Rodrigo Constantino
"Os que crêem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu." (Roberto Campos)
A História nos ensina que os oportunistas inescrupulosos sempre aproveitaram-se do fato da natureza humana ter maior inclínio para a busca de bodes expiatórios que para a dolorosa mea culpa. Um povo sofrido e miserável, afastado dos fatos através da ignorância induzida, precisa de explicações simplistas para seus problemas. Nada mais oportuno que condenar terceiros, normalmente os bem sucedidos, que já despertam automaticamente o sentimento da inveja, bastante comum à nossa natureza também. Tal receita foi utilizada em demasia pelas nossas terras tupiniquins, sempre despertando fortes emoções nos pseudo-nacionalistas, que costumam acreditar que o sucesso alheio é responsável pelo nosso fracasso. Esse texto irá tratar de um dos primeiros casos explícitos dessa xenofobia tola, que empanturra os cofres de poucos oportunistas enquanto esvazia o bolso do cidadão comum.
Na década de 1920, o México era o segundo maior produtor mundial de petróleo. Na década seguinte, a produção caiu cerca de 80%, e o governo mexicano culpou exclusivamente as empresas estrangeiras, ignorando o contexto da Grande Depressão que assolava o mundo. O ambiente político estava mudando no país, com a febre revolucionária e nacionalista em alta novamente, assim como o poder cada vez maior dos sindicatos. Tais mudanças estavam personificadas na figura do General Lázaro Cárdenas, que se tornou presidente em 1934. Jogando sempre um grupo contra o outro para manter sua própria supremacia, ele acabou criando um sistema político que iria dominar o México até o final dos anos 80. E o petróleo, assim como o nacionalismo, seria central a este sistema.
Para Cárdenas, a presença dos estrangeiros no setor de petróleo era um grande incômodo, o qual ele pretendia livrar-se à qualquer custo. As empresas começaram a ser pressionadas de várias formas, uma tendência crescente em toda a América Latina. Em 1937, o novo governo militar da Bolívia, desejando popularidade, acusou a subsidiária da Standard Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. No México, a briga não seria muito diferente. A crise piorou quando a Corte Suprema manteve um julgamento contrário às empresas estrangeiras numa negociação salarial. Estas, em troca, aumentaram duas vezes a proposta de salário, mas ainda aquém das demandas dos poderosos sindicatos. Em Março de 1938, Cárdenas disse que intencionava assumir o controle da indústria de petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de uma resistência passional ao controle estrangeiro.
O governo inglês reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países. Os Estados Unidos foram mais complacentes, pois Roosevelt não pretendia agravar as relações com o México num ambiente de rápida deterioração da situação internacional. Economicamente falando, a produção de petróleo mexicano era mais vital para a Inglaterra mesmo, que obtinha quase 40% de seu ouro negro nesse país. Após o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos os seus maiores clientes.
Foi estabelecida uma empresa nacional e estatal de petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação, e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.
Como podemos ver, vem de longa data o uso escancarado de bodes expiatórios estrangeiros para enganar as massas e perpetuar um asqueroso esquema de corrupção e poder concentrado nas mãos de poucos poderosos. O nacionalismo se transforma em arma contra a lógica, expulsando investidores em nome do interesse nacional. Tal tendência suicida não foi monopólio do México, mas sim comum a toda América Latina, sem falar de outras regiões pobres, como o Oriente Médio. Aqui no Brasil tivemos em Brizola um dos maiores ícones dessa xenofobia pérfida. Os debates geravam sempre muito calor, e pouca luz. Em vez de focarmos nos problemas internos causados por nós mesmos, adotamos a rota fácil de fuga, culpando fatores exógenos. E infelizmente o povo parece não aprender com o passar do tempo. Afinal, ainda rende votos afirmar que Bush é culpado pelos nossos males. Há que se esforçar muito na arte da estupidez!
4 comentários:
Você não acha que os países da América Latina, depois da emancipação, se tornaram totalmente dependentes da Inglaterra principalmente e que isso é o principal motivo da nossa economia estar como está?
Exato. Vamos cotar todas as nossas relações economias com a Inglaterra, EUA etc..
Ai quando voltarmos a idade da pedra lascada, esses esquerdistas ficarão satisfeitos!!
Os acefalos nao conseguem entender que a causa da nossa miseria NADA tem haver com os investimentos estrangerios no pais.
e qual é a causa da nossa miséria?
a causa está em fatores culturais, na mentalidade coletivista e estatolatra, no tamanho do Estado, na pouca liberdade econômica, no clientelismo e corporativismo, no patrimonialismo, enfim, na enorme distância que nos separa do capitalismo liberal.
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