aracruz, Klabin, Suzano ou VCP? Qual a diferença? O pagador de impostos não banca cada vez uma conta maior, mesmo que a situação só piore? Entender que o cálculo racional e o interesse pela preservação de um ativo são características presentes onde a propriedade é privada e tem dono bem definido, é fundamental para chegar a uma solução adequada para o problema da Amazônia. As empresas cuidam bem dos ativos, plantam novos eucaliptos, tudo isso objetivando o lucro. No site da própria Aracruz, encontramos: “Por ser uma empresa de base florestal, a Aracruz sabe que a própria sobrevivência do empreendimento depende do uso renovável dos recursos naturais, assegurando que estejam disponíveis para as futuras gerações”. As atividades delas precisam ser sustentáveis, e o principal insumo tem que ser bem utilizado.
Quem duvida disso deveria se perguntar, sinceramente, quem é que costuma lavar e cuidar bem de um carro alugado. Compare esse tratamento aos cuidados de um carro particular, pelo seu próprio proprietário. Há um abismo de diferença! Isso é natural, pois o dono vai sempre cuidar mais do que é seu, assim como um pai cuida melhor do próprio filho em relação a crianças desconhecidas, ou um marido cuida melhor de sua mulher em relação a uma prostituta. Podemos pensar em uma mina ou poço de petróleo também. Uma empresa privada, que depende de seu fluxo de caixa futuro para sustentar seu valor presente, terá todos os incentivos para preservar a capacidade do ativo, enquanto um governo eleito pensa apenas no próximo mandato, e tem o incentivo para acelerar a produção, mesmo sacrificando a capacidade futura do ativo. Essa talvez seja uma das maiores inversões da história da economia, de que empresários gananciosos focam apenas no lucro imediato, enquanto os políticos focam no longo prazo. A verdade é que ocorre justamente o oposto. A famosa expressão “crescimento sustentável”, portanto, depende da condição de propriedade privada.
Os exemplos para comprovar essa lógica seriam infindáveis. Comparemos as condições das estradas privadas com as públicas, muitas vezes caindo aos pedaços, não obstante os impostos sempre maiores. Lembremos de como eram as ferrovias estatais, e como ficaram depois das privatizações. Ou ainda a Embraer, uma empresa mal administrada enquanto estatal, um verdadeiro ralo de dinheiro público, que se tornou motivo de “orgulho nacional” depois da privatização. Temos vários outros casos para ilustrar a mudança na gestão dos ativos quando estes passam das mãos estatais para as mãos privadas. Não teria porque ser diferente com a floresta amazônica. Contar com a proteção do Curupira é ingenuidade pura. E achar que o governo – uma espécie de Curupira, que também tem os pés trocados, despistando os contribuintes com seus passos enganosos – que o governo, dizia eu, poderá resolver os problemas, também é ingenuidade. Não vai, nem com a romântica Marina Silva, nem com o “pragmático” Carlos Minc. Os incentivos não são os mais adequados.
O que fazer então? Deixar o setor privado cuidar e explorar racionalmente a floresta. Pode ser através de laboratórios farmacêuticos, nacionais ou estrangeiros, em busca da biodiversidade para novos remédios. Pode ser por empresas de eco-turismo criando parques para visitas e aventuras. Pode ser vendendo uma parte para empresas madeireiras extraírem madeira de forma inteligente, preservando o ativo. Pode ser até mesmo vendendo trechos para os ricos ambientalistas do Greenpeace ou WWF, que pagariam com prazer para preservar o “pulmão do mundo”, mostrando com o bolso que realmente valorizam a preservação da floresta. Existem diversas formas de passar a floresta para os cuidados do setor privado, sem que isso acabe gerando um desmatamento maior ou mais descontrolado. Até porque mais irracional e acelerado que o desmatamento atual é difícil.
Como se vê, as lições que Jonas rapidamente aprendeu com o pescador podem ser bastante úteis. O ingênuo que faz perguntas lógicas, sem preconceitos ideológicos, acaba sendo muito inteligente, enquanto muitos ambientalistas experts imbuídos de ideologia são os verdadeiros ingênuos, crentes em um deus governo, na verdade inexistente. Acabam como “melancias”, verdes por fora, mas vermelhos por dentro. Ignoram a solução apresentada por pura desconfiança irracional em relação ao setor privado, ao motivo lucro, que é responsável justamente pela racionalidade no uso dos recursos escassos.
Um último exemplo pode ilustrar perfeitamente isso: dois países africanos tinham caça predatória aos elefantes, em busca do seu valioso marfim. Um deles adotou o caminho básico pregado pelo lugar-comum, ou seja, a simples proibição legal da caça. Os crentes na caneta mágica do governo são persistentes. O resultado, naturalmente, foi um incremento da corrupção dos fiscais, e por fim a extinção completa dos elefantes nesse país. O outro escolheu um caminho mais ousado, porém racional, de permitir a caça concedendo licenças. Os elefantes ainda vivem em manadas nesse país, e a extração do marfim é uma atividade lucrativa. Dois coelhos numa cajadada só! Será que não está mais do que na hora de se pensar o caso da Amazônia em termos menos passionais e mais racionais? Jonas tem uma importante lição para nos dar sobre esse assunto...
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17 comentários:
Rodrigo, o seu artigo toca em um dos principais problema do sistema capitalista, ilustrado pela "tragedy of the commons". Se uma pastagem é pública, quem conseguir colocar mais gado para pastar ali, lucra mais. Como todo mundo tenta fazer o mesmo, a pastagem é rapidamente destruída.
Este problema é relacionado com o das "externalities", que é mais ou menos assim: se eu fabrico um bem e para isso gero um resíduo, é mais barato jogá-lo no rio ou no ar do que destruí-lo ou processá-lo novamente. Para isso existem os órgaos de controle ambiental, sempre conectados aos governos, que, em teoria, deveriam zelar pelo bem comum.
O outro problema do capitalismo é quando há falta de competição, mas este dá lugar a uma outra longa história.
Os países civilizados atacam ou tentam atacar estes problemas com regulamentação e punição aos violadores. O Brasil, uma corruptocracia socialistóide, está muito longe até de ter a capacidade de começar a entender esse problema.
O foco principal das idéias liberais deve ser o direito, o julgamento dos meios de se atingir um objetivo qualquer.
Fortalecer a idéia de que os objetivos benéficos são a melhor justificativa para a liberdade e a justiça, é igualar a filosofia libertária (defesa da liberdade igual para todos) a ideologias. Não ejusto com a idéia. Alem do que justificará que se viva a inventar "fins supremos" para justificar os meios efetivamente ambicionados.
O que faz a liberdade e o direito natural serem defendidos como a expressão da justiça não é o foco nos benefícios, mas antes o foco no mérito, no que é justo objetivamente.
A defesa focando que a liberdade econômica é mais vantajosa, oferecendo mais prosperidade, fracassou justamente por seus defensores não valorizarem moralmente a liberdade, enquanto os socialstas não só apresentavam Utopias mal explicadas e pessimamente refletidas como objetivo glorioso, como sempre focaram mais na idéia da arbitrária e funesta "justiça social" como justificativa moral; ou seja o fim sempre foi posto supremo, a justificando tudo pela "moral estatal", moral esta que faz da "vontade do Estado" em sua atribuida tarefa de "cuidar do povo" a expressão da verdade e da justiça. Tal qual a alegada vontade divina é defendida como a expressão da verdade e da justiça (não se julga deus, pois ele sabe tudo, sua palavra é incontestável).
Enfim, antes dos fins há que realçar a justiça dos meios.
O direito de propriedade não é direito, justo, porque dá bons resultados. Ele deve ser defendido porque e justo.
Abraços
C. Mouro
Brilhante artigo, infelizmente estas soluções para a situação da Amazônia estão longe do brasil quanto o planeta Urano.
Abraços
Sabe dizer o nome dos paises africanos ou foi so um exemplo do livro do jonas?
Rodrigo se depender de você o nosso patrimonio a Amazonia ja seria privatizada,como você perega.Como também Prega a privatização do nosso maior patrimonio a Petrobras onde você acha que devemos entregar nossos recursos naturais para os estrangeiros.
Caro Rodrigo, concordo em boa parte, mas não fecho totalmente com um caminho quase exclusivista de propriedade privada, visto que (ainda que pensando mais nos espaços urbanos...), precisamos, como pessoas que vivem em sociedade, de espaços públicos, materiais ou virtuais, onde haja circulação de veículos, de pedestres, de idéias, convivência etc. Não dá para imaginar um mundo fechado em propriedades privadas, pois o espaço público - com todos os problemas que possa ter - é necessário para quem vive em sociedade.
Rodrigo, tem uma detalhe que você não percebeu. Mesmo que a floresta fosse propriedade de alguém, o benefício de preservá-la seria inevitavelmente de todos, enquanto o benefício de transformá-la em pasto ou plantações seria muito maior para o dono. O conceito da "tragédia dos comuns" foi usado para criticar o socialismo(na verdade, um tipo de socialismo), mas não pararam para pensar que há bens que são inevitavelmente públicos, como o meio ambiente por exemplo. A quem interessa manter a floresta preservada? Percebe a diferença do conceito de "stakeholders" ao contrário de "shareholders". Você acha mesmo que donos de áreas florestais se preocupariam em manter a floresta preservada se não houvessem leis ambientais? Só se fosse alguém que fosse quase dono do país inteiro, a ponto de se preopucar com os efeitos negativos que o desmatamento pode trazer para um país, um continente ou mesmo o mundo inteiro. Mas aí seria um monopólio, não haveria a competição fundamental para o liberalismo, o dono do monopólio assumiria o papel do estado, que se tornaria um estado privado.
muito bom o artigo
A “tragédia dos comuns”, realmente, é uma tendência verificável. Como espécie de regra que é, não precisa ocorrer em 100% dos casos. A exceção quando ocorre, só faz confirmar a própria regra.
Concordo com o Rodrigo que não há problema nenhum em se “lotear” a Amazônia com empresas, especialmente, as de alta tecnologia. Mesmo nos casos que exigem menos desenvolvimento tecnológico, como a preservação da fauna, a privatização é notadamente bem-sucedida. Exemplo conhecido é o jacaré do Pantanal, ameaçado de extinção pelo valor de seu couro e, hoje é abundante. A razão é muito simples, ele tem sido criado em fazendas. Ao invés de caça, virou gado e sobreviveu.
Mas, tem outro lado nesta história. Se a propriedade privada é fundamental para a própria preservação, a preservação em si já prescindiu da existência da propriedade privada. Então, há algo mais a levar em conta... Os ecossistemas são auto-suficientes e, portanto, independentes da existência da própria sociedade. O que diferencia nosso momento histórico daquele que não se aventava uma “destruição da natureza” é que a fronteira entre natureza e sociedade tem se tornado cada vez mais indefinível. Se o estado não é o melhor agente para cuidar do “não-humano”, do natural, isto não significa que uma “propriedade comum”, que um bem público não deva existir, nem que não tenha sentido ou lógica dentro do capitalismo.
Se o próprio meio social por excelência, a cidade, porta ruas, praças que são públicas e beneficiam a propriedade privada, é através delas que se dá a circulação de pessoas, logo de consumidores. Penso que há uma sinergia entre esses dois tipos de propriedade e só a precisa definição (e delimitação) de cada uma é que propicia seu mútuo desenvolvimento. Lembremos também que isto não tem nada a ver com a imprecisão e absorção dos recursos individuais pelo estado, como é típico na realidade brasileira.
Em suma, se a associação entre tipos de propriedades ocorre com o meio social, urbano no caso, porque não deveria ocorrer de modo similar entre propriedade privada e um recurso natural tido como bem público? Por exemplo: se o “subsolo é da união”, isto não deveria impedir ou ameaçar um contrato, concessão feito entre particulares e seu estado. Antes e pelo contrário, este estado deveria zelar pelos contratos mais que tudo. Nossa civilização se funda na idéia de um contrato.
Há porções do meio ambiente, como água, ar, entre outros, que servem a todos, sejam empreendedores ou empregados e é muito difícil definir onde acaba sua “porção” e começa a minha. Mas, podem ser feitos contratos sobre usos apropriados destes recursos, com limitações, isto é, “direitos negativos”. Meu uso da água não pode prejudicar seu uso; ou minha extração de petróleo pode ser tanta, quanto eu puder, desde que eu não o faça em suas terras. Neste exemplo em particular cabe a observação de que se eu extrair mais que algum vizinho, eu também extraio o petróleo sob seu solo. Meu direito, se caso o exercesse dessa maneira, não usurparia o dele, pois meu vizinho hipotético tem a mesma possibilidade.
Mas, apesar de direitos e cercas, o petróleo como um todo que lá está não é exclusividade minha nem de meus vizinhos. A todos nós cabe o mesmo direito de manter um contrato sobre a exploração de um recurso comum. O bem público permanece sendo público como condição de exploração individual, desde que submetido a um contrato sob tutela de uma organização jurídica comum. O que, em minha opinião, é o maior bem público.
Caro Zappi, você diz
“Se uma pastagem é pública, quem conseguir colocar mais gado para pastar ali, lucra mais. Como todo mundo tenta fazer o mesmo, a pastagem é rapidamente destruída.”
Observe o engano que você comete aqui. Pastagem é publica, portanto de todos e na pratica não é de ninguém. Não é um problema do capitalismo, é um problema de falta de direitos privados. O fato de ser público, da união, do estado ou coisa que o valha gera essa corrida maluca em busca de benefícios rápidos. O madeireiro sabe que para extrair madeira nas terras públicas da Amazônia tem que usar o expediente destrutivo de arrancar o máximo de madeira no menor tempo possível. É justamente por ser público (1) e, portanto não ser de ninguém, é que o desmatamento na Amazônia esta descontrolado. Como bem explicou o Rodrigo.
O erro perene é associar automaticamente capitalismo à exploração irracional, ao lucro à um sistema nefasto de exploração dos fracos e pobres (desprovidos de capital) pelos fortes e ricos (os capitalistas). O capitalismo é de fato um sistema de cooperação extremamente sofisticado, justamente por estabelecer trocas voluntárias e o direito de propriedade.
Outro problema com esse pensamento, e bem aparente no filme “The Corporation” é que associa as externalidades somente às malvadas corporações. Qualquer organização humana é capaz de produzir externalidades. O que o Rodrigo nos mostra no seu artigo é como o mercado consegue por si só, neutralizar os efeitos de uma externalidade negativa. O Problema da extração de madeira da Amazônia e suas externalidades atuais poderiam ser resolvidos com a aplicação de leis de propriedade sofisticadas.
Observem ainda um fato importante, que usar o estado para neutralizar as externalidades não significa diminuir seus efeitos negativos. Imaginem uma situação hipotética onde um rio que abastece uma cidade é poluído por 5 fábricas de papel. O custo para que essas fabricas instalem filtros na suas saídas de esgoto ou tratem seu lixo é de 10 milhões por fábrica. Uma lei burra, e uma situação de governo corrupto poderiam criar uma solução mágica: instalar uma burocracia para resolver o problema. A solução dos burocratas é fazer lobbie no governo federal para que ele pague a conta de uma planta de despoluição do rio. Não querem impor às empresas de papel internalizar os custos da poluição, com o argumento que isso custará empregos na cidade. Agora para proteger os empregos da cidade. Quem pagará o custo para despoluir o Rio são os pagadores de impostos federais (Todo o país) e não as pessoas que de fato, se beneficiam com a atividade econômica de produção de papel: Seus consumidores, os funcionários das fábricas e seus donos. Se somarmos os custos da burocracia e do lobbie, esses valores vão exceder o valor de 50 milhões, de internalização dos custos de despoluição. Nesse caso, a ação do governo “aparentemente” resolveu o problema. Mas de fato o ampliou. Agora a conta para despoluir o rio é muito maior, quem paga a conta é gente que nem mesmo esta envolvida na questão (Pagadores de impostos Federais) e de fato a ação do governo ampliou os efeitos negativos da externalidade. Só que por pura conveniência política, os problemas foram exportados para que outros o internalizem. Neste cenário, a solução mais justa (Os custos de internalização da poluição são pagos pelos que se beneficiam com a produção de papel) não ocorre. E a ação do governo de fato espalha mal estar social. O mais curiosa é que os governos que fazem isso, são justamente os que erguem sobre a égide do Estado de Bem Estar.
Portanto, ao evocar a questão das externalidades. Faz-se necessário debater quais as soluções. O Discurso encontra-se excessivamente ideologizado. Usar as externalidades como uma conseqüência absoluta da máquina de moer gente capitalista é muito falacioso. Primeiro porque esquece que externalidades são geradas por toda a ação de grupos humanos (Ou não é uma externalidade um não índio perder direitos individuais em nome da segurança dos índios?). Segundo, as soluções às externalidades (Eu prefiro o termo muito mais abrangente e descritivo da situação: Neighbourhood Effects ou efeitos de vizinhança) é colocada por soluções estatizantes.
Se isso fosse verdade, países comunistas seriam especialmente bons para resolver o problema das externalidades, não é mesmo? É esse o caso? Observem os inúmeros desastres ecológicos que ocorreram na URSS, em especial o Mar de Aral.
As externalidades são conseqüências de qualquer atividade humana, não só das atividades ligadas ao capitalismo. E a solução estatal simplesmente não resolve a questão, já sociedades completamente estatizadas ampliavam os efeitos nefastos das externalidades por impedir soluções orgânicas e de cooperação. E é isso que é o capitalismo, senhores: Um sistema sofisticado de cooperação voluntária.
Caro FIXtheMAD
Eu não disse em nenhum momento que o socialismo é preferível ao capitalismo. Eu só mencionei dois problemas do capitalismo. O primeiro, com duas facetas, é o das externalidades e dos bens comuns. Rio, ar, água, peixe no mar, peixe no rio, poluição, madeira na floresta e, se o IPCC estiver correto, a emissão de CO2 entram nesta categoria.
Se deixados à própria sorte, os agentes que buscam o lucro encontrarão oportunidades de lucro imediato relacionadas à destruição desses recursos. Quanto mais se pesca, mais se ganha. O peixe pode acabar no futuro mas o lucro que interessa é aqui e agora.
EU NÃO DISSE que o socialismo é solução para isto porque não é! A forma pela qual os países lidam, de maneira incompleta, com esses problemas é pelo uso de regulamentação governamental. Como tudo que vem do governo, este método está cheio de defeitos, possibilidades de corrupção, legislação mal feita, e até ambientalismo fanático colocado em forma de lei.
O outro problema é também real e a solução não é o socialismo. Quando há colusão entre empresas em um determinado segmento de mercado a competição deixa de ocorrer. Se isso acontece, deve-se intervir, pois sem competição as empresas aumentam indiscriminadamente os preços de seus produtos/serviços, atuando efetivamente como monopólios. Os monopólios danificam a atividade econômica porque transferem mais recursos para um segmento do que deveriam. Em certos casos empresas de fora podem quebrar esse círculo, mas em outros, como no caso de serviços locais, é muito mais difícil que alguém entre.
Para isso há sistemas que mantém em cheque esse tipo de prática, e vem do governo. Leis Anti-cartel tem que ser impostas e executadas, o que nem sempre tem o efeito desejado e, como tudo que vem do governo, prestam-se a várias distorções.
Eu sei que você não propõe o socialismo, Zappi. Meu argumento ao trazer estados socialistas, é que nestas sociedades, o estado tem enorme controle sobre os elementos da economia. Imaginando que exista uma vontade objetiva dos gestores dessas economias em promover bem estar social, podemos supor que tenham tentado, usando o estado, diminuir essas distorções, os resultados desses experimentos nos contam que tais soluções de fato não resolveram os problemas das externalidades.
Observo que você nutre um muito saudável ceticismo tanto às soluções liberais como para soluções estatizantes. O debate enriquece enormemente. Os problemas reais da economia freqüentemente demandam soluções que não são as ideais. É a escolha entre o menor dos males.
A situação hipotética que descrevi, usando leis inteligentes que obriguem os principais beneficiados da indústria de papel a pagar o custo de internalização é uma solução, de “governo”. Um árbitro de fora, com poderes de coerção suficientes para impor aos interessados as praticas de produção limpa resultaria, em tese, na neutralização do problema. Os consumidores, funcionários e donos das fabricas vão pagar o preço de produzir papel de forma limpa.
Só que a solução passa por darmos à alguém os poderes necessários de coerção e arbitragem, e como você bem descreveu, sem um relação que mantenham essas organizações em cheque, o remédio pode virar veneno.
E aqui novamente atendo a um detalhe fundamental. Que não só empresas privadas crescem e entram em conluio para retirar o máximo de proveito de uma determinada situação. Essa tendência não é exclusiva dos executivos engravatados e acionistas. É uma característica humana. Um sindicato é uma corporação, que presta um serviço específico e pode, e freqüentemente faz conluios no intuito de extrair mais benefícios. A frase abaixo pode muito bem ser descrita como um mal dos sindicatos:
“danificar a atividade econômica porque transferem mais recursos para um segmento do que deveriam”
Isso não significam que os trabalhadores não tem o direito de se organizar, muito pelo contrário. Devem ser livres para se organizar, desde que a sua liberdade não prejudique a liberdade alheia. Isso ocorre amiúde, hoje mesmo vi na TV um terrível espetáculo onde sindicalistas da associação dos seguranças privados retirava na base da porrada, seguranças de dentro de bancos e outros locais, somente porque não tinha aderido à greve.
O desejo de tirar proveito e lucro de uma situação é uma característica humana, não exclusivamente capitalista. Portanto, se criamos um sistema que mantém a atividade de empresas privadas em cheque, para que não cresçam. Precisamos do mesmo expediente para outras organizações humanas, que só no papel não visa “o lucro”. Mas que na pratica serão deformadas pelos desejos de benefícios e poder dos seus integrantes.
Termino reafirmado de forma até aborrecida que essa caricaturização do debate (Não foi o caso na argumentação do Zappi ) enevoa nosso entendimento do problema. Achar que só o capitalista visa o lucro e que o governo é por si só bom, é uma ilusão. O sistema de cheques é também fundamental na estrutura governamental. O que ocorre hoje no Brasil é o contrário, mais um sintoma no excesso de estatização. O poder executivo tem cada vez mais poder, e o executivo federal é muito inchado do que os estados e municípios. Um verdadeiro leviatã monopolista.
"ou um marido cuida melhor de sua mulher em relação a uma prostituta"
O artigo todo tem argumentação muito parecida com o meu modo de pensar a organização da sociedade. Mas é interessante, o exemplo que você dá a respeito da esposa e da prostituta.
"Compare esse tratamento aos cuidados de um carro particular, pelo seu próprio proprietário. Há um abismo de diferença! Isso é natural, pois o dono vai sempre cuidar mais do que é seu, assim como um pai cuida melhor do próprio filho em relação a crianças desconhecidas, ou um marido cuida melhor de sua mulher em relação a uma prostituta."
O carro, o filho e a esposa. O carro próprio é bem cuidado em detrimento de todos os outros carros. O filho é bem cuidado em detrimento de todas as outras crianças. E a mulher é bem cuidada em detrimento de todas as outras prostitutas? Todo homem tem uma mulher da qual ele cuida bem e uma prostituta da qual ele se utiliza apenas para satisfazer algum desejo imoral?
Interessante o pensamento masculino.
"Todo homem tem uma mulher da qual ele cuida bem e uma prostituta da qual ele se utiliza apenas para satisfazer algum desejo imoral?
Interessante o pensamento masculino."
Denise, eu me expressei mal. Não é o mesmo marido que tem prostitutas. É um homem casado, que cuida bem de SUA mulher (pois vai ficar com ela muitos anos e a ama), comparado a um homem qualquer, solteiro, tratando uma mulher qualquer, uma prostituta, um caso de uma noite.
Melhor assim?
Rodrigo
Olha oque acontece com quem se atreve a comprar um pedaço da amazonia para preserva-la.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u409459.shtml
Depois se pergunte se existe a menor chance de a floresta sobreviver.
A maioria das pessoas que pensa sobre o liberalismo reflete sobre seu valor individual. Não deixam de estar certos, mas isto é muito limitado. Pois, as ações individuais têm efeitos coletivos quando somadas. A interação é que deveria ser enfocada, coisa que raramente é feita quando se advoga, tão somente, o que um indivíduo faz ao defender sua propriedade. O liberalismo avança muito em relação ao socialismo quando se pensam os fenômenos sociais, pois diferentemente ele parte da célula básica – o indivíduo – que é real e não, uma entidade imaginariamente dotada de “consciência”, o coletivo.
Porém, vivemos em coletividade.
Sendo assim, diferente da perspectiva liberal que se preocupa com o direito individual e o poder decorrente deste ao garantir a propriedade privada, penso que falta aos liberais algo mais: a interação social que leva um indivíduo a requerer uma certa ordem que não atente contra o seu direito individual, isto é, limitações aos direitos individuais de todos. Se a liberdade é uma palavra que encerra um conceito absoluto, sua aplicação a um contexto limitado por uma dada sociedade obriga-a a se relativizar.
Exemplificando é melhor.
Moro em um bairro de Florianópolis que tem um parque recém criado, sujeito a entrar na lei de Unidades de Conservação. Muito bem... Este “parque” (quando não tinha sido formalizado como tal) foi criado com o intuito deliberado de ser uma área extrativista (com pinus e eucaliptos) lá pelos anos 30. As árvores cresceram, barrando a movimentação de dunas o que permitiu uma ocupação lindeira sem maiores problemas. Os nativos, muitos deles pecuaristas, viram maior vantagem em vender lotes ou criando loteamentos sem os necessários trâmites legais (que exigem, entre outras, condições de saneamento prévias). A “culpa” não é só deles, pois a morosidade burocrática, claramente, desestimula que se faça a coisa certa aliada, como é comum neste país, à corrupção de nossos órgãos de fiscalização. Um estimula o outro a ação incorreta e temos instaurado um caos urbano, tipicamente latino-americano.
Depois da Operação Moeda-Verde perpetrada pela Polícia Federal que prendeu empresários, políticos e funcionários públicos em SC e RS, as autoridades municipais e estaduais no afã de mostrar serviço criaram o parque.
“O pinus é praga! Vamos reconstituir a vegetação natural” foi o mote adotado e ouvido como um mantra.
Uma ou duas semanas depois estavam retirando, ilegalmente, sem decreto, deliberação, consulta e, principalmente, estudos, o pinus e o eucalipto e levando-os na calada da noite para madeireiras que vendem a matéria-prima para os milhares de construtores sem habite-se e licenças.
Percebe o que ocorre? Ilegalidade em cima de ilegalidade em cima de um mito comum de que o pinus, por si só, é uma “praga” enquanto que, na verdade, precisamos deste tipo de “agricultura” para, justamente, não acabarmos com as verdadeiras matas nativas. Ou ninguém vai mais usar madeira e papel?
De um lado, autoridades ávidas por mostrar serviço, do outro, ambientalistas sem conhecimento e, no meio disto tudo, oportunistas. O indivíduo, a propriedade privada lindeira e tradicional que sempre conviveu com o parque passa a ser visto como “infrator”.
Vamos vender o parque? Não, mas a simples possibilidade de uma parceria com uma empresa privada para administra-lo corretamente foi compreendida como “privatização”. Concessão não é venda. Mas, os slogans dos ambientalistas-melancia calam com mais facilidade na consciência da população leiga.
Por outro lado, às expensas da vigilância e da fiscalização, várias áreas são vendidas, irregularmente, em áreas de APL, nas quais só 10% podem ser construídos. Ou seja: ao não admitir como possível a atividade privada regulamentada, uma venda sem regra, sem regulamentação é o que vinga e o caos se instala, pois também não tem saneamento nem infra-estrutura adequada nenhuma.
Se me entenderam, o que precisamos é de ordem, mas uma ordem que não atente contra nenhuma dessas “peças” da engrenagem, a propriedade privada e a propriedade pública.
As duas devem existir.
E parcerias, concessões são uma solução em que o poder público passa a estimular o uso correto do bem público por agentes individuais e privados.
Antes disso, o parque em questão passou de um órgão a outro porque o primeiro desviou recursos. E o segundo teve funcionários envolvidos no esquema de venda de licenças ambientais só que em outras áreas da ilha.
O que temos no Brasil não é uma “socialização”, mas corrupção pura e simples que leva a exploração irracional de seus recursos pela falta de empatia com uma privatização (em alguns casos) e de concessões (em outros) que traria benefícios públicos.
Uma sugestão Constantino, ao tratar deste assunto, tome o cuidado de não falar de "vender" áreas do governo, porque o governo não tem propriedades legítimas, essas "vendas" acabam privilegiando grupos de interesses ligados ao governo e enriquecendo bandidos. Se você não quiser abordar o homesteading de Locke por achar muito radical ou de difícil compreensão para os leigos, tudo bem, mas evite falar em "venda"...
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