Palavra do gestor:
O Brasil e a bolsa de valores: uma aposta no crescimento chinês
Rodrigo Constantino, Jornal Valor Econômico
O crescimento econômico brasileiro ainda é muito dependente do crescimento econômico chinês, por conta do preço das principais commodities que o país exporta. As empresas brasileiras exportam quase cinco vezes mais hoje do que faziam no começo do governo Lula, e boa parte do aumento se deve aos produtos básicos. Se isso é verdade para a economia como um todo, é ainda mais verdadeiro para o desempenho da bolsa no Brasil. O Ibovespa ainda é muito concentrado em empresas diretamente ligadas ao preço das commodities.
Quase metade do principal índice de ações do país é formada por empresas que dependem das commodities, que são cada vez mais impactadas pela demanda chinesa. A Petrobras e a Vale, sozinhas, representam algo como 25% do Ibovespa. E a China já representa quase a totalidade do crescimento na demanda mundial de petróleo e minério de ferro. Quando comparado ao índice de outros países, o Ibovespa se destaca por essa excessiva concentração em commodities.
O Dow Jones americano, por exemplo, tem menos de 15% em empresas atreladas diretamente ao preço de produtos básicos, patamar semelhante ao do CAC na França. O FTSE inglês já é mais exposto às oscilações das commodities, com quase 30% em empresas que dependem desses produtos. Já o Nikkei no Japão, o Kospi na Coreia do Sul e a bolsa de Taiwan possuem menos de 10% em empresas expostas às flutuações das commodities. São países com elevada participação de empresas de tecnologia.
Mesmo a bolsa chinesa tem baixa exposição a empresas de commodities, cerca de 20% do total. A demanda chinesa é cada vez mais relevante para determinar o preço desses produtos, mas a bolsa de ações na China possui participação maior em setores como o financeiro, por exemplo. É o crescimento chinês que dita o preço das principais commodities, mas é o Ibovespa que acaba dependendo mais de sua flutuação.
Comparando o desempenho do Ibovespa em dólar com o CRB, principal índice de commodities da bolsa de Chicago, verifica-se elevada correlação ao longo do tempo. A correlação semanal desde 2009, por exemplo, está acima de 0,95. A Austrália é outro país que acaba surfando bem esta onda chinesa, apresentando enorme correlação com o Ibovespa.
Com as principais economias desenvolvidas sem crescimento e com taxas de juros próximas de zero, os investidores buscam alternativas para alocação de capital, tentando aproveitar o crescimento ainda acelerado na China. Mas o melhor instrumento para isso nem sempre será o próprio mercado de ações chinês. Por isso o Brasil acaba se destacando como um excelente "China play", uma forma de os investidores internacionais apostarem no crescimento chinês indiretamente.
O problema disso é que o Brasil se tornou mais vulnerável a choques externos, principalmente da economia chinesa. Ninguém sabe ao certo para quanto vai o crescimento chinês. O que parece mais razoável prever é que a atual taxa não é sustentável. Existem claros sinais de espuma no setor imobiliário chinês, e até o mercado de trabalho começa a apresentar alguns problemas, pressionando os salários para cima. A inflação tem sido uma ameaça constante na China. Se o governo não for capaz de contê-la com medidas administrativas apenas, a economia poderá sofrer um baque. Não dá para descartar a hipótese de queda mais acentuada no crescimento chinês. E se isso acontecer, tanto a economia brasileira como o Ibovespa serão duramente afetados.
O ideal seria o governo brasileiro fazer as reformas estruturais para criar um dinamismo interno mais independente em nossa economia. Com a reforma previdenciária desarmando parcialmente a bomba-relógio do rombo na previdência, a reforma tributária reduzindo e simplificando os impostos, a reforma trabalhista flexibilizando o mercado de trabalho e a reforma política descentralizando o poder e oferecendo maior racionalidade à política nacional, a economia poderia decolar de forma sustentável.
Infelizmente, nenhum dos grandes partidos abraçou esta bandeira de reformas e, para agravar a situação, o governo Lula tem se mostrado muito irresponsável do ponto de vista fiscal no fim do segundo mandato. Nossa economia acaba extremamente dependente do fator China e do crédito estatal, que não pode continuar neste ritmo sem gerar mais inflação. Os gargalos internos ameaçam nossa recuperação econômica, e o Brasil acaba sendo somente uma aposta no crescimento chinês que, por sua vez, apresenta alguns sinais de esgotamento. Não é um quadro muito animador para investidores de longo prazo.
7 comentários:
Oi Rodrigo, somos o MEB, parceiros do Instituo Millenium. Gostaríamos de te convidar para conhecer nosso site e vídeos.
Abraços,
Equipe MEB
Não seria importante também, além das reformas sugeridas, investir maciçamente em educacão básica como fazem todas as economias desenvolvidas?
Educação é uma coisa importante demais pra depender de governo
Não sou economista e entendo muito pouco de especulaçãp e rentismo. Sou mais lógico e pragmático, meu negócio é engenharia de produtos e produção dos mesmos. São os produtos (autopeças) saindo no final da linha de montagem que pagam os nossos salários e pagam pelo nosso direito de existirmos.
Minha pergunta para os especialistas é: Será que dá para acompanharmos o crescimento chinês com os investimentos em infraestrura e a poupança brasileira? Considerando nossas exportações, será que se o Brasil desaparecer do mapa hoje, alguém iria perceber?
A classe C comprou televisor, carro de terceira mão e muito crack. Pagou cerca de 5 mil reais de importos por cabeça, está devendo quase dez.
Situação que tende a se acentuar, não só no mercado de capitais, mas na economia real. Muito boró e apetite pra investir. Cia.s apoiadas e incentivadas por Pequim põem mais de 10 bilhões na aquisição de campos de petróleo, minas de ferro, terra para plantio de soja... Até ativos de energia elétrica eles querem aqui - e tudo indica que seja apenas o começo. Nosso país virará se não se aprumar uma “plataforma” para a expansão dos chineses.
PRÉ SAL PATROCINANDO A CACHAÇADA
BNDES, Petrobrás e Banco do Brasil pagam a cachaça para a Chivas patrocinar prêmio para Lula (4 de novembro de 2009)
A Chivas Brothers, famosa fábrica de uísque, é uma das empresas patrocinadoras do prêmio Chatham House, que será conferido ao presidente Lula nesta quinta-feira, em Londres. Famoso por apreciar a boa manguaça, mania que já lhe garantiu reportagem especial no The New York Times, Lula deve estar satisfeito. Não vai faltar birita na festa. Até aí, apenas uma peraltice etílica desculpável. O grave mesmo é que esse prêmio vai entornar dinheiro dos contribuintes brasileiros. Além do Chivas, revelado aqui pelo blog, também patrocinam o evento, como informa o site do Claudio Humberto, a Petrobrás, o Banco do Brasil e o BNDES.
É uma maravilha: Boca livre regada a Chivas e bancada com dinheiro do povo.
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