quarta-feira, janeiro 31, 2007

A Curva S



Rodrigo Constantino

"It is because every individual knows so little and, in particular, because we rarely know which of us knows best that we trust the independent and competitive efforts of many to induce the emergence of what we shall want when we see it." (Hayek)

Uma das coisas mais elementares ensinada nos cursos de administração e marketing é o formato comum da curva de vendas de um produto. Esta curva, em forma de S, diz basicamente que um produto passa por três grandes fases: a inovação, a massificação e a saturação. No primeiro momento, a empresa lança o produto ainda não testado pelo mercado, e as primeiras “cobaias” compram. Em seguida, caso o produto tenha boa aceitação, a empresa intensifica a produção, obtendo importantes ganhos de escala, que permitem uma forte redução nos preços, tornando o produto acessível ao grosso dos consumidores. Por fim, o produto já atingiu uma penetração tão grande que está saturado, dando espaço para substitutos mais modernos.

Não dá nem para listar a quantidade de produtos que experimentou essa trajetória. Basta citar alguns exemplos bastante óbvios, como o automóvel ou o computador. Na época da Ford e seu Modelo T, existiam literalmente centenas de empresas competindo por este novo mercado. Ninguém sabia ainda quais seriam os modelos vencedores. Apenas os mais ricos podiam se dar ao luxo de comprar um carro. Com o passar do tempo, e com os ganhos de escala, os preços foram caindo e as vendas explodindo. O carro era um produto popular então. O mesmo ocorreu com computadores. As antigas máquinas da IBM eram caríssimas, e poucos podiam pagar por ela. Ao decorrer dos anos, com avanços tecnológicos e ganhos de escala, milhões de usuários passaram a usufruir dos benefícios de um computador.

Isso tudo tem uma relevância enorme para o modelo econômico que deve ser adotado em um país. Em primeiro lugar, devemos entender que o processo de tentativa e erro é crucial para o progresso. O conhecimento é disperso, pulverizado na sociedade, limitado, e ninguém tem como saber a priori o que irá funcionar melhor, nem mesmo os desdobramentos das inovações. Os sonhos de voar dos irmãos Wright ou de Santos Dumont levaram ao avião, mas nem eles teriam como imaginar um Boeing 747 ou o novo Airbus gigante. As idéias têm conseqüências que nem seus próprios autores podem imaginar. Logo, o melhor meio de progredir é garantir a liberdade individual e a livre competição, para que o método de tentativa e erro vá filtrando o que funciona melhor, de acordo com as preferências dos próprios consumidores. Isso condena totalmente a alternativa de um planejamento central, feito por algum órgão de supostos “clarividentes”, que determinam o que será mais adequado ao povo.

Em segundo lugar, fica claro que os mais ricos exercem uma utilidade fundamental para os constantes avanços. Eles são as tais cobaias, que irão experimentar as inovações com preços ainda proibitivos, pela falta de escala. São eles que compram aparelhos de celular quando estes custam uma fortuna, e após ficar mais claro qual o produto mais competitivo e demandado, os produtores iniciam uma produção em massa, barateando o produto. Quando os ricos compram uma televisão de LCD, pagando milhares de dólares, estão testando as novas tecnologias disponíveis, fornecendo um importante feedback aos produtores, que passarão depois a produzir em grande escala o produto mais competitivo e demandado, tornando-o acessível ao restante dos consumidores. Logo, fica claro que a desigualdade material não é um problema em si, e que os mais ricos acabam atuando como cobaias das massas. Atualmente, qualquer família de classe média americana desfruta de um carro com segurança e conforto, um refrigerador, um computador, um microondas, enfim, de produtos que antes eram vistos como bens luxuosos para poucos.

Dito isso, fica fácil compreender porque tenho verdadeiros calafrios quando escuto governantes falando em planejamentos rígidos para o crescimento e o progresso, em “inclusão digital” e coisas do tipo. O melhor que o governo pode fazer para termos de fato isso tudo é sair do caminho, garantindo apenas a segurança contratual, a estabilidade das leis, as trocas voluntárias. Através da competição no livre mercado, as empresas, em busca do lucro, irão automaticamente testar sempre novos produtos. Nunca saberemos ex ante quais serão os bem sucedidos. São os próprios consumidores quem decidirão, através da livre escolha. Os mais ricos serão como cobaias, testando aqueles produtos que ainda são caros demais para os demais consumidores. E através da constante tentativa e erro, os melhores produtos serão filtrados, sobreviverão. E o progresso terá continuidade, beneficiando os milhões de consumidores, especialmente as massas, que poderão usufruir de produtos incríveis, que fariam qualquer rei da Idade Média morrer de inveja. Afinal, quantos nobres e senhores feudais tinham à sua disposição um ar condicionado?

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu só não entendo o porquê de coisas tão óbvias serem tão impenetráveis na cabeça dos membros de uma certa elite intelectual, culta e instruída, enquanto são enaltecidas as idéias(?) de energúmenos do porte de um Hugo Chavez.

Niemeyer estava hoje no jornal, lépido e fagueiro, exibindo um trambolho em maquete encomendado a ele por Chavez para homenagear Bolívar. Serão 100 metros de altura por 170 de extensão destinados a bater o recorde mundial de concreto armado. A almanjarra, que apontará ameaçadoramente para Washington, em um simbolismo sem precedentes em termos de originalidade, é defendida por Oscar como uma justificativa à liderança da Venezuela na resistência às agressões de Bush.

Fantástico! E o povo de lá, com quase 70% de miseráveis, que se dane. Vá se entender esses que ainda choram pela queda de muros...

Anônimo disse...

Por vezes eu fico imaginando o que se dirá destes tempos daqui uns 500 anos. Será que se espantarão com tamta estupidez ou serão tão ou mais estúpidos?
Então talvez daqui uns 3000 anos possam analisar tanta estupidez e se espantar com ela.
Fico comparando com a "velha medicina" de usar sanguessugas nos tratamentos, e que hoje soa um absurdo. Penso nas pajelanças, nas estórias fantásticas que inventavam para explicar o que não entendiam, e os imbecis seguiam....
Da mesma forma hoje tantos se deixam enganar e encantar por "tratamentos científicos", por estorinhas e por toda sorte de bobagens inventadas e difundidas sem que se atente para o quanto são absurdas.

Abs
C. Mouro

Anônimo disse...

O mais interessante é que existam animais, supostamente racionais, que pregam o sistema cubano ou da antiga URSS, em que é o governo que determina o que o "povo" deve ou não consumir.

Anônimo disse...

Mais interessante ainda é o socialismo ("científico") que chama de exploração as trocas espontâneas, estabelecido em Cuba fazer de cada cidadão um servo dos donos do Poder (tropas armadas e organizadas para usurpação e coerção) Cubano que se fazem "capitralistas" e proprietários dos tais trabalhadores, exigindo que dêem ao Estado socialista até mesmo as gorjetas que recebem dos turistas. Ou seja, o Estado se impõe não apenas como proprietário dos tais meios de produção e de todos os demais meios, até dos meios de habitação(!?), bem como proprietário de todo capital e até proprietário dos tais trabalhadores, considerando sua propriedade até as GORJETAS... ..deus do céu, e existem tipos que dizem ser isso a "justissa* social" e o fim da exploração dos trabalhadores. Ou seja a justiça justa é essa tal de "justissa social" e o fim da "mais valia" e da exploração é isso que se realiza em Cuba. A cuba onde, dialéticamente, o Socialismo é exatamente o que marx descreveu fantasiosamente como um tal de capitalismo (como assim ele denominou) sua fantasia, criada para inventar inimigos dos proletários para faze-los amigos do Estado totalitário. Até se concretizar o absurdo de fazer o maior expoente do tal socialismo "científico" vivo, também o maior gigolô dos trabalhadores e o maior cafetão que o mundo já conheceu, explorando milhares de jineteras.

Abs
C. Mouro

Anônimo disse...

E o cafetão Castro ainda fala com orgulho quando perguntado sobre o problema da prostituição das meninas das universidades:
"Não é que nossas universitárias estejam se prostituindo e sim as nossas putas que já são universitárias."

Waldemar M. Reis disse...

A má intenção é sempre condimento dispensável em qualquer tipo de relação humana. Seja no capitalismo, no socialismo etc, um mal intencionado será semrpe um corpo estranho. Se perduram é por serem espertos o bastante para imporem suas idéias pelos tempos de suas vidas nefastas, às vezes mesmo transcendendo-os.

E a patifaria intelectual será sempre a pior das piores intenções.

Mas ao menos por seu intermédio pode-se conferir alguma utilidade para a classe rica. Imagino que essas nobres cobaias poderiam ter maior utilidade servindo nos laboratórios que desenvolvam - com fins bélicos, é claro - doenças incuráveis ou pragas químicas.

A minha pergunta é: sendo outro o sistema de 'controle' contratual entre nós humanos (tão afeitos às patifarias que precisamos sempre de uma 'vigilância'), sua tão cobiçada televisão de LCD seria de fato impossível? Por fim, conheço muito bem essa história de 'troca voluntária', onde o 'voluntário' da expressão refere quase sempre os desígnios de uma das partes do contrato e que, não seguidos à risca, põe a outra parte em desgraça. Conheço muito bem o mundo liberal como você e outros o concebem, pois, afinal, vivo num projeto dele e me dou com quem crê viver no seu cerne: se você pode ser cobaia de produtos de ponta, muito bem; se não...

Anônimo disse...

Nossos políticos, em maior ou menor intensidade, devem periódicamente prestar homenagens ritualísticas ao deus romano Jano, de duas faces, uma voltada para frente, outra para trás. A divindade citada bem simboliza o cinismo e a hipocrisia da época em que vivemos. Barbaridades são cometidas e provadas, mas os autores aparecem sorridentes na mídia negando tudo. Quem é você? Um inocente, claro! São pergunta e resposta que cansamos de ler e ouvir. Uma particularidade dos humanos, por sinal, pois os animais são absolutamente tranparentes naquilo que pretendem e fazem. O humano planeja, arquiteta e executa na calada da noite. Às claras. exibe a face angelical de quem sempre se norteou pelos mais sagrados princípios da integridade. A peculiaridade, entretanto, parece ter sido exarcebada nos tempos em que vivemos. Aprendemos com isso a com confiar, desconfiando. A crer, desacreditando. A olhar a superfície sem descuidar de uma eventual surpresa surgida das profundezas. O Século XXI deixou para trás o irrestrito crédito de confiança que predominava nas relações de nossos avós, embora desde a briga entre Caim e Abel pilantras já caminhassem entre nós.
O que vemos, para resumir, é um abandono sem remorsos do desejo de servir à pátria em favor do escancarado desejo de se locupletar com o dinheiro público. Resta analisar as raízes do mal. Materialismo sem limites, sem dúvida. Mas algo mais profundo deve existir. De qualquer maneira, Jano, o deus romano de duas caras, deve emblemáticamente ter o seu altar restaurado para tornar a receber homenagens dos recentes e numerodos adoradores.